terça-feira, 26 de novembro de 2013

Pronunciamento do Senador Paulo Paim sobre a ampliação da audiodescrição na tv aberta

A audiodescrição na televisão brasileira
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Senadores.

Registro carta que me foi entregue pelo senhor  Felipe Leão Mianes    sobre audiodescrição na televisão brasileira.

No último dia 11 de outubro, o Ministério Público Federal obteve êxito no Tribunal Regional Federal de Brasília, em uma ação movida contra o Ministério das...

...Comunicações para a retomada do cronograma de implantação da audiodescrição na televisão brasileira estabelecida na Portaria 310, no ano de 2006.

Nela, foi determinado que cada emissora deveria exibir 2 horas diárias de audiodescrição, aumentando 2 horas por ano até se chegar aos 100% da programação.

Tal Portaria foi cancelada pelo Ministério das Comunicações, após forte pressão das concessionárias dos serviços de radiodifusão.

Atendendo apenas aos argumentos das emissoras de TV, o órgão emitiu a Portaria 188, em 2010, estabelecendo um cronograma completamente diferente do anterior.

Nesse caso, seriam 2 horas semanais de audiodescrição, ampliadas a cada dois anos até se chegar a 20 horas semanais de audiodescrita.

Na decisão judicial, um dos argumentos utilizados pelo relator, é de que não pode haver retrocesso em direitos fundamentais adquiridos (conforme decisões do Supremo Tribunal Federal).

O Ministério das comunicações tem 60 dias a contar da intimação para emitir portaria retomando o cronograma.

A União, infelizmente entrou com recurso contrário a ampliação da audiodescrição na TV aberta brasileira.

Não conseguimos compreender qual o motivo que leva o governo a ser contra a acessibilidade e a direitos já adquiridos.

Tais direitos estão vinculados aos direitos humanos e de acesso à informação, e portanto, não podem ser assim retirados simplesmente.

Com tal decisão da União, nos sentimos excluídos, discriminados e indignados, palavras aqui do senhor Felipe Leão Mianes.
          
Sou favorável, senhor Presidente, a retomada do cronograma original de implantação da audiodescrição na televisão brasileira. Já solicitei a minha assessoria que entre em contato com o Ministério das Comunicações.




Os benefícios da audiodescrição são inúmeros e é parte do processo de inclusão cultural de todas as pessoas com deficiência. Defender o direito à acessibilidade é agir em favor dos Direitos Humanos e da inserção social de todos os indivíduos.

A audiodescrição é um recurso fundamental para a aquisição de informação, conhecimento e entretenimento por parte daqueles que a utilizam.

E quanto maior a oferta, maiores serão as possibilidades para que essas pessoas estejam cada vez mais inseridas socialmente.

Segundo o censo do IBGE, o Brasil tem mais de 45 milhões de pessoas com deficiência, isso significa que 23,9% da população se beneficia com a audiodescrição.

Portanto, todas essas pessoas têm direito ao acesso pleno a todas as formas de comunicação.

Senhoras e Senhores Senadores. Esperamos que as pessoas com deficiência tenham pleno acesso a esse meio cultural essencial para a inclusão social.

Era o que tinha a dizer,
Senador Paulo Paim. Desenvolvido por Oliver Media

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

EU ESTOU PRESO!

