quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Há um ano, um sonho alcançado!



No dia 25 de Fevereiro de 2015 eu realizava o sonho da minha vida até aquele momento e me tornava Doutor em Educação. Naquele tempo em que eu era um menino que queria ser professor, jamais imaginei que pudesse chegar até aqui diante das condições e circunstâncias que a vida me apresentou.
O que ficou provado é que ainda que eu seja uma exceção, um sujeito que nasce na periferia pode sim se tornar um doutor, e que mesmo a educação brasileira sendo muito problemática para as pessoas com deficiência, podemos ser protagonista no mundo e, principalmente, de nós mesmos.
Serei sempre grato aos meus pais pela educação, carinho e confiança que me deram, talvez seja o exemplo da dedicação deles o que mais me impulsiona adiante. Na maioria das vezes eles foram comigo o que eu quero que todos os pais sejam com seus filhos com deficiência, que permitam que eles errem, deixem que eles quebrem a cara, e que aprendam por si mesmos as delicias e as dores do mundo, que vejam primeiro a pessoa e só depois a limitação corporal.
Estudei sempre em escolas particulares que meu pai e minha mãe se desdobravam para pagar. No entanto, o ensino não era nem próximo ao ideal, ainda mais para um adolescente com deficiência, sem nenhuma adaptação era sempre um esforço dobrado. Até pouco tempo ainda me sentia com déficit de conhecimentos tendo sempre que estudar mais do que os outros para poder chegar perto de me equiparar aos demais.
Não conto isso para dizer que me superei ou para aderir ao “coitadismo”, mas para demonstrar que o passado me faz valorizar o presente, e o quanto eu sou grato pelas oportunidades que tive e que aproveitei. Sou grato inclusive às chances que perdi, foram muitas delas que me fizeram ir em frente e chegar onde estou.
Obrigado ao governo do estado do Rio Grande do Sul por ter negado minha entrada como professor por ser pessoa com deficiência. Foi a maior discriminação – institucional – que passei, e isso me fez rever os rumos da minha vida e reencontrar minha vocação de buscar fazer a minha parte na luta pelos direitos das pessoas com deficiência.
Seja como for, após tornar-me mestre em 2010, fui aprovado para o doutorado e ingressei em 2011. Desde aquele momento eu vivi intensas e inesquecíveis aventuras. Estava fazendo aquilo que eu mais sonhava pesquisar, lecionar e atuar como ativista para um mundo mais justo, fazendo – ou tentando – a minha parte para tornar o mundo um lugar menos preconceituoso e que valorize mais as diferenças das pessoas.
Tive a oportunidade de viver em Barcelona, que foi uma das grandes experiências pessoais e profissionais da minha vida. Nunca me esquecerei de nenhum daqueles dias tão repletos de aprendizados e de belezas sem fim. Conheci outros lugares e pessoas que muito me acrescentaram, e nada pode ser tão mais especial do que isso.
Foram quatro anos de trabalho intenso e dedicação completa à minha tese que se não é a melhor tese do mundo, é a melhor que eu pude produzir. Ainda assim, sem modéstia, acho que ela tem bastante qualidade e que agrega bastante ao debate sobre os modos de vida e processos educacionais de pessoas cegas e com baixa visão.
Talvez porque, enquanto eu escrevia a tese eu reescrevia minha própria história, na medida em que eu era ao mesmo tempo objeto e pesquisador, fui escolhido pela pesquisa e não o contrário, o que fez dela uma parte minha, que doei a outrem, afinal, agora a tese é do mundo e já não pertence mais a mim.
Tenho muito orgulho do que produzi no doutorado, dos textos que escrevi, dos que deixei de escrever, das noites em claro preocupado com uma dificuldade na escrita ou nas ideias embaralhadas ou escassas. Recordo com alegria dos nãos e= que disse aos amigos que convidavam para a festa, sempre com a mesma fala: “preciso ajeitar a tese, tenho que terminar uma coisinha aqui”. Escrevi e apaguei milhares de vezes até encontrar a frase correta. Li muito, aprendi muito, tive mais dúvidas do que certezas. E assim fui tecendo a tese até o fim.
Após a entrega do texto final da tese vem a apreensão e o medo daquilo que poderia acontecer na defesa. Mesmo sabendo ter uma boa tese as preocupações e a sensação de que algo vai dar errado é mais forte do que o sentimento racional. As dúvidas e as incertezas tomavam conta de mim e eu quis tanto que o dia chegasse logo.
Quando a banca começou e eu declamei um poema, aquelas sensações ruins foram dissipadas. Fiquei concentrado e tranquilo, tudo transcorreu melhor do que eu imaginava, com críticas construtivas e elogios generosos comigo. Finalizei um ciclo de muitas alegrias, diversas batalhas e muitas histórias para contar.
Foram tantas coisas que se passaram nesse tempo que demoraria muito para contar todas as coisas que vivi e que aprendi nesse tempo todo. Mas, preciso fazer agradecimentos especiais à minha orientadora Lodenir karnopp, que tanto me ensinou a ser pesquisador e a ser uma pessoa melhor.
Agradeço às pessoas que estiveram na minha banca examinadora, professoras Maura Lopes e Rosa Hessel que estiveram tanto na defesa de projeto quanto na defesa final. Grato também à professora Eliana Franco, que esteve na defesa do projeto, e Lívia Motta que esteve na defesa final. Aprendi muito com todas as contribuições de vocês, concordei e acatei a maioria, discordei e debati algumas delas, mas certamente analisei com carinho e atenção a cada uma delas.
Obrigado aos meus colegas de grupo de orientação e de temática com os quais estudei e pesquisei por mito tempo. Faço uma menção em nome de todos através da Janete Muller, amiga que sempre foi parceira de trabalho e uma estimada amiga, e que mesmo depois da minha saída da UFRGS e de seus inúmeros afazeres ainda mantemos contato, afinal, amizades verdadeiras sobrevivem às distâncias e compromissos.
Agradeço também a minha amada Fabiana, atualmente minha esposa, mas que na época estava comigo há pouco mais de um mês, mas me transmitiu toda a confiança e a tranquilidade necessária para que eu finalizasse a tese e a defesa da melhor maneira possível. É por viver com ela diariamente que vejo minha tese viva em suas atitudes, nas lutas e nas conquistas que obtemos. Foi ela que por essa época começou a me devolver o prazer da literatura e de tantas outras maravilhas que a vida proporciona.
Por conta da tese e de meu desejo de seguir pesquisando também tive a possibilidade de ser selecionado e estar cursando meu pós-doutorado na ULBRA; Desde que conheci o programa de pós-graduação em educação simpatizei com as pessoas, estive alinhado às temáticas, e tinha o sentimento de que um dia eu seria parte daquela equipe, para minha sorte, esse dia chegou e hoje posso dizer que me sinto muito feliz trabalhando na instituição e com aquelas pessoas.
Sei que ainda tenho muito para aprender como pesquisador, muito a evoluir em termos de currículo, sei onde preciso melhorar e o que fazer para chegar aos patamares desejados. Segurei como sempre, trabalhando com dedicação para qualificar cada dia mais, batalhando e fazendo a minha parte para tornar o mundo mias justo, e não deixando morrer a chama que acendeu em mim com a construção da tese, e que levarei comigo para o resto dos meus dias. .