No dia 11 de novembro, tive uma reunião com a coordenadora
do PIUNE (Programa de Integração de Universitários com Necessidades Especiais),
Judit Oliver, na qual pude conhecer as diretrizes do programa, dentre as quais:
os modos de funcionamento, sua estrutura e filosofias para atendimento de
alunos com necessidades especiais na UAB (Universidade autônoma de Barcelona).
Nessa oportunidade me repassou alguns materiais com uma série de dados muito
importantes para pesquisas futuras.
O PIUNE
oferece diversos recursos para a inclusão dos alunos com deficiência que
ingressam na universidade. Sua principal diretriz é promover autonomia a esses
alunos em todos os âmbitos da universidade. Seu atendimento é bem amplo,
chegando a cerca 119 alunos em 2012, dos quais 29 deles com deficiência visual.
Os serviços
que prestam são os mais variados, dentre os quais se destacam:
1-
Plano de individual de atenção: onde são
estabelecidas as necessidades e recursos de acessibilidade a serem providos
para cada aluno.
2-
Tutores individuais: cada aluno atendido recebe
a atenção de um tutor para auxílio à mobilidade e aprendizagem.
3-
Adaptação dos sistemas de avaliação conforme as
necessidades e possibilidades de cada aluno.
4-
Assistência ao estudante para informação e
disponibilização de novas tecnologias que auxiliem em seu aprendizado.
5-
Interpretes de línguas de sinais em todas as
atividades acadêmicas.
Dentre os
diversos serviços prestados para os alunos, destacam-se o assessoramento à
mobilidade e acompanhamento de alunos com necessidades especiais, suporte de
estudantes/tutores como auxílio à aprendizagem, suporte pedagógico e
tecnológico, disponibilização de materiais acessíveis, programas de intercâmbio,
suporte e integração laboral e as cabines de aprendizagem.
Estas, são
cabines em que cada aluno dispõe dos recursos tecnológicos e de pessoal
preparado para proporcionar momentos de estudos extra classe caso o aluno
deseje. Ou seja, algo como um laboratório de aprendizagem com todos os recursos
de acessibilidades disponíveis para que o acadêmico possa estudar no momento
que quiser sobre o assunto que mais lhe convier.
Para tanto,
procuram agir globalmente, desde a preparação dos estudantes até a formação de
professores, funcionários e outros agentes que atuem na UAB. Sempre tendo em
vista que o objetivo principal é promover a máxima autonomia estudantil,
laboral e social dos estudantes com necessidades especiais.
Em primeiro
lugar, o sistema de atendimento dos estudantes é por auto adesão, ou seja, o aluno
procura o programa e o utiliza se tiver vontade. Nesse caso, pode fazer isso
antes mesmo de ingressar na universidade, solicitando apoio para os processos
de ingressos, que vão de transporte especial até materiais com letras
ampliadas.
Esse tipo
de atuação gera a necessidade de conhecimentos de todos os envolvidos com a
comunidade universitária sobre o PIUNE, para que caso um estudante deseje
requisitar ajuda, saiba como e onde fazer isso.
Um de seus
grandes méritos é a divulgação maciça e a criação de uma rede dentro da UAB, em
que todas as faculdades e departamentos, assim como a maioria das pessoas que
convivem no ambiente da universidade conhecem o PIUNE e podem orientar aquele
que deseje ser atendido. Essas diretrizes de fato exigem que tais redes sejam
sólidas para que se possa ter a maior efetividade possível no trabalho
desenvolvido.
Nesse
sentido, o PIUNE age em diversas frentes de ação. Uma delas é a divulgação e
diálogo intermitente com as faculdades sobre o funcionamento do programa, para que
se algum aluno chegar à faculdade solicitando ajuda, seja encaminhado para lá.
Por outro lado, esse diálogo ajuda a conscientizar os gestores e professores da
importância de prover acessibilidade.
Todos
saberem da existência do PIUNE, facilita a otimização do tempo, bem como da
contemplação das necessidades dos alunos diante do que solicita o professor.
Este, na maioria das vezes, envia materiais com bastante antecedência para
adaptação caso necessário.