Estamos vivendo dias em que se discute o que é um preso político ou um julgamento justo da mais alta corte brasileira. Políticos brasileiros de biografia e poder reconhecido até pouco tempo foram condenados a prisão por diversos crimes. Muitos correligionários tem feitos protestos a favor, outros tem protestado contra.
Acho que tudo isso é uma briga eleitoral que vai resultar no pleito do próximo ano. Mas, o que as pessoas não se dão conta é que pessoas com deficiência também vivem em regime de prisão. Umas vivem em prisão domiciliar e outras em liberdade condicional.
Estou preso porque não posso sair de casa sem me incomodar com a falta de acessibilidade nas cidades, que me provocam ferimentos físicos e psicológicos.
Estou preso, porque sempre que quero assistir tv não tenho audiodescrição, e o governo é a favor das emissoras em não ampliar o recurso.
Estou preso, porque quando quero ir ao teatro, ao cinema ou a um outro ambiente cultural não consigo chegar aos locais ou usufruir das obras com acessibilidade necessária. Não há  na imensa maioria das instituições culturais qualquer preocupação com isso.
Estou preso, porque o mercado de trabalho não aceita que eu seja alguém com defici~encia qualificado, e me oferece sempre as mesmas vagas com salários ridículos e incompatíveis com minha formação. Não acreditam que nós possamos ter um cargo de liderança ou destaque na empresa e servimos apenas para atender telefone, programar computadores ou vender bilhetes de loteria.
Estou preso, porque toda vez que faço concurso público sou discriminado e humilhado pelas realizadores com exigências mil, e pelos entes públicos realizadores que menosprezam o potencial de pessoas com deficiência.
Estou preso, porque vivo em uma sociedade que não sabe conviver com a diferença e sempre tem um olhar de menosprezo ou supervalorização. Muita gente ainda duvida que mesmo eu tendo deficiência possa ser feliz e ter orgulho de minha condição.
Estou preso, porque sempre recaem sobre nós os estigmas do fracasso, da incapacidade e da falta. Se faço algo errado é por conta da deficiência, se faço certo é apesar dela. Se estou de bom humor, sou um cego feliz, senão, sou recalcado. Nunca posso ser exatamente eu mesmo.
Estou preso, porque apesar das politicas de inclusão as escolas continuam sem saber como lidar com a deficiência, sem acolher seus alunos em sua diferença. Continuam pensando mais em quais recursos disponibilizar e menos na diferença que deveriam acolher. As universidades continuam não preparando docentes para lidar com nossas especificidades, e depois colocam a culpa no professor.
Estou preso, porque ao invés dos governantes fazerem sua parte para tornar a educação, a cultura e o cotidiano das pessoas com deficiência melhor, perdem tempo com politicagens e factoides. Ao invés de privilegiar os direitos humanos, agem em favor de outros interesses que não o dos cidadãos. Dizem trabalhar pela diversidade, mas cada vez mais restringem direitos.
Senhores, eu também sou preso político!
Estou preso por conta de uma política de desrespeito aos direitos humanos e das pessoas com deficiência por conta de uma sociedade que não sabe pensar no outro, que não aprendeu a respeitar e compartilhar com a diferença.
E o pior, dificilmente um embargo infringente poderá me livrar de tudo isso!

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Bengalando em Barcelona (atendimento aos alunos com deficiência na UAB)



