quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Migalhas de mim

Vou deixando migalhas de mim pelo caminho.
E à medida que perco minhas partes.
Faço de minha incompletude.
A minha maior virtude.

Vivo numa sincronia anacrônica.
Numa ordem anarquista.
Em lugar algum me enquadro.
Me perdi, antes mesmo de ter achado.

Admiro as imagens que me invadem.
Pois ao não enxergá-las.
Sinto-as com todo meu corpo.
Não sou refém de um só sentido.
Me permita e te conto.
Como é não vestir a vista de um ponto.

Citando um dos filósofos.
Vos digo que só os cegos ousam.
Mirar o sol olhos nos olhos.

Há brilho onde todos vêem escuridão.
Por isso vou sempre na contramão.
De que a cegueira é limitação.
É sim, uma redenção!

Deixo aqui mais um pedaço de mim.
Se quiseres o recolha.
Mas não te peço concessão de espaço.
O meu caminho eu mesmo faço.

Felipe Leão Mianes


terça-feira, 13 de setembro de 2011

Porvir amoroso

Não deixe que a melancolia te tome em vão.
Nem sofra por outrem.
Na praia da paixão.
um amor vai e outro vem.

Moça que enxerga o mundo diferente.
Saibas que a desilusão pode ser reluzente.
Depois da tempestade.
Há sempre um arco-iris de bondade.
Mais vale a solidão que arde.
Que migalhas de amor pela metade.

Dizem que o mundo é um moinho.
E se hoje vives na amargura.
Amanhã terás carinho e ternura.

Dissipa a bruma que te entristece.
com o brilho de tu'alma que resplandece.
Ame apenas quem te merece.

Não importa quanto tempo passará.
Mas sei que outro alguém surgirá.
Fazendo de teu sonho realidade.
De um amor para a eternidade.

Felipe Leão Mianes

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

É preciso olho grande para comer?

Ir a um restaurante em Porto Alegre ou qualquer outra cidade que eu tenha conhecido é um ato necessariamente dependente de alguém, ou se não for assim, passarei fome.
Os cardápios estão com as letras cada vez menores, as opções de pratos, as figuras coloridas e apetitosas tomam completamente o espaço das letrinhas de bula de remédio. Nos fast foods é mais fácil é só decorar o número dos pedidos e dizer logo: um número 1 por favor! E pronto.
Mas nos demais casos, preciso pedir auxilio para que a minha paciente companhia leia um por um dos tipos de pratos existentes, seus ingredientes e acompanhamentos ou entradas, já que enxergar tudo aquilo é tarefa que a mim não há possibilidade alguma..
Mesmo os cegos deveriam ter um cardápio especificamente em braile,afinal, se as pessoas não se deram conta estes sujeitos também comem, consomem, vivem. Certa vez me senti bastante insatisfeito e perguntei ao gerente do estabelecimento por que as letras do cardápio eram tão pequenas, e eis que me respondeu de um modo que me fez levantar e ir embora, disse ele: “Se o senhor não trouxe seu óculos, peço a um garçom que o acompanhe e leia cada uma das opções, como um mimo do restaurante”
Mas oras! mimo é o ca.... Quem disse que acessibilidade é mimo? Porque eu preciso ir ao restaurante de "óculos”? pois que eu saiba, como com a boca.
É um absurdo como as pessoas ainda encaram a acessibilidade e o direito a autonomia de cada um como um presente, uma concessão, um “mimo” e não como um direito de cada um e dever de todos. Esta tudo errado quando o direito se torna um sentimento de benevolência.
Além disso, se a comida me custar o olho da cara, dou-lhes o esquerdo que para pouco serve mesmo...

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O pior cego é o que quer ver

A uma "primeira vista" essa ideia é tão estapafúrdia quanto tomar chocolate quente com sal. Mas para mim, esta se trata de uma questão crucial para todos aqueles que se consideram diferentes, ou que são taxados como tal, como os cegos, por exemplo.
Muitas vezes somos os protagonistas principais de nossa exclusão. Afinal, muitas vezes os primeiros que tendem a rejeitar a deficiência é o próprio deficiente. Já faz um bom tempo, na verdade nem sei bem quando aconteceu, que decidi romper definitivamente os laços com a normalidade, com a cansativa e enfadonha busca pela miraculosa - e quase nunca conseguida - cura
Até porque como diz Lygia Assunção Amaral, em um dos seus livros: "que existe a normalidade isto é inquestionável, mas o que se pode e deve questionar são os critérios que usamos para defini-la". Aceitar-se é o que separa-nos da felicidade ou da melancolia, eu preferi o primeiro.
Afirmo categoricamente, pode-se sim ser deficiente e ser feliz, tenho imenso orgulho em fazer parte da diferença, me orgulho de ser deficiente, pois assim é que eu sou, caso eu não tivesse deficiência seria outro, que não o que sou, para o bem e para o mal.
Me sinto livre, sem formulas milagrosas, sem médicos, sem remédios, apenas eu e minha percepção diferenciada do mundo. Até porque, as vezes quando se enxerga pouco, aprendemos a VER bem melhor. Como diria Evgen Bavcar (fotógrafo e filósofo cego), a deficiência visual não é limitação ou falta, mas novas e venturosas possibilidades de percepção do mundo.
Perdemos tanto tempo de nossas vidas querendo ser o que não somos, que esquecemos dos jardins floridos que há em nós. Para que me servem os olhos da matéria organica, se tenho alta visão com os olhos d'alma.
Aceitarmo-nos é passo fundamental para sermos aceitos, e condição de um amanhã mais feliz. O pior cego é o que quer ver, porque este não se aceita como tal, mal sabe ele, o quão bela sua deficiência pode ser.

