sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Já que você se foi

Quando você se foi
E seus olhos cerraram.
Meus sorrisos cessaram
A dor fez morada no meu peito,
viver sem ti de que jeito?

Quando você se foi.
Segurando em minha mão. 
Entendi que chegara o momento.
Da liberdade eterna do desprendimento..

Quando você se foi.
Levou contigo uma parte,
do que de melhor existia em mim.
Comigo deixaste acesa,
a chama da tua beleza.

Quando você se foi.
Não feneceu de todo.
Enquanto houver brilho em meu olho.
Estarás plena dentro de mim.
Por isso sigo mesmo assim.

Ja que você se foi
espero que seja
a mais bela estrela
que guia meus passos inseguros
me livrando dos medos obscuros.
e mostrando a felicidade que ainda procuro.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Gratidão ad eternum

Todos os anos escrevo textos refletindo sobre o natal ou sobre o ano novo, mas agora isso não foi possível diante dos compromissos que tenho em terminar minha tese. Por outro lado, creio que um dos principais propósitos dessas festas de fim de ano é demonstrar gratidão por todas as pessoas ou coisas que nos fazem bem. Unindo essa ideia com meu trabalho, decidi publicar os agradecimentos que irão constar em minha tese, e agradecer a todos que de algum modo me ajudaram a concluir essa etapa tão importante na minha vida.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a mim mesmo pelo tempo, dedicação e perseverança que aprendi a ter durante essa caminhada, além de tantas outras coisas que conquistei nesse período. Em seguida e não menos importantes, à todas as pessoas cegas e com baixa visão do mundo, pois foram elas que me inspiraram a realizar essa tese e que me mantém forte para continuar na luta pelos nossos direitos.
À meus pais Nivaldo e Rosane Mianes, que são meus exemplos de conduta pessoal e, mais do que isso, desde sempre me ensinando a ter autonomia e responsabilidade, não vendo na deficiência um problema e sim um mundo de possibilidades. Muito grato aos demais familiares que de algum modo contribuíram para essa trajetória percorrida.
Meu agradecimento mais do que afetuoso para minha orientadora Lodenir Karnopp, uma pessoa sensacional com quem aprendi tantas coisas sobre a vida. Além das orientações, indicações de leituras, sugestões de escrita, “puxões de orelha” e elogios, contigo aprendi que pode haver afeto e poética na academia. Como diz o cancioneiro: “se alguém/ já te deu a mão e não pediu mais nada em troca/ pense bem/ Hoje é um dia especial..”, pois fizeste de cada dia desses últimos seis anos - entre mestrado e doutorado - um dia especial. Muito, muito obrigado!
Com muito respeito e afeto, sou grato a todos os colegas que tive no PPGEDU, sobretudo, aos que estiveram comigo em nosso grupo de pesquisas por todas as contribuições diretas e indiretas ao meu trabalho. Obrigado também a todos os professores que tive a chance de ser aluno e daqueles que mesmo não sendo, ainda assim me ensinaram tanto.
Especialmente à Janete Muller e Graciele Kraemer, que desde sempre estiveram ao meu lado estabelecendo uma sólida e bela parceria acadêmica, na leitura e pareceres sempre qualificados sobre minhas pesquisas. Obrigado pelo tempo e dedicação despendida, além da qualidade das observações de vocês, me fez crescer muito como pesquisador e como sujeito. Espero poder continuar privado de suas amizades e parcerias profissionais.
Muito obrigado aos profissionais do Programa Incluir, que durante tanto tempo me acolheram e me disponibilizaram todos os materiais e estrutura de acessibilidade que precisei durante todo o período. À Adriana Thoma pela amizade, carinho e parcerias de sempre – inclusive as de além mar -, às amigas bolsistas Thayse Benedet, Bianca Peixoto e demais que sempre foram atenciosos comigo. Obrigado Fabiana Guedes, por teu trabalho, por teus conselhos e pela amizade. Também agradeço especialmente à Liliane Birnfeld, que fez a pergunta que mudou a minha vida, no dia em que entrei pela primeira vez no incluir sendo recebido com a pergunta: “do que você precisa?”, e também por todo carinho e dedicação de sempre.
À Patrícia, que esteve comigo durante grande parte dessa trajetória me apoiando tanto quanto possível, meus sinceros agradecimentos. Aos amigos Carlos Ely, Juliano Dobertein e Fernando Becker, pelas conversas edificantes e inspiradoras de novas possibilidades de reflexão. Ao saudoso MAQ e a todos aqueles que nos deixaram, mas que continuam me inspirando a ser e a fazer.
Agradeço à Lisandra Correa, amiga muito especial que sempre me faz pensar em nossas conversas, e que é um exemplo de conduta e conhecimento para todas as pessoas cegas e com baixa visão. Grato pelos conselhos, e saiba que minha tese ficou mais rica com tua ajuda.Muito obrigado Mariana Baierle, minha ‘maninha’ mais nova, com quem tenho o privilegio de conviver e aprender cotidianamente. Tua amizade é muito importante para mim em todos os sentidos, e que seja ad eternum. Queridos Rafael Giguer e Ariane Kravczyk obrigado pelos conselhos pessoais e profissionais tão pertinentes e, claro, pelos debates sobre nossa condição de baixa visão.
Tenho certeza de que não escrevi a tese sozinho, e sim com a ajuda de todos que foram aqui mencionados. Fica minha gratidão e felicidade por ter um pouco de cada um de vocês em meu trabalho. Sinto-me lisonjeado por terem cruzado meu caminho. Continuemos lutando juntos pelo direito a ser diferente, e por um mundo onde mais importante do que enxergar, seja aprendermos a ver.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Até a próxima, UFRGS

