Quando comecei minhas primeiras pesquisas para saber como
era a Barcelona onde eu iria morar, logo me deparei com uma enxurrada de textos
falando sobre a beleza do Montjuic, uma linda e enorme montanha onde os
habitantes da capital catalã e os milhares de turistas se deleitam com sua
imponência, beleza natural e com a possibilidade de ver a cidade de modo panorâmico,
ou como dizem por aqui “a una vista de pajáro”.
Foram tantos os depoimentos de encanto com o lugar que
confesso ter desconfiado um pouco, afinal, se muito turista fala bem, algo
errado tem. Além disso, não acho que eu seja daquelas pessoas que mais apreciam
as virtudes da natureza. Embora minha opinião venha mudando a passos largos
desde que eu me deixei encantar pelo céu de Barcelona ao entardecer, que é a
coisa mais linda - em termos de natureza - que meus olhos já viram.
Sabia que
se eu não conhecesse o Montjuic não teria conhecido uma das partes mais importantes
da capital da Catalunha. Fui conhecendo outras coisas, adiando essa visita,
seguindo os passos que Clarice Lispector me ensinou em “Felicidade Clandestina”,
e fui protelando a possibilidade dessa felicidade até enquanto pude.
Mas, era chegada a hora de encarar a montanha nos olhos e
ver até onde era mito ou exagero tudo aquilo que falavam sobre ela. Decidimos desbravar a gigante barcelonesa de uma maneira um tanto
turística, usando o teleférico, já que minha relação com o meio ambiente melhorou,
mas não ao ponto de me permitir encarar a subida a pé.
Para chegar até lá foi preciso pegar o metrô e depois o funicular
(uma espécie de trenzinho que se esqueceu de crescer) para ir até a metade do
caminho. De modo a concluir o trajeto, toamos um teleférico que nos levaria até
o cume. A vista – dentro daquilo que consegui enxergar – era lindo, e tive a
sensação de ter Barcelona aos meus pés – logo eu que estive dela cativo desde
que cheguei aqui.
Foram uns dez minutos de passeio pelos céus da cidade e
vê-la desenhada, recortada pelo mar e por outras montanhas, além de suas cores
vibrantes e inundadas pelo sol, é algo que jamais me esquecerei durante todo
tempo da minha existência. Só essa parte teria valido o passeio, mas esse era
apenas uma pequena amostra do que viria. Claro, que houve um pouco de aventura
e tensão em estar tão longe de terra firme, o que não chegou a ser um problema,
já que para mim nem o céu é o limite.
Chegando lá em cima foi possível ver mais detidamente toda
imponência da montanha e do mar, que mesmo tão longe um do outro, podiam se
tocar de acordo com o que os meus olhos podiam ver mirando o horizonte. Para
tornar tudo ainda mais interessante a parada do Teleférico é bem onde há um
antigo castelo, na verdade mais um forte do que outra coisa, e passear por
entre suas muralhas de um lado e com o mar do outro é uma sensação de deleite
por todos os lados, e em todos os sentidos.
A cada passo que dávamos era um a descoberta diferente. Uma
vista nova do mar, uma pedra que mais parecia ter sido esculpida pelo tempo,
uma sombra diferente projetada no solo, uma árvore ou folhagem com formas e
texturas diversas. Se não bastasse isso, a cada instante sentia uma paz e uma
liberdade de sensações que poucas vezes pude tomar para mim, e eu nem
precisaria enxergar para sentir isso porque querido leitor, há coisas que não
precisam ser vistas, há coisas que não devem ser vistas, devem ser simplesmente
sentidas. Sensações que não precisam ser explicadas, mas simplesmente
desfrutadas.
Depois de passear por um tempo que eu não sei quanto, já que
perdi a noção de tempo/espaço naquele lugar, precisávamos voltar até a metade
do Montjuic, já que o teleférico estava fazendo sua última viagem. Ao descer,
ficamos um tempo caminhando pela região, vendo parte da cidade que continuava
aos nossos pés, ainda que indiferente a toda emoção que eu sentia ao vê-la.
Não faço a menor ideia de quantos jardins e praças existem
por lá, nem perdi tempo contando, mas sim, contemplando. Cada um deles tem um colorido
diferente de acordo com suas flores e com o modo com a luz incide sobre eles. São
incontáveis os pássaros e os cantos que entoam comandando a trilha sonora daquela
obra de arte em movimento.
Diante de tudo aquilo, decidi fazer uma experiência e fechar
os olhos sem tentar imaginar o que havia de imagem e sim, perceber o que todos
aqueles sons, odores, calores, brisas, paladares e tatos, queria ver onde tudo
aquilo me levaria. Ao invés de tentar guiar os meus sentidos, fiz o contrário,
e me deixei levar pelos meus outros quatro que ainda tenho, e agora livre da
visão, pude explorar o mundo da sensação.
Tudo que senti me fez ter certeza de que eu não preciso de
um único sentido para viver o mundo ao
máximo. O Montjuic foi como um disparador de sensações sem limites, afinal, a
emoção não precisa de olhos para florescer. Naquela montanha pedregosa descobri
que tropeços são impulsos que nos levam adiante, e que na dificuldade é preciso
respirar fundo sentindo tudo que há em volta, pois às vezes sonegamos de nós
mesmos alegrias grandiosas, como se deixar tomar por um pequeno e esperançoso
raio de sol.
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