quarta-feira, 3 de abril de 2013

Aplausos

O teatro quase vem abaixo ao som dos aplausos.
E como nossa primeira homenageada, a aluna Ligia Assumpção Amaral, escolhida pelos seus colegas formandos como um dos três melhores companheiros da classe.
Saio do meu lugar, desço alguns degraus e estou frente a frente com o carinhoso Lourenção, professor de Filosofia do Eduardo Prado.As palmas ecoam nun crescente de timidas a entusiasmadas, resultando num vibrante e ensurdecedor aplauso.
Compenetrados, o professor e eu apertamo-nos as mãos, e dele recebo um livro.
Volto para minha cadeira com esse som maravilhoso acompanhando meu caminhar. Os colegas aplaudem também, e percebo  com muita intensidade quando vou em direção a eles.
Sinto-me orgulhosa, feliz e muito amada.
Assim eu me recordava de minha noite de formatura do curso clássico, noite em que recebi - além do certificado - um prêmio de amiga. Aíás, recebemos: eu o Ruy e o Zé Eduardo.
Hoje indo para a PUC, vinte e cinco anos depois, é como se escutasse novamente as palmas e - espanto - surgem de forma completamente nova.
É como se um clarão iluminasse com luz desconhecida minhas lembranças. Pois eis que me dou conta quem éramos os três escolhidos: eu, um anão e um negro.

(Ligia Assumpção Amaral. Resgatando o passado: deficiência coo figura e vida como fundo. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2004)
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Esta é só uma das brilhantes e reflexivas crônicas de Ligia Amaral. Uma escritora brilhante, uma pesquisadora que soube como poucos juntar literatura e pesquisa acadêmica. Sua escrita é um exemplo para muitos, inclusive para mim.
Não por Ligia ter sido uma pessoa com deficiência física que fez carreira academica, mas também por isso, sou admirador de sua trajetória.
Por meio de relatos de amigos, pela leitura atenta de seus textos e por um sexto sentido, me sinto um pouco discipulo de Ligia no modo de escever, no modo de ser pesquisador com deficiência, e tambem do seu modo de agir provocador.
Toda vez que leio seus textos aprendo um pouco, por mais que já tenha lido dezenas de vezes.
Nunca a conheci pessoalmente, pois ela se foi antes de eu começar a trabalhar nessa área. Mesmo assim, sempre quis fazer uma homenagem a essa grande autora que sempre me inspira. Por isso transcrevi uma de suas crônicas, pois não há maior homenagem a um autor do que divulgar o seu trabalho com carinho e admiração, pois enquanto sua obra estiver viva, ela também estará!
 
 

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