Em absoluto objetivo impor a minha opinião como a melhor ou única. Não pretendo pessoalizar a questão, pois creio que há espaço para diferentes tipos e modos de pensar sobre a AD, seja como produto cultural, como tradução visual, ou até ambos – o que é o meu caso.
Meu objetivo aqui é refletir sobre a importância que
considero fundamental e indispensável do audiodescritor consultor em uma equipe
de audiodescritores. Mais que isso, de valorização dessa função muito além de
simples concordância ou não com o produto já pronto.
Como todos já sabemos, no Brasil são mais de 35 milhões de
pessoas com deficiência visual, dessas 500 mil são cegas, ou seja, as demais
tem baixa visão, e enxergam usando algum recurso de acessibilidade, como é o
meu caso, por exemplo.
É desconhecimento dizer que alguém com deficiência visual não possa ser roteirista, já que alguém com baixa visão pode sim fazer roteiros de imagens estáticas, por exemplo, e pude comprovar isso empiricamente.
É desconhecimento dizer que alguém com deficiência visual não possa ser roteirista, já que alguém com baixa visão pode sim fazer roteiros de imagens estáticas, por exemplo, e pude comprovar isso empiricamente.
Muitos de nós consultores temos formação na
área de audiodescrição, em cursos ministrados inclusive por colegas que discordam dessa ideia.
Fato é que temos um certificado igual aos demais colegas audiodesritores que executam outraa funções.
Dizem que a consultoria apenas avalia se os trabalhos estão
bons ou não. O que é meia verdade, já que eu a Mariana Baierle e outros colegas participam dos processos da AD desde a pré-produção,
provando, que tal é bem possível e eu diria necessário para a excelência da qualidade do trabalho.
O consultor é o que executa o controle de qualidade do
produto, como dissera outrora: uma equipe que
não conta ou usa mal seus audiodescritores consultores é uma equipe incompleta.
Uso o exemplo de uma indústria, onde sempre há aquele
industriário que é responsável por aferir a qualidade do produto, pensar sobre
ele e acompanhar o processo de produção desde o inicio para que a qualidade
seja a melhor possível. Pois bem, na carteira de trabalho desse industriário
não vai: consultor em indústrias, e sim, sua profissão é de industriário, como
os seus demais colegas.
Outra questão é que, se muitas vezes os trabalhos requerem
pouco tempo para produção, eu e a
Mariana já revisamos roteiros que foram produzidos, revisados, gravados e
entregues em menos de 24 horas, assim, o tempo pode ser relativo. Afinal, se há
uma demanda de trabalhos se contratam mais roteiristas, porque não contratar
mais audiodescritores consultores para a equipe?
Outro argumento é importantíssimo, essa diferenciação feita
ao consultor é um entrave político. Acho que é necessário pensar que as
questões políticas também são fundamentais para a ampliação da AD, pois além de
público queremos ser protagonistas nos processos de todas as esferas sociais,
inclusive na audiodescrição. Cada vez mais as pessoas com deficiência fazem
questão de participar de todos os processos que lhes envolvam e,
principalmente, em igualdade de condições com todos.
Exemplificando o que
eu digo
O audiodescritor consultor além de público da AD ele é um
profissioal como outros na equipe, e assim deve ser tratado. Eu e a Mariana sempre fazemos questão de atuarmos desde ao inicio da produção dos trabalhos.
Tomo como exemplo a obra Colegas
– O filme, (vencedor do prêmio de Melhor Filme do Festival de Gramado) que
a Tagarellas fez a AD. Pois bem, nosso
processo de construção da AD foi o seguinte:
TODOS juntos assistimos ao filme, sendo que as roteiristas assistiram
de olhos vendados. Depois debatemos sobre o que ouvimos do filme, pesquisamos
sobre alguns temas e nos reunimos novamente para assistir a obra outra vez
vendo as imagens. Conversamos novamente sobre o que seria interessante constar
ou não no roteiro.
Em seguida, as roteiristas elaboraram o roteiro e nos repassaram
para fazermos as observações que entendiamos necessárias. Antes de ler, assisti o
filme outra vez, depois li o roteiro da AD inteiro. Posteriormente a isso, comecei a ler o
roteiro parte por parte assistindo a cada cena do filme de acordo com a parte apontada no
roteiro. Fiz as observações que achei pertinentes sobre o roteiro e, antes de enviar para as roteiristas, eu revisei tudo novamente assistindo ao
filme mnmais uma vez.
Enviei o roteiro para as roteiristas, que fizeram as adequações que entenderam pertinentes. Por fim, um dia antes da exibição do filme, já em Gramado, nos reunimos novamente e assistimos ao filme, ensaiando a narração da AD, e na medida em que tinhamos alguma dúvida, retomavamos, debatiamos e quando era o caso reformulavamos o trecho revisado. Assim, depois de algumas horas finalizamos o roteiro .
Enviei o roteiro para as roteiristas, que fizeram as adequações que entenderam pertinentes. Por fim, um dia antes da exibição do filme, já em Gramado, nos reunimos novamente e assistimos ao filme, ensaiando a narração da AD, e na medida em que tinhamos alguma dúvida, retomavamos, debatiamos e quando era o caso reformulavamos o trecho revisado. Assim, depois de algumas horas finalizamos o roteiro .
Isso sim é uma construção de AD em conjunto, e que qualifica
o trabalho, sendo que os consultores tiveram papel fundamental
no processo, de maneira equiparada aos demais membros da equipe.
Esse protagonismo das pessoas com deficiência na AD é
fundamental tanto para a qualidade quanto para a ampliação de público para a AD,
já que é um fator que alimenta a identificação entre o público e o produto.
Se
quiser ler mais sobre o tema, leia o artigo meu e da Mariana Baierle, em : http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=web&cd=3&ved=0CEQQFjAC&url=http%3A%2F%2Fwww.rbtv.associadosdainclusao.com.br%2Findex.php%2Fprincipal%2Farticle%2Fdownload%2F154%2F259&ei=s6TcUJmjJoTY9AT6uoCoCA&usg=AFQjCNEFncar4Z7XuSFVqAEEXbwMlzT3Yg&sig2=FeKwjVJiuFfjkfpdUVIqFQ&bvm=bv.1355534169,d.eWU
Bem esclarecedor, Felipe! Tanto para quem conhece AD, como para quem está començando a se familiarizar com o tema.
ResponderExcluir