Uma das coisas que a deficiência visual me trouxe de bom é ter aprendido muito com minha bengala branca. Descobri que ela só me leva para frente e não importa quantos obstáculos existam, segue adiante. Não nego que são muitas as ocasiões em que mesmo minhas pernas indo para o futuro, viro a cabeça e olho por trás de meu ombro para ver se encontro nem que seja um borrado de meu passado.
Essa história da bengala branca me guiar para meu norte se aplica aos objetivos pessoas e profissionais, ao fato de não guardar rancores por muito tempo ou algo do tipo. Porém, isso não quer dizer que eu não relembre o passado ou que não o valorize, muito pelo contrário, eu sinto saudades de tantas coisas. Muitas que não há como retomar – ao menos nessa vida – doerão para sempre, outras ficam na caixinha das boas lembranças e da saudade que me faz sorrir.
Despedidas sempre me deixaram triste, por mais que a decisão tivesse sido minha e que assim eu siga convicto. E, quando é algo que não depende de mim, fico ainda mais sensível e com o peito queimando. Sei que isso acontecerá em muitos momentos, já que a vida é feita de encontros e despedidas, como diria o cancioneiro. Isso não impede que eu sinta o mesmo gosto amargo todas as vezes.
Estou na UFRGS desde 2005, quando ingressei na graduação em Pedagogia. Então, era um rapaz de 22 anos que tinha uma visão limitada sobre a vida e sobre si mesmo, achando que as parcas migalhas possíveis seriam o suficiente para uma trajetória feliz. Tinha sonhos que hoje considero rasos, e que na época entendia como quase inatingíveis.
Durante esse tempo eu me aceitei de coração como alguém com deficiência, e hoje sinto como se eu jamais tivesse negado a mim mesmo. Aprendi que é preciso lutar pelo outro, por mais que ele não me seja recíproco, que tenho direitos pelos quais lutar. Aos poucos, fui me dando conta daquilo que me fez feliz como nunca, lutar com as armas que tenho para um mundo que respeite mais as pessoas com deficiência.
As armas que eu tenho são as minhas palavras e as minhas ações. A minha maneira de agir para um mundo melhor é sendo docente e pesquisador/ativista, fazendo de minha existência a tentativa de mostrar que podemos ir muito mais longe do que se pensa. Muitos dizem que as palavras que escrevo e falo as tocam, e quiçá seja esse meu rumo, tentar mudar as coisas através de meus trabalhos. Fiz e farei a minha parte para continuar vendo o sorriso das pessoas que se identificam com o que digo e que se sentem confortadas em ver que há pessoas como elas e lutando por elas.
Em minha trajetória entre graduação e doutorado percebi que é esse pulsar das pesquisas, o movimento da docência e as batalhas diárias em favor do direito a ser diferente que me fazem sentir pleno. Em inúmeras oportunidades pensei em desistir, já que as coisas pareciam não mudar, e mesmo assim segui, vendo ali adiante e em gestos tão simples que os resultados das coisas dependem dos olhos com que as vemos.
Sempre reivindiquei uma universidade melhor, já que sinto como se tudo ali fosse um pouco meu, afetivamente falando. Lembro-me da vez em que nosso PPGEDU retomou o conceito 6 da CAPES outrora perdido, e o que para muitos seria só um número, para mim foi o retorno ao lugar de onde não deveríamos ter saído, e eu que fiz parte dos que lutaram por isso, me emocionei como se fosse minha família que tivesse sido contemplada.
Por lá fiz muitos amigos e não há um dia que eu circule pela Faculdade de Educação que eu não encontre alguém que eu goste ou que me recebe com um sorriso verdadeiro. É uma pena que não tenha guardado na memória visual da fisionomia de todas elas que levarei sempre dentro de mim. Discordei de muita gente, a maioria fez com que eu crescesse como pessoa e como pesquisador por me incentivarem a ser melhor do que fora. Outros que passaram do limite do aceitável, desses nem lembro mais.
Depois de todo esse tempo, amanhã, dia 16 de dezembro de 2014 será meu último dia de aulas antes da defesa do doutorado. Aprovado ou não, as aulas - como aluno - na UFRGS se encerrarão para mim. Nunca mais vou reclamar das cadeiras desconfortáveis, ou do equipamento que não funciona ou da falta de acessibilidade na biblioteca.
Porém, eu também nunca mais vou levantar no dia mais chuvoso e frio do ano com alegria pelo simples fato de ir à UFRGS. Não vou mais ter o convívio diário com tanta gente que me faz bem e que já são amigos para todo sempre. Não vou mais vivenciar cenas engraçadas e tristes como gostava de acompanhar. Não vou mais poder dizer um simples: “até amanhã então...”
Poderia ficar aqui horas escrevendo sobre como esse tempo todo mudou a minha vida. Mesmo sendo mestre e quase doutor, sinto-me com animo de ir em frente como se eu ainda fosse aquele menino impetuoso de 22 anos. No entanto, agora tenho também a sabedoria e a serenidade de 32 primaveras vividas. Sei que tenho muito ainda para realizar pela vida, mas eu jamais me esqueço de onde venho, e a UFRGS é e será a minha casa.
Não sei como vai ser daqui para frente, se e onde vou trabalhar como docente ou outra surpresa que a vida possa me reservar. Quem sabe um dia eu possa retornar como professor, o que muito me honraria para o resto da vida. O que eu sei no momento é que tenho que me despedir por enquanto, e para usar um clichê que se aplica perfeitamente nesse caso, digo que saio da UFRGS, mas em momento algum ela sairá de dentro de mim...

