terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Ser comunista não é crime nem ofensa

Desde já não engano ao leitor, não sou comunista de fato, embora muitas pessoas tentem me "ofender" chamando-me assim diante de minhas ideias. Tenho muitos amigos comunistas, alguns dos tempos de luta universitária, outros adquiri no decorrer de minha trajetória, e não acho que eles sejam piores ou melhores por pensarem diferente da maioria. Embora eu discorde de alguns mais radicais - os cabelos a menos e a idade me ensinou que o radicalismo já não e mais a solução para as coisas - isso não quer dizer que eu os considere criminosos perigosos, apenas discordo.
Aliado a um crescente conservadorismo inclusive entre os jovens brasileiros, as redes sociais têm dado uma pseudo sensação de anonimato pelo qual cada um diz o que quiser sem freios. Os comentários em qualquer parte da internet são a latrina da sociedade, pois traz a superfície os preconceitos e a raiva de muitos que ofendem a outrem da maneira mais atroz e desumana. Isso se aplica contra todas as minorias sociais achincalhadas diariamente. Portanto, o cenário que se apresenta é de ódio contra as minorias e contra quem pensa diferente do modelo vigente.
Não digo que as minorias sejam apenas vítimas, afinal, muitas pessoas com deficiência que sofrem com o atual modelo neoliberal compactuam com ele e o defendem. Isso para mim é uma incoerência, e ainda que eu respeite essas posições acho que elas estão de acordo com a desigualdade que atinge também asi mesmos, mas isso é outra história...
A questão aqui é que os embates estão cada vez mais intensos no Brasil entre aqueles que defendem modelos neoliberais de aumento da desigualdade e da exploração do trabalho e aqueles que lutam pelo direito das minorias, de uma sociedade em que a disparidade de renda e de condições sociais sejam extintas. Obviamente, estou no segundo grupo de pessoas e me orgulho disso, sem medo de expor o que penso e de confrontar o conservadorismo vigente na sociedade brasileira.
Desejo e luto muito através da minha profissão e de minhas possibilidades pessoais por uma sociedade com menos desigualdades, onde as pessoas possam ter condições de vida minimamente aceitáveis e confortáveis. Não quero que todos sejam pobres e nem sou contra os ricos, mas entendo que uma distribuição de renda adequada permita que todos tenham uma existência digna e em condições de serem felizes, bem alimentadas, com moradia, saúde e educação. 
É uma estupidez dizer que a sociedade neoliberal premia o mérito e quem quiser terá sucesso. Isso é uma mentira absurda e desonesta, pois todos sabemos que a sociedade atual não é igualitária. Muitos citam exemplos de exceções de pessoas que vieram de classes pobres e ascenderam monetariamente, mas usar a história de poucos para justificar a opressão contra muitos é uma fábula tão sólída quanto a fumaça de uma chaminé.
Sou parte de várias minorias dentre elas a de ser pessoa com deficiência e advindo e morador de periferia, o que contribui muito para minha consciência social e meu engajamento nas lutas pelos direitos de oportunidades e de exterminar com o preconceito. Se querer um mundo melhor é ser de esquerda, então eu sou de extremíssima esquerda, pois eu sei o quanto doem os calos da desigualdade criada pela sociedade.
Isso não significa que alguém precise ser pobre ou ter advindo da pobreza para ter uma posição social como a minha, há muitos ricos com entendimento de que os demais seres humanos merecem viver dignamente. Como disse antes,não sou marxista para crer que exista uma luta entre as classes, mas não sou tolo de achar que não exista um certo poder que age verticalmente.  
No Brasil,  as elites se acostumaram durante 502 anos a não sofrer contestações e a ter uma hegemonia absoluta sobre a maioria das minorias da população. O fato é que quando um governo tido como de esquerda assumiu, isso despertou a irá e os sentimentos mais odiosos da classe média brasileira. Aliás,muitos pobres ascenderam as classes médias e aoinvés de processar mudanças, passaram a agir como aqueles que outrora condenavam. 
O ódio aos que se posicionam contra esse capitalismo escatológico em que vivemos passou a ter muita ressonância também pelas redes sociais e qualquer ideia menos conservadora que se tenha passamos a ser chamados de "comunistas", vindo sempre precedendo adjetivos bem pouco elegantes, obviamente. 
A direita brasileira composta pela classe média e alta, piorada pela nociva parcela evangélica e fundamentalista cristã que cresce tal qual erva daninha, torna o Brasil uma nação reacionária, racista e preconceituosa, tornando uma anedota omito do brasileiro tolerante e bondoso.
Basta se manifestar contra a concentração de renda, da ascensão de governos de direita ou criticar o capitalismo para ser taxado de "comunista comedor de criancinhas", "comunista vai morar em cuba e adorar a Stálin" e outras coisas que eles acham ser uma ofensa mortal. 
Se o sujeito for também de pensamento avançado e ser favorável aos gays, aos direitos das mulheres, das pessoas com deficiência, dos pobres e de outras minorias, os xingamentos pioram muito e pessoas como nós serão constantemente chamadas de "comunista de merda", "vagabundo comunista", "comunista do diabo", "comunista filho da puta". 
Fico sempre chateado por frustrar as pessoas e esse é o caso, se elas acham que me ofendem ao me rotular como comunista eu lamento por não conseguirem seu intento. Embora eu não seja, não fico bravo por ser chamado de comunista, de gay de possuído pelo capeta ou o que quer que seja tido pelos intolerantes conservadores como algo ruim. Pensando bem, se querer para o outro o mesmo bem que desejo para mim, então talvez eles podem estar certos e eu ser de fato um comunista inveterado....

Um comentário: