domingo, 30 de outubro de 2011

Na corda-bamba das estrelas

Caminho cambaleando no breu.
Chuto pedras e esperanças.
Rolam rumo a lugar algum.
Um sorriso é só vil lembrança.

Andando na corda-bamba das estrelas.
Vejo o quão apagado e pequeno sou no mundo.
No afã da insolidão.
Converso com o vento.
O vendaval vira às costas revolto.

No escuro das ruas.
Me vejo em infinita melancolia.
Serão felizes os que vivem detrás desses muros?
Solidão é ainda mais triste quando se está acompanhado?

Tropeço e caio nas minhas recordações.
Mergulho na água fétida e amarga da ausência.
Afogo as mágoas.
Nas poças de água-ardente.
Tentando esquecer.
Torno a dor ainda mais latente.

De volta à lucidez.
Saudoso sou da alucinação.
Lá, minha vida vale mais de um vintém.
Vivo sempre sem carinho de outrem.
Ao meu fenecer, digo amém...
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Felipe Leão Mianes

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Cegueira moral - há um "jeitinho" de resolver isso?


Ás vezes me pergunto quanto tempo de nossas vidas passamos transferindo nossas próprias responsabilidades morais (a palavra moral tratada aqui no sentido de conduta e costumes considerados ideais) para os outros. Presta-se tanta atenção nos erros do próximo, que esquecem os seus.             Exemplo disso, é o fomento ao nocivo “jeitinho brasileiro” – quase um patrimônio histórico imaterial da nação tupiniquim. Muitos classificam os políticos como corruptos, mas quando tem a mínima chance burlam a lei para levar vantagem nem que seja “só um pouquinho” não hesitam em fazê-lo.
Por um lado exalta-se a honestidade, que para mim não é nada mais do que obrigação de cada sujeito. Por outro lado, muitos ficam perplexos quando aparecem casos de “extrema” honestidade, e até dizem: ”como foi bobo de não se aproveitar da situação”. Ou ainda, justificam sua malandragem dizendo que “todo mundo faz, porque eu não?”. Duvido alguém nunca ter feito ou ouvido isso.
Já alerto aqui que não me acho nenhum santinho, algumas vezes já cometi equívocos e usei do tal “jeitinho”, mas também é verdade que me arrependo dessas situações. Por isso, não sou nenhum justiceiro da moral.
Conhecemos diversas histórias que nos são contadas, com um ar de satisfação, no qual a pessoa se jacta de sua esperteza e malandragem. Histórias como: “paguei uma cerveja e tudo se resolveu”, “dei um jeitinho e burlei o sistema, como sou esperto”, “estacionei na vaga dos aleijados, mas é só por um minutinho” ou “cada um que pense no seu, os outros que se f...”.
Vejo muitas manifestações na mídia e nas redes sociais no sentido de lutar contra a corrupção e moralizar o país, bradando contra os desvios de dinheiro ou contra a impunidade. Não há como ser contrário a isso, mas, será que muitos não fazem o mesmo em pequena escala? Será que muitos não enxergam apenas o próprio umbigo? Muitos que não enxergam ou tem baixa visão, tem visão bem mais ampla que olhar só pra si próprio.
Então, a deficiência moral parece bem mais séria do que a corporal. Antes de criticar um comportamento alheio, de um ator, político, cantor ou esportista, já não fizeste o mesmo? Parafraseando a poetiza Eliza Lucinda, só pra sacanear eu continuarei sendo honesto, cumprindo as normas e agindo de acordo com a lei.
Sempre que alguém leva vantagem em demasia, outro sujeito fica no prejuízo, mas quem se dá bem pouco se importa com isso. Onde iremos parar se cada um quiser levar mais vantagem sobre os outros? Talvez por isso eu não tenha nenhuma pena daqueles que levam algum golpe por ter ganância de algum beneficio, tipo o golpe do bilhete premiado por exemplo.
Vale a pena repensar as atitudes cotidianas de não estacionar nas vagas para pessoas com deficiência, de não furar as filas, de copiar ideias ou citações alheias, de não dar um “jeitinho”, de não corromper um agente público e uma infindável lista de deficiências morais. Ninguém é perfeito sempre, mas é escatológico passar a vida querendo levar vantagem sempre Roubar uma caneta de uma repartição publica é semelhante a desviar dinheiro do governo, o tamanho é diferente, mas, o crime é o mesmo. Roubar uma frase ou uma ideia inteira sem citar, tem tamanhos diferentes, mas a desonestidade é a mesma.
A deficiência moral não é um problema apenas do outro, mas sim de nós mesmos. Essa deficiência não está nas cartilhas médicas ou escolares. O bom caráter é quase peça de museu, quase uma joia rara, se conhece algum fique sempre ao seu lado.
Mudemos a noção de “vantagem em tudo” para a de “vantagem de todos”. Façamos da honestidade algo corriqueiro quanto respirar. Mas... se não quiseres seguir isso é algo que te cabe, não sou nenhum messias ou condutor de verdades, mas posso dizer que faço a minha parte. Não dou lição de moral, nem escrevo bobagens de auto-ajuda, mas é sempre bom lembrar que a malandragem é o RG da incompetência...