sábado, 29 de novembro de 2014

Entre brumas

.A tristeza desmedida.
Toma conta de minha vida.
Meus olhos se inundam.
E o peito arde sem fim.

Quando nossos caminhos andavam descompassados.
Floresceu um desejo  oculto
E agora que seguimos o mesmo rumo.
Onde tudo se perdeu?

O brilho dos meus olhos apagou.
Meu sorriso cintilante cessou.
Minha voz de suplica calou..
O coração esmigalhado quase parou.

Tenho medo do futuro.
E como será o proximo passo.
Perdeu a graça meu mundo.
Porque não estou ao teu lado.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Enredado na saudade

Quando a saudade chega.
Meu sorriso parte.
Em pedaços e apertado,.
O coração está combalido.
Lembrando de como foi.
E de como poderia ter sido.
Sei que ainda há tempo.
De fazer do meu desejo.
O teu suspiro que almejo.
No teu beijo remir meus amores.
E aplacar meus temores.
Saudades de viver.
Uma historia inacontecida.
Em que você, amor da minha vida.
Deixa-se enredar em meus braços.
Descobrindo que só em mim. Poderá encontrar.
Todo amor que procura pelo mundo.
Olhe para o lado um segundo.
E tua busca há de findar.
Pois como merece,
Somente eu saberei te amar.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Enleado em teu olhar

Na corda-bamba do amor.
Te quero tanto.
O que fazer?
Se ainda não posso te ter.

