terça-feira, 18 de março de 2014

Bengalando em Barcelona (Visita ao Teatro Liceu)



Para chegar até o teatro é de certa forma uma tarefa fácil, pois há uma estação de metrô – Estação Liceu da linha 3 – praticamente em frente. Mais que isso, além das estações serrem acessíveis, quando se sobe para a superfície, estamos na Rambla, que além de um dos pontos turísticos mais conhecidos da cidade, é um grande passeio público, no qual a amplitude permite uma circulação segura.

Encontrar a bilheteria não é uma tarefa tão fácil assim, ainda mais se quisermos comprar ingressos para a visita guiada, pois não ficam no mesmo espaço. Então, há certa dificuldade de localização de onde adquirir os ingressos, bem como a entrada não tem sinalização adequada para uma pessoa com baixa visão. Para as pessoas cegas menos ainda, já que não há piso tátil ou qualquer painel ou placa em Braile dentro de todos os ambientes que visitei.

O teatro é muito conhecido na cidade e um dos famosos pontos turísticos mais conhecidos e visitados da cidade. Contudo, as visitas guiadas são feitas apenas às 10 horas, ou seja, dificulta para grande parte do público da cidade, que nesse horário está trabalhando, e diminui a quantidade de turistas que o veem. A limitação nos períodos de visita também são problema de acessibilidade, já que o conceito de acesso é para todas as pessoas e não só para aquelas com deficiência, e nesse caso, é algo difícil.

A visita guiada é feita em espanhol e começa no hall de entrada do teatro, onde pude perceber alguns recursos que possibilitam às pessoas com deficiência física e mobilidade reduzida subir à outros andares por meio de equipamentos de elevação junto às escadas. Isso há em quase todos os lugares onde existem escadas. Também existem algumas rampas com a angulação correta, embora nenhuma delas com corrimão que auxiliem no apoio do usuário.

Os espaços existentes são amplos e possibilitam uma circulação fácil e rápida pelos diferentes ambientes do teatro. A iluminação é boa e ajuda a quem tem baixa visão localizar portas de entrada e saída, bem como auxilia a leitura dos painéis existentes dos salões que circundam a sala de espetáculos. Isso pois, há diversos painéis contando a história do teatro, todos eles bastante acessíveis, com os textos na altura adequada, com letras bem grandes e com luzes e contrastes que permitem ao usuário com baixa visão a ler com tranquilidade o que está escrito.

Fomos conduzidos também a conhecer espaços onde funcionam confrarias, clubes e outros espaços privados para um pequeno grupo de usuários, cujo a marca é  o luxo e a suntuosidade da decoração e do conforto e design do mobiliário, em que a maioria deles se pode tocar.  Há muitas obras de arte doadas, compradas e até cedidas para esses clubes, muitas delas retratando períodos históricos da aristocracia barcelonesa que comparecia com frequência ao teatro.

Pude ter acesso a isso diante do que nos contava a guia, que na medida do possível fazia descrições detalhadas de muitas coisas para mim, muitas delas foram tão pormenorizadas que me ajudaram muito a entender o que as pessoas viam. Nas vezes em que a guia não descrevia, Patrícia – minha esposa que sempre me acompanha realizava as descrições – proporcionando que eu tivesse excelente compreensão do que havia para ser visualizado. Nesse dia,estava conosco também, os companheiros da Fundação Liberato e da incubadora Intel, de Novo Hamburgo.

Ainda antes de entrar na sala onde são apresentadas as óperas, há algumas maquetes do teatro, porém, todas elas estão envoltas por uma espessa redoma e não podem ser tocadas. Assim, quem não enxerga ou tem baixa visão não tem acesso a essas que seriam excelentes possibilidades de conhecer os espaços, as proporções e até o desenho do teatro através dos dedos. Seria muito interessante poder tocar esses objetos, que sendo replicas não constituiria nenhum problema se estivessem à disposição para tal.

Ao entrar na sala de espetáculos, uma enorme quantidade de filas na plateia baixa e cinco ou seis andares com inúmeras galerias, foi possível ter ideia da grandiosidade do Liceu e perceber porque ele é considerado bem mais do que um local onde são exibidas óperas e espetáculos líricos de sucesso. Ainda por meio das descrições da guia e da Patrícia, pude saber que existem muitas esculturas e formas de arte esculpidas pelo espaço todo, o que confere maior beleza ao iluminado local.  

Na parte superior do palco e nas laterais existem alguns telões. O que está logo acima do palco serve para exibir as legendas das traduções daquilo que não está em catalão – idioma usado no teatro. Enquanto que os telões que ficam nas laterais são usados para se visualizar os interpretes de línguas de sinais - quando há – ou para apresentar detalhes da ópera. Já nas confortáveis e belas cadeiras aveludadas e vermelhas, encontramos dispositivos que permitem a exibição das legendas das falas/cantos dos personagens, auxiliando aos surdos terem acesso ao conteúdo auditivo do espetáculo.

Antes de fazer essa visitação já tinha conhecimento de que uma vez por mês há sessões com audiodescrição das óperas exibidas no Liceu. Sobre isso falarei em outra oportunidade, assim que for assistir a uma dessas sessões e puder ter uma opinião mais embasada e completa sobre esse recurso sendo executado para seus usuários.

Portanto, considero que a acessibilidade no Liceu pode ser praticamente a ideal para pessoas com deficiência física e mobilidade reduzida, mas ainda deixa muito a desejar no que tange ás pessoas cegas e com baixa visão. São necessárias algumas adaptações em termos de sinalização, já que em ambientes como esse o que se faz necessário é a mobilidade desde a chegada até a acomodação do usuário no lugar por ele adquirido, e isso ainda precisa melhorar, embora existam recursos como o de audiodescrição por exemplo, que proporcionam acessibilidade ao conteúdo da exibição.

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