terça-feira, 15 de abril de 2014

Bengalando em barcelona (Visita ao Museu Blau)



O Blau é o museu de Ciências Naturais mais conhecido e importante da Catalunha, onde há um imenso acervo de todos os campos de conhecimentos vinculados a essa parte da ciência. Ao contrário dos demais, fica localizado ao norte de Barcelona, e o acesso mais fácil até lá é uma linha de bonde elétrico que deixa exatamente em frente ao local.
Caminhar até a entrada é relativamente seguro por haver uma grande área livre de obstáculos e de ruas ao redor. Ao passar pela porta de entrada foi possível notar que havia piso tátil em todos os ambientes até as bilheterias, elevadores, sanitários e ao começo da exposição permanente. A sinalização também é boa e ajuda qualquer pessoa a encontrar a bilheteria, mesmo sendo cega pode chegar até lá com autonomia.
Se fosse sozinha, uma pessoa cega conseguiria ter acesso a muitas informações disponíveis, enquanto uma com baixa visão iria conhecer a praticamente tudo como uma pessoa que enxerga, dada a excelente qualidade dos audioguias e das sinalizações. O espaço físico é completamente adaptado para pessoas com deficiência física e mobilidade reduzida, desde os elevadores, passando pelos sanitários, e incluindo rampas entre as salas e cadeiras de descanso, principalmente para pessoas com mobilidade reduzida que delas necessitem, já que as exposições são extensas.
Logo na recepção recebemos um audioguia e as instruções para seu uso. Há um grande mapa da exposição em alto-relevo e com legendas em letras grandes e em braile. É possível tatear cada canto do museu e conhecer um pouco do ambiente e das disposições das peças principais.
As sinalizações de acesso às diferentes salas são muito adequadas e condizentes com as necessidades. As indicações sobre o nome da sala onde estamos entrando está escrita em letras brancas no piso preto, o que proporciona um contraste quase perfeito para ser visto por pessoas com baixa visão, ainda mais que o tamanho das letras era grande o suficiente para serem vistos a uma distancia considerável, com a ajuda de iluminação clara e centralizada. Sendo assim, se estivesse sozinho, teria todas as condições de saber por onde estava me deslocando, facilitando a utilização do audioguia e o cumprimento do percurso proposto.
Em cada uma das 16 seções do museu, existem no mínimo dez peças feitas para serem tocadas. Ou seja, replicas em tamanho natural (ou, no caso de reproduções dos micro-organismos cerca de um metro) que procuram representar aquilo que está sendo exposto. Existem também muitos itens originais que podem ser tocados, como pedras, fósseis, minerais e alguns outros que são fundamentais para nosso entendimento daquilo que estamos vivenciando.
Esses objetos táteis permitem que possamos ter conhecimento e acesso a sensações que são fundamentais para termos os conhecimentos sobre os mesmos. Mais do que isso, nos totens em que estão colocadas as peças que podem ser tocadas existe informações escritas sobre elas. Todas estão em braile, em alto-relevo e com fundo preto com letras brancas em tamanho grande. Ao lado dos objetos que não podem ser tocados, ou quando há projeções visuais, encontramos totens explicando do que se tratam os itens que não podemos tocar ou ver, e assim como os demais, estão em fundo branco, com letras grandes em branco, sendo possível ler com conforto.
Cerca de metade dos totens onde se pode tocar nos objetos contam ainda com um recurso de acessibilidade que ainda não tinha encontrado, e que são muito importantes para contemplar ainda mais as necessidades dos sujeitos cegos e com baixa visão que queiram conhecer mais sobre a exposição. Uma espécie de tela presa em uma haste que pode ser movida lateralmente. Trata-se de uma tela grande com a função de lupa que ao ser colocada na frente dos objetos que tocamos, ampliam o tamanho das peças e nos proporcionam enxergar até os menores detalhes, como um fio de cabelo ficando do tamanho de uma linha de lã.
Para finalizar, o audioguia com audiodescrição tem 43 faixas e conta com dois narradores (um para a exposição permanente e outra para a temporária). Começa com duas faixas de auxilio espacial para o ouvinte, informando onde estão os banheiros, as saídas de emergência e a ordem da disposição das peças. Há comentários sobre a história do prédio e uma detalhada descrição sobre sua fachada e sobre seus espaços internos. A única dificuldade é que o audioguia está em catalão e pode causar alguns problemas de compreensão de quem não conhece o idioma.
Sobre a descrição das exposições, é muito clara e repleta de detalhes que ajudam muito na formação das imagens por parte daquele que ouve. Não a descrição de cada peça, mas referência a quais estão expostas no lugar indicado, até porque nem mesmo quem enxerga consegue ver tudo. Cada faixa tinha duração razoável de tempo, o suficiente para compreender tudo sem cansar o ouvinte. Sendo assim, além da quantidade de detalhes é preciso pensar na qualidade.
Portanto, entendo que esse tenha sido o museu mais completo e qualificado em termos de acessibilidade que conheci até o momento. É possível acessar e compreender a tudo que está exposto, onde a limitação física ou sensorial não se constitui um problema mais grave para que se possa usufruir das informações e sensações que se buscou transmitir.
Espero que um dia essa ideia de acessibilidade plena se espalhe pelo mundo todo, principalmente para o Brasil, que ainda tem muito a aprender nesse campo fundamental de conhecimento que é a acessibilidade cultural, valorizando iniciativas e pessoas verdadeiramente preparadas para pensar e executar essas ações tão importantes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário