quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Bengalando em Barcelona (jogo do Barcelona no Camp Nou)



O Futebol é uma das paixões nacionais na Espanha e muitas vezes vai muito além de uma disputa esportiva. A relação com o futebol é mais ou menos parecida com as existentes em nosso país, já que movimenta a sociedade em todos os sentidos.
Barcelona tem dois times de futebol, o Español que é o menos conhecido e cuja torcida, importância e resultados são bem menos expressivos do que seu rival. O Futebol Clube Barcelona, foi fundado em 1899, sendo o time de futebol mais importante da Catalunha.
A equipe azul-grená é mundialmente conhecida, sendo duas vezes campeã mundial, quatro vezes campeã continental e possui quarenta e oito conquistas nacionais. Diante de tamanhos êxitos, sua fama é mundial e tem torcedores pelo mundo todo, embora os mais apaixonados sejam mesmo os catalães.
A região da Catalunha luta há alguns séculos pela independência da Espanha, reivindicando a criação de um Estado próprio diante das diferenças culturais e sociais do lugar. Além do idioma catalão, o “Barça” é um dos mais fortes símbolos regionais, sendo muito mais do que apenas um time de futebol.
No estádio do clube, o Camp Nou, aconteceram muitas manifestações políticas históricas durante as partidas de futebol, como a resistência a implantação da ditadura franquista iniciada entre as décadas de 1930 e 1970. O ditador espanhol proibiu qualquer referência à cultura catalã, como o uso do catalão e do uso da bandeira e outros ícones da Catalunha.
Diante disso, o Barça passou a ser o orgulho de seu povo e foi se tornando muito mais do que um time de futebol, mas também um forte instrumento de valorização cultural e de expressão dos sentimentos regionais sufocados pelo regime de exceção.
A ditadura se foi, mas o amor pelo time e a rivalidade com o time do real Madrid permanece até hoje. Por tudo isso, ir a uma partida do Barcelona PE mais do que participar de um evento esportivo, é conhecer uma parte importante da cultura local. Não se trata apenas de uma atração turística ou desportiva, mas uma possibilidade de imersão na vida social da cidade.
Não é muito comum uma pessoa cega ir sozinha ou acompanhada de outra que não enxerga a um jogo de futebol> Nesse sentido, analisar a autonomia no acesso do transporte coletivo até o local não requer uma argumentação mais detida. Contudo, é preciso dizer que há muitas linhas de ônibus e de metrô no entorno do estádio. O trajeto das mesmas é igualmente tranquilo, já que há muitos policiais nas redondezas e caso acontecesse algum problema, algum deles poderia ser acionado.
Chegando ao local, encontrar o portão de entrada correto é uma tarefa muito simples, já que a sinalização é muito boa, com letras grandes – e iluminadas - e contraste acentuado, facilitando a visualização. E, embora o público fosse razoavelmente grande não há atropelos para o ingrsso no ambiente, já que os assentos são marcados é possível chegar faltando pouco tempo para começar a partida e seu lugar estará lá vazio esperando que o ocupe. Algo bem diferente do que acontece no Brasil.
Fui com minha esposa assistir ao jogo Barcelona x Getafe, valido pela Copa do Rei. O jogo não foi considerado dos mais difíceis e requisitados pelo público. Ainda assim, havia lotação de 70% do estádio conforme informações da “Rádio Barça” que ouvi para compreender a partida sem enxergar grande parte dela.
Para quem gosta de futebol, como é o meu caso, foi uma alegria imensa ver todo aquele espetáculo. Chegamos com uma hora de antecedência para começar a sentir o clima e ver como tudo se processava antes do jogo. Os espectadores tomavam seus assentos com calma e em clima amistoso.
Foi sensacional ver famílias inteiras presentes, mais que isso, era muito grande o número de crianças e de idosos frequentando o estádio, algo um tanto perigoso no Brasil. Havia até, grupos de mulheres, algumas jovens, outras com idade avançada participando na torcida. No Brasil isso seria difícil pela violência e pela cultura – que tem arrefecido – de que estpadio de futebol não é ambiente feminino. Creio que só ver isso foi muito reconfortante, a democratização do esporte feita de modo tão natural.
