quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

imagine e faça: Construindo o protagonismo do diferente

Imagine o dia em que todos sejam protagonistas e não platéia. Imagine o instante em que todos tenham sua diferença compartilhada e não apenas tolerada. Imagine o dia em que a diversidade dê lugar ao direito à diferença. Pois bem, imaginou? Então, que tal começarmos a parar de imaginar e fazer acontecer?
Assisti a um vídeo do seriado Glee (mais informações o Google responde), no qual os alunos do coral, cada qual com sua diferença da (utópica) normalidade cantam a música Imagine, do Jonh Lennon. É uma mensagem bem legal de fim de ano, de começo ou de meio de ano também, não importa o tempo. O que vale é perceber no vídeo o quão simples pode ser o compartilhar com o diferente.
É interessante notar também, que todos os “diferentes” do seriado estão no palco, protagonizando a cena. Isso reforça uma ideia que só de pensar me emociona e me motiva que é a do protagonismo do diferente, no qual não sejamos apenas aqueles que esperam as coisas acontecerem, nem sejam os que simplesmente assistem, mas sim, participam ativamente do processo.
Precisamos ser lembrados e chamados a participar, fazer parte dos planos principais das cenas da vida. Imaginar que todos estejam juntos é importante, mas pensar que nessa união não exista alguém superior ou inferior é ainda mais frutífero. Durante muito tempo os sujeitos com deficiência foram escondidos pelas suas famílias. Atualmente, esse processo começa a mudar, ainda que estejamos num momento em que a sociedade parece querer a todo momento “incluir por estar fazendo um favor”, quando na verdade este é um direito adquirido através de muita luta e do sofrimento de tanta gente que morreu esquecida num canto só por não enxergar, caminhar ou pensar como todos.
No entanto, acho que temos evoluído a passos largos nesse sentido, embora esteja a léguas do ideal. Porém, conquistar o direito a protagonismo social é mais fácil do que exercer este direito. Digo isso, porque existem diversas iniciativas no sentido de promover o acesso cultural, educacional, social e econômico de pessoas com deficiência, mas muitos desses sujeitos ainda relutam em participar e marcar sua posição no mundo.
Tão importante quanto protestar é agir. Pedir direitos é fácil, o difícil é correr atrás deles, ir aos eventos, exigir audiodescrição, rampas adequadas, cardápio em braile ou ônibus adaptados. Ninguém vai bater na campainha do meu apartamento e perguntar que recurso de acessibilidade ou especificidade me contempla,
Então, por mais que os locais não estejam preparados é preciso ir, reclamar, fazer barulho, prestigiar as boas iniciativas e eventos sobre e com essas tematicas. Exercer o direito a diferença requer esforço e uma dose grande de sacrifício de cada um de nós. E que por mais alto que seja o preço, sempre será recompensador diante dos bafejos de liberdade e autonomia.
Acho lindo o vídeo e ainda mais bela a canção do Lennon, mas sempre fui um sujeito de ações e não de imaginações. Mais do que imaginar, é preciso botar o bloco na rua e fazer acontecer. Eu imagino um mundo no qual o considerado diferente não necessite pedir permissão pra existir, mas além de imaginar, eu corro atrás.
Portanto, nesse porvir de um novo ano espero que sejamos não platéia, mas protagonistas. Que possamos fazer, e não só imaginar. Desejando que o prazer de ser diferente invada a alma de cada um de nós. Dizem que mudar o mundo é querer derrubar um muro com uma colherinha de sobremesa. Se assim for, eu sou o primeiro a começar a raspar o muro com tal utensílio. Posso demorar décadas, posso até não conseguir derrubar tudo, mas que eu irei conseguir provocar fendas nos muros das certezas, disso não tenho a menor dúvida. Como diz o poeta, um sonho que se sonha só, é só um sonho. Assim, deixemos de sonhar e passemos a agir.
Abaixo o link para assistir ao video referido nesta postagem:

domingo, 18 de dezembro de 2011

À melhor orientadora do mundo

É muito comum nessas épocas de final de ano nos pormos a pensar sobre nossas vidas, sobre as limitações, possibilidades e surpresas que nos reserva. Ainda assim, sou um tanto cético para crer em destino, sorte, azar ou algo do gênero. Prefiro atribuir o sucesso a outras características como esforço, competência, conhecimento, comprometimento e humildade. Há algum tempo atrás, também não acreditava que apenas uma pessoa poderia fazer toda diferença na trajetória de vida de outros sujeitos. Mas a cerca de 4 anos mudei de ideia com relação a este ponto.
Em 2007, retornei à universidade depois de um período difícil, do qual emanou um profundo desejo de estudar questões relativas à deficiência visual, e suas implicações culturais, não mais clínicas como é o normal. Porém, não sabia muito bem como e nem com quem estudar sobre essa temática.
Então, em meu primeiro dia de aula, coincidentemente comecei uma disciplina com uma professora que estreava na UFRGS. Desde o principio simpatizei com ela e no fim da aula já fui conversar – e enche-la de perguntas e pedidos de bibliografia – sobre o que eu pretendia estudar com o objetivo de chegar ao mestrado. Isso porque, Lodenir trabalhava questões semelhantes ao que eu imaginava, mas, ao invés de deficiência visual, pesquisava sobre surdez. Esse encontro mudaria a minha vida para muitíssimo melhor, mesmo que naquela época eu ainda nem imaginasse isso.
Aos poucos, fiz as leituras, estudei bastante e continuei em contato com a professora Lodenir até fazer o processo seletivo para o Mestrado em Educação. Aprovado que fui, tornei-me orientando da excelentíssima professora Lodenir Karnopp. Dali em diante passei a viver os melhores dias da minha vida – que duram até hoje. De minha orientadora, passou a ser cada dia mais uma amiga muito querida, dedicada e com quem aprendo cotidianamente.
O mundo de coisas que aprendi e de ideias que cultivei, me permitiram participar e ser aprovado mo processo seletivo para o doutorado, também orientado pela minha amiga/orientadora/professora. Graças aos seus ensinamentos, exigências de produtividade e qualidade me forjei como um bom pesquisador – creio eu.
Atualmente, está realizando seu pós-doc nos EUA, e não há um dia que eu não sinta saudades e que não me recorde da imensidão de coisas que com ela aprendi, como entender a pesquisa como um trabalho muito mais de transpiração que de inspiração, de ter consistência teórica e estar sempre corrigindo os erros e aprimorando as qualidades.
Além de ensinar a escrever, ler e fazer, creio que o grande diferencial da Lodenir é ensinar a todos a sua volta como SER. Seu comportamento ético, sereno, e de uma generosidade imensa.Me acho um privilegiado, pois é raríssimo de se ter um chefe tão bom assim, e de considerá-lo como se fosse da própria família.
Por isso, só me resta agradecer a ela por tudo que tenho vivido. Pois como diz uma música da Cidadão Quem: Se alguém já te deu a mão e não pediu mais nada em troca/ Pense bem, hoje é um dia especial. Pois desde que a conheci, todos os meus dias tem sido especiais.
Obrigado por me ensinar a ser uma pessoa e um pesquisador melhor. Obrigado por me proporcionar ter o que hoje tenho
. Obrigado pelas criticas que me fizeram crescer e pelos elogios que fizeram as horas de sono perdidas valerem a pena. Obrigado pelo apoio nos momentos mais doidos e pelos sorrisos matutinos. É de e pessoas como tu que nosso mundão precisa. Levarei sempre um pedaço de ti para toda vida, afinal, a orientação e o doutorado acabam, mas admiração e a amizade permanecem. Enfim, numa época em que todos pedem, eu apenas te agradeço por tudo que fizeste por mim e que me ensinaste, muito obrigado.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Natal sem luz

Nunca fui um dos sujeitos mais entusiasmados com festas natalinas o dos famosos (in)amigos secretos. Sempre me sinto um tanto deslocado nesses lugares, sem saber o que dizer ou como agir. Porém, ano passado, em uma dessas ocasiões me senti plenamente a vontade, afinal, em locais escuros os cegos é que são os guias.
Participei de uma bela festa de fim de ano organizada pela querida amiga e professora Adriana Thoma, recebendo a todos com seu costumeiro afeto. Mas, havia um pequeno contratempo, afetando a recepção aos demais convidados, a organização do ambiente e a conservação dos alimentos e bebidas. Naquele momento, o bairro inteiro estava sem energia elétrica.
Enquanto isso, o tempo passava e o sol se despedia à francesa, ao mesmo tempo em que a lua chegava brilhante e cheia de si. Todos foram para fora do recinto ver se ao menos o luar conseguia iluminá-los, ainda que não estivesse adiantando de nada.
Os convidados ajudavam a procurar lanternas, velas, isqueiros ou qualquer outra quinquilharia que emanasse um pouco de luz. Definitivamente, muitas pessoas precisam mais de energia elétrica do que de oxigênio. Já os sujeitos com deficiência visual não sucumbem à luz do mesmo modo que Ulisses não se deixou levar pelo canto da sereia.
Porém, é preciso dizer que muitos dos convidados eram surdos, para quem a questão da visualidade e fundamental. Para eles, o fato de estarmos sem luz ocasionava certa dificuldade na comunicação em língua de sinais. Cabe lembrar que para eles aquele também poderia ser um momento de celebração, já que durante muito tempo, enquanto as línguas de sinais eram proibidas, a única forma de disseminar a cultura dos surdos ocorria nos quartos dos Institutos para surdos, onde à Liz de velas, mantinham acesa a chama da cultura surda.
Diante de todo esse quadro, creio que eu era o único que se sentia a vontade sem luz. Como cheguei ainda no horário de trabalho do sol, tive tempo de decorar a configuração do ambiente, onde ficavam as portas, mesas, cadeiras, sanitários e claro, onde estava a cerveja. Eu e minha baixa visão desfilávamos com desenvoltura pelo salão. Minhas mãos,ouvidos e memória fizeram um excelente trabalho naquele dia.
Aconteceu inclusive, uma situação pitoresca e irônica, em que algumas pessoas pediam para que eu as guiasse até os locais onde desejavam ir. Ou seja, se para todos foi uma situação embaraçosa, para mim foi uma noite agradável e divertida, pois me senti muito bem acolhido.
Quando a energia elétrica retornou, não nego ter sentido uma certa frustração. Assim, por mais que o Natal Luz faça sucesso, a minha festa de natal inesquecível foi exatamente aquela em que a própria Adriana denominou de Natal sem luz.
Não estou dizendo com isso que as pessoas com deficiência visual vivam nas trevas ou que prescindam das cores. O que digo é que não dependemos das imagens nem das cores para sentir o mundo.
Então, ter deficiência visual é libertador, por podermos utilizar de todos os outros sentidos para vivenciar e experimentar sensações que a vida nos proporciona para além da visualidade. Na contramão do usual e do tido como normal, Jorge Luis Borges diz que a cegueira é um dom, para poucos privilegiados.
Enfim, toda vez que me recordo daquele natal sem luz meu coração fica aos pulos. Ao invés das luzes artificiais seria bem melhor fazermos e deixarmos brilhar a luz que há dentro de cada um de nós. Muitos dos que tem deficiência visual veem mais o brilho das almas do que dos pinheirinhos, percebem a verdadeira luz muito mais do que aqueles que estejam presos à singeleza daquilo que enxergam.
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Felipe Leão Mianes