Vidas que seguem.
Desejos escondidos.
Pensamentos fugidios.
Impossíveis que acontecem.

Olhares trocados.
Beijos roubados.
Sentimentos compartilhados.
Futuros incertos.
Amores redescobertos.

Passo a passo
Vejo meu recomeço
Enleado em teu desejo.
Perdido em teu olhar.
Onde encontro meu lugar.

sábado, 22 de novembro de 2014

No fim das contas

Tudo na vida tem um fim.
E assim deve ser.
Não simplesmente um fenecer.

Toda vida há de ter um fim.
um proposito a cumprir.
E um horizonte para tocar.

Ninguém é dono do que sente.
Apenas daquilo que semeia.
E dos sorrisos que enleia.

A finitude que me escapa pelos dedos.
Aumenta meus medos.
De não viver tudo que desejo.

No fim das contas.
somadas e subtraidas tristezas e felicidades.
O resultado é só você quem sabe.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

À espera

Procurei teu cheiro,
misturado entre minhas roupas e lembranças.
Te busquei numa rosa em botão.
E te encontrei no fundo do meu coração.

tempo, tempo, tempo...
Eu aprendi a esperar.
Ate a rosa germinar.
E o nosso amor poder brilhar.

as dores do passado,
sei que não posso apagar..
Eu só quero a chance de tentar.
Te mostrar que outro mundo é possível.
onde o medo some e o amor semeia.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