Ao contrário do que acontece no
Brasil, o planejamento e provimento dos recursos de acessibilidade para cada
aluno acontece antes e não durante e depois de seu ingresso em determinado
curso ou disciplina. Isso permite que todos os alunos tenham acompanhamento sem
atrasos ou prejuízos no andamento do período letivo.
A segunda
frente de trabalho, está voltada aos funcionários que atuam na universidade,
seja no âmbito acadêmico ou da vila universitária, suas lojas e outros
estabelecimentos que prestam serviços aos acadêmicos. Junto a essas pessoas,
estão incluídos os alunos. Há diversos cursos desenvolvidos semestralmente
objetivando a formação de todos na UAB para que conheçam e se sensibilizem com
as diversas formas de lidar com as pessoas com deficiência, surdas e que tenham
outra necessidade específica.
Ou seja,
capacitam esses sujeitos para e a realidade e algumas das necessidades das pessoas
com deficiência. Objetivam também, diluir os preconceitos e estigmas,
valorizando o respeito, a aceitação e o compartilhamento com as diferenças. A
ideia como um todo é colocar em prática as diretrizes da Catalunha em termos de
acessibilidade e de convívio com as diferenças, que é o respeito ao considerado
diferente e a percepção de que se tratam de pessoas com os mesmos direitos de
todas.
Isso ajuda na dissolução de barreiras não só
na universidade, mas em todas as esferas sociais. Já que, ao conhecer a
realidade e o direito das pessoas com deficiência, os estudantes não os vêem
como estranhos, como anormais ou como dignos de sentimentos de piedade ou
supervalorização. Aprendem a ver primeiro o sujeito e não sua limitação física
ou sensorial. Logo, além de incrementar a qualidade acadêmica dos alunos com e
sem deficiência agrega um valor social inestimável ao projeto.
Tal
política levada a cabo no PIUNE faz parte de um regimento específico promulgado
em 1999, com força de determinação legal dentro da universidade. O Regramento de igualdades de oportunidades para
as pessoas com necessidades especiais, regulamenta todas as políticas da
UAB para o atendimento das consideradas minorias sociais. Ou seja, a
acessibilidade não é uma condição negociável, ou mesmo uma questão de boa
vontade, mas sim, uma obrigação regimental.
Se um
professor se negar a proporcionar condições de acessibilidade ao seu aluno, ou
atrasar algo que prejudique seu desempenho, assim como, se as faculdades não
fizerem a sua parte para prover acessibilidade em todos os âmbitos para os
alunos, os docentes e gestores são responsabilizados por essa quebra
regimental.
Não se pode
alegar desconhecimento, falta de recursos ou a inexistência de pessoas com
deficiência e necessidades especiais em determinados ambientes para que a
acessibilidade não exista. É uma obrigação que todos os espaços estejam
adaptados, e que as condições sejam dadas, pois se não há uma pessoa que
necessite hoje, a ideia é trabalhar para que amanhã haja.
Acredito
que essa visita foi muito esclarecedora para meus trabalhos e para minhas
convicções enquanto pessoa e docente. Percebi que é possível atingir o patamar
que no Brasil se considera utópico, de atender as pessoas com necessidades
especiais com autonomia, qualidade, rapidez e compartilhando com suas
diferenças. A precariedade de muitas instituições de Ensino Superior às vezes
nos leva a crer que chegar a esses resultados é impossível, mas não concorde
com isso nunca, pois não é verdade.
Contudo, o
que vi, li e ouvi hoje, me faz crer que com um pouco de boa vontade, respeito
ás diferenças e uma grande dose de reivindicação das pessoas com deficiência, é
possível alcançarmos a excelência no que tange ao atendimento de pessoas com
necessidades especiais nas universidades.
Não como
uma concessão, não como um beneficio, não como um projeto individual e efêmero,
e sim, com regulamentações sólidas e claras que todos devem cumprir e que
continuarão sendo levados a cabo independente de quem esteja momentaneamente
participando do contexto acadêmico.
Ver que o
impossível é realizável também me faz pensar que a deficiência não está nas
pessoas atendidas, e sim, naqueles que fingem que a diferença não existe e que
fazem de tudo para tornar essa realidade muito distante. Continuar
reivindicando é a única e profícua forma que temos de alcançar o patamar
conquistado pelos acadêmicos com deficiência da UAB e de toda Catalunha.
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