No dia 11 de novembro, tive uma reunião com a coordenadora do PIUNE (Programa de Integração de Universitários com Necessidades Especiais), Judit Oliver, na qual pude conhecer as diretrizes do programa, dentre as quais: os modos de funcionamento, sua estrutura e filosofias para atendimento de alunos com necessidades especiais na UAB (Universidade autônoma de Barcelona). Nessa oportunidade me repassou alguns materiais com uma série de dados muito importantes para pesquisas futuras.
O PIUNE oferece diversos recursos para a inclusão dos alunos com deficiência que ingressam na universidade. Sua principal diretriz é promover autonomia a esses alunos em todos os âmbitos da universidade. Seu atendimento é bem amplo, chegando a cerca 119 alunos em 2012, dos quais 29 deles com deficiência visual.
Os serviços que prestam são os mais variados, dentre os quais se destacam:
1-    Plano de individual de atenção: onde são estabelecidas as necessidades e recursos de acessibilidade a serem providos para cada aluno.
2-    Tutores individuais: cada aluno atendido recebe a atenção de um tutor para auxílio à mobilidade e aprendizagem.
3-    Adaptação dos sistemas de avaliação conforme as necessidades e possibilidades de cada aluno.
4-    Assistência ao estudante para informação e disponibilização de novas tecnologias que auxiliem em seu aprendizado.
5-    Interpretes de línguas de sinais em todas as atividades acadêmicas.
Dentre os diversos serviços prestados para os alunos, destacam-se o assessoramento à mobilidade e acompanhamento de alunos com necessidades especiais, suporte de estudantes/tutores como auxílio à aprendizagem, suporte pedagógico e tecnológico, disponibilização de materiais acessíveis, programas de intercâmbio, suporte e integração laboral e as cabines de aprendizagem.
Estas, são cabines em que cada aluno dispõe dos recursos tecnológicos e de pessoal preparado para proporcionar momentos de estudos extra classe caso o aluno deseje. Ou seja, algo como um laboratório de aprendizagem com todos os recursos de acessibilidades disponíveis para que o acadêmico possa estudar no momento que quiser sobre o assunto que mais lhe convier.
Para tanto, procuram agir globalmente, desde a preparação dos estudantes até a formação de professores, funcionários e outros agentes que atuem na UAB. Sempre tendo em vista que o objetivo principal é promover a máxima autonomia estudantil, laboral e social dos estudantes com necessidades especiais.
Em primeiro lugar, o sistema de atendimento dos estudantes é por auto adesão, ou seja, o aluno procura o programa e o utiliza se tiver vontade. Nesse caso, pode fazer isso antes mesmo de ingressar na universidade, solicitando apoio para os processos de ingressos, que vão de transporte especial até materiais com letras ampliadas.
Esse tipo de atuação gera a necessidade de conhecimentos de todos os envolvidos com a comunidade universitária sobre o PIUNE, para que caso um estudante deseje requisitar ajuda, saiba como e onde fazer isso.
Um de seus grandes méritos é a divulgação maciça e a criação de uma rede dentro da UAB, em que todas as faculdades e departamentos, assim como a maioria das pessoas que convivem no ambiente da universidade conhecem o PIUNE e podem orientar aquele que deseje ser atendido. Essas diretrizes de fato exigem que tais redes sejam sólidas para que se possa ter a maior efetividade possível no trabalho desenvolvido.
Nesse sentido, o PIUNE age em diversas frentes de ação. Uma delas é a divulgação e diálogo intermitente com as faculdades sobre o funcionamento do programa, para que se algum aluno chegar à faculdade solicitando ajuda, seja encaminhado para lá. Por outro lado, esse diálogo ajuda a conscientizar os gestores e professores da importância de prover acessibilidade.
Todos saberem da existência do PIUNE, facilita a otimização do tempo, bem como da contemplação das necessidades dos alunos diante do que solicita o professor. Este, na maioria das vezes, envia materiais com bastante antecedência para adaptação caso necessário.
Ao contrário do que acontece no Brasil, o planejamento e provimento dos recursos de acessibilidade para cada aluno acontece antes e não durante e depois de seu ingresso em determinado curso ou disciplina. Isso permite que todos os alunos tenham acompanhamento sem atrasos ou prejuízos no andamento do período letivo.