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Amigos "mesmo": cultivando relações

Dizem que a nossa sociedade está cada vez mais rápida, e que tudo acontece em uma velocidade que torna muitas sensações e relações quase imperceptíveis. Esse turbilhão, muitas vezes pasteuriza as relações e confunde as emoções. Como dizer quem é de fato nosso amigo e não um colega de trabalho ou alguém que adicionemos nas redes sociais e fiquem ali classificados como tal. Afinal, amizades não estão à venda em supermercados nem se dão por geração espontânea da noite para o dia.
Creio que amizades necessitam ser semeadas, cuidadas com carinho e zelo. É preciso tempo e dedicação para estabelecer relações para além da superficialidade, que sejam cotidianamente maturadas. Tal qual vinhos, elas vão se tornando melhores com o tempo. Cultivar um amigo é processo continuo e que demanda esforço. Então, não se ganha um amigo por chamá-lo assim, ou por adicionar um sujeito aos seus contatos de facebook, por exemplo.
Algum tempo atrás ouvi por ai um modo interessante de “classificar” no nível de relações com as pessoas. Segundo o critério que me foi apontado, se dividem em: conhecidos, amigos e amigos “mesmo”. Claro que podem existir variações entre esses tipos, mas mantenho-me apenas nesses três.
Os conhecidos são a maioria das pessoas com quem convivemos diariamente, ou seja, relações de trabalho que não chegam a configurar amizades, relações cotidianas de “conhecer de vista” (essa no meu caso não se aplica, afinal, eu não posso conhecer alguém de vista). Essas pessoas são as que raramente encontramos, ou encontramos diariamente e não temos tempo ou vontade de estabelecer um vinculo amistoso.
Enquanto isso, os amigos são a maior parte dos sujeitos que participam de nossas vidas (pelo menos para os que não são malas e que as pessoas não gostam de conviver). São os colegas de trabalho com quem temos alguma afinidade. Podem ser também, aqueles que desejamos conhecer melhor mas não temos oportunidades. Ou ainda, pessoas que convivemos durante algum tempo, que temos afinidades mas que não construímos vínculos maiores e se perdem pelos caminhos da vida. Contudo, um amigo pode se tornar com o tempo um amigo “mesmo”
E há os amigos “mesmo”. Esses sim são os mais raros, porém, os melhores amigos que se pode ter. Essas pessoas foram aquelas que passaram pelos dois estágios acima citados e continuaram gerando tanto interesse e afeto que se tornaram de fato amigos para todas as horas.
Amizades como essas são exceções, pois via de regra, são construídas aos poucos, com açúcar e com afeto. São aquelas que marcam as nossas vidas para sempre, subvertendo tempo e distância. Esses são aqueles que nos momentos de dor estão conosco, e não apenas na bonança. Os amigos “mesmo” podem passar uma vida toda sem se reencontrar, e mesmo assim, se gostam como se para eles o tempo não tivesse passado. Enfim, são amigos que ficam gravados para todo sempre em nossos corações.
Sou uma pessoa de relativa sorte nesse sentido por ter amigos “mesmo”. Há poucos meses, fiz uma postagem mencionando alguns desses amigos (que nem são tantos assim) e sinto necessidade de homenagear outras três pessoas que foram fundamentais para me ajudar em um dos momentos mais difíceis da minha vida.
Começo falando da Janete Muller, minha “maninha”, colega de orientação e uma pessoa fantástica com quem tenho o prazer de partilhar amizade e parceria acadêmica. Mesmo morando um pouco longe, tenho certeza de que nossa amizade será para todo sempre, pois construímos uma ótima relação e um afeto grande. Digo que ela é minha irmã, por quem eu zelo e luto para vê-la bem. Saibas que essas linhas são pequenas pra dizer tudo, mas fica aqui meu carinho e admiração.
Quero falar também da Mariana Baierle Soares, minha companheira de baixa visão e uma pessoa genial que conheci melhor esse semestre. Construímos aos poucos uma bela relação de amizade sólida, e que persistirá por longa data. Além de ceguinhos, temos em comum o bom humor e os comentários sarcásticos e irônicos. Além do que, é uma baita jornalista e escritora (vale acessar o: http://www.tresgotinhas.wordpress.com). É uma grande parceira de trabalho e amiga de trovas e tragos, com quem sempre aprendo e espero continuar sempre sendo amigo “mesmo”.
Portanto, posso dizer que essas duas pessoas e algumas outras são o maior valor que possuo, e que a sensação de afeto e forte amizade foi semeada com muito tempo e dedicação. Enfim, pode ser demorado e trabalhoso, mas nada se compara a beleza de se ter amigos - “para sempre” -“mesmo”.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Parapanamericano: medalha de ouro para os brasileiros com deficiência

Uma semana atrás, dia 20 de novembro especificamente, terminou o parapanamericano (ou seja, uma olimpíada das américas, na qual competem pessoas com deficiência) e o Brasil ficou em primeiro lugar no quadro geral de medalhas.
Não! Não foi erro de digitação e nem mesmo eu estou maluco, o Brasil ficou mesmo na frente até dos EUA. Uma bela demonstração do potencial dos atletas brasileiros com deficiência, infinitamente superiores aos atletas do pan-americano, que nadavam e morriam na praia.
Quando os atletas e pessoas ligadas ao esporte tentam explicar os motivos pelos quais o Brasil ainda tem um desempenho pífio nas competições olímpicas e pan-americanas, o primeiro argumento tido como o mais forte e inquestionável é a falta de patrocínio.
De fato, esse é um problema que faz com que não tenhamos um desenvolvimento esportivo a contento. Mas, imaginem, se os atletas conhecidos e tidos como tipicamente “perfeitos fisicamente” não conseguem patrocínio, como ficam os atletas com deficiência?
Muitos deles, não têm qualquer incentivo e usam grana do próprio bolso, ou trabalham em outras profissões para bancarem suas carreiras de atletas. Outros, recebem Bolsa Atleta do governo brasileiro, porém chega a ser um valor quase irrelevante para o treinamento de competidores de alto rendimento.
O que noto é que primeiro os paratletas brasileiros ganham suas medalhas e depois reclamam da falta de patrocínio, ou seja, na ordem invertida dos atletas considerados “normais” que antes mesmo de competir já justificam suas derrotas. Enquanto isso, os atletas cegos, com baixa visão, com deficiência física ou intelectual são a demonstração de um infinito potencial dos sujeitos com deficiência.
Não quero dizer com isso que esses atletas são heróis, pois creio que isso não corresponde a verdade. São sim, pessoas dedicadas e competentes naquilo que fazem, são de fato vencedores. Não vencedores por terem se superado, afinal, para mim jamais alguém com deficiência irá se superar, pois eu sempre espero o máximo desses sujeitos, nunca duvidando em nenhum momento de suas qualidades.
Chamei-os de vencedores por ultrapassar estereótipos de incapacidade, por serem medalhistas de ouro, por lutarem sem incentivo governamental ou patrocínio privado e por não justificarem suas derrotas através desses argumentos financeiros.
Esse fantástico desempenho dos atletas com deficiência nessa competição são uma das diversas demonstrações de que não precisamos de benevolência, de caridade ou de assistencialismo, mas sim, de OPORTUNIDADE, profissionalismo e acessibilidade.
Mesmo assim, muitas reportagens de televisão e jornal tentam espetacularizar as conquistas desses atletas, como se tivessem feito algo impossível. Fico incomodado quando somos tratados como espetáculos quando vamos a lugares ou somos tidos como exemplos pelo fato de participarmos da vida social ao nosso modo..
Não somos celebridades da superação, somos pessoas que desejam ser como são e ter os mesmos direitos que os demais. Por fim, peço que nos tratem com menos heroísmo e assistencialismo, e mais com crença em nossas potencialidades e respeito a nossa diferença.
Peço que mirem as conquistas esportivas e profissionais dos sujeitos com deficiência não como uma epopéia, mas como a demonstração de uma potencialidade que sempre tivemos, e que a pouco tempo estamos tendo o direito de apresentar à sociedade. Temos muitos medalhistas de ouro com deficiência por ai, basta que os deixemos brilhar.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Com o mundo em nossas mãos

