quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Porque é tão díficil pensar na acessibilidade UFRGS?

Acontece em Porto Alegre o X Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, no campus central da UFRGS, organizadora do evento - ao menos de seus professores e com o uso de sua estrutura física. Até ai nada de importante. No entanto, os organizadores do evento resolveram transformar o patio da universidade em um "circo", onde nós com deficiência somos tratados como "palhaços".
A manifestação parece muito ácida, mas não é menos forte do que as dores que sinto pelos três choques que tive, tropeçando na estrutura deixada no chão e em cordas que sustentam os estandes sofrendo inclusive um corte no abdomen. E eu, como doutorando em Educação e coordenador de um curso de extensão na universidade, tenho que ir até lá dáriamente, o que me obrigou a enfrentar aquele ambiente hostíl.
Eu seria injusto se dissesse que está mal sinalizado, afinal, nem há sinalização alguma. Isso demonmstra o quanto a universidade e a comissão organizadora do evento se preocupam de fato com a integridade física de TODAS as pessoas. É até engraçado - se não for triste - um congresso com essa temática causar mais danos do que benefícios a nossa saúde. Parece que essa "saúde" fica mais no discurso do que na efetividade prática.
Quando eu e outras pessoas fomos reclamar sobre esse absurdo que estão fazendo, começou o famoso "jogo de empurra", pois a organização do evento diz que a culpa é da empresa contratada para a logística. Essa, diz que a culpa é da universidade, que por sua vez diz que devemos reclamar diretamente para os organizadores. A transferência de responsávilidade é mesmo algo revoltante. Não me importa nem um pouco quem é o responsável, o que me interessa é o DIREITO que tenho de circular com liberdade e segurança ´por todos os espaços da universidade, que não está sendo respeitado.
Além disso, quando reclamamos, o primeiro argumento para explicar o inexplicável é o do desconhecimento sobre as questões de acessibilidade. Oras, existe a lei 5296 de 2004 que regulamenta e estabelece parâmetros para construções provisórias ou permanentes e outras tantas regras sobre acessibilidade. E, esse argumento é furado, pois no Brasil, NINGUÉM pode alegar desconhecimento das leis para não cumprí-las.
Outra justificativa - e essa doeu mais que as pancadas que sofri - é a de que "nunca tinhamos pensado nisso antes". Isso significa que nós com deficiência - e  todos aqueles que precisam de acessibilidade -  continuamos sendo simplesmente ignorados por uma considerável parcela do "mercado" da saúde, bem como de funcionários e professores da UFRGS. Digo a essas pessoas que nos consideram sujeitos de segunda categoria e um tanto desimportantes, que nós também pagamos impostos como todo mundo, logo, a universidade também nos pertence, e nós - pelo menos eu - exigimos acessibilidade sempre. É interessante como algumas pessoas tem tanta facilidade em se apropriar dos espaços públicos.
Toda vez que acontecem eventos na UFRGS em que são montados estandes é o mesmo problema, eu reclamo, fazem um protocolo e nada é feito. Mas, dessa vez, foram ultrapassados todos os limites do aceitável. É triste perceber que somos tidos como um grupo do qual "ninguém lembra", embora sejamos 1/4 da população brasileira. Mesmo assim, muita gente ainda acha que acessibilidade é algo superfluo e que nós que que devemos "arrumar um jeito" de nos adaptar aos espaços.
Me senti desprezado pela universidade, como se o fato de ter uma deficiência me obrigasse a simplesmente aceitar essa situação  como algo normal. Parece que eu estar na UFRGS é entendido como um beneficio tão grande que o fato de estar ali é o máximo que podem fazer por mim. Eu cheguei até ó doutorado pelos meus próprios méritos, e creio que a universidade tem o DEVER de me prover acssibilidade e segurança.
Outra alegação interessante é o conformismo de dizer que tudo é um processo e que eu devo relevar que muitas pessoas não conhecem sobre esses assuntos. O meu sentimento de impotência, a sensação de discriminação e descaso é atual e não um processo. Os arranhões e dores de cabeça são atuais também.
Como algumas pessoas poderão ver nas fotos que colocarei abaixo, não há espaço para passar com segurança, os objetos e estruturas estão jogados para todos os lados sem nenhuma preocupação com quem quer que seja. O patio é amplo, mas conseguiram a façanha de deixá-lo minúsculo e repleto de pequenas e grandes armadilhas como cordas suspensas, barras de ferro, cordas estendidas na horizontal na altura do pescoço, piso mal colocado....
Fato é que me senti completamente desrespeitado pela universidade e pelos organizadors, que disseram que iriam tomar atitudes paliativas, mas nem isso fizeram. De que adianta um pedido de desculpas se nada de efetivo é feito - e dúvido que seja.
Enfim, essas situações me dão ainda mais motivação para continuar lutando pela acessibilidade até a última gota de suor e de sangue que eu tiver. Sei que chegará o dia em que tudo isso fará parte do passado e acessibilidade vai ser entendida como algo sério e fundamental em qualquer lugar, se não for por compreensão será pela legislação.
 
Abaixo algumas fotos do "show de horrores":
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Um comentário:

  1. Concordo, levarei pro meu mural no face!
    Tá virado num circo aquilo lá, mesmo! Oferece perigo para todas as pessoas!

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