O que os olhos não vêem o coração sente

Um filme de curta-metragem muitas vezes pode gerar debates acalorados, profícuos e vindouros. Ainda mais quando se trata de propor visões diferenciadas sobre sujeitos considerados diferentes. Quando há personagens que fogem à norma isso nos causa estranhamentos, e se essa fuga da norma acontece em mais de uma característica no mesmo sujeito, isso se multiplica de modo eloquente
Em: Eu não quero voltar sozinho (direção de Daniel Ribeiro), Leonardo, Giovana e Gabriel são três colegas de classe, um tanto excluídos pela turma: Leonardo por ser cego, Giovana por andar com ele e Gabriel por ser aluno novo na escola. O trio se aproximou muito pela distância abissal que tinham dos outros. Andavam sempre juntos, principalmente voltar da escola, já que Leonardo tinha insegurança em voltar sozinho.
Por outro lado, Giovana ficou muito enciumada pois, era apaixonada por Leonardo, e depois da chegada de Gabriel se sentia quase à parte da amizade entre os dois. Certo dia na escola, Leonardo disse querer contar algo para a garota, que ficou curiosa para saber o que era. Então, ele disse que estava apaixonado. Ela ficou eufórica pensando que se declararia para ela, MAS, Leonardo se disse apaixonado por Gabriel.
Depois disso, eu que não vou contar o fim do filme. Claro que esse é um resumo ultra condensado do que se passa na obra, até para aguçar a curiosidade de quem ainda não assistiu.
Durante todo tempo, as questões sobre a deficiência visual e da homossexualidade foram tratadas de modo delicado e natural, descartando os estereótipos já tão clichês, e tratando da diferença como pano de fundo para uma bela história de amor.
Dizem que o amor é cego, e nesse ditado eu creio. Outro dito popular prefiro modificar um pouco para que reflita a verdade: “o que os olhos não vêem o coração também sente”. Pensando assim, até o amor, o mais nobre dos sentimentos não enxerga, isso me deixa ainda mais próximo desse sentimento – eu e meus colegas ceguinhos.
Ter amor às cegas é a verdadeira expressão desse sentimento, sem ressalvas, sem padrões estéticos, sem regulamentos, sem rancores ou expectativas. Não sei se todos os cegos tem amor nem se todo amor cego é bom, mas sei que amar sem enxergar é amar incondicionalmente, independentemente do que se vê e totalmente vinculado ao que se sente, portanto: All you need is love/ ALL YOU NEED IS BLINDNESS!