Nos dias 13/11 a 15/11, aconteceu em Porto Alegre o Festival Brasileiro de Cultura Surda. Organizado através do Projeto: “Produção, circulação e consumo da cultura surda brasileira”, cujo minha querida orientadora de doutorado, Lodenir Karnopp é uma das idealizadoras e coordenadoras. Neste festival, foi incrível ver – mesmo que eu não estivesse entendendo – o frenético bailado das mãos que sinalizavam. Foi um estrondoso sucesso, principalmente, porque as mãos e seus donos ficaram mais e mais emocionados.
Mas, não são apenas os surdos que captam muito do mundo através das mãos, os deficientes visuais de certa forma também o fazem. Os surdos se comunicam através das mãos, sinalizam, conversam, brigam, poetizam, narram... tudo isso transpondo para elas seus sentimentos e sensações. É por isso, que a comunidade surda normalmente utiliza a mão como um ícone da cultura surda, expressão através dessa parte do corpo que deixa de ser um membro para se tornar um passaporte para a comunicação e para a expressão dos direitos surdos a sua cultura.
Da mesma forma, pelo fato de terem uma predominância de memória visual, de compreensão visual do mundo, outro ícone surdo são os olhos, que são as “janelas da alma” e que captura as percepções e sentimentos dos surdos. Para esses sujeitos a visualidade é fundamental e faz parte da marcação cultural de suas comunidades. Portanto, é muito comum ver diversas produções surdas remetendo a mãos ou olhos, e muitas vezes até, ambos juntos.
Ainda é grande o número de pessoas que acredita que surdos e deficientes visuais não têm qualquer possibilidade de compartilhar marcadores culturais, espaços, convivência e experiências. Assim como venho afirmando a algum tempo, isso não corresponde a realidade.
Ontem já saudoso do festival, fiquei olhando para a camiseta na qual havia o logotipo do evento. Nesse momento de reflexão, logo percebi algo muito interessante:
[Descrição da imagem: Ao centro o desenho de uma mão na cor verde, na palma dela, está desenhado o formato de um olho, cuja esclera (o branco do olho) é amarela, a pupila é azul e a Iris, branca.]
Assim como os surdos, muitas vezes usamos as mãos como nossos olhos, fazemos das mãos, nosso passaporte de comunicação e de percepção do mundo. Seja por ler um texto em braile, em que se busca conhecimento e informação pela ponta dos dedos, seja pelo toque que nos permite saber onde e em que situação estamos.
Para os deficientes visuais o tato é uma forma terna – e por vezes perigosa – de contato com as diversas possibilidades que o mundo nos oferece. Tocar uma face e identificar as feições de um familiar querido, reconhecer as nuances de um rosto na ponta dos dedos, conhecer uma obra de arte pelas falanges que deslizam despreocupadas vendo aquilo que os olhos não puderam ver.
Não quero dizer com isso que as mãos substituem a audição do surdo ou a visão dos deficientes visuais, mas sim, que são formas diferentes de se deparar com o mundo. Então, temos em comum o fato de termos o mundo – ou parte dele – em nossas mãos.
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Felipe Leão Mianes

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

inventário de sentimentos


A maré...
Amar é?
Amar é maré!
Move mil moinhos.
Sem vento e sem motivos.

Para te amar não preciso pressa.
Nem mesmo de tua presença.
Mas, apenas de tua existência.
Não importa quando ou onde.
Meu amor tem o teu nome.

Acaricio teu rosto quando amanhece.
Tornaria eterno tal momento se pudesse.
Meus dias sem ti.
São como o sorriso que entristece.

No jardim florido da vida.
Dentre todas, é a mais linda.
Por mais versos que eu escreva.
Não chegarei à tua grandeza.
Em um inventário de sentimentos.
O teu quinhão é todo meu amor.

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Felipe Leão Mianes

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O badalar das bengalas

A imensa maioria das bengalas utilizadas pelos cegos e pessoas com baixa visão tem um som bem particular, e embora eu particularmente ainda não as use, cada vez que escuto o som de uma delas se aproximar, me passa uma imensa sensação de não estar sozinho, de uma identificação direta, como se o simples fato de ouvir aquele badalo me fizesse sentir acolhido. Felizmente, noto que os sujeitos com deficiência visual tem circulado com mais freqüência e em maior número em espaços cada vez mais diversos.
Dizem que os indivíduos que não enxergam bem tem uma estreita ligação com sua audição. Se isso é verdade eu não sei, mas que meus ouvidos cintilam cada vez que escuto o badalar de uma bengala tipicamente ostentada por algum “colega”, sinto-me como se estivesse em casa. Creio que todos querem estar minimamente perto daqueles com quem se identificam, conosco não é diferente.
Quando ouço o típico tilintar da bengala, penso que não estou sozinho, que há por perto mais alguém que percebe o mundo mais ou menos como eu, que tem dificuldades parecidas, que me faz sentir próximo pelo simples fato de dividirmos uma mesma condição.
Durante muitos anos os sujeitos com deficiência visual foram apartados do convívio social. Também devido a razões fundamentalmente políticas esses sujeitos não vivem em comunidades como os surdos, por exemplo, é difícil encontrar sujeitos com deficiência visual que tenham muitos amigos na mesma condição, a não ser que freqüentem as associações para cegos, das quais me furto aqui de comentar.
Ainda não faço uso da bengala, mas admito que não teria nenhum problema em fazê-lo, já que até acho que tem seu charme... Mas é fato, que a bengala é um ícone para aqueles que não enxergam o mundo do modo convencionalmente dito normal. Embora saibamos que o maior número de pessoas com deficiência visual são os que possuem baixa visão, e não os cegos, mesmo assim, são estes últimos que ganham mais destaque
Contudo, meu coração se acalanta e se infla de esperança, quando passo na rua por alguém com deficiência visual, quando convivo com pessoas com as quais me identifico. E o que me torna ainda mais feliz é ver que a quantidade de bengalas e seus donos circulando pelas ruas tem aumentado vertiginosamente nos últimos tempos.
Não sei se isso se deve ao fato de eu trabalhar pesquisando sobre o assunto, mas, antigamente passava muito tempo sem ver alguém que usasse bengala circulando pela cidade, fosse qual fosse o ambiente. Atualmente, são raros os dias em que não encontro ao menos uma pessoa empunhando seu ícone da não-vidência.
Quanto mais nós “ceguinhos” freqüentarmos os espaços públicos e privados, como teatro, cinemas, museus, motéis, parques, estádios de futebol ou seja lá o que for, mais aqueles que não tem o privilégio do não-enxergar irão verificar que nossas limitações estão naqueles que estabeleceram os padrões, e não são empiricamente comprováveis.
Admito que a maioria dos espaços públicos ainda são um show de horrores da inacessibilidade, mas é preciso ir aos lugares mesmo assim, mostrar que a deficiência está nos locais e não nas pessoas. Ou seja, quanto mais circularmos pelos diferentes ambientes possíveis, nossa presença se tornando constante, será necessário que algo seja feito. Embora cada um de nós deva fazer a nossa parte.
Aos poucos, ocorrem cada vez mais iniciativas que objetivam proporcionar acessibilidade e novas possibilidades aos sujeitos com deficiência visual. Projetos acadêmicos ou não, que almejam disponibilizar recursos de acessibilidade e acolhimento em ambientes culturais, e não apenas ao mercado de trabalho ou aos tratamentos médicos, como fora corriqueiro outrora.
No entanto, para que tais projetos continuem tendo viabilidade é necessário que passemos a bater as bengalas por ai e irmos até esses locais, gerar demandas, fazer pressão com nossa presença física. Afinal, reclamar dos problemas é fácil, difícil é vontade de ajudar na hora que as soluções aparecem...
Portanto, seja pelo que penso como acadêmico, de que somente gerando demanda através da presença é possível viabilizar as iniciativas de acessibilidade. Meu lado pessoal, deseja ainda mais ardorosamente ouvir mais e mais o badalo das bengalas como sensação de pertença, e que os acordes advindos de seus barulhinhos no solo se tornem a melodia da autonomia....
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Felipe Leão Mianes

domingo, 30 de outubro de 2011

Na corda-bamba das estrelas

Caminho cambaleando no breu.
Chuto pedras e esperanças.
Rolam rumo a lugar algum.
Um sorriso é só vil lembrança.

Andando na corda-bamba das estrelas.
Vejo o quão apagado e pequeno sou no mundo.
No afã da insolidão.
Converso com o vento.
O vendaval vira às costas revolto.

No escuro das ruas.
Me vejo em infinita melancolia.
Serão felizes os que vivem detrás desses muros?
Solidão é ainda mais triste quando se está acompanhado?

Tropeço e caio nas minhas recordações.
Mergulho na água fétida e amarga da ausência.
Afogo as mágoas.
Nas poças de água-ardente.
Tentando esquecer.
Torno a dor ainda mais latente.

De volta à lucidez.
Saudoso sou da alucinação.
Lá, minha vida vale mais de um vintém.
Vivo sempre sem carinho de outrem.
Ao meu fenecer, digo amém...
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Felipe Leão Mianes

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Cegueira moral - há um "jeitinho" de resolver isso?