"inclusão" sem participação

Considero a Universidade Federal do Rio Grande do Sul quase como minha segunda casa, e tenho profundo respeito e afeto por essa instituição tão importante na vida acadêmica mundial, nacional e na minha formação profissional. Apesar de todas as dificuldades de estrutura, ainda é uma referência para o ensino e pesquisa.
Também há uma imensa maioria de servidores – professores também são servidores e por isso não faço diferenciação – abnegados por fazer sempre o melhor. São eles que fazem a universidade pulsar e ter as evoluções que já teve, que fazem com que muitas coisas legais aconteçam e que as coisas sejam cada dia melhor, ou ao menos tentam que assim seja.
No entanto, o afeto que tenho pela UFRGS não me impede de criticá-la, muito pelo contrário, é exatamente por desejar o melhor para ela que muitas vezes me manifesto criticamente sobre algumas situações que acontecem no cotidiano acadêmico ou nos problemas que existem em diversas esferas. Eu quero que tudo seja cada dia melhor, e acho que com minhas reflexões e com minhas observações, posso fazer a minha parte para que as coisas fiquem ainda melhores.
No que tange às políticas de inclusão e acessibilidade para pessoas com deficiência, embora oficialmente a instituição afirma que essas ações ocorrem desde os anos 1980, discordo que isso seja verdade, ao menos de fato. Foi inicialmente em 2005 e depois em 2008 mais fortemente, que acessibilidade e atendimento a pessoas com alguma necessidade específica foi implantada na UFRGS, com a adesão ao Programa Incluir, primeiramente coordenado pelo Professor Hugo Bayer e, posteriormente, pela professora Adriana Thoma.
Comecei a ser atendido pelo Programa Incluir em 2008 e já mencionei muitas vezes sua importância fundamental em meus estudos. Não pretendo ficar me repetindo, mas nesse caso é preciso dizer que sempre fui tratado com acolhimento, e assim como os demais usuários, sempre fui consultado sobre alguns novos rumos ou possibilidades de melhoria dos serviços. Logo, nós alunos atendidos sempre tivemos voz e participamos ativamente da construção do programa.
Em Julho desse ano, nós usuários fomos surpreendidos por uma mudança de rumos na acessibilidade empreendida na UFRGS. Foi criado o Núcleo de Acessibilidade e Inclusão da universidade que passou a substituir o Incluir. Até então, tudo muito bem, pois sempre lutamos para que esse espaço fosse construído, o problema foi como as coisas ocorreram.
Não irei pessoalizar as questões que citarei a partir daqui, pois todas as atitudes foram tomadas institucionalmente e bem ou mal, é uma postura da universidade e de seus representantes. E, essa é uma opinião minha como usuário e não reflete nada além de meu posicionamento.
Como transito em inúmeros ambientes e instâncias da UFRGS pelo bom relacionamento que tenho com muita gente de todos os setores, acabo sabendo de muitas coisas e uma delas foi o modo como o tal núcleo foi concebido e, por isso, sei de muitos fatos que geraram a criação desse setor.
Dentre tantos fatos dos quais discordo sobre a criação no núcleo de inclusão e acessibilidade, o principal e o que eu gostaria de comentar aqui é a completa ausência de diálogo com os usuários. Quando começou a ser concebido, os alunos atendidos não foram sequer convidados ao diálogo para a construção do núcleo de acessibilidade.
Um dos fundamentos atuais da acessibilidade e dos direitos das pessoas com deficiência é que os sujeitos que pertencem a esse grupo devem participar de todas as concepções e tomadas de decisão relativas às suas vidas e suas posições na sociedade. Uma universidade que deveria primar pela construção de propostas chamando seus alunos - nesse caso com deficiência – para empreender diálogos e participação destes nos diferentes espaços.
Em nenhum momento as pessoas com deficiência da UFRGS foram convidadas a ter sequer uma conversa que fosse sobre a forma como seria concebido o núcleo de acessibilidade. Tudo foi decidido no gabinete, sem ouvir as ideias que poderíamos ter para melhorar a logística ou a qualidade dos serviços prestados.
Esperei alguns meses até escrever esse texto, já que por mais que eu sempre tivesse duvida de desse formato unilateral como o núcleo foi constituído, deixei as coisas acontecerem para ver se ao menos em algum momento seriamos convidados pela atual coordenação a estabelecermos uma interlocução e contribuirmos de alguma maneira para a melhora da acessibilidade na UFRGS. Mas para a minha decepção, nada foi feito nesse sentido, e tudo parece estar em inércia, situação que a mim não agrada nem um pouco.
Vejo e vivo diariamente os problemas acontecendo, e até já tentei apresentar algumas soluções, mas infelizmente, nada foi feito de concreto para que as coisas mudem e sejam implementadas ações efetivas de acessibilidade arquitetônica e atitudinal. É uma pena que tudo tenha ficado em suspenso, e pior é notar que pouco ou nada mudará nos próximos tempos.
Acho que participar de formações no MEC é sempre importante para capacitar mais os gestores vinculados a essa área, no entanto, posso dizer sem nenhuma modéstia que dentro da própria UFRGS existem pessoas com deficiência atualmente ou que já passaram por nossa universidade que são tão ou mais capacitadas para realizar formações em acessibilidade;
Não é necessário ir tão longe para ter essas aulas, bastaria olhar em volta e bem perto encontrariam pessoas que poderiam ajudar muito nessas “novas” perspectivas. O que acontece é que muita gente tem uma visão mais limitada do que a minha, mesmo enxergando com plenitude.
Mais do que usuários capacitados para realizar esses processos, consultar os alunos com deficiência da UFRGS é importante por termos conhecimento das realidades de nossa instituição, por conhecermos como as coisas funcionam em nossos cursos com suas especificidades e por uma questão de respeito àqueles que são a razão de existir da UFRGS, que são seus próprios alunos.
Nós alunos com deficiência também desejamos ter voz e vez nos debates sobre a construção da universidade, e não só sermos vistos como estranhos, ou como “garotos propaganda” de ações inclusivas para as quais nem fomos convidados a participar.
Enfim, creio que firmar e implementar uma proposta de inclusão sem a parceria com seus alunos com deficiência, é como o orvalho que evapora antes de chegar à flor, ou seja, suas funções práticas não são cumpridas plenamente.
Mais do que solicitar e receber atendimentos, queremos participar ativamente do processo de implantação e desenvolvimento dos rumos que o núcleo de acessibilidade venha a tomar. Afinal, é por causa, por e para as pessoas com deficiência que esse setor existe, e é sempre bom recordarmos disso.