A segunda frente de trabalho, está voltada aos funcionários que atuam na universidade, seja no âmbito acadêmico ou da vila universitária, suas lojas e outros estabelecimentos que prestam serviços aos acadêmicos. Junto a essas pessoas, estão incluídos os alunos. Há diversos cursos desenvolvidos semestralmente objetivando a formação de todos na UAB para que conheçam e se sensibilizem com as diversas formas de lidar com as pessoas com deficiência, surdas e que tenham outra necessidade específica.
Ou seja, capacitam esses sujeitos para e a realidade e algumas das necessidades das pessoas com deficiência. Objetivam também, diluir os preconceitos e estigmas, valorizando o respeito, a aceitação e o compartilhamento com as diferenças. A ideia como um todo é colocar em prática as diretrizes da Catalunha em termos de acessibilidade e de convívio com as diferenças, que é o respeito ao considerado diferente e a percepção de que se tratam de pessoas com os mesmos direitos de todas.
Isso ajuda na dissolução de barreiras não só na universidade, mas em todas as esferas sociais. Já que, ao conhecer a realidade e o direito das pessoas com deficiência, os estudantes não os vêem como estranhos, como anormais ou como dignos de sentimentos de piedade ou supervalorização. Aprendem a ver primeiro o sujeito e não sua limitação física ou sensorial. Logo, além de incrementar a qualidade acadêmica dos alunos com e sem deficiência agrega um valor social inestimável ao projeto.
Tal política levada a cabo no PIUNE faz parte de um regimento específico promulgado em 1999, com força de determinação legal dentro da universidade. O Regramento de igualdades de oportunidades para as pessoas com necessidades especiais, regulamenta todas as políticas da UAB para o atendimento das consideradas minorias sociais. Ou seja, a acessibilidade não é uma condição negociável, ou mesmo uma questão de boa vontade, mas sim, uma obrigação regimental.
Se um professor se negar a proporcionar condições de acessibilidade ao seu aluno, ou atrasar algo que prejudique seu desempenho, assim como, se as faculdades não fizerem a sua parte para prover acessibilidade em todos os âmbitos para os alunos, os docentes e gestores são responsabilizados por essa quebra regimental.
Não se pode alegar desconhecimento, falta de recursos ou a inexistência de pessoas com deficiência e necessidades especiais em determinados ambientes para que a acessibilidade não exista. É uma obrigação que todos os espaços estejam adaptados, e que as condições sejam dadas, pois se não há uma pessoa que necessite hoje, a ideia é trabalhar para que amanhã haja.
Acredito que essa visita foi muito esclarecedora para meus trabalhos e para minhas convicções enquanto pessoa e docente. Percebi que é possível atingir o patamar que no Brasil se considera utópico, de atender as pessoas com necessidades especiais com autonomia, qualidade, rapidez e compartilhando com suas diferenças. A precariedade de muitas instituições de Ensino Superior às vezes nos leva a crer que chegar a esses resultados é impossível, mas não concorde com isso nunca, pois não é verdade.
Contudo, o que vi, li e ouvi hoje, me faz crer que com um pouco de boa vontade, respeito ás diferenças e uma grande dose de reivindicação das pessoas com deficiência, é possível alcançarmos a excelência no que tange ao atendimento de pessoas com necessidades especiais nas universidades.
Não como uma concessão, não como um beneficio, não como um projeto individual e efêmero, e sim, com regulamentações sólidas e claras que todos devem cumprir e que continuarão sendo levados a cabo independente de quem esteja momentaneamente participando do contexto acadêmico.
Ver que o impossível é realizável também me faz pensar que a deficiência não está nas pessoas atendidas, e sim, naqueles que fingem que a diferença não existe e que fazem de tudo para tornar essa realidade muito distante. Continuar reivindicando é a única e profícua forma que temos de alcançar o patamar conquistado pelos acadêmicos com deficiência da UAB e de toda Catalunha.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Participação em pesquisa sobre a audiodescrição na Europa



