sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A deficiência das palavras

Desde que existem as pessoas com deficiência, as sociedades tiveram dificuldades em saber como nomea-las. Até meados do século XX, elas eram normalmente chamadas de aleijadas, inválidas, ou de excepcionais, termo esse mais recente. Mas será que utilizar o politicamente correto para mascarar um preconceito e usar palavras que parecem "fofinhas" como nuvens de algodão-doce, é capaz de dourar a pílula? Será que não é mais prejudicial um nome construido apenas para pôr o preoconceito para baixo do tapete?
Entendo que cada um tenha suas preferências e sentimentos, mas sempre que me perguntam como me chamar, se pessoa com deficiência, se cego, se baixa visão, sei lá... eu sempre digo que prefiro ser chamado pelo nome, afinal, antes da deficiência sou um sujeito. Não sou um pesquisador com baixa visão, sou um pesquisador, que dentre milhares de caracteristicas tem a baixa visão como mais uma delas.
Muita gente ainda se confunde e se atrapalha com isso, não que eu esteja julgando, pois uma pessoa não profere um discurso que não esteja circulando socialmente, logo, todos os discursos são produto de um meio e não de um sujeito. Mas, as vezes é necessário estudar um pouco e pesquisar antes de falar.
Poucos dias atráz, um comunicador disse em uma rádio de Porto Slegre que as crianças com deficiência tinham um "defeito". No programa seguinte, depois de uma repercussão nacional, o individuo se retratou, e mesmo a mim que sou meio chato com isso, pareceu sincero o argumento usado por ele de ter empregado uma palavra indevida para expressar uma percepção que possuia. A mim, ficou claro que nesse caso se tratou mais de um uso errado de um termo de alguém que não conhecia absolutamente nada sobre o que falava, do que manifestação preconceituosa.
Mas pior ainda, é quando pessoas que estudam sobre assuntos relacionados à deficiência tentam ser mais reais que o rei e usar do politicamente correto ou do desejo de mostrar conhecimento - que na maioria das vezes não o tem - e fazer disso uma salada de frutas de conceitos. Muitos usam pessoas com necessidades especiais, portador de necessidade especial, portador de deficiência, pessoa deficiente. Pata mostrar que eu sou gente boa, se liga que eu vou explicar:
 
Necessidade especial é um termo que deve ser usado não para uma pessoa, mas para designar qual a necessidade especifica que ela necessita para ter condições adequadas de participação.
'Portador" - ninguém porta uma deficiência como se levasse ela junto aos cartões do banco ou no bolso de trás das calças.
Deficiente visual, auditivo , físico... - Desde a mais de uma década não se usa mais essa nomenclatura, pois se convencionou que a deficiência não está na pessoa, mas nos ambientes e sociedades despreparados para atender sua deficiência.
  
Assim, desde as convenções de pessoas com deficiência dos anos 1970 até agora, se usa PESSOA COM DEFICIÊNCIA. Isso pode ser comprovado através de ampla bibliográfia. Seja como for, o fato é que as pessoas se preocupam muito em como denominar alguém com deficiência, quando a meu ver, deveriam usar essas energias em prol de ações mais efetivas. Se preocupar mais em acolher do  do que em tolerar,  mais compartilhar com, do que apenas aceitar, as pessoas comderadas diferentes.
Mais importa como a palavra é dita do que qual termo é usado, afinal, os significados que atriuimos as coisas está mais no que sentimos do que no modo como expressamos. Mesmo assim, é preciso tomar uma série de cuidados ao utilizar alguns conceitos.
Enfim, as vezes fico refletindo se não tivessemos o policiamento do politicamente correto e um certo temor de alguns em ter contato com pessoas com deficiência por causa da dúvida de como nomear, srrá que essas pessoas se aproximariam de forma mais descontraida? Se for esse o caso, será que nós mesmos com deficiência as vezes ao forçarmos um pouco a barra e exigir que todos nos conheçam completamente, não estamos com isso nos excluindo por nós mesmos?
Não tenho ainda repostas para essas perguntas - e para outras tantas - mas acho que vale a pena pensar se a exclusão e segregação só acontece por responsabilidade de um dos lados....
 


2 comentários:

  1. Mais importa como a palavra é dita do que qual termo é usado. Felipe disse TUDO! Beijão.

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