Às vezes a cegueira é usada como adjetivo positivo
para qualificar algumas posturas. Um exemplo disso, é que a justiça deveria ser
“cega”, já que os cegos – ou a maioria deles – tratam a todos de modo semelhante,
sem distinguir cor de pele, beleza, condição social ou deficiência. Isso não
significa tratar a todos igualmente, mas estabelecer relações pelo que as
pessoas são ou sentem e não pelo que aparentam ser.
Fiquei
pensando nisso depois de ter ouvido a conversa entre uma mãe e sua filha que
era cega. O diálogo foi o seguinte:
-- Mamãe, Papai Noel também é cego?
-- Não sei minha filha
-- Tadinho! tomara que ele seja...
-- Pensando bem, acho que ele é cego sim, porque
ele gosta das pessoas pelo que elas são e não pelo que elas tem, ele ama todas
as crianças do mesmo jeito.
Ao
contrário do que essa mãe disse para sua filha, às vezes é preciso colocar o
dedo na ferida e falar sobre o senhor Noel a partir do modo como as pessoas o
caracterizam. Nesse caso, ele enxerga muito bem e pode ser um velhinho injusto
muitas vezes.
Existem
inúmeras crianças que ele jamais visitou, e que esperam por ele ansiosamente
por anos sem saber que ele nunca vai chegar. Sempre lembro dos versos da famosa
canção natalina: “Já faz tempo que eu
pedi mas o meu Papai Noel não vem/ Com certeza já morreu/ Ou então felicidade é
brinquedo que não tem”. Infelizmente, ele enxerga muito bem, e escolhe quem
receberá ou não os presentes de natal.
Mas
ainda resta uma esperança! Se nomeássemos um cego como Papai Noel, talvez isso
mude. As coisas seriam muito diferentes se o bom Noel não enxergasse.
Fico
imaginando como seria esse papai Noel cego, que ao invés de usar renas, seria
auxiliado por cães-guia, ou usaria óculos escuros e bengala branca. Para ele
seria mais fácil entrar nas casas de madrugada sem fazer barulho, pois teria a
capacidade de usar mais tranquilamente o tato na escuridão da noite.
Se
o bom velhinho fosse cego, ele não iria apenas nas casas em que houvessem
enfeites, árvores de natal e o famoso show de luzes natalinas. Muito menos,
faria diferença entre luxuosas mansões e barracos minúsculos, ele chegaria a
todas as casas com presentes e a alegria habitual.
Talvez
fosse um excelente pedido de natal rogar para que todos nós sejamos um pouco
cegos. O natal seria muito mais feliz se a gente enxergasse mais com o coração
do que com os olhos. Se fosse assim, gostaríamos das pessoas mais pelo que elas
são do que pelo que elas aparentam ser ou ter, que amam mais o conteúdo do que
a forma. Dizem que o amor é cego, então, vivamos na cegueira, para amarmos uns
aos outros mais e mais...
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