No dia 27 de outubro de 2013, no Centro Cívico Sant Antoni (Barcelona), participei de uma pesquisa cujo objetivo era verificar as preferências pelos diferentes estilos de audiodescrição. Tal investigação é realizada em alguns países da Europa. Na Espanha, ficou a cargo da Universitat Autonoma de Barcelona, instituição em que faço meu doutorado sanduíche.
Tive a honra de ser convidado pela professora Pilar Orero a participar junto com mais dez pessoas desse experimento, envolvendo a investigação em audiodescrição e a constituição de estilos de construção do recurso na Europa, levando em conta as opiniões especializadas de usuários da audiodescrição.
Essa pesquisa é efetuada em conjunto por instituições de seis países: Alemanha, Itália, Bélgica, Polônia, Portugal e Espanha. O experimento é feito com a mesma metodologia em todos os locais, conforme nos fora informado no momento de sua realização.
A atividade começou com a exibição de parte do filme “Bastardos inglórios” de Quentin Tarantino. Durante vinte minutos, assistimos ao trecho da obra com audiodescrição. Depois disso respondemos a uma série de vinte perguntas relacionadas à audiodescrição em geral e outras sobre a audiodescrição do filme.
As questões eram relacionadas tanto ao que conseguimos absorver de informações com o uso da AD, quanto à pertinência ou não da utilização de nomenclaturas cinematográficas e visuais para descrever enquadramentos e planos utilizados no filme.
Após ter respondido a essas primeiras perguntas, passamos para a segunda etapa que consistiu em assistir a quatro clipes de cinco minutos cada, com uma determinada parte do vídeo visto antes. Porém, nessas exibições foram apresentadas diferentes versões de audiodescrição sobre os mesmos trechos.
Quando terminava a exibição de cada clipe, respondíamos a cinco perguntas referentes ao estilo de audiodescrição empregado, opinando sobre o quanto de informação apreendemos e de que modo conseguimos ou não construir as imagens através do recurso. Também fomos arguidos sobre qual estilo nos proporcionava mais entendimento e ao mesmo tempo fruição com a obra exibida.
O que pude perceber nesse experimento é o constante interesse em buscar a melhor compreensão possível e a excelência na criação de audiodescrição. No Brasil, temos louváveis pesquisas acadêmicas semelhantes, mas elas ainda são incipientes e não congregam um número expressivo de universidades, o que as fazem ficar muito isoladas.  Na Europa se procura interação e intercâmbio entre pesquisadores para a construção de um padrão para o recurso.
Mais importante do que isso, essas pesquisas estão sempre voltadas ao gosto e desejo dos usuários da audiodescrição. São eventos realizados com pessoas familiarizadas com o recurso, que tem compreensão sobre como ele funciona e quais as suas nuances. Ou seja, isso é uma demonstração da importância da pessoa com deficiência visual no processo de construção da AD, o que reforça ainda mais a necessidade dos consultores nas equipes de audiodescritores.
Dos quatro estilos apresentados na pesquisa, cada um deles tinha seus prós e contras. Dois deles eram bem mais informativos, cujo roteiro continha descrições sobre o ambiente e as ações dos personagens. Porém, ao privilegiar apenas esses itens, ficaram um pouco de lado as expressões corporais e sensações dos personagens.
            A diferença entre os dois primeiros, é que um fazia referência aos planos e enquadramentos e o outro não trazia tais informações. Além disso, no primeiro a narração teve mais “força”, com a utilização de uma locução mais firme e sem modificação na entonação. Já o outro, teve uma locução menos rígida, ainda que eu tenha percebido a tentativa de manutenção da neutralidade, ela estava mais “solta”.
O terceiro vídeo tinha um estilo de audiodescrição muito diferente do que assistira anteriormente. O roteiro foi feito de tal modo que foram descritas as partes tidas como fundamentais das cenas, com frases mais curtas e com mais espaços para o áudio original do filme, ainda que fossem momentos sem diálogos e somente com a trilha sonora. Ficou evidente o privilégio à objetividade da audiodescrição..
Nesse caso, o clima do filme pareceu mais próximo de nós, ainda mais porque a narração foi feita em tom mais “amigável” e com diferenças de entonação que ajudavam na compreensão da cena. No entanto, me pareceu que ficaram faltando algumas informações que permitissem um maior entendimento sobre as cenas e sobre o sentido e sentimento a ser passado no referido trecho. Com a tentativa de objetividade, ficaram faltando detalhes, o que para mim é algo imprescindível em uma AD.
Por fim, o último clipe foi o mais parecido com a audiodescrição do vídeo mais longo exibido primeiro. Nele, a AD buscou fazer uma mescla entre o estilo mais objetivo e os que priorizam um maior detalhamento das cenas, como cenários e expressões dos personagens. Com um roteiro mais longo e completo, foi possível compreender os planos em que a cena foi filmada, ter um número maior de informações sobre os acontecimentos e, referências que possibilitaram sentir aquilo que se passava.
Embora em ritmo mais acelerado, a narração foi um meio termo entre a objetividade dos dois primeiros e a “suavidade” do terceiro, além disso, o áudio foi inserido em um volume um pouco mais alto. Sendo assim, creio que esse foi o trecho que tentou fazer uma média entre os três estilos exibidos antes.
Claro que estou aqui exibindo apenas as minhas observações, talvez outro usuário que assistiu aos mesmos clipes poderá ter percepções completamente diferentes das minhas, logo, o que estou fazendo é relatar o meu ponto de vista, que é humildemente, apenas uma vista de determinado ponto.
Algumas coisas me deixaram muito feliz ao participar desse experimento. O primeiro fato que me deu alegria foi o convite que recebi para fazer parte desse grupo. Além disso, ver que se fazem pesquisas sobre audiodescrição nesse nível e com essa complexidade, envolvendo diversos países, é muito estimulante.
Por outro lado, o fato de se prover protagonismo ao usuário com deficiência visual é algo que muitos audiodescritores deveriam observar com atenção. O público não é tratado como mero receptor do recurso, mas como parte do processo de construção da AD, o que é algo que eu sempre faço questão de ressaltar. Afinal, fazer audiodescrição com e não para o usuário é sempre mais enriquecedor no sentido de compartilharmos experiências e sensações que vivenciamos. Eis a importância de nosso protagonismo no processo.
Também me deixou muito satisfeito notar que a audiodescrição feita no Brasil – estou falando em geral e por pessoas habilitadas para isso – é muito semelhante a realizada em outros países com uma trajetória de tempo e estudos menor do que a europeia. Se um roteiro daqueles fosse narrado em português, dificilmente alguém notaria a diferença, o que demonstra nossa evolução e qualificação cada vez maior.
Ao compartilhar ideias com os colegas que participavam da pesquisa e ao verificar o estilo de audiodescrição feito na Europa, percebi que os desejos e posicionamentos dos usuários espanhóis são semelhantes aos nossos. Ou seja, ser favorável a audiodescrições que privilegie a informação, mas que não deixem de lado em momento nenhum o entendimento de que também queremos um pouco de sensação, de AD que tente passar em seu roteiro e narração a emoção – ou não – que está sendo transmitida pelo produto. Isso ajuda na fruição e no vínculo com o que estamos assistindo.
Portanto, acho que a audiodescrição brasileira, no que diz respeito ao avanço técnico está indo muito bem, embora possa melhorar.  Tenho orgulho de dizer que faço parte de uma equipe na qual privilegiamos exatamente esses pontos: informação e emoção. Essa experiência me deu ainda mais certeza de que estamos indo no caminho certo, e que continuaremos andando a passos largos, sempre aprendendo e melhorando nosso jeito de fazer.
Enfim, viva a qualidade da audiodescrição no Brasil, pois temos sim profissionais de excelência, que fazem trabalhos que não ficam devendo em nada a outros audiodescritores do mundo. Sigamos evoluindo, pois para frente é que se anda, como me ensinou a minha bengala branca!

