sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Anestesiado



Eu vejo o homem deitado na laje fria.
Viro o rosto e disperso.
Com qualquer outra trivialidade me amorteço.
À base de felicidades via oral uma vez ao dia.

Compadeço-me com o drama alheio.
Até que eu fique de saco cheio.
E em menos de cinco minutos,
procuro uma injeção de reality show.

Faço campanhas e doo alimentos.
Curto e compartilho tanto sofrimento.
Não ofereço nenhum real alento.
No próximo clique tudo cai no esquecimento.

Mulher inocente espancada e morta,
Homens assassinados por amarem um ao outro.
Menino cego impedido de estudar.
Tanta gente que foge para ter paz.
Só o que temos para dar.
São as manchetes de jornal.
E no dia seguinte tudo se torna tão banal.

Vejo o pobre garoto.
Morto à beira-mar.
Uma lágrima sincera até pode despencar.
E como mais que isso não quero dar.
Mudo de canal e espero a novela me anestesiar.

Tento dormir para esquecer.
Sonho com tudo que quero e não posso ter.
Finjo que eu nada posso fazer.
No dia seguinte outras brutalidades virão.
Enquanto eu sigo,
Agarrado ao acaso pela mão.

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