terça-feira, 8 de abril de 2014

Montjuic – uma experiência para além do visível



Quando comecei minhas primeiras pesquisas para saber como era a Barcelona onde eu iria morar, logo me deparei com uma enxurrada de textos falando sobre a beleza do Montjuic, uma linda e enorme montanha onde os habitantes da capital catalã e os milhares de turistas se deleitam com sua imponência, beleza natural e com a possibilidade de ver a cidade de modo panorâmico, ou como dizem por aqui “a una vista de pajáro”.
Foram tantos os depoimentos de encanto com o lugar que confesso ter desconfiado um pouco, afinal, se muito turista fala bem, algo errado tem. Além disso, não acho que eu seja daquelas pessoas que mais apreciam as virtudes da natureza. Embora minha opinião venha mudando a passos largos desde que eu me deixei encantar pelo céu de Barcelona ao entardecer, que é a coisa mais linda - em termos de natureza - que meus olhos já viram.  
Sabia que se eu não conhecesse o Montjuic não teria conhecido uma das partes mais importantes da capital da Catalunha. Fui conhecendo outras coisas, adiando essa visita, seguindo os passos que Clarice Lispector me ensinou em “Felicidade Clandestina”, e fui protelando a possibilidade dessa felicidade até enquanto pude.
Mas, era chegada a hora de encarar a montanha nos olhos e ver até onde era mito ou exagero tudo aquilo que falavam sobre ela. Decidimos desbravar a gigante barcelonesa de uma maneira um tanto turística, usando o teleférico, já que minha relação com o meio ambiente melhorou, mas não ao ponto de me permitir encarar a subida a pé.
Para chegar até lá foi preciso pegar o metrô e depois o funicular (uma espécie de trenzinho que se esqueceu de crescer) para ir até a metade do caminho. De modo a concluir o trajeto, toamos um teleférico que nos levaria até o cume. A vista – dentro daquilo que consegui enxergar – era lindo, e tive a sensação de ter Barcelona aos meus pés – logo eu que estive dela cativo desde que cheguei aqui.
Foram uns dez minutos de passeio pelos céus da cidade e vê-la desenhada, recortada pelo mar e por outras montanhas, além de suas cores vibrantes e inundadas pelo sol, é algo que jamais me esquecerei durante todo tempo da minha existência. Só essa parte teria valido o passeio, mas esse era apenas uma pequena amostra do que viria. Claro, que houve um pouco de aventura e tensão em estar tão longe de terra firme, o que não chegou a ser um problema, já que para mim nem o céu é o limite.
Chegando lá em cima foi possível ver mais detidamente toda imponência da montanha e do mar, que mesmo tão longe um do outro, podiam se tocar de acordo com o que os meus olhos podiam ver mirando o horizonte. Para tornar tudo ainda mais interessante a parada do Teleférico é bem onde há um antigo castelo, na verdade mais um forte do que outra coisa, e passear por entre suas muralhas de um lado e com o mar do outro é uma sensação de deleite por todos os lados, e em todos os sentidos.
A cada passo que dávamos era um a descoberta diferente. Uma vista nova do mar, uma pedra que mais parecia ter sido esculpida pelo tempo, uma sombra diferente projetada no solo, uma árvore ou folhagem com formas e texturas diversas. Se não bastasse isso, a cada instante sentia uma paz e uma liberdade de sensações que poucas vezes pude tomar para mim, e eu nem precisaria enxergar para sentir isso porque querido leitor, há coisas que não precisam ser vistas, há coisas que não devem ser vistas, devem ser simplesmente sentidas. Sensações que não precisam ser explicadas, mas simplesmente desfrutadas.
Depois de passear por um tempo que eu não sei quanto, já que perdi a noção de tempo/espaço naquele lugar, precisávamos voltar até a metade do Montjuic, já que o teleférico estava fazendo sua última viagem. Ao descer, ficamos um tempo caminhando pela região, vendo parte da cidade que continuava aos nossos pés, ainda que indiferente a toda emoção que eu sentia ao vê-la.
Não faço a menor ideia de quantos jardins e praças existem por lá, nem perdi tempo contando, mas sim, contemplando. Cada um deles tem um colorido diferente de acordo com suas flores e com o modo com a luz incide sobre eles. São incontáveis os pássaros e os cantos que entoam comandando a trilha sonora daquela obra de arte em movimento.
Diante de tudo aquilo, decidi fazer uma experiência e fechar os olhos sem tentar imaginar o que havia de imagem e sim, perceber o que todos aqueles sons, odores, calores, brisas, paladares e tatos, queria ver onde tudo aquilo me levaria. Ao invés de tentar guiar os meus sentidos, fiz o contrário, e me deixei levar pelos meus outros quatro que ainda tenho, e agora livre da visão, pude explorar o mundo da sensação.
Tudo que senti me fez ter certeza de que eu não preciso de um único sentido para     viver o mundo ao máximo. O Montjuic foi como um disparador de sensações sem limites, afinal, a emoção não precisa de olhos para florescer. Naquela montanha pedregosa descobri que tropeços são impulsos que nos levam adiante, e que na dificuldade é preciso respirar fundo sentindo tudo que há em volta, pois às vezes sonegamos de nós mesmos alegrias grandiosas, como se deixar tomar por um pequeno e esperançoso raio de sol.

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