Acontece em Porto Alegre o X Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, no campus central da UFRGS, organizadora do evento - ao menos de seus professores e com o uso de sua estrutura física. Até ai nada de importante. No entanto, os organizadores do evento resolveram transformar o patio da universidade em um "circo", onde nós com deficiência somos tratados como "palhaços".
A manifestação parece muito ácida, mas não é menos forte do que as dores que sinto pelos três choques que tive, tropeçando na estrutura deixada no chão e em cordas que sustentam os estandes sofrendo inclusive um corte no abdomen. E eu, como doutorando em Educação e coordenador de um curso de extensão na universidade, tenho que ir até lá dáriamente, o que me obrigou a enfrentar aquele ambiente hostíl.
Eu seria injusto se dissesse que está mal sinalizado, afinal, nem há sinalização alguma. Isso demonmstra o quanto a universidade e a comissão organizadora do evento se preocupam de fato com a integridade física de TODAS as pessoas. É até engraçado - se não for triste - um congresso com essa temática causar mais danos do que benefícios a nossa saúde. Parece que essa "saúde" fica mais no discurso do que na efetividade prática.
Eu seria injusto se dissesse que está mal sinalizado, afinal, nem há sinalização alguma. Isso demonmstra o quanto a universidade e a comissão organizadora do evento se preocupam de fato com a integridade física de TODAS as pessoas. É até engraçado - se não for triste - um congresso com essa temática causar mais danos do que benefícios a nossa saúde. Parece que essa "saúde" fica mais no discurso do que na efetividade prática.
Quando eu e outras pessoas fomos reclamar sobre esse absurdo que estão fazendo, começou o famoso "jogo de empurra", pois a organização do evento diz que a culpa é da empresa contratada para a logística. Essa, diz que a culpa é da universidade, que por sua vez diz que devemos reclamar diretamente para os organizadores. A transferência de responsávilidade é mesmo algo revoltante. Não me importa nem um pouco quem é o responsável, o que me interessa é o DIREITO que tenho de circular com liberdade e segurança ´por todos os espaços da universidade, que não está sendo respeitado.
Além disso, quando reclamamos, o primeiro argumento para explicar o inexplicável é o do desconhecimento sobre as questões de acessibilidade. Oras, existe a lei 5296 de 2004 que regulamenta e estabelece parâmetros para construções provisórias ou permanentes e outras tantas regras sobre acessibilidade. E, esse argumento é furado, pois no Brasil, NINGUÉM pode alegar desconhecimento das leis para não cumprí-las.
Outra justificativa - e essa doeu mais que as pancadas que sofri - é a de que "nunca tinhamos pensado nisso antes". Isso significa que nós com deficiência - e todos aqueles que precisam de acessibilidade - continuamos sendo simplesmente ignorados por uma considerável parcela do "mercado" da saúde, bem como de funcionários e professores da UFRGS. Digo a essas pessoas que nos consideram sujeitos de segunda categoria e um tanto desimportantes, que nós também pagamos impostos como todo mundo, logo, a universidade também nos pertence, e nós - pelo menos eu - exigimos acessibilidade sempre. É interessante como algumas pessoas tem tanta facilidade em se apropriar dos espaços públicos.
Toda vez que acontecem eventos na UFRGS em que são montados estandes é o mesmo problema, eu reclamo, fazem um protocolo e nada é feito. Mas, dessa vez, foram ultrapassados todos os limites do aceitável. É triste perceber que somos tidos como um grupo do qual "ninguém lembra", embora sejamos 1/4 da população brasileira. Mesmo assim, muita gente ainda acha que acessibilidade é algo superfluo e que nós que que devemos "arrumar um jeito" de nos adaptar aos espaços.
Me senti desprezado pela universidade, como se o fato de ter uma deficiência me obrigasse a simplesmente aceitar essa situação como algo normal. Parece que eu estar na UFRGS é entendido como um beneficio tão grande que o fato de estar ali é o máximo que podem fazer por mim. Eu cheguei até ó doutorado pelos meus próprios méritos, e creio que a universidade tem o DEVER de me prover acssibilidade e segurança.
Outra alegação interessante é o conformismo de dizer que tudo é um processo e que eu devo relevar que muitas pessoas não conhecem sobre esses assuntos. O meu sentimento de impotência, a sensação de discriminação e descaso é atual e não um processo. Os arranhões e dores de cabeça são atuais também.
Como algumas pessoas poderão ver nas fotos que colocarei abaixo, não há espaço para passar com segurança, os objetos e estruturas estão jogados para todos os lados sem nenhuma preocupação com quem quer que seja. O patio é amplo, mas conseguiram a façanha de deixá-lo minúsculo e repleto de pequenas e grandes armadilhas como cordas suspensas, barras de ferro, cordas estendidas na horizontal na altura do pescoço, piso mal colocado....
Fato é que me senti completamente desrespeitado pela universidade e pelos organizadors, que disseram que iriam tomar atitudes paliativas, mas nem isso fizeram. De que adianta um pedido de desculpas se nada de efetivo é feito - e dúvido que seja.
Enfim, essas situações me dão ainda mais motivação para continuar lutando pela acessibilidade até a última gota de suor e de sangue que eu tiver. Sei que chegará o dia em que tudo isso fará parte do passado e acessibilidade vai ser entendida como algo sério e fundamental em qualquer lugar, se não for por compreensão será pela legislação.
Abaixo algumas fotos do "show de horrores":
Concordo, levarei pro meu mural no face!
ResponderExcluirTá virado num circo aquilo lá, mesmo! Oferece perigo para todas as pessoas!