sexta-feira, 22 de novembro de 2013

EU ESTOU PRESO!

Estamos vivendo dias em que se discute o que é um preso político ou um julgamento justo da mais alta corte brasileira. Políticos brasileiros de biografia e poder reconhecido até pouco tempo foram condenados a prisão por diversos crimes. Muitos correligionários tem feitos protestos a favor, outros tem protestado contra.
Acho que tudo isso é uma briga eleitoral que vai resultar no pleito do próximo ano. Mas, o que as pessoas não se dão conta é que pessoas com deficiência também vivem em regime de prisão. Umas vivem em prisão domiciliar e outras em liberdade condicional.
Estou preso porque não posso sair de casa sem me incomodar com a falta de acessibilidade nas cidades, que me provocam ferimentos físicos e psicológicos.
Estou preso, porque sempre que quero assistir tv não tenho audiodescrição, e o governo é a favor das emissoras em não ampliar o recurso.
Estou preso, porque quando quero ir ao teatro, ao cinema ou a um outro ambiente cultural não consigo chegar aos locais ou usufruir das obras com acessibilidade necessária. Não há  na imensa maioria das instituições culturais qualquer preocupação com isso.
Estou preso, porque o mercado de trabalho não aceita que eu seja alguém com defici~encia qualificado, e me oferece sempre as mesmas vagas com salários ridículos e incompatíveis com minha formação. Não acreditam que nós possamos ter um cargo de liderança ou destaque na empresa e servimos apenas para atender telefone, programar computadores ou vender bilhetes de loteria.
Estou preso, porque toda vez que faço concurso público sou discriminado e humilhado pelas realizadores com exigências mil, e pelos entes públicos realizadores que menosprezam o potencial de pessoas com deficiência.
Estou preso, porque vivo em uma sociedade que não sabe conviver com a diferença e sempre tem um olhar de menosprezo ou supervalorização. Muita gente ainda duvida que mesmo eu tendo deficiência possa ser feliz e ter orgulho de minha condição.
Estou preso, porque sempre recaem sobre nós os estigmas do fracasso, da incapacidade e da falta. Se faço algo errado é por conta da deficiência, se faço certo é apesar dela. Se estou de bom humor, sou um cego feliz, senão, sou recalcado. Nunca posso ser exatamente eu mesmo.
Estou preso, porque apesar das politicas de inclusão as escolas continuam sem saber como lidar com a deficiência, sem acolher seus alunos em sua diferença. Continuam pensando mais em quais recursos disponibilizar e menos na diferença que deveriam acolher. As universidades continuam não preparando docentes para lidar com nossas especificidades, e depois colocam a culpa no professor.
Estou preso, porque ao invés dos governantes fazerem sua parte para tornar a educação, a cultura e o cotidiano das pessoas com deficiência melhor, perdem tempo com politicagens e factoides. Ao invés de privilegiar os direitos humanos, agem em favor de outros interesses que não o dos cidadãos. Dizem trabalhar pela diversidade, mas cada vez mais restringem direitos.
Senhores, eu também sou preso político!
Estou preso por conta de uma política de desrespeito aos direitos humanos e das pessoas com deficiência por conta de uma sociedade que não sabe pensar no outro, que não aprendeu a respeitar e compartilhar com a diferença.
E o pior, dificilmente um embargo infringente poderá me livrar de tudo isso!

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