Abaixo o link para ver o filme:
http://www.youtube.com/watch?v=1Wav5KjBHbI

Só pra contrariar, obrigado por não enxergar

Há alguns séculos atrás os sujeitos considerados anormais eram tidos como a personificação dos pecados da humanidade, das mazelas individuais de um sujeito ou ainda como uma “oportunidade” de exercer a caridade pra com o próximo, vítimas de um fardo pesado, dignos de pena e de uma inata incompletude que mereceria compadecimento. Assim, durante longo tempo os indivíduos com deficiência foram tratados como uma espécie de moeda de troca para indulgencias aos pecados mundanos. Quando se queria comprar um lugar no céu, logo se ajudava um doentinho e tudo estava resolvido.
Os anos foram passando, as sociedades se transformando e chegando rapidamente a atualidade, a questão da inclusão parece algo que sempre esteve ai, dada a sedução competente de seus discursos. Às vezes chegamos até a pensar que ninguém mais trataria a deficiência como um castigo. Mas talvez isso não esteja tão no passado assim. Sem querer fazer juízos de valor, mas eu diria que tenho pena apenas daqueles que tem pena de si mesmos.
Fico realmente triste quando vejo que sujeitos com deficiência vêem sua condição como um castigo divino. Primeiro porque, me desculpem os religiosos, mas acredito que nenhuma divindade verdadeiramente boa puniria quem quer que fosse. Ainda assim essa percepção de si mesmo é cômoda e limitadora.
Tudo parece mais fácil para as pessoas quando elas estabelecem um discurso de pena e comiseração de si mesmas, afinal, qualquer coisa que elas consigam para além do nada já parece uma vitória epopéica. É simples aceitar ficar posicionado em um lugar onde a sensação interna de inferioridade recebe um afago a cada elogio de “superação” ou a cada desculpa pelo fracasso. Ou seja, sempre há um motivo prévio, para o sucesso ou a falta dele.
Ver a deficiência como um castigo é abdicar da beleza de perceber o mundo de modo diferente da maioria. Somos pessoas que percebemos as nuances da vida não pelo que elas aparentam, mas pelo que elas são, vemos as coisas em cada detalhe no toque e no contato entre nós e o outro. A cegueira não está no fato de não enxergar, mas na tristeza por não querer ver.
Não enxergar é libertador, no sentido de que podemos usar a imaginação, usar outros sentidos fugindo a uma lógica oculocentrica de estar no mundo que não está para além do superficial, diferente de uma ideia que não estabelece a imagem como o fundamental, e sim uma estética da sensibilidade da emoção, perceber o mundo pela arte do sentir. É ter a sabedoria de construir imagens muitas vezes sem referencias sobre as mesmas, e outras tantas construí-las de modo muito mais inventivo do que aqueles que enxergam como de acordo com o que se classifica como normal.
Numa sociedade em que tudo passa muito rápido, em que as imagens são a força motriz da maioria das relações, são também, entendidas como decisivas para o sucesso e o fracasso, nós que somos tidos como privados das imagens, agimos num sentido contrário, remando contra a maré e mostrando que o visual e o visível não são essenciais, não tolem a criatividade, não encerram os sujeitos em mundo das trevas, mas sim, demonstram a riqueza e a superioridade que as sensações tem sobre essas imagens, afinal, um sentimento vale mais do que mil imagens.
De minha parte o mundo parece muito mais atrativo tendo baixa visão do que tendo alta visão, não consigo me imaginar tendo a empáfia de enxergar “perfeitamente” e achar que vejo o mundo com uma perfeição que ele de fato não tem. Enxergo o mundo como ele é, as vezes borrado, as vezes escuro, as vezes sem nitidez, mas sempre é um mundo percebido pela minha sensação e não pela dos outros.
Dias atrás, depois de uma apresentação de minhas pesquisas, a mãe de uma deficiente visual falou comigo e disse: “a partir de hoje quando eu chegar em casa eu vou ver a minha filha não mais com pena, mas com orgulho”. Pois então acho que pensar a deficiência como castigo é um castigo merecido para quem pensa assim.

Que saudades que eu tenho

Sou saudosista convicto, rego constantemente o jardim de minhas lembranças, uma ou outra vez um espinho me faz sangrar. Nada que apague o perfume que as flores das recordações exalam. Meu olhar diferente sobre o mundo me faz ver coisas que quem enxerga não vê. Antes de fenecer pretendo sorver da vida tudo que puder. Cada segundo que passa é um amigo fiel que se vai para não mais voltar.
A cada instante que passa estamos mais próximos da morte, mas para mim é a lembrança do que passou que me faz sentir ainda mais vivo. Ainda ontem eu estava sentado no chão da sala lá de casa brincando de lego e ao fundo ouvindo Pink Floyd que meu pai sempre colocava no toca-disco; Lembro da primeira vez que chorei ie medo, e da que tive medo de chorar; Não saem de minha retina os que se orgulhavam de ser simples, e hoje, são simplesmente orgulhosos. Não esqueço de quando descobri que o amor verdadeiro está nos gestos mais singelos.
Sinto falta dos amigos que perdi, e dos que eu conquistei. Dos amigos bons que o vendaval do cotidiano espalhou pelo mundo. E dos nem tão amigos que me mostraram os defeitos que tenho. Terei sempre um pouco de cada um deles dentro de mim, de seus sorrisos e de suas lágrimas. Me encontro com eles pelas esquinas dos meus pensamentos, e por isso estarão sempre ao meu lado.
As despedidas para mim são como poesias de Augusto dos Anjos, corroem a carne até a última fibra, mas por causa disso me vejo (ser)humano, como quem ama mesmo por entre as brumas. Despedidas são renúncias, amor sem renúncias não é amor por inteiro. O amor não aceita resultados fracionados.
Tenho mais saudade ainda do que não vivi, do que nunca tive e do que nunca fui. Saudade dos caminhos que escolhi não trilhar, e também dos que trilhei. Cada escolha traz consigo desistências, certezas e dúvidas. Pudera eu ser onipotente, onipresente e onisciente para viver o máximo de experiências possíveis, carrasco e torturado; poeta e alienado; ser o tudo, nada e o que mais houver entre eles. Vejo o passado com olhos de menino, e vejo o futuro como o passado que vem surgindo.

Audiodescrição do videoclipe da música "caminho certo"