sábado, 9 de novembro de 2013

Pela ampliação da audiodescrição na tv aberta brasileira

Ola pessoal!
Fiz um video para dar minha opinião, reivindicar e pedir para que todos compartilhem a ideia de termoas mais audiodescrição na tv aberta.
O governo através do ministério das comunicações não parece gostar muito de ampliar acessibilidade na tv, justamente por isso, temos que fazer nossa parte e pressionar, fazer muito barulho, vamos nessa comigo!

http://www.youtube.com/watch?v=HFzEy5UF59E&feature=youtu.be

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Nota de apoio à ação do Ministério Público Federal para o cumprimento do cronograma de audiodescrição na TV brasileira.

Dia 11 de outubro passado, o Ministério Público Federal obteve êxito no Tribunal Regional Federal de Brasília em uma ação movida contra o Ministério das Comunicações para a retomada do cronograma de implantação da audiodescrição na televisão brasileira, estabelecida na Portaria 310, no ano de 2006, quando foi determinado que cada emissora deveria exibir 2 horas diárias de audiodescrição, aumentando 2 horas por ano até se chegar aos 100% da programação.
Após forte pressão das concessionárias dos serviços de radiodifusão, a Portaria foi cancelada pelo Ministério das Comunicações que, atendendo apenas aos argumentos das emissoras de TV, emitiu a Portaria 188, em 2010, que estabelecia um cronograma muito diferente do anterior: 2 horas semanais de audiodescrição, ampliadas a cada dois anos até se chegar a 20 horas semanais de programação audiodescrita.
A ação do MPF objetiva a retomada do cronograma promulgado em 2006, depois de amplo debate com todos segmentos sociais. Conforme o Ministério Público, a portaria emitida pelo Ministério das Comunicações em 2010 configura supressão de direitos adquiridos na Norma Complementar 01/2006, promulgada pelo próprio MiniCom.
Na decisão judicial, o relator, desembargador Souza Prudente, argumenta que, conforme estabelece o Supremo Tribunal Federal, não pode haver retrocesso em direitos fundamentais adquiridos e que o não cumprimento da Portaria 310 fere o direito de isonomia no acesso aos meios de radiodifusão. A decisão do tribunal foi unânime em favor do Ministério Público.
Assim, o Ministério das Comunicações tem 60 dias, a contar da intimação, para emitir Portaria retomando o cronograma estabelecido em 2006. O não cumprimento gerará multa e outras sanções.
Tendo em vista tais acontecimentos, a Tagarellas Audiodescrição manifesta apoio integral ao Ministério Público Federal na ação pela retomada do cronograma original de implantação da audiodescrição na televisão brasileira. Estamos à disposição para lutar pela consolidação dessa vitória conquistada pela sociedade brasileira. Reafirmamos nosso compromisso de trabalhar ao lado de todos que defendam os direitos à acessibilidade.
Acreditamos que a audiodescrição é um recurso fundamental para a aquisição de informação, conhecimento e entretenimento por parte daqueles que a utilizam. E quanto maior a oferta, maiores serão as possibilidades para que as pessoas estejam cada vez mais incluídas cultural e socialmente.
Segundo dados apurados no Censo 2010, o Brasil tem mais de 45 milhões de pessoas com deficiência, 23,9% da população. Desse contingente, pelo menos 36 milhões de cidadãos têm deficiência visual e são beneficiários potenciais da audiodescrição. E todo brasileiro tem direito ao pleno acesso a qualquer meio de comunicação. Considerando que a televisão alcança quase todos os lares nacionais, torna-se um poderoso instrumento de inserção na cultura e no entretenimento.
Mais do que expressar nosso engajamento, gostaríamos que nossos amigos e parceiros também fizessem parte dessa luta, reforçando a propagação dessas reivindicações por meio das redes sociais, do contato direto, das entidades representativas e de tantos outros meios capazes de legitimar a defesa de direitos universais adquiridos. Nós acreditamos que proporcionar protagonismo às pessoas com deficiência é a melhor forma de tornar o mundo mais acessível e sensível à diferença. Isso também estará mais próximo de ser alcançado se todos reivindicarmos o cumprimento efetivo dessa e de outras tantas leis que garantem direitos à acessibilidade. Fundamentalmente, queremos lutar com – e não só para – as pessoas com deficiência.
Esperamos que as autoridades competentes, especialmente o Ministério das Comunicações, e as emissoras concessionárias de radiodifusão brasileira conscientizem-se da importância e do potencial da audiodescrição, que proporciona aos usuários pleno acesso à cultura e ao entretenimento, essenciais à efetiva inclusão. E que pode, diante dos números da deficiência no País – mesmo desconsiderando inteiramente que não são as pessoas com alguma limitação visual as únicas beneficiadas pela programação televisiva audiodescrita -, ampliar significativamente a audiência de qualquer canal, fato que, todos sabemos, está diretamente relacionado à multiplicação das receitas de publicidade. Não há dúvida: acessibilidade na tevê faz bem para todo mundo.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Bengalando em Barcelona (Park Guell)