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A audiodescrição tá bombando! (divulgação)

Todos aqui sabem da minha admiração pela – qualificada – audiodescrição, sobre a qual já falei bastante por aqui. Isso porque, talvez haja em Porto Alegre, várias iniciativas de profissionais/pesquisadores no sentido de ampliar os horizontes e difundir este recurso-produção artística. Temos a sorte de viver em um oásis da boa audiodescrição, pois contamos com profissionais super competentes e engajados como a Letícia Schwartz e o pessoal da Mil Palavras.
Com todo esse cenário profícuo, os resultados aos poucos começam a surgir e de grão em grão tem aumentado o número de eventos com audiodescrição. Por isso, divulgo aqui duas dessas belas iniciativas.
A primeira delas, é que no 5º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, que ocorre na UFRGS - WWW.5cbeu.ufrgs.br - além das atividades de minicursos, mesas redondas e oficinas, haverá apresentações artísticas, dentre as quais o espetáculo Tholl, sendo que este, contará com audiodescrição (by Mil Palavras, mais um motivo pra conferir).
Tholl, é um grupo que alia técnicas circenses, teatro e dança em seus espetáculos. As performances ficaram muito conhecidas pela plasticidade e beleza dos movimentos que emocionam aqueles que assistem suas obras. Bem, emocionam a quase todos, já que é eminentemente visual em seus movimentos, figurinos e luzes. Assim, para as pessoas com deficiência visual, torna-se um tanto inviável compartilhar dessas emoções sem que haja audiodescrição. Não sei quantas vezes já me falaram sobre esse grupo e não me animei a ir por saber que não entenderia a metade. É por isso que estou tão empolgado com essa sessão que terá audiodescrição.
Para participar, é preciso se inscrever no evento (os valores e formas de inscrição estão no site) e retirar a senha respectiva a este espetáculo no momento do credenciamento, já que as vagas são limitadas. Depois, basta chegar, pedir o fone de ouvido e deleitar-te.

Por fim, divulgo também com imenso prazer, o curso Audiodescrição de Produtos Culturais, com a coordenação dos professores Eduardo Cardoso da Faculdade de Arquitetura da UFRGS e Jeniffer Cuty da FABICO, UFRGS, tendo como ministrante Letícia Schwartz, coordenadora da Mil Palavras, audiodescritora que dispensa apresentações.
Para informações sobre o curso é só acessar: WWW.acessibilidadecultural.wordpress.com e sugiro que os interessados se apressem, a concorrência está grande e as vagas são limitadas.
A existência de grupos de pesquisa como o dos coordenadores deste curso são muito importante para pensarmos a deficiência visual a partir de um olhar cultural, de acesso à arte, saindo da mesmice clinica. Creio que essas iniciativas inovadoras já fizeram mais por nós do que um século da chamada inclusão.
Portanto, cursos como esses ajudam a divulgar a audiodescrição, a colocá-la em pauta e ao mesmo tempo mostrar que se trata de um trabalho árduo, que requer técnica, dedicação e competência. Por isso, esse curso é importante para começar a formação de novos profissionais competentes e de boa qualidade, que é tão importante quanto termos a audiodescrição nos ambientes e produtos. Assim, estou ansioso e com grande expectativa para que o curso comece, e que tenha o máximo de inscritos. Tenho absoluta certeza que será excelente.
Tentei aqui divulgar um pouquinho do que tá rolando em Poa sobre audiodescrição, peço então a todos que lerem para acessarem os sites, se inscreverem nos eventos ou ainda, divulgarem para o maior número possível de pessoas, conto com o apoio de todos.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Dá pra entender... Só isso?!

