quarta-feira, 4 de setembro de 2013

HASTA LUEGO!

Há cerca de 3 anos quando ainda estava concluindo meu mestrado comecei a acalentar o sonho de fazer um doutorado sanduíche (estágio de doutorado fora do país). Primeiro precisava concluir o mestrado e ser aprovado no doutorado, para depois passar a cogitar o assunto, mas a vontade teve inicio quando fui ao Chile em 2010. Felizmente, minha dissertação foi aprovada com sucesso e no dia seguinte - literalmente - quando foi publicada a lista de selecionados para o doutorado, lá estava meu nome. É redundante dizer que minha felicidade foi sem precedentes, mas eu nem sabia tudo de bom que o futuro me reservava.
Eu sempre tive vontade de ganhar o mundo, conhecer gente e contextos novos, trocar de ares e ter acesso a outras experiências de vida e conhecimentos profissionais. mas como? onde? Eu queria isso, conhecia o doutorado sanduíche, mas achei que fosse uma coisa muito distante e difícil para mim. As vezes as coisas estão mais longe na nossa cabeça do que na realidade dos fatos. Pensava que isso era coisa para muito pouca gente dentre os quais um simples doutorando esforçado como eu talvez não tivesse nem chance.
Mas, mesmo sem visualizar como as coisas aconteceriam eu resolvi fazer o possível para tentar chegar lá e conseguir meu sanduíche. Tracei um objetivo e uma meta que eu não sabia se conseguiria cumprir, mas como sempre, eu iria me esforçar até gastar a última bafejada de chance que eu tivesse.E assim eu fui tentando fazer contatos, ficava ligado nos editais, conversava com colegas que tinham feito o sanduíche e fui tentando escrever um projeto que se adequasse aos meus estudos aqui no Brasil.
De tanto procurar, ano passado acabei encontrando uma professora que trabalha com audiodescrição em Barcelona, e que tendo vínculo com a universidade Autônoma de Barcelona, poderia me orientar. Muitas vezes meu ímpeto é maior do que a timidez ou a "noção da realidade" e logo que descobri seu contato enviei e-mail perguntando se ela poderia me orientar, e enviei junto o projeto. E não é que em menos de 12 horas ela me respondeu dizendo que seria um prazer me orientar! É claro que ela foi extremamente gentil e generosa comigo, mas o que me surpreendeu foi a rapidez, e mais do que isso, a resposta positiva.
o mais importante eu tinha e meu sonho passou a se tornar um objetivo concreto, paupavel e saborosamente degustado aos poucos. ainda era preciso apresentar projeto no meu programa de pós-graduação e na agência de fomento, no caso a CAPES. Tramites burocráticos consideráveis para participar da seleção de doutorado sanduíche. As dificuldades por conta da burocrácia brasileira foram muitas e isso precisará de uma postagem só disso. O fato é que por pouco o sonho não me escapa por entre os dedos por culpa de carimbadores malucos e de gente que ama oficio em três vias.
Deixo isso pra lá, o que importa é que agora depois de tanto esforço, perseverança e paciência estou prestes a realizar o que muita gente deseja e que infelizmente poucos ainda conseguirão, morar fora do Brasil. Irei passar os próximos nove meses em Barcelona, estudando a acessibilidade e a audiodescrição em ambientes culturais por lá.
Queria que todas as pessoas tivessem a chance de ter essa oportunidade que eu estou tendo de me lançar ao novo, de conhecer gente e lugares diferentes. Ter a sensação de ganhar o mundo e de saber que a cada piscar de olhos será uma experiência nova. Mais do que isso, sou ainda mais feliz pela minha esposa Patrícia ter topado ir junto, pois nem o lugar mais lindo do mundo teria graça longe dela.
Além de todas as questões óbvias de alegria pela ascensão profissional, de ter conhecimentos diferentes, do reconhecimento entre meus pares da academia, eu tenho outras coisas que me deixam ainda mais felizes do que tudo isso junto. A principal delas é ver que meus familiares podem ter orgulho deste que escreve, e que todos os esforços que fizeram para me dar excelente educação não foram em vão.
Não me interpretem mal, mas para um menino que nasce em uma vila as oportunidades que aparecem talvez não sejam muitas, e ainda mais se esse menino tiver uma deficiência. Conheço um monte de gente que conviveu comigo na infância e que se perdeu na vida, a maioria deles ainda luta de sol a sol para seu sustento e tenta sempre levar a vida como pode e honestamente. Eu tive sorte e oportunidades de poder crescer na vida e ter uma existência um pouco diferente do pessoal que brincava comigo no colégio. muito disso devo aos meus pais, tios e avós, que nunca me permitiram que faltasse algo.
Quem lê meus textos sabe que eu não sou do tipo sensacionalista, então isso é só um desabafo do bem. Eu nunca vou me esquecer de onde eu vim, e que lá ainda mora muita gente que eu gosto, mas que embora mereça, talvez não tenha chance como essa na vida. Eu ainda lembro que quando tinha menos de dez anos, morava numa rua sem calçamento, que até hoje a vida é um pouco complicada por lá. Digo isso, porque são essas coisas que eu levarei comigo, é como se eu me sentisse levando o sonho de cada uma daquelas pessoas lá da vila comigo. 
Sei que vai ser uma aventura e tanto, que terei aprendizados e conhecimentos que valerão por uma década. Isso me deixa entusiasmado e com muita vontade de aproveitar cada segundo que u tiver para viver em Barcelona. Eu continuarei postando coisas sobre a vida por lá e como é ter baixa visão e viver em uma cidade e em um país diferente. Eis uma dúvida que tenho, terá outra pessoa com deficiência visual feito doutorado sanduíche?
Mais adiante irei inaugurar aqui no blog a série "bengalando em Barcelona" contando detalhes de minhas peripécias por lá. Tenho certeza que serei feliz em terras espanhola. Sei que a saudade talvez aperte para muitos e para mim, mas o que eu procuro pensar é que a saudade é o combustível do amor, e que quando a gente voltar, amará a todos muito mais do que quando partiu. Afinal, isso não é um adeus, e sim, um doce e delicioso HASTA LUEGO!

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