Dessa vez, fui bengalar por um dos pontos turísticos mais conhecidos de Barcelona, o famoso Park Guell, inaugurado em 1922, vindo a se tornar Patrimônio da Humanidade  pela UNESCO em 1984. Em princípio era para ter sido um bairro da cidade, mas como foi um fracasso imobiliário acabou virando um parque e com algumas das obras mais impressionantes do renomado arquiteto catalão Antoni Gaudi. 
Chegar ao Park Guell não foi uma tarefa fácil, pois a estação de metrô e as linhas de ônibus mais próximas ficam a cerca de 30 minutos de caminhada do parque. Além disso, situa-se em uma colina e, portanto, há uma subida muito íngreme até chegar ao local, o que dificulta – quase inviabiliza – a ida de pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida.
Para subir, encontramos escadas rolantes que ajudam no deslocamento. Contudo, não há a mesma facilidade na descida. Mais que isso, para quem consegue ir até lá, por conta da topografia do parque, existem dezenas de escadas para os acessos aos diferentes espaços, mas não há elevadores, rampas ou algo que ajude no deslocamento dessas pessoas.
Para uma pessoa com deficiência visual as dificuldades começam já no metrô, pois não há informações claras em braile e/ou fontes ampliadas que informem o caminho que se deve seguir para chegar ao parque. Porém, nem mesmo as pessoas videntes conseguem encontrar com facilidade e autonomia as informações que precisam. Prova disso é que muitos turistas acabam se perdendo.
O piso é feito com pequenos relevos quadriculados, dificultando o uso da solavancos provocados pelas ondulações. Embora seja preciso ressaltar que durante todo o caminho não há sequer um buraco ou obstáculo aéreo que possa provocar algum tipo de acidente.
Depois da aventura de tentar ir até o parque, na entrada existe um totem com informações sobre o lugar, em Braile e em fontes ampliadas. Mais que isso, existe um mapa em alto relevo onde se podem verificar os locais que se deseja ir e as rotas a serem percorridas.
Não há calçamento na maioria dos trajetos, o que dificulta a localização espacial e a locomoção com a bengala. Como não há piso tátil, ir sozinho seria um tanto desaconselhável, ainda mais porque as elevações e declives tornam o percurso um tanto perigoso. São dificuldades que uma pessoa com deficiência visual encontraria se fosse sozinha a esse local, ou seja, isso representa uma falha na acessibilidade, mas não inviabiliza a visita, que em minha opinião deve ser recomendada diante do que irei relatar a seguir.
O parque possui uma série de viadutos que ligam diferentes pontos do parque. Todos eles construídos em pedra, sendo que a imensa maioria deles idealizados por Antoni Gaudi. Na escadaria de entrada, há duas fontes pequenas e a escultura de um lagarto.
Todas essas obras que mencionei são consideradas como parte do patrimônio artístico do local, e podem ser tocadas por todas as pessoas. Ou seja, isso ajuda as pessoas com deficiência visual a ficarem mais próximas e conhecerem as formas e texturas das obras. Isso representa a possibilidade de tocar e sentir a magnitude e grandiosidade da obra de Gaudi.
Fui visitar a Casa Museu Gaudi, e então me impressionei mais ainda com as possibilidades acessíveis que o museu oferece. Digo isso, tendo em conta que no Brasil quase a totalidade dos museus não permite que as pessoas com deficiência visual toquem no acervo, ainda mais em artigos raros como foi o caso. Por isso, creio que tal visita foi especialmente importante para demonstrar que com soluções alternativas e de baixo custo se pode prover acessibilidade.
A casa fica dentro das dependências do parque, mas é necessário pagar para ingressar e conhecer o local. Porém, pessoas com deficiência que “comprovem” isso – no meu caso, o uso da bengala branca – tem entrada gratuita e direito a um acompanhante. Se é verdade que não há catálogos e materiais explicativos em braile ou em fonte ampliada, não é menos verdade que a possibilidade de ir acompanhado pode ajudar se a pessoa que estiver conosco se dispuser a descrever a parte não acessível do acervo – como também aconteceu comigo.
Não há elevadores e a escada é bem íngreme, o que dificulta o acesso a pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida. No entanto, as informações dos painéis são relativamente acessíveis, já que o tamanho das letras e contraste, aliados a posição em que estavam, ajuda muito a uma pessoa com baixa visão no momento de ler o que está escrito. Outro fato interessante é que existem diversos funcionários dentro do museu se colocando sempre a disposição para auxiliar no que for necessário, para fornecer alguma informação suplementar ou mesmo guiar ou fazer a descrição dos detalhes das obras.