domingo, 2 de novembro de 2014

A vida como um sopro



Há momentos na vida em que nos deparamos com aquelas pessoas que tentam nos desqualificar intimidar ou oprimir. Dito tantas vezes e conforme o contexto, acabamos por acreditar que tudo aquilo é verdade e aceitamos com resignação a mais feroz e injusta das criticas. Isso ocorre com as pessoas com deficiência, que taxadas cotidianamente como incapazes, acabam achando que o são de fato.
O descrédito e a falta de confiança podem durar algum tempo, mas não para sempre, pois quem tem talento para aquilo que faz não desaprende nunca, por mais pedregoso que seja o caminho. Tenho conhecido alguns casos como esses nos últimos tempos. Talvez porque aconteçam bem perto de mim, ou por ser eu uma parte dessa história. Em tempos de mudanças, recomeçar é preciso, mudar é essencial e recuperar a confiança é o que nos faz renascer.
Há uma tendência cultural da maioria das pessoas com deficiência serem tratadas em uma relação de inferioridade, ou ao menos, de expectativas tão baixas, que isso as acaba subjetivando e faz com que duvidem de suas capacidades que estão ali guardadas dentro delas.
Tenho uma amiga que durante um tempo foi muito espezinhada, oprimida e teve sua qualidade colocada em xeque. Infelizmente, a pressão foi tanta que ela acreditou que de fato fosse desqualificada, preguiçosa ou incompetente. Felizmente, mudanças vieram e novas chances apareceram, a confiança foi sendo retomada e a minha amiga foi recuperando o brilho nos olhos que todos nós admirávamos.
Essa semana, tive a chance de estar a seu lado em um curso sobre audiodescrição. E, quando a vi exercendo o papel de consultora com uma qualidade impressionante, dando dicas certeiras e indo direto ao ponto, eu pensei: “é como o sol que ressurge por entre as nuvens!”. Parecia que fazia suas observações instintivamente, como se fizesse consultoria de AD tão comumente como respira.
Aquilo me emocionou muito, ver a minha amiga fazendo aquilo que tanto gosta, e fazendo isso com confiança em si mesma e no seu talento. Sim, ela está de volta! No momento, fiquei sem reação, a única coisa que eu quis fazer foi ficar olhando aquela aula que um dia qualquer aspirante a consultor deveria assistir.
Essas pequenas grandes coisas do cotidiano são importantes para vermos coisas de formas diferentes daquelas que costumamos. Não dar ouvidos a quem não merece e acreditar que um dia as coisas ruins ficam no passado. E isso me fez refletir sobre um universo de coisas.
Lógico, também recordei das dificuldades pessoais da minha amiga que hoje atingiu um patamar de maturidade e de sucesso que não deve mais nada para ninguém, e melhor, ela mesma sabe disso. Acompanhei todo o processo de perto e sei o quão difícil foi, mas aquela aula valeu por cada um dos dias que eu tive que apoia-la.
Naquele instante senti como se um vistoso pássaro preso em uma pequenina gaiola, tivesse ganhado a liberdade e começasse a voar pelo céu como se jamais tivesse saído de lá. Há pessoas que descobrem que a chave que abre a gaiola se chama confiança. Porque é ela que te faz sentir vivo e pleno para aproveitar o que a vida tem a oferecer. É a confiança que nos devolve desejos já esquecidos na memória, e nos faz ver quão colorida a vida pode ser.
A felicidade que podemos ter jamais dependerá do outro, ou daquilo que ele possa vir a fazer ou a representar. Ela é intransferivelmente nossa responsabilidade e, por isso mesmo, o maior compromisso que alguém pode ter é consigo mesmo. Somos as escolhas que fazemos, e podemos nos resignar com as posições que tentam nos impor ou romper com as amarras das convenções e caminharmos com nossas próprias pernas.
O que importa é que a vida sempre nos dá uma segunda chance de mudar o que não parece bem, e mais ainda, de usarmos essas oportunidades como uma redenção diante do que nos fazia mal. A vida é um sopro, e quando a gente menos espera o fôlego acaba. Por isso, enquanto o bafejar da existência impulsionar nossos sonhos poderemos ir adiante, vencer a incredulidade – própria e alheia -, rumo a mares nunca d’antes navegados....