Hoje assisti a algo realmente inovador, pelo menos para mim, um videoclipe musical com audiodescrição. Mais uma das grandes sacações competentes da Mil Palavras (sobre a qual já falei em um dos meus textos e que confesso as vezes ficar SEM palavras para descrever o quanto admiro).
Com roteiro escrito por Mimi Aragón, Gabriel Schmitt, Letícia Schwartz, Márcia Caspary, Jorge Rein, Bruno Paiva, Tina Gonçalves e Marilena Assis. e narração de Kiko Ferraz, foi audiodescrito o videoclipe da música “Caminho certo”, da cantora Luiza Caspary. A canção é muito boa, a voz de Luiza é delicada e bela, nos faz ter vontade de ouvir mais, muito mais...
É importante para aqueles que não enxergam terem contato com diversas possibilidades midiáticas, proporcionar acesso - e de preferência de qualidade - à arte. Eu sempre fui da opinião de que tanto a audioleitura como a audiodescrição não são apenas recursos de acessibilidade, mas também, criações artísticas, que apresentam interpretações e sentimentos sobre uma obra, e sobre o mundo.
Em minha opinião, isso acontece quando há um bom roteiro, com clareza, concisão e boa narração, algo até raro. Pois bem, acho que assistir a esse videoclipe foi como ouvir a duas obras de arte que apresentadas juntas não ofuscam o brilho uma da outra, seja a música ou a audiodescrição do clipe, estão muitíssimo bem feitas. Não á toa eu já ouvi mais de duas, três vezes.
É muito importante valorizar essas iniciativas pois aumentam nossas possibilidades de acesso, ampliam nossos horizontes no que tange ao nosso enriquecimento cultural. Apenas ouvir um videoclipe para muitos podem não interferir no resultado, afinal, em tese o que importa é a canção.
Mas não é exatamente assim, se pensarmos que o grande sucesso de Thriller de Michael Jackson, foram as imagens, as quais garanto que nenhum cego viu. Quero dizer com isso que alguns videoclipes são mesmo como curtas-metragens, como no caso de Primavera, de Los Hermanos, assim como em Caminho Certo.
Outro grande mérito da audiodescrição foi o fato de dizer o nome dos músicos presentes na gravação e que imagino eu, foram os mesmos que gravaram a musica. Sempre tenho curiosidade em saber quem tocou esse ou aquele instrumento.
Enfim, usando um pouco das estrofes da canção, eu diria que fazer a audiodescrição deste clipe, foi mesmo um caminho certo e uma escolha perfeita. Música de qualidade é bom... um clipe de música boa com bela audiodescrição, não tem preço!

Abaixo o link para assistir:
http://www.milpalavras.net.br/o-caminho-certo-videoclipe-com-audiodescricao

Alegria triste - triste alegria

Existem sentimentos que nos parecem incompatíveis se tidos juntos, como o egoísmo e generosidade, tranqüilidade e angustia, enfim, muitas possibilidades que em tese se excluem. Mas esses dias, por conta da partida de uma amiga muito querida para novas “aventuras” e desafios profissionais, me dei conta daquilo que sentem os palhaços que fazem todos rirem, enquanto na verdade, querem mesmo é chorar.
Pois é, eu estava vivendo uma alegria triste, um sorriso que insistia em ser, vez por outra, inundado com o azedume de lágrimas que insistiam em brotar nos olhos e serpentear pelo rosto, tão qual um rio chamado saudade. Pensando bem, acho que alegria e tristeza formam a nascente e a foz desse rio. Sensação ambígua, que liga meu passado a meu futuro, que subverte os tempos verbais, que me prende a futuro do não existente, e a um pretérito mais que imperfeito.
Sinto saudades das vidas que nunca vivi, de não ter sido jogador de futebol, pedreiro, astro do rock, um burocrata, de ter sido feliz... Sinto falta das pessoas que não conheci, das cidades onde não morei. Queria ter mil vidas em uma, pena que ás vezes essa vontade me tire até mesmo o direito de jactar-me com a única que possuo.
Estranha mania essa de querer o que não se tem. Tanto é verdade que queria viver outras vidas, que essas insatisfações não são minhas, mas de outros, coletadas cuidadosamente da árvore da vida de cada pessoa que vi, conheci ou soube da existência.
A saudade às vezes transborda, inunda, causa furor e desamparo, como um tsunami sobre o qual só nos resta sentir a força da natureza, a natureza dos sentimentos que nos tomam, uma onda que mistura mel e lama, que revolve lembranças de fenecer a fascinação.
Ainda assim, creio que ao fim de tudo... quem sente saudades tem motivos para comemorar, para ser feliz, afinal, só chora por amor quem o sentiu, só sente falta de um amigo quem já o teve, tens melancolia porque já existiu entusiasmo.
A saudade é além de um rio, todas as metáforas que se consegue fazer, como ser uma orquídea regada a lágrimas e iluminada pelo brilho de um sorriso. Mas, ainda que tantos poetas já a tenham descrito, cada um de nós a sente de um modo específico, as vezes corta o coração, outras o conforta. Seja como for, eu sou um saudoso convicto, pois é da dor e do medo, que emana meu amor por inteiro....
Felipe Leão Mianes