Ficamos atrás do gol norte, na lateral esquerda da baliza e no nível do campo, o que ajudou na minha visualização. Quando as equipes entraram para fazer o aquecimento percebi que seria bem difícil enxergar o outro lado do campo, e por isso, decidi ouvir a partida por uma rádio, a Rádio Barça, para não perder nenhum detalhe do que acontecia, e que eu não podia enxergar.
Quando a cerimônia de ingresso dos times e a execução do hino do Barcelona iniciaram, foi possível notar a grandiosidade das partidas do Barcelona pelo lindíssimo espetáculo feito por sua torcida. As palavras de incentivo e o amor demonstrado ao time é tocante e torna tudo mais emocionante.
Como tenho baixa visão o que eu conseguia enxergar era apenas um terço do campo de jogo. Ou seja, de onde em estava, se o campo fosse dividido em três, via só o que ocorria na primeira parte, nas demais precisava do auxilio do rádio para entender o que acontecia. Mas uma coincidência me ajudou bastante, o uniforme do Getafe era verde “fosforecente” w o do Barcelona o tradicional azul e grená, esses contrastes aliados à iluminação do campo aumentaram um pouco as minhas percepções do que ocorria
A partida em si não teve tantas dificuldades assim para o Barcelona, que dominou o jogo com grande imposição. No primeiro tempo, o clube catalão atacou do lado contrário a onde eu estava, e não pude ver muitas coisas, inclusive um gol da equipe da casa. Já na segunda etapa, atacaram no gol onde estávamos e pude assistir a muito mais coisas do que antes, inclusive aos outros três gols do time anfitrião.
Mais do que isso, foi nessa parte do jogo em que o Messi entrou em campo, e jogava exatamente na faixa de campo em que eu conseguia ver. O sujeito é um jogador de outro planeta, não só pelo que faz com a bola, mas como joga sem ela também. A rapidez, técnica e efetividade com que ele atua é de embasbacar. E, agora já poderei dizer para os meus filhos - quando os tiver - que vi jogar um dos maiores jogadores da história do futebol.
Ao final do jogo, todos saíram com calma e em ordem pelos diversos portões do estádio, e como não havia muita aglomeração de pessoas, saímos tranquilamente até o ponto de ônibus e retornamos em segurança para casa sem qualquer dificuldade em termos de acessibilidade também. 
 Sendo assim, julgo que a acessibilidade do evento seja condizente com sua importância e não é tão complicado assim para uma pessoa com deficiência visual partilhar desses momentos tão emocionantes, pois é relativamente fácil ir ao estádio e entender o que se passa, além de ser algo com segurança e conforto. Sem dúvidas, um ambiente cultural muito interessante e fascinante. 
Durante todo o tempo em que estive lá, me emocionei de uma forma como poucas vezes aconteceu na minha vida. Eu adoro futebol, e acho que a energia de um estádio cheio incentivando sua equipe é uma das coisas mais incríveis que existe.
Desde pequeno eu sempre quis ir ao Camp Nou, pois quando entrava na adolescência o Barça tinha um time ótimo e ganhou muita coisa. Sonhava em estar no estádio um dia, mas achava tudo aqui distante para um guri que não era rico e que sendo quase cego como faria isso? os anos passaram e eu aprendi a duvidar as dúvidas que eu tinha. Aprendi a tentar por mais que parecesse inviável. Pois bem, mais um sonho alcançado!

Descrição da foto
Fotografia colorida mostra Felipe Mianes em primeiro plano no centro da imagem. Ele está em pé na arquibancada inferior do estádio Camp Nou. Felipe tem cabelos curtos e escuros e sorri para a camera. Ele usa, sob uma jaqueta de couro preta, a camiseta do time de futebol Barcelona, com listras verticais amarelas e vermelhas. O estádio está lotado e o ao fundo, acima do anel superior, refletores produzem manchas brancas no topo da fotografia. Ao seu redor, as pessoas usam casacos de inverno e à direita, percebe-se uma parte do gramado verde do e a rede de um gol.
Roteiro: Kemi Oshiro
Fim da descrição

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