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Felipe Mianes e Mariana Baierle ministram palestra “Construção Literária inclusiva” na Feira do Livro

Dentro da programação dos Colóquios de Inclusão que ocorrem na 60ª Feira do Livro de Porto Alegre está a mesa “Construção Literária Inclusiva”. O debate será ministrado por Felipe Leão Mianes e Mariana Baierle. Será no dia 15 de novembro (sábado), das 16h15min às 18h15min, na Estação de Acessibilidade.
Felipe é historiador, mestre em Educação, doutorando em Educação pela UFRGS e autor do blog www.arteficienciavisual.blogspot.com. Mariana é jornalista da TVE, mestra em Letras pela UFRGS e editora do blog www.tresgotinhas.com.br
Na oportunidade, os dois irão abordar aspectos de suas construções literárias. Embora tenham características singulares, as narrativas de Felipe e Mariana são permeadas por vivências de mundo sob a ótica das pessoas com deficiência visual. Ambos tem menos de 20% de visão e, através da literatura, transpõe suas perspectivas, interpretações e inquietações.
Eles devem compartilhar com o público também suas experiências com produções literárias e culturais em diferentes mídias. Irão introduzir ainda a discussão sobre formatos de conteúdo acessível e os recursos de acessibilidade disponíveis.

SERVIÇO
O quê: palestra “A Construção Literária Inclusiva” dentro da programação dos Colóquios de Inclusão na 60ª Feira do Livro de Porto Alegre
Ministrantes: Felipe Mianes (doutorando em Educação pela UFRGS) e Mariana Baierle (jornalsita da TVE e mestre em Letras)
Quando: 15 de novembro (sábado)
Horário: 16h15 às 18h15
Onde: Praça da Alfândega, 60o Feira do Livro de Porto Alegre – Estação de Acessibilidade
Inscrições: gratuitas pelo email coloquiosdeinclusao@desenvolver-rs.com.br até um dia antes ou pessoalmente até 20 minutos antes (conforme lotação máxima do espaço)

domingo, 26 de outubro de 2014

Responsavelmente irresponsável

Encontrei a chave que abre as portas da fluidez dos sonhos
E pretendo não trancar mais essa porta
E nunca mais dizer não para mim mesma
(…)
Espontaneidade
Vontade
Desejo
(…)
Loucura
Fluidez
Liberdade
(…)
Há Sonhos que se sonham sonhando
Há sonhos que se sonham vivendo
(…)
A devanesia da vida acontece quando ontemanhã estão ofocos
E o foco torna-se multifoco
A vida torna-se plurileve
(…)
Sou dona das chaves que levo e das portas que tranco
Sou dona das minhas atitudes, do meu corpo e, acima de tudo, do meu ser
Quero ser eu mesma, contigo e semtigo, comigo e comigo
(…)
A vida nos surpreende,
Quero ser sempre surpreendida
E responsavelmente irresponsável

Autora: Mariana Baierle

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Ponto final



Doces tristezas jorram,
Gotas de amargura secam,
Antes de caírem ao chão.
Todo meu lamento de outrora.
Agora não tem mais importância.
O que fica são as lembranças.
Dos momentos raros,
Em que a melancolia deu lugar à esperança..

Não tenho medo da partida.
Mas lastimo ter deixado pela vida,
Migalhas soltas no caminho.
Do que eu fui e que queria ter sido.
Não me sinto mais perdida.
Pois cheguei ao meu ponto final.

Meus olhos já não são jabuticabas.
A pele não é mais suave e alva.
O brilho do sorriso que te guiava.
Deu lugar a uma lágrima sofrida.
Com amargo gosto de despedida.