Ás vezes me pergunto quanto tempo de nossas vidas passamos transferindo nossas próprias responsabilidades morais (a palavra moral tratada aqui no sentido de conduta e costumes considerados ideais) para os outros. Presta-se tanta atenção nos erros do próximo, que esquecem os seus.             Exemplo disso, é o fomento ao nocivo “jeitinho brasileiro” – quase um patrimônio histórico imaterial da nação tupiniquim. Muitos classificam os políticos como corruptos, mas quando tem a mínima chance burlam a lei para levar vantagem nem que seja “só um pouquinho” não hesitam em fazê-lo.
Por um lado exalta-se a honestidade, que para mim não é nada mais do que obrigação de cada sujeito. Por outro lado, muitos ficam perplexos quando aparecem casos de “extrema” honestidade, e até dizem: ”como foi bobo de não se aproveitar da situação”. Ou ainda, justificam sua malandragem dizendo que “todo mundo faz, porque eu não?”. Duvido alguém nunca ter feito ou ouvido isso.
Já alerto aqui que não me acho nenhum santinho, algumas vezes já cometi equívocos e usei do tal “jeitinho”, mas também é verdade que me arrependo dessas situações. Por isso, não sou nenhum justiceiro da moral.
Conhecemos diversas histórias que nos são contadas, com um ar de satisfação, no qual a pessoa se jacta de sua esperteza e malandragem. Histórias como: “paguei uma cerveja e tudo se resolveu”, “dei um jeitinho e burlei o sistema, como sou esperto”, “estacionei na vaga dos aleijados, mas é só por um minutinho” ou “cada um que pense no seu, os outros que se f...”.
Vejo muitas manifestações na mídia e nas redes sociais no sentido de lutar contra a corrupção e moralizar o país, bradando contra os desvios de dinheiro ou contra a impunidade. Não há como ser contrário a isso, mas, será que muitos não fazem o mesmo em pequena escala? Será que muitos não enxergam apenas o próprio umbigo? Muitos que não enxergam ou tem baixa visão, tem visão bem mais ampla que olhar só pra si próprio.
Então, a deficiência moral parece bem mais séria do que a corporal. Antes de criticar um comportamento alheio, de um ator, político, cantor ou esportista, já não fizeste o mesmo? Parafraseando a poetiza Eliza Lucinda, só pra sacanear eu continuarei sendo honesto, cumprindo as normas e agindo de acordo com a lei.
Sempre que alguém leva vantagem em demasia, outro sujeito fica no prejuízo, mas quem se dá bem pouco se importa com isso. Onde iremos parar se cada um quiser levar mais vantagem sobre os outros? Talvez por isso eu não tenha nenhuma pena daqueles que levam algum golpe por ter ganância de algum beneficio, tipo o golpe do bilhete premiado por exemplo.
Vale a pena repensar as atitudes cotidianas de não estacionar nas vagas para pessoas com deficiência, de não furar as filas, de copiar ideias ou citações alheias, de não dar um “jeitinho”, de não corromper um agente público e uma infindável lista de deficiências morais. Ninguém é perfeito sempre, mas é escatológico passar a vida querendo levar vantagem sempre Roubar uma caneta de uma repartição publica é semelhante a desviar dinheiro do governo, o tamanho é diferente, mas, o crime é o mesmo. Roubar uma frase ou uma ideia inteira sem citar, tem tamanhos diferentes, mas a desonestidade é a mesma.
A deficiência moral não é um problema apenas do outro, mas sim de nós mesmos. Essa deficiência não está nas cartilhas médicas ou escolares. O bom caráter é quase peça de museu, quase uma joia rara, se conhece algum fique sempre ao seu lado.
Mudemos a noção de “vantagem em tudo” para a de “vantagem de todos”. Façamos da honestidade algo corriqueiro quanto respirar. Mas... se não quiseres seguir isso é algo que te cabe, não sou nenhum messias ou condutor de verdades, mas posso dizer que faço a minha parte. Não dou lição de moral, nem escrevo bobagens de auto-ajuda, mas é sempre bom lembrar que a malandragem é o RG da incompetência...

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A audiodescrição tá bombando! (divulgação)

Todos aqui sabem da minha admiração pela – qualificada – audiodescrição, sobre a qual já falei bastante por aqui. Isso porque, talvez haja em Porto Alegre, várias iniciativas de profissionais/pesquisadores no sentido de ampliar os horizontes e difundir este recurso-produção artística. Temos a sorte de viver em um oásis da boa audiodescrição, pois contamos com profissionais super competentes e engajados como a Letícia Schwartz e o pessoal da Mil Palavras.
Com todo esse cenário profícuo, os resultados aos poucos começam a surgir e de grão em grão tem aumentado o número de eventos com audiodescrição. Por isso, divulgo aqui duas dessas belas iniciativas.
A primeira delas, é que no 5º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, que ocorre na UFRGS - WWW.5cbeu.ufrgs.br - além das atividades de minicursos, mesas redondas e oficinas, haverá apresentações artísticas, dentre as quais o espetáculo Tholl, sendo que este, contará com audiodescrição (by Mil Palavras, mais um motivo pra conferir).
Tholl, é um grupo que alia técnicas circenses, teatro e dança em seus espetáculos. As performances ficaram muito conhecidas pela plasticidade e beleza dos movimentos que emocionam aqueles que assistem suas obras. Bem, emocionam a quase todos, já que é eminentemente visual em seus movimentos, figurinos e luzes. Assim, para as pessoas com deficiência visual, torna-se um tanto inviável compartilhar dessas emoções sem que haja audiodescrição. Não sei quantas vezes já me falaram sobre esse grupo e não me animei a ir por saber que não entenderia a metade. É por isso que estou tão empolgado com essa sessão que terá audiodescrição.
Para participar, é preciso se inscrever no evento (os valores e formas de inscrição estão no site) e retirar a senha respectiva a este espetáculo no momento do credenciamento, já que as vagas são limitadas. Depois, basta chegar, pedir o fone de ouvido e deleitar-te.

Por fim, divulgo também com imenso prazer, o curso Audiodescrição de Produtos Culturais, com a coordenação dos professores Eduardo Cardoso da Faculdade de Arquitetura da UFRGS e Jeniffer Cuty da FABICO, UFRGS, tendo como ministrante Letícia Schwartz, coordenadora da Mil Palavras, audiodescritora que dispensa apresentações.
Para informações sobre o curso é só acessar: WWW.acessibilidadecultural.wordpress.com e sugiro que os interessados se apressem, a concorrência está grande e as vagas são limitadas.
A existência de grupos de pesquisa como o dos coordenadores deste curso são muito importante para pensarmos a deficiência visual a partir de um olhar cultural, de acesso à arte, saindo da mesmice clinica. Creio que essas iniciativas inovadoras já fizeram mais por nós do que um século da chamada inclusão.
Portanto, cursos como esses ajudam a divulgar a audiodescrição, a colocá-la em pauta e ao mesmo tempo mostrar que se trata de um trabalho árduo, que requer técnica, dedicação e competência. Por isso, esse curso é importante para começar a formação de novos profissionais competentes e de boa qualidade, que é tão importante quanto termos a audiodescrição nos ambientes e produtos. Assim, estou ansioso e com grande expectativa para que o curso comece, e que tenha o máximo de inscritos. Tenho absoluta certeza que será excelente.
Tentei aqui divulgar um pouquinho do que tá rolando em Poa sobre audiodescrição, peço então a todos que lerem para acessarem os sites, se inscreverem nos eventos ou ainda, divulgarem para o maior número possível de pessoas, conto com o apoio de todos.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Dá pra entender... Só isso?!

Desde os anos 1960 as lutas pelos Direitos Humanos e a eclosão dos movimentos sociais reivindicando direitos outrora sonegados ou impensados, muitos grupos considerados minoritários passaram a conquistar direitos, como o voto feminino, as ações afirmativas e não-racistas, por exemplo.
Demorou um pouco mais, mas, nos anos 1990 o Brasil passou a estabelecer em sua legislação uma série de novas medidas garantindo os direitos de acessibilidade às pessoas com deficiência. Ainda assim, não há uma correlação direta entre a promulgação da lei e seu cumprimento. Ainda assim, é melhor tê-las do que apenas querê-las. Mesmo porque, nesse caso não foi algo que emanou dos movimentos sociais para direcionar uma legislação, e sim, o contrário, mais por pressão midiática do que por um consenso social.
Seja como for, excetuando-se louváveis iniciativas isoladas e individuais, a adequação à acessibilidade ocorre por conta do politicamente coreto, dos incentivos fiscais ou da mão firme – nem tanto – da lei. Isso faz com que a acessibilidade e ainda mais quando se trata dos ambientes culturais seja ainda algo incipiente.
Mesmo assim, é inegável o avanço cada vez maior da acessibilidade em cumprimento à legislação existente. Então, já demos um grande passo, já consolidamos uma posição da qual dificilmente seremos tirados, afinal, pra frente é que se anda – ou não.
Um desses recursos de acessibilidade e ao mesmo tempo produto artístico disponível aos sujeitos com deficiência visual é a audiodescrição. Há poucos meses entrou em vigor uma lei na qual a televisão brasileira é obrigada a exibir no mínimo duas horas semanais de audiodescrição na TV, tempo que vai aumentando progressivamente com o passar do tempo.
Diante disso, é perceptível o número de iniciativas de filmes, teatros, exposições e tantas produções culturais com audiodescrição, o que é algo muito salutar e pelo qual devemos continuar lutando, mas, será que é só isso? Não sei se é uma questão de mercado ou boa vontade, mas para muitos fazer audiodescrição é só chegar descrever as imagens colocar uma voz bonitinha e pronto.
Por outro lado, assistindo a uma exibição de material audiodescrito notei que houve certa conformidade em “entender” o filme. Ás vezes eu mesmo me vejo sendo crítico em demasia, mas acho que devemos dar um passo à frente, feliz com o conquistado, mas, olhando adiante, querendo sempre mais, é assim que se vai rumo ao que parece impossível.
Agora que a audiodescrição é uma conquista consolidado na forma da lei, chegou a hora de pensarmos no próximo passo, exigirmos que esses sejam produtos de qualidade e feito por gente especializada. É irritante ver um filme mal audiodescrito, perde-se paciência, perde-se o sentido do filme, o sentimento, as nuances, enfim, evapora o sentido artístico.
Acho também que só entender, é avaliar por baixo as audiodescrições, quando sabemos que existem produtos muito bem feitos por ai. Não quero mais viver das migalhas que me concedem, do cumprimento da lei, de entender o filme, quero partilhar de suas belezas e imperfeições ter produto de qualidade, e não um remendo pra cumprir leis.
Não quero mais que me concedam um direito, não quero que me dêem um produto remendado, quero uma calçada bem feita, letra ampliada sem borrão e uma audiodescrição de qualidade, que contemplem meu direito a excelência artística, afinal, entender é pouco, perto do sentir e do admirar. Como diz o cancioneiro roqueiro: “quero inteiro e não pela metade!”

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Migalhas de mim

Vou deixando migalhas de mim pelo caminho.
E à medida que perco minhas partes.
Faço de minha incompletude.
A minha maior virtude.

Vivo numa sincronia anacrônica.
Numa ordem anarquista.
Em lugar algum me enquadro.
Me perdi, antes mesmo de ter achado.