Seminário Midia e deficiência

quarta-feira, 27 de julho de 2011Seminário Mídia e Deficiência
Hoje foi realizado em Porto Alegre o seminário: Mídia e Deficiência, promovido pela Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, coordenado por Juliana Carvalho (a quem parabenizo pela iniciativa e pelos projetos desenvolvidos). Neste evento foram discutidos diversos assuntos relacionados à questão do acesso das pessoas com deficiência aos meios de comunicação, bem como debateu-se a maneira como as pessoas com deficiência tem aparecido na mídia, especialmente nos jornais e emissoras de televisão.
Os grupos de comunicação convidados, leia-se RBS e Band (pois os representantes da Record e da TVE fizeram suas falas sobre outros temas), fizeram questão de ressaltar o “favor” que fazem ao cumprirem as leis relativas à acessibilidade e às pessoas com deficiência.
Um longo e profícuo debate se estabeleceu sobre o modo como as redes de comunicação realizam as reportagens e iniciativas voltadas a esses sujeitos. Uns crendo que a visibilidade era o fundamental, mais até do que o modo como esses sujeitos eram retratados. Outros criticando a falta de espaço para apresentarem as pessoas com deficiência na mídia com mudando os estereótipos de vitima, vilão ou herói, mas que deveriam sim, mostrar os sujeitos em suas diferenças, não apenas que: “venceram apesar de tudo”.
Outros tantos temas surgiram, e tenha eu concordado ou não, creio que até mesmo os posicionamentos com os quais não concordo – foram vários – se mostraram salutares, pois é esse compartilhar de ideias que faz com que haja movimentação, debates que de um modo ou outro nos levam a pensar sobre os caminhos a seguir, e sobre aquilo que queremos reivindicar.
Penso as vezes que apenas falar que as coisas não andam bem é muito fácil, mas se dispor a refletir, a ouvir posicionamentos em contrário talvez não seja o que muitos desejam. Digo isso porque o seminário foi muito bem organizado, muito bem formulado, a maioria dos painéis de grande qualidade, dando mais espaço para o debate do que normalmente é feito – vivas por essa iniciativa -, mas a presença de público deixou a desejar. Isso até para mim, parte da platéia, foi frustrante. Claro que se deve ressaltar aqueles que lá estiveram, mas penso que será que não chegou a hora de mudarmos a política do: “vinde a mim”?
Para que as melhoras aconteçam é preciso estar presente, aparecermos, cada um fazer um pouco a mais do que ficar sentado só as benesses. È preciso prestigiar essas iniciativas, refletir, reivindicar, questionar, problematizar... Como dizia Martin Luther King: “não tenho medo do barulho dos maus, mas do silêncio dos bons”.
Portanto, acho que abriu-se um canal, um espaço para discussões que espero e farei o possível para manter viva esta chama...

Cerâmica e inclusão

Pensei em escrever esta postagem já há algum tempo, mas decidi esperar um momento especial para fazê-lo. Nada mais representativo do que por em prática esta ideia, no dia do meu aniversário. Afinal, a partir do instante em que passei a frequentar o projeto Cerâmica e Inclusão, acho que de alguma maneira nasceu dentro de mim uma série de sensações e percepções, que hoje cuido com zelo e com afinco.

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A ação de extensão chamada Cerâmica e Inclusão – finalmente uma iniciativa que traz inclusão como acolhimento – é coordenado pela professora Cláudia Zanatta, do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Iniciada a cerca de um ano, tem como objetivo principal o acesso dos sujeitos com deficiência visual – ou não – às artes visuais, possibilitando diferentes modos de percepção artística – e eu diria até sentimentais – dessas pessoas.
As aulas acontecem nas segundas-feiras, às 9hs no Instituto de Artes da UFRGS. Num primeiro momento, ocorre uma atividade coletiva, preparada previamente por um dos monitores, colaboradores ou alunos, na qual se objetiva trabalhar as diversas formas de percepção, conhecimento artístico e outras possibilidades de estimução sensorial ou emocional dos sujeitos.
Logo em seguida, passa-se à atividade individual, em que cada um dos alunos concebe e constroem suas próprias peças, seja de objetos utilitários ou mesmo abstratos/ artísticos (ainda que, delimitar esta fronteira seja algo bem perigoso). Muitos dos alunos já têm ideia daquilo que desejam construir, outros decidem no momento da atividade qual tipo de artefato irão fazer.
Para tanto, além da professora Cláidia, existem monitores muito bem capacitados, competentes e solícitos, para atenderem as necessidades de deslocamento, de algum esclarecimento sobre a peça que está sendo feita ou auxilio de alguma outra ordem. Creio que um dos grandes méritos do projeto é que todos aqueles que atendem aos alunos não os tratam com compadecimento ou estigmatizando, mas sim, como sujeitos cuja suas diferenças requerem alguns modos de especificidade. Quero dizer com isso, que não vejo nenhuma forma de exclusão ou paternalismo, muito pelo contrário, percebo – e sinto – um acolhimento que raramente se sente em locais ditos inclusivos.
Depois de prontas, as peças ficam guardadas até estarem secas, então, aqueles que desejarem podem pintá-las antes de irem ao forno para a queima da peça (depois disso a peça está pronta e o aluno leva para sua casa). Sim, não se espante! Eu disse mesmo pintura, afinal, conforme muitos ainda pensam que os sujeitos com deficiência visual não se utilizam de cores, muito pelo contrário. Muitas das peças que já vi produzidas pelos alunos, são coloridas - e bem coloridas. A professora Cláudia relata que a questão das cores é algo muito interessante no projeto, pois inicialmente pensava-se que essa questão poderia ficar em segundo plano, mas logo se percebeu que seria um importante instrumento de percepção mesmo para aqueles que não enxergam. Outra peculiaridade que merece uma analise posterior e mais detida é que de acordo com Cláudia, a maioria dos alunos gosta mais de pintar os objetos na cor azul – inclusive eu –, e isso acontece de modo espontâneo, portanto, é algo riquíssimo, mas que ainda carece de investigação.

