O Blau é o museu de Ciências Naturais mais conhecido e
importante da Catalunha, onde há um imenso acervo de todos os campos de
conhecimentos vinculados a essa parte da ciência. Ao contrário dos demais, fica
localizado ao norte de Barcelona, e o acesso mais fácil até lá é uma linha de
bonde elétrico que deixa exatamente em frente ao local.
Caminhar
até a entrada é relativamente seguro por haver uma grande área livre de
obstáculos e de ruas ao redor. Ao passar pela porta de entrada foi possível
notar que havia piso tátil em todos os ambientes até as bilheterias, elevadores,
sanitários e ao começo da exposição permanente. A sinalização também é boa e
ajuda qualquer pessoa a encontrar a bilheteria, mesmo sendo cega pode chegar
até lá com autonomia.
Se fosse
sozinha, uma pessoa cega conseguiria ter acesso a muitas informações
disponíveis, enquanto uma com baixa visão iria conhecer a praticamente tudo
como uma pessoa que enxerga, dada a excelente qualidade dos audioguias e das
sinalizações. O espaço físico é completamente adaptado para pessoas com deficiência
física e mobilidade reduzida, desde os elevadores, passando pelos sanitários, e
incluindo rampas entre as salas e cadeiras de descanso, principalmente para
pessoas com mobilidade reduzida que delas necessitem, já que as exposições são
extensas.
Logo na
recepção recebemos um audioguia e as instruções para seu uso. Há um grande mapa
da exposição em alto-relevo e com legendas em letras grandes e em braile. É
possível tatear cada canto do museu e conhecer um pouco do ambiente e das
disposições das peças principais.
As
sinalizações de acesso às diferentes salas são muito adequadas e condizentes
com as necessidades. As indicações sobre o nome da sala onde estamos entrando
está escrita em letras brancas no piso preto, o que proporciona um contraste
quase perfeito para ser visto por pessoas com baixa visão, ainda mais que o
tamanho das letras era grande o suficiente para serem vistos a uma distancia
considerável, com a ajuda de iluminação clara e centralizada. Sendo assim, se
estivesse sozinho, teria todas as condições de saber por onde estava me
deslocando, facilitando a utilização do audioguia e o cumprimento do percurso
proposto.
Em cada uma
das 16 seções do museu, existem no mínimo dez peças feitas para serem tocadas.
Ou seja, replicas em tamanho natural (ou, no caso de reproduções dos micro-organismos
cerca de um metro) que procuram representar aquilo que está sendo exposto.
Existem também muitos itens originais que podem ser tocados, como pedras,
fósseis, minerais e alguns outros que são fundamentais para nosso entendimento
daquilo que estamos vivenciando.
Esses
objetos táteis permitem que possamos ter conhecimento e acesso a sensações que são
fundamentais para termos os conhecimentos sobre os mesmos. Mais do que isso,
nos totens em que estão colocadas as peças que podem ser tocadas existe
informações escritas sobre elas. Todas estão em braile, em alto-relevo e com
fundo preto com letras brancas em tamanho grande. Ao lado dos objetos que não
podem ser tocados, ou quando há projeções visuais, encontramos totens
explicando do que se tratam os itens que não podemos tocar ou ver, e assim como
os demais, estão em fundo branco, com letras grandes em branco, sendo possível
ler com conforto.
Cerca de
metade dos totens onde se pode tocar nos objetos contam ainda com um recurso de
acessibilidade que ainda não tinha encontrado, e que são muito importantes para
contemplar ainda mais as necessidades dos sujeitos cegos e com baixa visão que
queiram conhecer mais sobre a exposição. Uma espécie de tela presa em uma haste
que pode ser movida lateralmente. Trata-se de uma tela grande com a função de
lupa que ao ser colocada na frente dos objetos que tocamos, ampliam o tamanho
das peças e nos proporcionam enxergar até os menores detalhes, como um fio de
cabelo ficando do tamanho de uma linha de lã.
Para
finalizar, o audioguia com audiodescrição tem 43 faixas e conta com dois
narradores (um para a exposição permanente e outra para a temporária). Começa
com duas faixas de auxilio espacial para o ouvinte, informando onde estão os
banheiros, as saídas de emergência e a ordem da disposição das peças. Há
comentários sobre a história do prédio e uma detalhada descrição sobre sua fachada
e sobre seus espaços internos. A única dificuldade é que o audioguia está em
catalão e pode causar alguns problemas de compreensão de quem não conhece o
idioma.
Sobre a
descrição das exposições, é muito clara e repleta de detalhes que ajudam muito
na formação das imagens por parte daquele que ouve. Não a descrição de cada
peça, mas referência a quais estão expostas no lugar indicado, até porque nem
mesmo quem enxerga consegue ver tudo. Cada faixa tinha duração razoável de
tempo, o suficiente para compreender tudo sem cansar o ouvinte. Sendo assim,
além da quantidade de detalhes é preciso pensar na qualidade.
Portanto,
entendo que esse tenha sido o museu mais completo e qualificado em termos de
acessibilidade que conheci até o momento. É possível acessar e compreender a
tudo que está exposto, onde a limitação física ou sensorial não se constitui um
problema mais grave para que se possa usufruir das informações e sensações que
se buscou transmitir.
Espero que
um dia essa ideia de acessibilidade plena se espalhe pelo mundo todo,
principalmente para o Brasil, que ainda tem muito a aprender nesse campo
fundamental de conhecimento que é a acessibilidade cultural, valorizando
iniciativas e pessoas verdadeiramente preparadas para pensar e executar essas
ações tão importantes.
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