Admiro as imagens que me invadem.
Pois ao não enxergá-las.
Sinto-as com todo meu corpo.
Não sou refém de um só sentido.
Me permita e te conto.
Como é não vestir a vista de um ponto.

Citando um dos filósofos.
Vos digo que só os cegos ousam.
Mirar o sol olhos nos olhos.

Há brilho onde todos vêem escuridão.
Por isso vou sempre na contramão.
De que a cegueira é limitação.
É sim, uma redenção!

Deixo aqui mais um pedaço de mim.
Se quiseres o recolha.
Mas não te peço concessão de espaço.
O meu caminho eu mesmo faço.

Felipe Leão Mianes


terça-feira, 13 de setembro de 2011

Porvir amoroso

Não deixe que a melancolia te tome em vão.
Nem sofra por outrem.
Na praia da paixão.
um amor vai e outro vem.

Moça que enxerga o mundo diferente.
Saibas que a desilusão pode ser reluzente.
Depois da tempestade.
Há sempre um arco-iris de bondade.
Mais vale a solidão que arde.
Que migalhas de amor pela metade.

Dizem que o mundo é um moinho.
E se hoje vives na amargura.
Amanhã terás carinho e ternura.

Dissipa a bruma que te entristece.
com o brilho de tu'alma que resplandece.
Ame apenas quem te merece.

Não importa quanto tempo passará.
Mas sei que outro alguém surgirá.
Fazendo de teu sonho realidade.
De um amor para a eternidade.

Felipe Leão Mianes

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

É preciso olho grande para comer?

Ir a um restaurante em Porto Alegre ou qualquer outra cidade que eu tenha conhecido é um ato necessariamente dependente de alguém, ou se não for assim, passarei fome.
Os cardápios estão com as letras cada vez menores, as opções de pratos, as figuras coloridas e apetitosas tomam completamente o espaço das letrinhas de bula de remédio. Nos fast foods é mais fácil é só decorar o número dos pedidos e dizer logo: um número 1 por favor! E pronto.
Mas nos demais casos, preciso pedir auxilio para que a minha paciente companhia leia um por um dos tipos de pratos existentes, seus ingredientes e acompanhamentos ou entradas, já que enxergar tudo aquilo é tarefa que a mim não há possibilidade alguma..
Mesmo os cegos deveriam ter um cardápio especificamente em braile,afinal, se as pessoas não se deram conta estes sujeitos também comem, consomem, vivem. Certa vez me senti bastante insatisfeito e perguntei ao gerente do estabelecimento por que as letras do cardápio eram tão pequenas, e eis que me respondeu de um modo que me fez levantar e ir embora, disse ele: “Se o senhor não trouxe seu óculos, peço a um garçom que o acompanhe e leia cada uma das opções, como um mimo do restaurante”
Mas oras! mimo é o ca.... Quem disse que acessibilidade é mimo? Porque eu preciso ir ao restaurante de "óculos”? pois que eu saiba, como com a boca.
É um absurdo como as pessoas ainda encaram a acessibilidade e o direito a autonomia de cada um como um presente, uma concessão, um “mimo” e não como um direito de cada um e dever de todos. Esta tudo errado quando o direito se torna um sentimento de benevolência.
Além disso, se a comida me custar o olho da cara, dou-lhes o esquerdo que para pouco serve mesmo...

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O pior cego é o que quer ver

A uma "primeira vista" essa ideia é tão estapafúrdia quanto tomar chocolate quente com sal. Mas para mim, esta se trata de uma questão crucial para todos aqueles que se consideram diferentes, ou que são taxados como tal, como os cegos, por exemplo.
Muitas vezes somos os protagonistas principais de nossa exclusão. Afinal, muitas vezes os primeiros que tendem a rejeitar a deficiência é o próprio deficiente. Já faz um bom tempo, na verdade nem sei bem quando aconteceu, que decidi romper definitivamente os laços com a normalidade, com a cansativa e enfadonha busca pela miraculosa - e quase nunca conseguida - cura
Até porque como diz Lygia Assunção Amaral, em um dos seus livros: "que existe a normalidade isto é inquestionável, mas o que se pode e deve questionar são os critérios que usamos para defini-la". Aceitar-se é o que separa-nos da felicidade ou da melancolia, eu preferi o primeiro.
Afirmo categoricamente, pode-se sim ser deficiente e ser feliz, tenho imenso orgulho em fazer parte da diferença, me orgulho de ser deficiente, pois assim é que eu sou, caso eu não tivesse deficiência seria outro, que não o que sou, para o bem e para o mal.
Me sinto livre, sem formulas milagrosas, sem médicos, sem remédios, apenas eu e minha percepção diferenciada do mundo. Até porque, as vezes quando se enxerga pouco, aprendemos a VER bem melhor. Como diria Evgen Bavcar (fotógrafo e filósofo cego), a deficiência visual não é limitação ou falta, mas novas e venturosas possibilidades de percepção do mundo.
Perdemos tanto tempo de nossas vidas querendo ser o que não somos, que esquecemos dos jardins floridos que há em nós. Para que me servem os olhos da matéria organica, se tenho alta visão com os olhos d'alma.
Aceitarmo-nos é passo fundamental para sermos aceitos, e condição de um amanhã mais feliz. O pior cego é o que quer ver, porque este não se aceita como tal, mal sabe ele, o quão bela sua deficiência pode ser.

O que os olhos não vêem o coração sente

Um filme de curta-metragem muitas vezes pode gerar debates acalorados, profícuos e vindouros. Ainda mais quando se trata de propor visões diferenciadas sobre sujeitos considerados diferentes. Quando há personagens que fogem à norma isso nos causa estranhamentos, e se essa fuga da norma acontece em mais de uma característica no mesmo sujeito, isso se multiplica de modo eloquente
Em: Eu não quero voltar sozinho (direção de Daniel Ribeiro), Leonardo, Giovana e Gabriel são três colegas de classe, um tanto excluídos pela turma: Leonardo por ser cego, Giovana por andar com ele e Gabriel por ser aluno novo na escola. O trio se aproximou muito pela distância abissal que tinham dos outros. Andavam sempre juntos, principalmente voltar da escola, já que Leonardo tinha insegurança em voltar sozinho.
Por outro lado, Giovana ficou muito enciumada pois, era apaixonada por Leonardo, e depois da chegada de Gabriel se sentia quase à parte da amizade entre os dois. Certo dia na escola, Leonardo disse querer contar algo para a garota, que ficou curiosa para saber o que era. Então, ele disse que estava apaixonado. Ela ficou eufórica pensando que se declararia para ela, MAS, Leonardo se disse apaixonado por Gabriel.
Depois disso, eu que não vou contar o fim do filme. Claro que esse é um resumo ultra condensado do que se passa na obra, até para aguçar a curiosidade de quem ainda não assistiu.
Durante todo tempo, as questões sobre a deficiência visual e da homossexualidade foram tratadas de modo delicado e natural, descartando os estereótipos já tão clichês, e tratando da diferença como pano de fundo para uma bela história de amor.
Dizem que o amor é cego, e nesse ditado eu creio. Outro dito popular prefiro modificar um pouco para que reflita a verdade: “o que os olhos não vêem o coração também sente”. Pensando assim, até o amor, o mais nobre dos sentimentos não enxerga, isso me deixa ainda mais próximo desse sentimento – eu e meus colegas ceguinhos.
Ter amor às cegas é a verdadeira expressão desse sentimento, sem ressalvas, sem padrões estéticos, sem regulamentos, sem rancores ou expectativas. Não sei se todos os cegos tem amor nem se todo amor cego é bom, mas sei que amar sem enxergar é amar incondicionalmente, independentemente do que se vê e totalmente vinculado ao que se sente, portanto: All you need is love/ ALL YOU NEED IS BLINDNESS!


Abaixo o link para ver o filme:
http://www.youtube.com/watch?v=1Wav5KjBHbI

Só pra contrariar, obrigado por não enxergar

Há alguns séculos atrás os sujeitos considerados anormais eram tidos como a personificação dos pecados da humanidade, das mazelas individuais de um sujeito ou ainda como uma “oportunidade” de exercer a caridade pra com o próximo, vítimas de um fardo pesado, dignos de pena e de uma inata incompletude que mereceria compadecimento. Assim, durante longo tempo os indivíduos com deficiência foram tratados como uma espécie de moeda de troca para indulgencias aos pecados mundanos. Quando se queria comprar um lugar no céu, logo se ajudava um doentinho e tudo estava resolvido.
Os anos foram passando, as sociedades se transformando e chegando rapidamente a atualidade, a questão da inclusão parece algo que sempre esteve ai, dada a sedução competente de seus discursos. Às vezes chegamos até a pensar que ninguém mais trataria a deficiência como um castigo. Mas talvez isso não esteja tão no passado assim. Sem querer fazer juízos de valor, mas eu diria que tenho pena apenas daqueles que tem pena de si mesmos.
Fico realmente triste quando vejo que sujeitos com deficiência vêem sua condição como um castigo divino. Primeiro porque, me desculpem os religiosos, mas acredito que nenhuma divindade verdadeiramente boa puniria quem quer que fosse. Ainda assim essa percepção de si mesmo é cômoda e limitadora.
Tudo parece mais fácil para as pessoas quando elas estabelecem um discurso de pena e comiseração de si mesmas, afinal, qualquer coisa que elas consigam para além do nada já parece uma vitória epopéica. É simples aceitar ficar posicionado em um lugar onde a sensação interna de inferioridade recebe um afago a cada elogio de “superação” ou a cada desculpa pelo fracasso. Ou seja, sempre há um motivo prévio, para o sucesso ou a falta dele.
Ver a deficiência como um castigo é abdicar da beleza de perceber o mundo de modo diferente da maioria. Somos pessoas que percebemos as nuances da vida não pelo que elas aparentam, mas pelo que elas são, vemos as coisas em cada detalhe no toque e no contato entre nós e o outro. A cegueira não está no fato de não enxergar, mas na tristeza por não querer ver.
Não enxergar é libertador, no sentido de que podemos usar a imaginação, usar outros sentidos fugindo a uma lógica oculocentrica de estar no mundo que não está para além do superficial, diferente de uma ideia que não estabelece a imagem como o fundamental, e sim uma estética da sensibilidade da emoção, perceber o mundo pela arte do sentir. É ter a sabedoria de construir imagens muitas vezes sem referencias sobre as mesmas, e outras tantas construí-las de modo muito mais inventivo do que aqueles que enxergam como de acordo com o que se classifica como normal.
Numa sociedade em que tudo passa muito rápido, em que as imagens são a força motriz da maioria das relações, são também, entendidas como decisivas para o sucesso e o fracasso, nós que somos tidos como privados das imagens, agimos num sentido contrário, remando contra a maré e mostrando que o visual e o visível não são essenciais, não tolem a criatividade, não encerram os sujeitos em mundo das trevas, mas sim, demonstram a riqueza e a superioridade que as sensações tem sobre essas imagens, afinal, um sentimento vale mais do que mil imagens.
De minha parte o mundo parece muito mais atrativo tendo baixa visão do que tendo alta visão, não consigo me imaginar tendo a empáfia de enxergar “perfeitamente” e achar que vejo o mundo com uma perfeição que ele de fato não tem. Enxergo o mundo como ele é, as vezes borrado, as vezes escuro, as vezes sem nitidez, mas sempre é um mundo percebido pela minha sensação e não pela dos outros.
Dias atrás, depois de uma apresentação de minhas pesquisas, a mãe de uma deficiente visual falou comigo e disse: “a partir de hoje quando eu chegar em casa eu vou ver a minha filha não mais com pena, mas com orgulho”. Pois então acho que pensar a deficiência como castigo é um castigo merecido para quem pensa assim.