domingo, 12 de outubro de 2014

No palco da vida


As palavras que as pessoas mais me ouvem mencionar quando assistem minhas palestras ou aulas sobre acessibilidade e inclusão são “acolhimento” e “protagonismo”. Não as utilizo simplesmente para ser politicamente correto ou para meramente marcar uma posição acadêmica e política. Eu realmente vivo isso que digo, seja tentando aplicar essas formas de pensar ou lutando para que eu também seja tratado assim, pois eu sei na pele o quanto isso é importante.
Alguns dias atraz, fiz uma palestra em uma universidade do litoral do Rio Grande do Sul. E lá vivi uma experiência que me emocionou bastante, e que levarei comigo como um exemplo das coisas que costumo tentar compartilhar com as outras pessoas. Uma das coisas que mais gosto nesses tempos de redes sociais é o contato que tenho com outras pessoas cegas ou com baixa visão que conheço pelo Brasil todo. Mais raramente, encontro uma ou outra pessoa com deficiência visual na plateia de minhas palestras.
Isso me alegra muito, pois começo a notar que cada vez mais nós estamos chegando às universidades. Há pouco mais de uma década isso era praticamente impossível. E agora, com as novas políticas públicas para o acesso e permanência ao Ensino Superior, as condições para que esse acesso aconteça são bem melhores.
Tudo isso permitiu, por exemplo, que numa cidade nem tão grande assim, houvesse dois alunos cegos estudando na mesma universidade. Fui apresentado a essas duas pessoas um pouco antes de iniciar minha palestra, e me pareceram interessadas e inteligentes, ainda que um tanto tímidas. Estavam acompanhadas por uma professora, penso eu. Estavam situadas na parte central da plateia, e enquanto falava, fiquei observando – tanto quanto eu conseguia enxergar – como e onde estavam posicionadas.
O que notei, foi que os demais presentes estavam um tanto isolados dos colegas com deficiência, pois os acentos em volta delas estavam vazios. Seja por coincidência ou não, o fato é que isso para mim foi algo muito representativo, e confesso que me incomodou um pouco. Não que as pessoas tenham feito isso intencionalmente, mesmo assim, é muito significativo.
Por isso, enquanto falava fui pensando como eu poderia fazer todo mundo que estava ali pensasse sobre aquela atitude sem parecer inconveniente ou agressivo. Queria também, que todos conhecessem seus colegas com deficiência e que esses fossem devidamente valorizados e colocados em posição de destaque.
Por fim, consegui pensar em algo que achei que poderia dar certo. Quando estava na hora de finalizar, pedi um minuto da atenção de todos, e convidei os colegas com deficiência para subirem até o palco. Logo que chegaram ao meu lado, disse que há menos de um século éramos proibidos de frequentar universidades, e que há menos de meio século seria quase impossível um de nós chegar até ali. Porém, nesses últimos anos, apesar das dificuldades, conseguimos chegar até as universidades, seja na graduação, na pós-graduação e também como docentes.
Fiz questão de dizer, que esses avanços não seriam nada se as pessoas não acolhessem ou não vissem que as pessoas com deficiência também têm o direito de ser protagonistas na sociedade. E, exatamente por aquele motivo é que as tinha chamado para o palco, porque nós com deficiência não precisamos ou queremos só ser parte da plateia, também desejamos e lutamos para estar ali no palco, seja como protagonistas de nossas vidas, ou mais ainda, como protagonistas na sociedade como um todo.
Conclui dizendo que aquele era o nosso lugar, sob os holofotes e no palco. Disse que sabia que outros antes de nós já conseguiram alcançar aquele patamar, e que outros tantos infelizmente não, e que era justamente por eles que eu continuaria lutando. Como disse: “afinal, aquele ali sim era o meu, o nosso e o lugar de todas as pessoas com deficiência no mundo”.
Conheço muita gente como eu pelo Brasil todo que exercem essa luta mesmo em atitudes tidas como cotidianas - e que surtem efeitos impressionantes - ou ainda aqueles que por força de circunstâncias são mais conhecidos ou que militam nos movimentos sociais. Tais como Lisandra Correa, Mariana Baierle, Leondiniz Candido, Adilso Corlassoli e outros.
Exercer esse protagonismo requer muito esforço e zelo não só em fazermos cada dia melhor nossos trabalhos e nossas posturas diante da vida e do mundo, pois de um modo ou outro, nossas atitudes acabam sendo referência para outros como nós.  Por outro lado, não adianta as demais pessoas nos oferecerem protagonismo, elas precisam respeitar as nossas diferenças e disponibilizar as condições para que alcancemos esses postos dentro daquilo que somos e não como querem que sejamos.
É isso o que eu sinto, é por isso que eu acordo diariamente com disposição e força para continuar na batalha, mesmo quando as coisas não andam bem, eu sei que preciso seguir fazendo a minha parte. Eu me darei por satisfeito apenas quando todos nós estivermos no palco, quando não ficarmos mais isolados e apartados da sociedade, seja por barreiras arquitetônicas ou atitudinais. É para elas e por elas que seguirem me emocionando com o que faço, e entre sorrisos e lágrimas, chamar mais e mais pessoas com deficiência para dividir o palco conosco. E que assim seja!!!