sexta-feira, 8 de junho de 2012

As dores da deficiência visual...

Toda pessoa com deficiência visual sabe - ou seria prudente saber - que é necssário ter em casa um arsenal de primeiros socorros como: gaze, ataduras, esparadrapos, pomadas contra hematomas, bolsas de gelo e outros tantos utensilios de primeira necessídade. Afinal, viver nas cidades brasileiras é estar constantemente escapando de armadilhas, infelizmente, muitas delas são impossíveis de se desvenciliar. Por vezes me pergunto se algumas pessoas não ficam brincando de "caça aos ceguinhos" tal a estupídez com que as cidades tratam a acessibilidade.
Em Porto Alegre, cidade que infelizmente vivo, conheço uma dezena de pessoas com deficiência visual que tenham se acidentado por conta dos diversos tipos de obstáculos. Na verdade, eu ainda não conheci algum cego ou com baixa visão que NÃO tivesse se machucado em nossa muy leal e valorosa metrópole gaudéria. Porém, o mais esdrúxulo e preocupante é que  Porto Alegre foi considerada uma das capitais mais acessíveis do país, o que me leva a crer que ou os avvaliadores são mais cegos do que eu, ou as piores cidades são verdadeiros infernos inacessíveis.
Há poucos dias atrás, dei uma hiper mega canelada em um cabo de aço que sustentava um poste, pois estava escuro e eu não me lembrava da existência daquela coisa estapafúrdia no meio da calçada. Além de uma dor lancinante que me fez praguejar até a vigéssima geração do imbecil que permitiu a colocação do tal cabo, isso me causou um inchaço que mais parecia uma corcova de camelo.
Ano passado, na UFRGS, cai um tombo espatacular causado por uma montoeira de cabos e fios deixados a esmo no chão. Sorte a minha que as séries anteriores de quedas me fizeram aprender a cair, e nada de muito grave me aconteceu, a não ser uma ou outra escoriação. Mas, devo me dar por satisfeito pelo fato de não ter sofrido nada muito grave em minhas andanças pela capital gaúcha, cuja acessibilidade fica perto do rídiculo.
Contudo, lembrei de escrever algo a esse respeito pelo fato de uma amiga muito querida ter tido um dissabor desses de ferir-se em uma das armadilhas porto-alegrenses. Ela tem baixa visão, e infelizmente caiu em um buraco, torcendo o pé e tendo que ficar alguns dias "de molho" em casa. O pior de tudo é que o fato aconteceu no interior de uma instituição pública, que deveria dar o exemplo no que tange a acessibilidade.
O cuidado das empresas públicas com os problemas estruturais inexiste, é algo quase ficticio, mesmo  que devam servir de exemplo para as demais. É revoltante pagar impostos e se machucar em um buraco, dar caneladas em cabos de aço no meio das ruas ou outras tantas armadilhas. E não aceito que a burocracia ou sei lá o que impedem rapidez nas reformas, pois, quando os senhores políticvos querem eles conseguem fazer as coisas com bastante celeridade.
Por outro lado, reclamamos do Estado, sem se dar conta de que cada um de nós é parte dele. Se reivindicassemos uma postura mais adequada, se fossemos à imprensa, usassemos as redes sociais e os demais recursos que temos para denunciar essa quase "tentativa de assassinato" que é andar por Porto Alegre, talvez algo fosse feito. Cabe a cada um de nós fazer a sua parte, exigir que algo seja feito logo. Seria bem mais interessante que ao invés de inaugurar uma ciclovia de uma quadra, os governantes municipais se dessem conta de que para as pessoas com deficiência visual, caminhar na cidade é um perigo iminente.
Enfim, seja como for, o fato é que nos continuamos sendo vítimas do descaso e da falta de cuidado. Nesses casos me pergunto quem tem deficiência, eu ou o Estado? quem enxerga menos, eu com baixa visão ou os governantes e habitantes da cidade que não vêem esses perigos?
Por isso, se tu tens deficiência visual, é melhor teres em casa um Kit queda, pode ter certeza que um dia tu vais precisar...

Um comentário:

  1. Essa realidade é lamentável mesmo felipe... Até qdo teremos que andar com o kit de primeiros socorros por ai?
    Otimo texto! como sempre. Grande abraço, Mariana Baierle

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