Que saudades que eu tenho

Sou saudosista convicto, rego constantemente o jardim de minhas lembranças, uma ou outra vez um espinho me faz sangrar. Nada que apague o perfume que as flores das recordações exalam. Meu olhar diferente sobre o mundo me faz ver coisas que quem enxerga não vê. Antes de fenecer pretendo sorver da vida tudo que puder. Cada segundo que passa é um amigo fiel que se vai para não mais voltar.
A cada instante que passa estamos mais próximos da morte, mas para mim é a lembrança do que passou que me faz sentir ainda mais vivo. Ainda ontem eu estava sentado no chão da sala lá de casa brincando de lego e ao fundo ouvindo Pink Floyd que meu pai sempre colocava no toca-disco; Lembro da primeira vez que chorei ie medo, e da que tive medo de chorar; Não saem de minha retina os que se orgulhavam de ser simples, e hoje, são simplesmente orgulhosos. Não esqueço de quando descobri que o amor verdadeiro está nos gestos mais singelos.
Sinto falta dos amigos que perdi, e dos que eu conquistei. Dos amigos bons que o vendaval do cotidiano espalhou pelo mundo. E dos nem tão amigos que me mostraram os defeitos que tenho. Terei sempre um pouco de cada um deles dentro de mim, de seus sorrisos e de suas lágrimas. Me encontro com eles pelas esquinas dos meus pensamentos, e por isso estarão sempre ao meu lado.
As despedidas para mim são como poesias de Augusto dos Anjos, corroem a carne até a última fibra, mas por causa disso me vejo (ser)humano, como quem ama mesmo por entre as brumas. Despedidas são renúncias, amor sem renúncias não é amor por inteiro. O amor não aceita resultados fracionados.
Tenho mais saudade ainda do que não vivi, do que nunca tive e do que nunca fui. Saudade dos caminhos que escolhi não trilhar, e também dos que trilhei. Cada escolha traz consigo desistências, certezas e dúvidas. Pudera eu ser onipotente, onipresente e onisciente para viver o máximo de experiências possíveis, carrasco e torturado; poeta e alienado; ser o tudo, nada e o que mais houver entre eles. Vejo o passado com olhos de menino, e vejo o futuro como o passado que vem surgindo.

Audiodescrição do videoclipe da música "caminho certo"

Hoje assisti a algo realmente inovador, pelo menos para mim, um videoclipe musical com audiodescrição. Mais uma das grandes sacações competentes da Mil Palavras (sobre a qual já falei em um dos meus textos e que confesso as vezes ficar SEM palavras para descrever o quanto admiro).
Com roteiro escrito por Mimi Aragón, Gabriel Schmitt, Letícia Schwartz, Márcia Caspary, Jorge Rein, Bruno Paiva, Tina Gonçalves e Marilena Assis. e narração de Kiko Ferraz, foi audiodescrito o videoclipe da música “Caminho certo”, da cantora Luiza Caspary. A canção é muito boa, a voz de Luiza é delicada e bela, nos faz ter vontade de ouvir mais, muito mais...
É importante para aqueles que não enxergam terem contato com diversas possibilidades midiáticas, proporcionar acesso - e de preferência de qualidade - à arte. Eu sempre fui da opinião de que tanto a audioleitura como a audiodescrição não são apenas recursos de acessibilidade, mas também, criações artísticas, que apresentam interpretações e sentimentos sobre uma obra, e sobre o mundo.
Em minha opinião, isso acontece quando há um bom roteiro, com clareza, concisão e boa narração, algo até raro. Pois bem, acho que assistir a esse videoclipe foi como ouvir a duas obras de arte que apresentadas juntas não ofuscam o brilho uma da outra, seja a música ou a audiodescrição do clipe, estão muitíssimo bem feitas. Não á toa eu já ouvi mais de duas, três vezes.
É muito importante valorizar essas iniciativas pois aumentam nossas possibilidades de acesso, ampliam nossos horizontes no que tange ao nosso enriquecimento cultural. Apenas ouvir um videoclipe para muitos podem não interferir no resultado, afinal, em tese o que importa é a canção.
Mas não é exatamente assim, se pensarmos que o grande sucesso de Thriller de Michael Jackson, foram as imagens, as quais garanto que nenhum cego viu. Quero dizer com isso que alguns videoclipes são mesmo como curtas-metragens, como no caso de Primavera, de Los Hermanos, assim como em Caminho Certo.
Outro grande mérito da audiodescrição foi o fato de dizer o nome dos músicos presentes na gravação e que imagino eu, foram os mesmos que gravaram a musica. Sempre tenho curiosidade em saber quem tocou esse ou aquele instrumento.
Enfim, usando um pouco das estrofes da canção, eu diria que fazer a audiodescrição deste clipe, foi mesmo um caminho certo e uma escolha perfeita. Música de qualidade é bom... um clipe de música boa com bela audiodescrição, não tem preço!

Abaixo o link para assistir:
http://www.milpalavras.net.br/o-caminho-certo-videoclipe-com-audiodescricao

Alegria triste - triste alegria

Existem sentimentos que nos parecem incompatíveis se tidos juntos, como o egoísmo e generosidade, tranqüilidade e angustia, enfim, muitas possibilidades que em tese se excluem. Mas esses dias, por conta da partida de uma amiga muito querida para novas “aventuras” e desafios profissionais, me dei conta daquilo que sentem os palhaços que fazem todos rirem, enquanto na verdade, querem mesmo é chorar.
Pois é, eu estava vivendo uma alegria triste, um sorriso que insistia em ser, vez por outra, inundado com o azedume de lágrimas que insistiam em brotar nos olhos e serpentear pelo rosto, tão qual um rio chamado saudade. Pensando bem, acho que alegria e tristeza formam a nascente e a foz desse rio. Sensação ambígua, que liga meu passado a meu futuro, que subverte os tempos verbais, que me prende a futuro do não existente, e a um pretérito mais que imperfeito.
Sinto saudades das vidas que nunca vivi, de não ter sido jogador de futebol, pedreiro, astro do rock, um burocrata, de ter sido feliz... Sinto falta das pessoas que não conheci, das cidades onde não morei. Queria ter mil vidas em uma, pena que ás vezes essa vontade me tire até mesmo o direito de jactar-me com a única que possuo.
Estranha mania essa de querer o que não se tem. Tanto é verdade que queria viver outras vidas, que essas insatisfações não são minhas, mas de outros, coletadas cuidadosamente da árvore da vida de cada pessoa que vi, conheci ou soube da existência.
A saudade às vezes transborda, inunda, causa furor e desamparo, como um tsunami sobre o qual só nos resta sentir a força da natureza, a natureza dos sentimentos que nos tomam, uma onda que mistura mel e lama, que revolve lembranças de fenecer a fascinação.
Ainda assim, creio que ao fim de tudo... quem sente saudades tem motivos para comemorar, para ser feliz, afinal, só chora por amor quem o sentiu, só sente falta de um amigo quem já o teve, tens melancolia porque já existiu entusiasmo.
A saudade é além de um rio, todas as metáforas que se consegue fazer, como ser uma orquídea regada a lágrimas e iluminada pelo brilho de um sorriso. Mas, ainda que tantos poetas já a tenham descrito, cada um de nós a sente de um modo específico, as vezes corta o coração, outras o conforta. Seja como for, eu sou um saudoso convicto, pois é da dor e do medo, que emana meu amor por inteiro....
Felipe Leão Mianes