Desde os anos 1960 as lutas pelos Direitos Humanos e a eclosão dos movimentos sociais reivindicando direitos outrora sonegados ou impensados, muitos grupos considerados minoritários passaram a conquistar direitos, como o voto feminino, as ações afirmativas e não-racistas, por exemplo.
Demorou um pouco mais, mas, nos anos 1990 o Brasil passou a estabelecer em sua legislação uma série de novas medidas garantindo os direitos de acessibilidade às pessoas com deficiência. Ainda assim, não há uma correlação direta entre a promulgação da lei e seu cumprimento. Ainda assim, é melhor tê-las do que apenas querê-las. Mesmo porque, nesse caso não foi algo que emanou dos movimentos sociais para direcionar uma legislação, e sim, o contrário, mais por pressão midiática do que por um consenso social.
Seja como for, excetuando-se louváveis iniciativas isoladas e individuais, a adequação à acessibilidade ocorre por conta do politicamente coreto, dos incentivos fiscais ou da mão firme – nem tanto – da lei. Isso faz com que a acessibilidade e ainda mais quando se trata dos ambientes culturais seja ainda algo incipiente.
Mesmo assim, é inegável o avanço cada vez maior da acessibilidade em cumprimento à legislação existente. Então, já demos um grande passo, já consolidamos uma posição da qual dificilmente seremos tirados, afinal, pra frente é que se anda – ou não.
Um desses recursos de acessibilidade e ao mesmo tempo produto artístico disponível aos sujeitos com deficiência visual é a audiodescrição. Há poucos meses entrou em vigor uma lei na qual a televisão brasileira é obrigada a exibir no mínimo duas horas semanais de audiodescrição na TV, tempo que vai aumentando progressivamente com o passar do tempo.
Diante disso, é perceptível o número de iniciativas de filmes, teatros, exposições e tantas produções culturais com audiodescrição, o que é algo muito salutar e pelo qual devemos continuar lutando, mas, será que é só isso? Não sei se é uma questão de mercado ou boa vontade, mas para muitos fazer audiodescrição é só chegar descrever as imagens colocar uma voz bonitinha e pronto.
Por outro lado, assistindo a uma exibição de material audiodescrito notei que houve certa conformidade em “entender” o filme. Ás vezes eu mesmo me vejo sendo crítico em demasia, mas acho que devemos dar um passo à frente, feliz com o conquistado, mas, olhando adiante, querendo sempre mais, é assim que se vai rumo ao que parece impossível.
Agora que a audiodescrição é uma conquista consolidado na forma da lei, chegou a hora de pensarmos no próximo passo, exigirmos que esses sejam produtos de qualidade e feito por gente especializada. É irritante ver um filme mal audiodescrito, perde-se paciência, perde-se o sentido do filme, o sentimento, as nuances, enfim, evapora o sentido artístico.
Acho também que só entender, é avaliar por baixo as audiodescrições, quando sabemos que existem produtos muito bem feitos por ai. Não quero mais viver das migalhas que me concedem, do cumprimento da lei, de entender o filme, quero partilhar de suas belezas e imperfeições ter produto de qualidade, e não um remendo pra cumprir leis.
Não quero mais que me concedam um direito, não quero que me dêem um produto remendado, quero uma calçada bem feita, letra ampliada sem borrão e uma audiodescrição de qualidade, que contemplem meu direito a excelência artística, afinal, entender é pouco, perto do sentir e do admirar. Como diz o cancioneiro roqueiro: “quero inteiro e não pela metade!”