É com enorme satisfação que inauguro hoje um novo projeto aqui no blog. Se chama Audiodescritor em foco, e o objetivo é propor ideias e compartilhar reflexões de audiodescritores de diferentes lugares do Brasil e do mundo. A ideia é bem simples, sempre as mesmas cinco perguntas para os audiodescritores, o que permitirá verificar diferentes posicionamentos e percepções de uma mesma questão. Outras tantas perguntas ficaram faltando, muitas surgiram das respostas dadas, mas o importante é abrir mais um importante e democrático espaço para que os audiodescritores debatam o rumo da AD. Espero que gostem, e se tiverem sugestões, estarei a disposição.
Para inaugurar o projeto, realizei entrevista com a audiodescritora catalã Pilar Orero, conhecida internacionalmente pelo trabalho que desenvolve como audiodescritora e professora da Universidade Autonoma de Barcelona.
Entrevista com Pilar Orero
Pilar Orero é mestre em Tradução pela Universitat
Autonoma de Barcelona (UAB), Espanha. Doutora em Tradução pela University of
Manchester (Reino Unido) Professora na
área de Tradução audiovisual na UAB, onde coordena o curso de mestrado online
em Tradução Visual. É membro do Centre d’Acessibilitat i Intel-ligencia
Ambiental de Catalunya CaiaC (Centro de acessibilidade e inteligência ambiental
da Catalunha), onde coordena o Doutorado em Ambientes Inteligentes e
Acessibilidade. Desenvolve projetos e pesquisas em diversos aspectos
relacionados à acessibilidade, principalmente sobre audiodescrição. Além de um
grande número de artigos e ensaios em qualificadas e renomadas revistas e
congressos sobre tradução e?ou acessibilidade, Pilar também é co-editora da
revista Media for All: Subtitling for the Deaf, Auidio Description and Sign
Language (Mídia para Todos: legendagem para surdos, audiodescrição e língua
de Sinais).
1 -
Como você se tornou audiodescritor? Que importância a audiodescrição tem na sua
vida?
Pilar:
Assisti a um congresso em Londres, em 2004, e conheci a James O’Hara e
Joel Snyder, que me ensinaram ADDesde 2004 mudou muito a minha vida, já que todas as pesquisas que faço se referem a AD, e também a transmissão de conhecimentos. Me reúno com associações de pessoas com deficiência e vou a comitês de normatização.
2 –
Na sua opinião, o que a AD representa para seus usuários? O que pode provocar
na vida dessas pessoas?
Pilar:
Há usuários que gostam muito de AD e há quem não goste, inclusive lhes
incomoda. Essa recepção tão diversa é muito importante já que significa que é
uma atividade normatizada – o estranho seria se 100% dissesse que é
maravilhoso, isso não existe navida. Como é uma atividade normatizada deveria
ser oferecida sempre e que seja o usuário quem decida se quer escutar ou não.
3 –
Quais as maiores dificuldades e quais as maiores alegrias em ser
audiodescritor?
Pilar:
Começando com um serviço aberto para toda a comunidade, sem ter em conta as
associações de usuários e a porcentagem de deficiência do usuário. Para mim é
muito importante que a AD seja um serviço público, que se possa escolher, como
agora se escolhe o nível de volume da TV
4 -
Você concorda com a ideia de que a AD, mais do que informar, deve proporcionar
que o usuário usufrua e sinta as sensações do que é descrito?Você acredita que
a audiodescrição além de um recurso de acessibilidade seja também uma produção
cultural?
Pilar:
Sim
5 –
O mundo está cada vez mais visual, e se levarmos em conta que a visualidade é a
matéria-prima da audiodescrição, ainda há muito a ser explorado nesse campo.
Junto a isso, temos a ampliação e difusão dos produtos e políticas culturais
para acessibilidade por parte dos governos e da sociedade civil. Diante desse
cenário, quais desafios você acha que devem ser enfrentados para expandir a
audiodescrição, tanto em quantidade como em qualidade?
Pilar:
É muito importante definir o que é qualidade, e entender que como qualquer
outra atividade normalizada, deve haver diferentes tipos de qualidades. Por
exemplo, para saber a hora, podemos ter um relógio Rolex, ou um Swatch ou um
telefone celular, todos dizem a mesma informação: a hora. Tanto o rolex quanto
o Swatch são relógios de alta qualidade, mas cada um com suas características.
O mesmo deveria acontecer com a AD. Entrevista e tradução: Felipe Mianes
Achei ótima ideia Felipe. E já fiquei refletindo com algumas das respostas da Pilar Orero, em especial: AD como um serviço público e diferentes tipos de qualidade.
ResponderExcluirPois é, Pilar Orero é uma referência para todos nós audiodescritores. O que me alegra muito, é saber que ela será minha orientadora no doutorado sanduiche. Tenho a certeza de que irei evoluir muito como pesquisador e como audiodescritor no periodo em que estiver sob sua orientação - mesmo que eu já tenham uma orientadora fantastica que qualquer um pediria a deus!
ResponderExcluirGostei demais da afirmação da necessidade de relativização do quesito qualidade na Audiodescrição, porque a língua é o reflexo de seus falantes e é preciso considerar os aspectos socioculturais no repasse das informações e na interpretação das imagens. Quando estive em Campinas, na Unicamp, participando como convidada de um curso de audiodescrição na Biblioteca Cesar Lattes, escutei da Bell Machado algo que me deixou muito aliviada : " Há padrões para realizar a audiodescrição, porém, cada um de nós tem sua personalidade e estilo próprio e não devemos nos constranger se algum cego ou deficiente visual não gostar de nossa audiodescrição, isso é normal, é como não gostar da voz de um dublador em um filme, vai de cada um". Também vejo isso na fala da Pilar Orero. Sou de Belém do Pará e tenho me dedicado à audiodescrição há algum tempo, comecei a trabalhar com cegos em 2000 como ledora e agora concluindo minha graduação em Letras pretendo me dedicar à profissão de audiodescritora.
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