Porém, o fato que mais me chamou a atenção e que mais me deixou satisfeito e com a sensação de inclusão, foi a possibilidade de tocar nas obras expostas. Deixei essa parte por último por considerá-la a mais importante.
Logo na entrada do museu já havia uma funcionária me aguardando – talvez avisada via rádio que alguém com deficiência visual estava na fila – e além de me dar as boas-vindas, me cedeu um par de luvas brancas, me dizendo que eu, como pessoa com deficiência que sou, teria o direito de tocar as obras em exposição.
No acervo, havia várias obras de Gaudi, muitas delas mobiliários como algumas cadeiras e mesas desenhadas por ele. A casa foi mantida como deixara quando morreu em 1926, de tal forma que seus aposentos e o oratório foram preservados como estavam na época. Pude tocar todas essas obras e sentir cada nuance e cada formato, cada reentrância e cada curva de suas obras. Havia também, alguns bustos de Gaudi, que tateei e pude formar melhor a imagem de como era o rosto do artista, dado que pelas fotos isso não me foi possível.
Essa possibilidade tátil enriquece o conhecimento e a informação da pessoa com deficiência visual, permite que ela sinta e compreenda o que significa a obra e, ao fazer o mesmo em muitas delas, compreender o estilo do autor e verificar por si mesmo as características delas.
Tudo isso é possível a partir de uma ideia singela, através do uso de luvas feitas com um material simples, mas que torna possível a acessibilidade. Uma alternativa encontrada pelos curadores e conservadores das obras que servem de exemplo para todos os museus.
Poucos metros depois de sair do parque, encontramos uma loja vendendo produtos relacionados ao Guell e à Gaudi. O lugar se chama Gaudi Experience. Há diversas possibilidades de acessibilidade nesse lugar. A primeira, imensos painéis sensíveis ao toque, nos quais é possível encontrar diversas fotos e informações sobre as obras do arquiteto catalão.
Nesses painéis, as fotos e as informações sobre as obras poderiam ter seu tamanho ampliado e conforme o desejo do usuário poderiam ser descoladas em todas as direções. Então, além de poder ler com facilidade, era possível subir e descer a tela, lendo todos os textos com conforto e nitidez.
Além disso, para as pessoas cegas e com baixa visão que não consigam ler nos painéis, existem duas alternativas. A primeira, a possibilidade de ouvir o que está escrito na tela em catalão, espanhol, francês ou inglês. A segunda, solicitar que uma das funcionárias que estavam a disposição lesse o conteúdo do painel.
Também foi possível tockr uma maquete das escadarias e colunas da entrada do Park Guell. A reprodução é em tamanho grande e com um impressionante detalhamento. Diante disso, tive a chance de conhecer coisas que não tinha visto no momento em que estava em frente ao ambiente reproduzido. Isso complementou tudo que conhecerá antes no parque, e de fato, foi uma experiência enriquecedora.
Portanto, creio que apesar de ser pequeno, o museu me proporcionou um imenso aprendizado em termos de soluções viáveis para se prover acessibilidade dentro das possibilidades existentes sem prejudicar o patrimônio ou ferir as regras e diretrizes de conservação dos objetos.
Isso demonstra também a necessidade de reflexão e busca de alternativas no que diz respeito a acessibilidade. Muitas instituições brasileiras que mantém museus alegam baixo orçamento ou desconhecimento para não prover acessibilidade. Mas, com criatividade, alguns estudos e utilização de boas ideias, é possível lançar mão de recursos simples e ampliar a oferta de acessibilidade em seus acervos, algo ainda tão longe do ideal.



Na Casa Museu Gaudi, bem no canto direito da foto. De perfil, com o rosto virado para a obra. tateio um dos móveis desenhados pelo artista. Uso luvas brancas em ambas as mãos, com esquerda seguro a bengala branca, e com a direita toco a peça feito por Gaudi.
Um banco de dois lugares feito em madeira. Sua forma é cheia de curvas e desenhos elípticos. No acento e no encosto, há desenhos que parecem flores estilizadas.
Fim da descrição

Na Gaudi Experience, apareço de costas para a foto e de frente para um telão laranja, lendo informações sobre a Casa Calvet, que está na altura dos meus olhos, em um quadro com fundo preto e letras brancas e grandes.
Fim da descrição








Também na Gaudi Experience, estou à direita e de lado para a imagem, de frente para a maquete da entrada principal do Park Guell que está à esquerda da foto.
Estou tateando a reprodução da escultura de um lagarto e duas fontes, separando as duas escadarias que levam à sala Hipóstila. Uma sala aberta com cerca de duas dezenas de colunas  cilíndricas que sustentam a construção. Em sua fachada superior estão esculpidos lagartos semelhantes aos que estou tocando na escadaria.
Fim da descrição