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Além de um pesquisador admirado com a qualidade e a inovação do projeto desenvolvido, me vi caindo nas malhas sedutoras da arte, no momento em que resolvi testar-me também como aluno....
Numa segunda-feira daquelas bem comuns, fui pesquisar e visitar o Cerâmica e Inclusão, para coleta de dados. Quando cheguei, havia uma atividade proposta, na qual todos estavam vendados, fazendo uma trilha guiada por cordas onde havia diversos objetos com as mais diferentes texturas nas quais podíamos tocar, sentir e cheirar. Isso já me impactou positivamente, depois disso, ao observar as atividades individuais dos alunos, percebi o quão dedicados e felizes estavam por participarem, um grupo integrado, coeso no qual existe uma relação estreita que é inegável o desejo de permanecer mais e mais.
Aquele ambiente me fez sentir acolhido como jamais fora em um ambiente artístico, pois por mais que eu sempre tivesse gostado de artes, muitas vezes é difícil ir ao cinema, ao teatro ou a uma exposição tendo baixa visão, pois sempre perdia algo por não ter um ambiente que contemplasse minha diferença. Decidi então, que também iria participar do projeto como aluno, e foi ai que nasceu algo de novo em mim, ou emergiu algo que nunca se manifestara.
Mexer na argila sentir na ponta dos dedos as texturas, perceber as rachaduras do material, ajustar o tamanho, manter a consistência, fazer ranhuras, alisar a peça, enfim, tudo requer uma aguçada percepção que não vem de um conhecimento racional, mas que flui como que em transe por cada poro, algo naturalmente sentimental.
Confeccionar uma peça é também um processo interno de reinvenção e reconfiguração de mim mesmo. Tenho novas e diferentes percepções sobre o mundo que hoje me parece mais rico de imagens e sentimentos, vejo coisas que outrora não notava a existência. É preciso lidar com as imperfeições com calma e com zelo, sem ansiedades, pois tudo depende do tempo, da temperatura do material. Moldar a peça é como repensar a vida, fazer do defeito ou da dificuldade não um problema, mas sim um recurso estético.
Para mim a vida se tornou até mais fácil, pois, penso em como poderia resolver um problema se ele fosse uma peça bruta de argila, e faço deslizar por meus dedos a solução. Transformar algo ruim em arte, e ter a arte de mudar a si mesmo sempre que preciso ou desejado.
Portanto, o trabalho executado pela Cláudia é de uma artista genial, daqueles que podem não ficar nos livros de História, mas que marca a história de cada um de nós. Não uma artista que tenta mudar o mundo com uma obra, mas que o faz sem saber, na medida em que planta uma semente frutífera no coração de cada um dos que participam deste projeto e que como eu, se sentem modificados em suas vidas, e que revolução pode ser maior do que ajudar a cada sujeito ao invés da generalidade de todos?
Enfim, mais que uma postagem de divulgação é uma escrita de gratidão. Obrigado Cláudia e todos aqueles que ajudam a desenvolver o Cerâmica e Inclusão.