Seminário Midia e deficiência

quarta-feira, 27 de julho de 2011Seminário Mídia e Deficiência
Hoje foi realizado em Porto Alegre o seminário: Mídia e Deficiência, promovido pela Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, coordenado por Juliana Carvalho (a quem parabenizo pela iniciativa e pelos projetos desenvolvidos). Neste evento foram discutidos diversos assuntos relacionados à questão do acesso das pessoas com deficiência aos meios de comunicação, bem como debateu-se a maneira como as pessoas com deficiência tem aparecido na mídia, especialmente nos jornais e emissoras de televisão.
Os grupos de comunicação convidados, leia-se RBS e Band (pois os representantes da Record e da TVE fizeram suas falas sobre outros temas), fizeram questão de ressaltar o “favor” que fazem ao cumprirem as leis relativas à acessibilidade e às pessoas com deficiência.
Um longo e profícuo debate se estabeleceu sobre o modo como as redes de comunicação realizam as reportagens e iniciativas voltadas a esses sujeitos. Uns crendo que a visibilidade era o fundamental, mais até do que o modo como esses sujeitos eram retratados. Outros criticando a falta de espaço para apresentarem as pessoas com deficiência na mídia com mudando os estereótipos de vitima, vilão ou herói, mas que deveriam sim, mostrar os sujeitos em suas diferenças, não apenas que: “venceram apesar de tudo”.
Outros tantos temas surgiram, e tenha eu concordado ou não, creio que até mesmo os posicionamentos com os quais não concordo – foram vários – se mostraram salutares, pois é esse compartilhar de ideias que faz com que haja movimentação, debates que de um modo ou outro nos levam a pensar sobre os caminhos a seguir, e sobre aquilo que queremos reivindicar.
Penso as vezes que apenas falar que as coisas não andam bem é muito fácil, mas se dispor a refletir, a ouvir posicionamentos em contrário talvez não seja o que muitos desejam. Digo isso porque o seminário foi muito bem organizado, muito bem formulado, a maioria dos painéis de grande qualidade, dando mais espaço para o debate do que normalmente é feito – vivas por essa iniciativa -, mas a presença de público deixou a desejar. Isso até para mim, parte da platéia, foi frustrante. Claro que se deve ressaltar aqueles que lá estiveram, mas penso que será que não chegou a hora de mudarmos a política do: “vinde a mim”?
Para que as melhoras aconteçam é preciso estar presente, aparecermos, cada um fazer um pouco a mais do que ficar sentado só as benesses. È preciso prestigiar essas iniciativas, refletir, reivindicar, questionar, problematizar... Como dizia Martin Luther King: “não tenho medo do barulho dos maus, mas do silêncio dos bons”.
Portanto, acho que abriu-se um canal, um espaço para discussões que espero e farei o possível para manter viva esta chama...

Cerâmica e inclusão

Pensei em escrever esta postagem já há algum tempo, mas decidi esperar um momento especial para fazê-lo. Nada mais representativo do que por em prática esta ideia, no dia do meu aniversário. Afinal, a partir do instante em que passei a frequentar o projeto Cerâmica e Inclusão, acho que de alguma maneira nasceu dentro de mim uma série de sensações e percepções, que hoje cuido com zelo e com afinco.

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A ação de extensão chamada Cerâmica e Inclusão – finalmente uma iniciativa que traz inclusão como acolhimento – é coordenado pela professora Cláudia Zanatta, do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Iniciada a cerca de um ano, tem como objetivo principal o acesso dos sujeitos com deficiência visual – ou não – às artes visuais, possibilitando diferentes modos de percepção artística – e eu diria até sentimentais – dessas pessoas.
As aulas acontecem nas segundas-feiras, às 9hs no Instituto de Artes da UFRGS. Num primeiro momento, ocorre uma atividade coletiva, preparada previamente por um dos monitores, colaboradores ou alunos, na qual se objetiva trabalhar as diversas formas de percepção, conhecimento artístico e outras possibilidades de estimução sensorial ou emocional dos sujeitos.
Logo em seguida, passa-se à atividade individual, em que cada um dos alunos concebe e constroem suas próprias peças, seja de objetos utilitários ou mesmo abstratos/ artísticos (ainda que, delimitar esta fronteira seja algo bem perigoso). Muitos dos alunos já têm ideia daquilo que desejam construir, outros decidem no momento da atividade qual tipo de artefato irão fazer.
Para tanto, além da professora Cláidia, existem monitores muito bem capacitados, competentes e solícitos, para atenderem as necessidades de deslocamento, de algum esclarecimento sobre a peça que está sendo feita ou auxilio de alguma outra ordem. Creio que um dos grandes méritos do projeto é que todos aqueles que atendem aos alunos não os tratam com compadecimento ou estigmatizando, mas sim, como sujeitos cuja suas diferenças requerem alguns modos de especificidade. Quero dizer com isso, que não vejo nenhuma forma de exclusão ou paternalismo, muito pelo contrário, percebo – e sinto – um acolhimento que raramente se sente em locais ditos inclusivos.
Depois de prontas, as peças ficam guardadas até estarem secas, então, aqueles que desejarem podem pintá-las antes de irem ao forno para a queima da peça (depois disso a peça está pronta e o aluno leva para sua casa). Sim, não se espante! Eu disse mesmo pintura, afinal, conforme muitos ainda pensam que os sujeitos com deficiência visual não se utilizam de cores, muito pelo contrário. Muitas das peças que já vi produzidas pelos alunos, são coloridas - e bem coloridas. A professora Cláudia relata que a questão das cores é algo muito interessante no projeto, pois inicialmente pensava-se que essa questão poderia ficar em segundo plano, mas logo se percebeu que seria um importante instrumento de percepção mesmo para aqueles que não enxergam. Outra peculiaridade que merece uma analise posterior e mais detida é que de acordo com Cláudia, a maioria dos alunos gosta mais de pintar os objetos na cor azul – inclusive eu –, e isso acontece de modo espontâneo, portanto, é algo riquíssimo, mas que ainda carece de investigação.

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Além de um pesquisador admirado com a qualidade e a inovação do projeto desenvolvido, me vi caindo nas malhas sedutoras da arte, no momento em que resolvi testar-me também como aluno....
Numa segunda-feira daquelas bem comuns, fui pesquisar e visitar o Cerâmica e Inclusão, para coleta de dados. Quando cheguei, havia uma atividade proposta, na qual todos estavam vendados, fazendo uma trilha guiada por cordas onde havia diversos objetos com as mais diferentes texturas nas quais podíamos tocar, sentir e cheirar. Isso já me impactou positivamente, depois disso, ao observar as atividades individuais dos alunos, percebi o quão dedicados e felizes estavam por participarem, um grupo integrado, coeso no qual existe uma relação estreita que é inegável o desejo de permanecer mais e mais.
Aquele ambiente me fez sentir acolhido como jamais fora em um ambiente artístico, pois por mais que eu sempre tivesse gostado de artes, muitas vezes é difícil ir ao cinema, ao teatro ou a uma exposição tendo baixa visão, pois sempre perdia algo por não ter um ambiente que contemplasse minha diferença. Decidi então, que também iria participar do projeto como aluno, e foi ai que nasceu algo de novo em mim, ou emergiu algo que nunca se manifestara.
Mexer na argila sentir na ponta dos dedos as texturas, perceber as rachaduras do material, ajustar o tamanho, manter a consistência, fazer ranhuras, alisar a peça, enfim, tudo requer uma aguçada percepção que não vem de um conhecimento racional, mas que flui como que em transe por cada poro, algo naturalmente sentimental.
Confeccionar uma peça é também um processo interno de reinvenção e reconfiguração de mim mesmo. Tenho novas e diferentes percepções sobre o mundo que hoje me parece mais rico de imagens e sentimentos, vejo coisas que outrora não notava a existência. É preciso lidar com as imperfeições com calma e com zelo, sem ansiedades, pois tudo depende do tempo, da temperatura do material. Moldar a peça é como repensar a vida, fazer do defeito ou da dificuldade não um problema, mas sim um recurso estético.
Para mim a vida se tornou até mais fácil, pois, penso em como poderia resolver um problema se ele fosse uma peça bruta de argila, e faço deslizar por meus dedos a solução. Transformar algo ruim em arte, e ter a arte de mudar a si mesmo sempre que preciso ou desejado.
Portanto, o trabalho executado pela Cláudia é de uma artista genial, daqueles que podem não ficar nos livros de História, mas que marca a história de cada um de nós. Não uma artista que tenta mudar o mundo com uma obra, mas que o faz sem saber, na medida em que planta uma semente frutífera no coração de cada um dos que participam deste projeto e que como eu, se sentem modificados em suas vidas, e que revolução pode ser maior do que ajudar a cada sujeito ao invés da generalidade de todos?
Enfim, mais que uma postagem de divulgação é uma escrita de gratidão. Obrigado Cláudia e todos aqueles que ajudam a desenvolver o Cerâmica e Inclusão.

