quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Audiodescritor em Foco - Entrevista com Vera Lúcia Santiago

Possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Ceará (1982), mestrado em Mestrado Em Letras Língua Inglesa pela Universidade Estadual do Ceará (1994) e doutorado em Letras pela Universidade de São Paulo (2000). Atualmente é professor adjunto da Universidade Estadual do Ceará e pesquisadora nível 2 do CNPq.. Tem experiência na área de Lingüística Aplicada, com ênfase em Tradução, atuando principalmente nos seguintes temas: tradução audiovisual, legendação-legendagem, audiodescrição e tradução audiovisual e ensino.


1 - Como você se tornou audiodescritor? Que importância a audiodescrição tem na sua vida?
Tornei-me audiodescritora, porque desde o ano 2000 venho trabalhando com a questão da acessibilidade. Primeiro foi com os surdos, depois, a partir de 2005, com os cegos.
A audiodescrição tem importância, porque não existe um modelo já utilizado como foi o caso das legendas para surdos e ensurdecidos. Ainda estamos procurando os parâmetros que se aplicariam ao público brasileiro. Isto incentiva bastante a pesquisa. Meu grupo, o LEAD, já trabalhou com AD de filmes , de teatros, de obra de arte e de eventos ao vivo. Isto é muito estimulante, porque, como não tínhamos trabalhos audiodescritos a serem examinados, resolvemos criar os nossos e depois refletirmos sobre o nosso trabalho. Fizemos AD de filmes em DVD, peças de teatro, espetáculos de dança, obras de arte. Agora estamos trabalhando com a AD de material didático e com a tentativa de estabelecermos padrões de locução com instruções apropriadas para o audiodescritor locutor/narrador.

2 – Na sua opinião, o que a AD representa para seus usuários? O que pode provocar na vida dessas pessoas?
Acho que ela representa a possibilidade de escolha sobre que atividade ele deseja participar: ir ao cinema, ao teatro, fazer um curso online etc.. Tudo isso proporcionado pela possibilidade da autonomia que a AD lhes dá. Acho que a ADs e for devidamente aceita pelo usuário, pode significar uma grande mudança nas vidas das pessoas com deficiência visual.

3 – Quais as maiores dificuldades e quais as maiores alegrias em ser audiodescritor?
As maiores dificuldades se relacionam com o fato de ainda não termos a quem recorrer quando temos dúvidas. As pesquisas na área ainda  são incipientes e não nos podem dar muitas respostas. As alegrias vem do fato de que sempre encontramos a resposta para as nossas dúvidas e que o desafio torna a atividade ainda mais apaixonante.

4 - Você concorda com a ideia de que a AD, mais do que informar, deve proporcionar que o usuário usufrua e sinta as sensações do que é descrito?Você acredita que a audiodescrição além de um recurso de acessibilidade seja também uma produção cultural?
Penso que a AD precisa incorporar a questão estética no seu texto, principalmente porque estamos traduzindo arte. As questões específicas dessas obra de arte precisas ser levadas em conta quando audiodescrevemos. Se estamos audiodescrevendo cinema, devemos levar em conta a linguagem cinematográfica. Se audiodescrevemos obra de arte, a estética deve ter um lugar importante na descrição.
Por tudo o que foi dito anteriormente, certamente acredito que  a AD seja uma produção cultural.

5 – O mundo está cada vez mais visual, e se levarmos em conta que a visualidade é a matéria-prima da audiodescrição, ainda há muito a ser explorado nesse campo. Junto a isso, temos a ampliação e difusão dos produtos e políticas culturais para acessibilidade por parte dos governos e da sociedade civil. Diante desse cenário, quais desafios você acha que devem ser enfrentados para expandir a audiodescrição, tanto em quantidade como em qualidade?
Acho que a pesquisa estimula bastante a questão da qualidade, principalmente avaliando o que já foi feito. Quanto à quantidade, acho que duas ações poderiam ser feitas:
1) fazer uma campanha nacional para que o povo brasileiro, principalmente os produtores culturais, tomem conhecimento da AD. Nesse  sentido, louvo o livro "Notas Proêmias. Acessibilidade Comunicacional para Produções Culturais", organizado por Liliana Barros Tavares. Nele, vários audiodescritores apresentam a AD para os produtores culturais de Pernambuco.
 2) Mostrar para o governo, principal responsável pelo financiamento das artes no país, que se ele exigir que um parâmetro para a concessão do financiamento seja tornar a produção acessível, com  certeza a AD vai começar a tomar corpo nesse país.

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