Que razões há no amor

Em apenas dois movimentos levantou-se abruptamente da cama sem se importar com o frio glacial típico de um mês de junho. Caminhou angustiado por todas as partes do apartamento procurando algo que talvez nem bem soubesse do que se tratava. Na verdade queria reaver seu sossego, desejava recuperar o controle absoluto sobre seus pensamentos, que lhe foram roubados desde o instante em que aqueles olhos brilhantes verdes esmaltados cruzaram com os dele aprisionando para todo sempre sua alma.
Notou que esquecera a janela aberta por onde o rigoroso minuano lhe fazia uma nem tão agradável companhia, mesmo assim não ficou de todo insatisfeito, afinal o vento as vezes parecia dialogar com ele. Lembrou-se do momento em que sua musa colocara delicadamente um bilhete no bolso de sua camisa. Até aquele instante não conseguira coragem suficiente para ler o que estava escrito, temia ser uma despedida, rejeição, um adeus... Bebeu diretamente da garrafa o rum que descansava sobre a mesa de centro da sala.
Abriu o papel. Leu: “meu verdadeiro nome é Raquel, tel 94200666 - te espero ansiosa”. Como alguém com nome tão belo escolhe Samantha como nome de guerra? Talvez não seria prudente se apaixonar por uma mulher que caminha de um lado para o outro esperando os clientes. O minuano cruel era agora um vendaval de rosas perfumadas exalando o perfume de sua amada.
Pensou em ligar, mas viu no relógio que trabalhava apressado ao lado da cozinha que ainda eram quatro da manhã e que, portanto ainda estava trabalhando. Resolveu esperar o amanhecer debruçado sobre a janela observando a melancolia da cidade que dormia indiferente ao silêncio ensurdecedor da solitária escuridão, do ébrio que bailava e cantava com sua amada cachaça. Decepcionou-se por se dar conta que sua vida fora também uma eterna noite fria e sem sentido. Logo pode ver que o azul marinho começava a ceder lugar a um azul mais claro. Era o dia que principiava seu nascimento. Seria uma premonição?
Estava numa situação de veras embaraçosa, apaixonar-se por uma mulher da vida, Raquel já tinha 44 anos e Jorge apenas 21, indigou-se como poderia dar certo? Como poderia sustentá-la? E será que ela o sustentaria? Conseguiria dividi-la com uma dezena de homens diariamente? Adormeceu...
Aquela mulher deslumbrante, bronzeada, com curvas salientes, cabelos castanhos cacheados, lábios que mais pareciam uma manga rosa com uma voz irresistivelmente melódica e um rosto que nem mesmo as lentes de aumento da inveja conseguiam enxergar as suas rugas - não, o tempo não passava para ela – estava agora sentada em seu colo beijando-o por inteiro e se deixando beijar, ao mesmo tempo em que dizia palavras sinceras de amor em seu ouvido retribuídas com um olhar que lhe fez perceber que não pagaria mais para estarem juntos, disse que jamais a deixaria, Raquel pôs seu dedo indicador nos lábios do rapaz e disse: - Tudo tem seu preço, terás que abdicar de algo para estar comigo para sempre, e sei que o fará, isso que importa. Levou-a para o quarto.
Acordou com o sol batendo em seu rosto. O coração acelerado mal sabia o que fazer. Os pensamentos ainda embriagados se confundiam uns com os outros. Era hora de ligar, mas onde andaria o diabo da coragem. Bebe o pouco de rum que ainda restava. Lembra das parcas vezes que sofrera por tentar e das inúmeras que sofrera por desistir. O despertador toca a canção da alvorada. Jorge o atira contra a parede pensando que aquele simples objeto fosse a fonte de todo mal. Pensa em ligar. Põe a mão no telefone. Desiste. Dá inúmeros socos na parede. Sente um calafrio. Liga a televisão. Enquanto ouve o noticiário esportivo vai a geladeira procurar comida. Volta para a sala. Troca de canal. Perplexo vê a foto de Raquel no telejornal, e lê a legenda na parte de baixo da tela: “Prostituta se suicida atirando-se do 6º andar de um prédio”. Lê novamente o bilhete e entende o recado. Mira a janela, corre, salta....

Felipe Leão Mianes

Projeto Cerâmica e inclusão - sessão audiodescrição Antes que o mundo acabe

Hoje pela manhã ocorreu uma exibição especial com audiodescrição do filme: Antes que o mundo acabe (dirigido por Ana Luiza Azevedo), promovida pelo projeto Cerâmica e Inclusão, do Instituto de Artes da UFRGS coordenado pela Profa Cláudia Zanatta.
Os alunos atendidos pelo projeto – que detalharei em outra postagem – são em sua maioria, deficientes visuais (cegos ou com baixa visão), por isso, a exibição do filme foi cercada de alguma expectativa, já que para muitos dos alunos foi uma oportunidade impar de acesso ao cinema de modo a contemplar sua diferença, que lhes proporcionaram novas percepções a partir da audiodescrição, uma das diversas formas de acesso aos bens culturais e de produção artística.
Falo aqui um parenteses para dizer que tive acesso ao projeto com o objetivo de pesquisar sobre este, e me senti tão acolhido e tão interessado, que comecei também a participar como aluno.
O evento contou também com a audiodescritora Letícia Schwartz, que esteve conosco para uma conversa sobre seu trabalho desenvolvido nesta película. Preciso relatar aqui minha admiração pela voz de Letícia, que parece um jardim de rosas vermelhas aveludadas e sem espinhos, cada vez que a ouço é um momento celestial. Confesso que em muitos momentos em que descrevia as cenas torcia para que cada palavra dita durasse para sempre.
As cenas foram excelente bem descritas, o roteiro da descrição é claro, conciso e de fácil compreensão. Além disso, o conjunto da audiodescrição com os diálogos do filme foi muito bem efetuada. Diante disso, entendo também que Letícia – e outros audiodescritores – são mais do que profissionais que provém acesibilidade, são artistas também, já que ao comporem o roteiro da audiodescrição, entrevêem na produção artística (de modo positivo ou não dependo da qualidade do descritor), que na maioria das vezes além de auxiliar os sujeitos com deficiência visual, são também um grande acréscimo à obra.
A sessão fez muito sucesso entre os expectadores, já que durante todo filme ouvia-se apenas o áudio do filme, o que demonstra a total atenção de todos. E os comentários posteriores me permitiram notar o quão satisfeitos e alegres ficaram aqueles que assistiram, por se sentirem acolhidos, por terem conseguido desfrutar plenamente da obra, e da perfeita audiodescrição.
Alguns dos presentes que não possuíam deficiência visual, utilizaram vendas para assistirem ao filme, e ainda que isto não reflita de fato as experiência de quem não enxerga, consideraram um importante exercício de percepção.
Outro fato interessante na conversa, foi a demonstração do desejo e da reivindicação do aumento da audiodescrição para outros filmes e na televisão, algo que beneficiaria os sujeitos com deficiência visual, com um maior acesso à cultura. Para tanto, muitos dos participantes lembraram também, que além da mídia, os museus, teatros e outros espaços culturais deveriam possuir o recurso da audiodescrição, situação na qual Letícia mostrou-se engajada e conhecedora do tema, coadunando com nossas opiniões e reivindicações por um numero maior de iniciativas voltadas ao assunto.
Enfim, poderia dizer muito mais coisas sobre este momento de hoje pela manhã, mas tudo que eu disesse ainda seria pouco perto da satisfação e da alegria que senti, é ótimo começar a semana assim, pois uma atividade como essa me fez considerar a semana ganha desde seu primeiro dia... Parabéns Cláudia pela iniciativa, e Letícia pelo competente trabalho!

Adivinhação

Uma pessoa que não se importa se você é alto ou baixo; negro, branco ou mulato; gordo ou magro; loiro, moreno, careca... Alguém que não se interessa se sua roupa está na moda ou não; se você usa um tênis de marca ou um chinelo de dedo. Alguém que não enxerga você pelo que você tem ou aparenta ter, mas pela pessoa que você demonstra ser. Alguém interessado em te conhecer, entender teus valores, crenças e hábitos. Alguém que não te avalia com um olhar, mas desenvolve relações com sentimento e grandeza. Alguém que não te julga em um minuto de convivência, mas através de uma conversa ou de uma vida.
Alguém que não vê o que todos vêem, que vê além do óbvio e superficial, além do trivial e ingênuo. Uma pessoa que vê além do exterior. Uma pessoa que não vê obstáculos físicos, mas é capaz de atingir o infinito. Uma pessoa que vê o que ninguém mais vê.
Sim. Milhões de cegos e deficientes visuais podem se orgulhar de sua condição especial e dar o exemplo ao mundo. Se você pensou que essa pessoa não existia, tente, ao menos uma vez, enxergar o mundo da forma como os cegos enxergam, e verás que a vida pode ser diferente e melhor.
Mariana Baierle Soares - mariana.baierle@uol.com.br

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O admirável mundo cultural

Amor à vida! Amor à pesquisa! Amor a arte! Amor à cultura!
Talvez seja isso que faça de mim uma pessoa inquieta, como se um pouquinho de mim estivesse em tudo, como o pólem que plaina livre na brisa primaveriu. Em cada gota de sangue que percorre meu corpo pulsa um irrefreável desejo de conhecer o mundo, mesmo sabendo que esse conhecimento seja fugidiu e imcompleto. Tenho uma curiosidade insaciável, pois vejo cada nascer do dia como se fosse o último, cada blackbird como se fosse o último. Não porque eu ou eles deixarão de existir, mas simplesmente porque chegará o dia em que mesmo de olhos aberto - e os vendo - não mais os enxergarei.
...
Durante muitos séculos foi sonegado às pessoas com deficiência o seu direito de participação e acesso aos ambientes e produções culturais. Ainda assim, a produção artítico-cultural por parte desses sujeitos não é algo que começou a acontecer recentemente. No entanto, tais produções eram em número muito pequeno e tinham uma circulação muito restrita.
Da mesma forma, até duas décadas atráz - e ainda hoje - o acesso aos museus, teatros, cinemas, bibliotecas e outros ambientes culturais por parte das pessoas com deficiência eram quase impensáveis. Tais fatos não permitiam a essas pessoas, um acesso e consumo - não no sentido mercadológico - cultural.
Com a globalização, as novas políticas de inclusão e a busca por novos e emergentes mercados, bem como o surgimento de novas tecnologias, e até se pode dizer que houve uma certa democrátização do acesso a determinados conteúdos culturais por conta desses fatos, ao menos no que tange às produções culturais de/sobre/para sujeitos com deficiência, assim como muitos recursos de acessibilidade também foram fundamentais nesse processo.
Esse acesso e produções artístico-culturais de/sobre/para pessoas com deficiência, tem sido usado muitas vezes como estratégia normalizadora de cada um de nós, para que ao invéz de ressaltarmos nossas diferenças, valorizemos "chegar o mais perto possível de ser normal".
Por outro lado, este espaço que se abre em busca da normalização, pode ser subvertido e usado como uma potente forma de reivindicação da diferença, dissipando preconceitos, estereótipos e estigmas. Fazendo disso, não um modo de ressaltar aquilo que nos falta, mas de demonstrarmos nossas possibilidades e potencialidades, nas diárias lutas por nossos direitos à diferença.
Por isso, pretendo com este blog, abrir um espaço de debate sobre diversas questões artístico-culturais no que diz respeito às pessoas com deficiência. Além disso, servirá - ao menos pretendo - para a constituição de um banco de dados sobre diversas produções culturais de/sobre/para pessoas com deficiência.
Então conto também com a participação dos leitores com seus comentários e enviando ou divulgando produções culturais que tenham essa temática. Terei o maior prazer em divulgá-las, fazendo-as circular e até atingindo um público numérica e qualitativamente mais amplo.
Convido todos a fazerem parte desse adnirável mundo novo de arte, culturas e saudação à diferença.
Sejam sempre bem-vindos
Um fraterno abraço
Felipe Leão Mianes