Que razões há no amor

Em apenas dois movimentos levantou-se abruptamente da cama sem se importar com o frio glacial típico de um mês de junho. Caminhou angustiado por todas as partes do apartamento procurando algo que talvez nem bem soubesse do que se tratava. Na verdade queria reaver seu sossego, desejava recuperar o controle absoluto sobre seus pensamentos, que lhe foram roubados desde o instante em que aqueles olhos brilhantes verdes esmaltados cruzaram com os dele aprisionando para todo sempre sua alma.
Notou que esquecera a janela aberta por onde o rigoroso minuano lhe fazia uma nem tão agradável companhia, mesmo assim não ficou de todo insatisfeito, afinal o vento as vezes parecia dialogar com ele. Lembrou-se do momento em que sua musa colocara delicadamente um bilhete no bolso de sua camisa. Até aquele instante não conseguira coragem suficiente para ler o que estava escrito, temia ser uma despedida, rejeição, um adeus... Bebeu diretamente da garrafa o rum que descansava sobre a mesa de centro da sala.
Abriu o papel. Leu: “meu verdadeiro nome é Raquel, tel 94200666 - te espero ansiosa”. Como alguém com nome tão belo escolhe Samantha como nome de guerra? Talvez não seria prudente se apaixonar por uma mulher que caminha de um lado para o outro esperando os clientes. O minuano cruel era agora um vendaval de rosas perfumadas exalando o perfume de sua amada.
Pensou em ligar, mas viu no relógio que trabalhava apressado ao lado da cozinha que ainda eram quatro da manhã e que, portanto ainda estava trabalhando. Resolveu esperar o amanhecer debruçado sobre a janela observando a melancolia da cidade que dormia indiferente ao silêncio ensurdecedor da solitária escuridão, do ébrio que bailava e cantava com sua amada cachaça. Decepcionou-se por se dar conta que sua vida fora também uma eterna noite fria e sem sentido. Logo pode ver que o azul marinho começava a ceder lugar a um azul mais claro. Era o dia que principiava seu nascimento. Seria uma premonição?
Estava numa situação de veras embaraçosa, apaixonar-se por uma mulher da vida, Raquel já tinha 44 anos e Jorge apenas 21, indigou-se como poderia dar certo? Como poderia sustentá-la? E será que ela o sustentaria? Conseguiria dividi-la com uma dezena de homens diariamente? Adormeceu...
Aquela mulher deslumbrante, bronzeada, com curvas salientes, cabelos castanhos cacheados, lábios que mais pareciam uma manga rosa com uma voz irresistivelmente melódica e um rosto que nem mesmo as lentes de aumento da inveja conseguiam enxergar as suas rugas - não, o tempo não passava para ela – estava agora sentada em seu colo beijando-o por inteiro e se deixando beijar, ao mesmo tempo em que dizia palavras sinceras de amor em seu ouvido retribuídas com um olhar que lhe fez perceber que não pagaria mais para estarem juntos, disse que jamais a deixaria, Raquel pôs seu dedo indicador nos lábios do rapaz e disse: - Tudo tem seu preço, terás que abdicar de algo para estar comigo para sempre, e sei que o fará, isso que importa. Levou-a para o quarto.
Acordou com o sol batendo em seu rosto. O coração acelerado mal sabia o que fazer. Os pensamentos ainda embriagados se confundiam uns com os outros. Era hora de ligar, mas onde andaria o diabo da coragem. Bebe o pouco de rum que ainda restava. Lembra das parcas vezes que sofrera por tentar e das inúmeras que sofrera por desistir. O despertador toca a canção da alvorada. Jorge o atira contra a parede pensando que aquele simples objeto fosse a fonte de todo mal. Pensa em ligar. Põe a mão no telefone. Desiste. Dá inúmeros socos na parede. Sente um calafrio. Liga a televisão. Enquanto ouve o noticiário esportivo vai a geladeira procurar comida. Volta para a sala. Troca de canal. Perplexo vê a foto de Raquel no telejornal, e lê a legenda na parte de baixo da tela: “Prostituta se suicida atirando-se do 6º andar de um prédio”. Lê novamente o bilhete e entende o recado. Mira a janela, corre, salta....

Felipe Leão Mianes

Projeto Cerâmica e inclusão - sessão audiodescrição Antes que o mundo acabe

Hoje pela manhã ocorreu uma exibição especial com audiodescrição do filme: Antes que o mundo acabe (dirigido por Ana Luiza Azevedo), promovida pelo projeto Cerâmica e Inclusão, do Instituto de Artes da UFRGS coordenado pela Profa Cláudia Zanatta.
Os alunos atendidos pelo projeto – que detalharei em outra postagem – são em sua maioria, deficientes visuais (cegos ou com baixa visão), por isso, a exibição do filme foi cercada de alguma expectativa, já que para muitos dos alunos foi uma oportunidade impar de acesso ao cinema de modo a contemplar sua diferença, que lhes proporcionaram novas percepções a partir da audiodescrição, uma das diversas formas de acesso aos bens culturais e de produção artística.
Falo aqui um parenteses para dizer que tive acesso ao projeto com o objetivo de pesquisar sobre este, e me senti tão acolhido e tão interessado, que comecei também a participar como aluno.
O evento contou também com a audiodescritora Letícia Schwartz, que esteve conosco para uma conversa sobre seu trabalho desenvolvido nesta película. Preciso relatar aqui minha admiração pela voz de Letícia, que parece um jardim de rosas vermelhas aveludadas e sem espinhos, cada vez que a ouço é um momento celestial. Confesso que em muitos momentos em que descrevia as cenas torcia para que cada palavra dita durasse para sempre.
As cenas foram excelente bem descritas, o roteiro da descrição é claro, conciso e de fácil compreensão. Além disso, o conjunto da audiodescrição com os diálogos do filme foi muito bem efetuada. Diante disso, entendo também que Letícia – e outros audiodescritores – são mais do que profissionais que provém acesibilidade, são artistas também, já que ao comporem o roteiro da audiodescrição, entrevêem na produção artística (de modo positivo ou não dependo da qualidade do descritor), que na maioria das vezes além de auxiliar os sujeitos com deficiência visual, são também um grande acréscimo à obra.
A sessão fez muito sucesso entre os expectadores, já que durante todo filme ouvia-se apenas o áudio do filme, o que demonstra a total atenção de todos. E os comentários posteriores me permitiram notar o quão satisfeitos e alegres ficaram aqueles que assistiram, por se sentirem acolhidos, por terem conseguido desfrutar plenamente da obra, e da perfeita audiodescrição.
Alguns dos presentes que não possuíam deficiência visual, utilizaram vendas para assistirem ao filme, e ainda que isto não reflita de fato as experiência de quem não enxerga, consideraram um importante exercício de percepção.
Outro fato interessante na conversa, foi a demonstração do desejo e da reivindicação do aumento da audiodescrição para outros filmes e na televisão, algo que beneficiaria os sujeitos com deficiência visual, com um maior acesso à cultura. Para tanto, muitos dos participantes lembraram também, que além da mídia, os museus, teatros e outros espaços culturais deveriam possuir o recurso da audiodescrição, situação na qual Letícia mostrou-se engajada e conhecedora do tema, coadunando com nossas opiniões e reivindicações por um numero maior de iniciativas voltadas ao assunto.
Enfim, poderia dizer muito mais coisas sobre este momento de hoje pela manhã, mas tudo que eu disesse ainda seria pouco perto da satisfação e da alegria que senti, é ótimo começar a semana assim, pois uma atividade como essa me fez considerar a semana ganha desde seu primeiro dia... Parabéns Cláudia pela iniciativa, e Letícia pelo competente trabalho!

Adivinhação

Uma pessoa que não se importa se você é alto ou baixo; negro, branco ou mulato; gordo ou magro; loiro, moreno, careca... Alguém que não se interessa se sua roupa está na moda ou não; se você usa um tênis de marca ou um chinelo de dedo. Alguém que não enxerga você pelo que você tem ou aparenta ter, mas pela pessoa que você demonstra ser. Alguém interessado em te conhecer, entender teus valores, crenças e hábitos. Alguém que não te avalia com um olhar, mas desenvolve relações com sentimento e grandeza. Alguém que não te julga em um minuto de convivência, mas através de uma conversa ou de uma vida.
Alguém que não vê o que todos vêem, que vê além do óbvio e superficial, além do trivial e ingênuo. Uma pessoa que vê além do exterior. Uma pessoa que não vê obstáculos físicos, mas é capaz de atingir o infinito. Uma pessoa que vê o que ninguém mais vê.
Sim. Milhões de cegos e deficientes visuais podem se orgulhar de sua condição especial e dar o exemplo ao mundo. Se você pensou que essa pessoa não existia, tente, ao menos uma vez, enxergar o mundo da forma como os cegos enxergam, e verás que a vida pode ser diferente e melhor.
Mariana Baierle Soares - mariana.baierle@uol.com.br

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O admirável mundo cultural

Amor à vida! Amor à pesquisa! Amor a arte! Amor à cultura!
Talvez seja isso que faça de mim uma pessoa inquieta, como se um pouquinho de mim estivesse em tudo, como o pólem que plaina livre na brisa primaveriu. Em cada gota de sangue que percorre meu corpo pulsa um irrefreável desejo de conhecer o mundo, mesmo sabendo que esse conhecimento seja fugidiu e imcompleto. Tenho uma curiosidade insaciável, pois vejo cada nascer do dia como se fosse o último, cada blackbird como se fosse o último. Não porque eu ou eles deixarão de existir, mas simplesmente porque chegará o dia em que mesmo de olhos aberto - e os vendo - não mais os enxergarei.
...
Durante muitos séculos foi sonegado às pessoas com deficiência o seu direito de participação e acesso aos ambientes e produções culturais. Ainda assim, a produção artítico-cultural por parte desses sujeitos não é algo que começou a acontecer recentemente. No entanto, tais produções eram em número muito pequeno e tinham uma circulação muito restrita.
Da mesma forma, até duas décadas atráz - e ainda hoje - o acesso aos museus, teatros, cinemas, bibliotecas e outros ambientes culturais por parte das pessoas com deficiência eram quase impensáveis. Tais fatos não permitiam a essas pessoas, um acesso e consumo - não no sentido mercadológico - cultural.
Com a globalização, as novas políticas de inclusão e a busca por novos e emergentes mercados, bem como o surgimento de novas tecnologias, e até se pode dizer que houve uma certa democrátização do acesso a determinados conteúdos culturais por conta desses fatos, ao menos no que tange às produções culturais de/sobre/para sujeitos com deficiência, assim como muitos recursos de acessibilidade também foram fundamentais nesse processo.
Esse acesso e produções artístico-culturais de/sobre/para pessoas com deficiência, tem sido usado muitas vezes como estratégia normalizadora de cada um de nós, para que ao invéz de ressaltarmos nossas diferenças, valorizemos "chegar o mais perto possível de ser normal".
Por outro lado, este espaço que se abre em busca da normalização, pode ser subvertido e usado como uma potente forma de reivindicação da diferença, dissipando preconceitos, estereótipos e estigmas. Fazendo disso, não um modo de ressaltar aquilo que nos falta, mas de demonstrarmos nossas possibilidades e potencialidades, nas diárias lutas por nossos direitos à diferença.
Por isso, pretendo com este blog, abrir um espaço de debate sobre diversas questões artístico-culturais no que diz respeito às pessoas com deficiência. Além disso, servirá - ao menos pretendo - para a constituição de um banco de dados sobre diversas produções culturais de/sobre/para pessoas com deficiência.
Então conto também com a participação dos leitores com seus comentários e enviando ou divulgando produções culturais que tenham essa temática. Terei o maior prazer em divulgá-las, fazendo-as circular e até atingindo um público numérica e qualitativamente mais amplo.
Convido todos a fazerem parte desse adnirável mundo novo de arte, culturas e saudação à diferença.
Sejam sempre bem-vindos
Um fraterno abraço
Felipe Leão Mianes