domingo, 14 de outubro de 2012

Não somos todos iguais, felizmente!

          Os discursos do politicamente correto aliado aos encantos pelo desejo de inclusão no sentido de normalizar a todos tanto quanto possível, tem produzido uma série de frases que as pessoas repetem como se fossem dogmas sobre os quais não cabe questionamento. Pois bem, eu que sempre busquei não me iludir com esse canto da sereia, me dou o direito de pôr em xeque certas práticas e discursos.
          Uma das principais características da inclusão, ou daqueles que a defendem do modo como até aqui está posta, é a tentativa de borrar, eu diria inclusive de apagar com toda e qualquer diferença. Primeiro, porque muitos ainda acreditam que todos devem ser normais, estando dentro de suas caixinhas de comportamentos, posturas e corpos dóceis. Para essas pessoas todos devem ser brancos, homens, heterossexuais, sem deficiência, católicos, infelizes... Ou seja, de acordo com esses discursos, seriamos todos como seres produzidos em série, sem direito a ter qualquer nuance de diferença.
          Pois eu continuarei sempre bradando que me nego a ser igual a quem quer que seja, prefiro ser eu mesmo, ressaltando minha diferença ao invés de escondê-la. Estou muito bem como estou, tenho baixa visão, e dai? Sou gremista, e dai? O que importa é que eu sou uma PESSOA antes de qualquer coisa, e isso é o que importa.
          Quando falamos em diferença ela não pode ser categorizada e nem aprisionada, muito menos se deixa aprisionar, a diferença simplesmente É. Cada um de nós tem subjetividades, características e traços singulares que nos tornam diferentes uns dos outros, e quanto mais tentam nos igualar, mas parecemos distintos.
          Dizer que todos somos iguais é apagar o que os seres humanos tem de mais precioso, que é a riqueza e pluralidade de viver em sociedades, cujo maior bem é a diversidade. Por isso mesmo, acho que quanto mais nos colocarmos na posição de sujeitos singulares, mais rica ficará nossa convivência e relação com o mundo. Muito sábias as palavras do sociólogo Boaventura Souza Santos: “Temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza”, embora eu ache que quando a diferença nos inferioriza o que devemos fazer é lutar para fortalecer o direito de ser diferente.
          Também não se trata de uma questão de aceitar ou tolerar o outro, mas sim de dividir e compartilhar com ele. Não gosto da ideia de “trocar” com o outro, pois se cada um de nós pensa de um jeito e trocarmos, simplesmente pensarei como o outro e ele como eu. Prefiro então, compartilhar, pois nesse caso, cada um de nós sairá enriquecido com a experiência do outro, levando um pouquinho de cada pessoa dentro da gente.
           Por fim, eu diria que não me vejo sendo igual a quem quer que seja, nem por um minuto. Quand    o falamos que todos devem ter oportunidades e direitos, falamos na palavra equidade, o que não significa o mesmo que igualdade. Por isso, não estou defendendo a diferenciação, mas sim a diferença.
          Por mais que a sociedade e a inclusão queiram nos tornar normais, sujeitos sem “defeitos” e perfeitamente alinhados ao convencional, por mais que desejem que sejamos uma massa sem cor e sem forma, acho difícil que isso seja alcançado.
          Então, sempre que ouvir a frase que ser diferente é normal, ou que todos somos iguais, pense antes de se deixar levar. Ser diferente não é normal ou especial, mas sim é a condição humana que nos faz assim. E todos serem iguais talvez não seja um bom caminho, afinal, ser igual nos torna tão insignificante quanto um grão de areia no deserto. Eu prefiro sempre SER DIFERENTE!

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