O prefeito de Porto Alegre,
José Fortunati, tentou começar a construir uma
solida carreira de humorista e contou uma piada muito engraçada dizendo que: “Porto Alegre é um modelo de acessibilidade
para o Brasil e para o mundo". Fico imaginando por quais ruas esse
político fanfarrão deve caminhar, ou quem sabe, deve estar com baixa visão e não percebe que o que ele diz é um engodo. Se bem que se ele tivesse deficiência visual, logo teria notado que errou ao fazer essa afirmação. Porto Alegre é um parque temático de
buracos, e me arriscaria a dizer que a cidade tem mais calçadas problemáticas
do que habitantes.
Nossa cidade nunca foi acessível, as ruas sempre
foram repletas de perigos e de dificuldades para quem tem algum tipo de
deficiência. Eu desafio quem quer que seja a me mostrar UM ponto da cidade onde
tudo seja plenamente acessível. Morar por aqui é um desafio constante, e nos
dividimos em dois grupos, o das que já se acidentaram, e das que irão se
acidenta um dia. Desde sexta passada pertenço ao primeiro grupo.
Como se não bastasse a INacessibilidade da
cidade, a insegurança é tão problematica quanto os problemas estruturais da
capital gaudéria. Cada dia mais o medo e a violência crexcem e sobreviver aqui
sem ser assaltado, roubado e agredido é uma tarefa para bem poucos.
Tanto é que temos índices bem parecidos a São Paulo e Rio de Janeiro em termos de violência urbana. Mas e quando os dois problemas se juntam em um único momento, qual o resultado? É, isso me aconteceu na semana passada e garanto que está sendo bem dolorido.
Tanto é que temos índices bem parecidos a São Paulo e Rio de Janeiro em termos de violência urbana. Mas e quando os dois problemas se juntam em um único momento, qual o resultado? É, isso me aconteceu na semana passada e garanto que está sendo bem dolorido.
Sexta passada, por volta das 8hs, desci do
Õnibus, sob o viaduto da avenida Duque de Caxias. Algo raro aconteceu naquele
dia, não havia ninguém na parte de baixo do viaduto, sempre cheio de pedestres
e ambulantes, assim como a praça Raul Pila, em frente de onde eu estava, que
está sempre igualmente lotada, naquele dia não havia sequer uma pessoa, que eu
pudesse ver pelo menos.
Havia apenas um sujeito em atitude absolutamente
suspeita, o que me deixou apreensivo, já que eu carregava uma mochila com meu
notebook (onde estavam gravadas dentre tantas coisas, meu projeto de tese).
Embora eu enxergue pouco, desenvolvi tecnicas para perceber quando alguém age
de modo suspeito, e assim consegui verificar que o vagabundo me seguia. Eu
tinha que atravessar uma praça para chegar até a UFRGS, e meu medo era de que ele
me assaltasse ali mesmo, e depois de me abordar nada poderia fazer, afinal, reagir é sempre a pior coisa a fazer.
Então, atravessei a rua e tendo uma certa
distância, comecei a correr para evitar que ele me alcançasse ali onde não
havia ninguém. Depois de passar por uma dezena de buracos na calçada, quando
estava quase chegando à esquina pisei em uma lajota solta,: virei o pé,
tropecei e tive um baita tombo. Como não sabia se o meliante estava atras de
mim ou não, na fração de segundos que tive, resolvi continuar correndo até um
lugar seguro, e assim o fiz.
Depois de estar em segurança é que fui ver o
estrago: pé esquerdo inchado, joelho esquerdo mega inchado - ainda hoje está -,
uma dor lancinante na costela - que ainda persiste -, cortes na mão esquerda,
no lábio superior e no rosto (abaixo e acima do olho esquerdo). Dos males o
menor, meu projeto de tese estava salvo.
Hoje, cinco dias depois do ocorrido, ainda tenho
dores fortes na costela do lado esquerdo do torax, meu joelho continua inchado
e tenho dificuldades para caminhar. Os exames médicos mostraram que não foi nada
grave, mas poderia ter sido.
O que eu fico pensando é como se pode tentar
mascarar os graves problemas que a cidade tem para nós com deficiência ou
qualquer pessoa que queira escapar de um problema mais grave. Que modelo de
acessibilidade é esse onde em um dos lugares mais movimentados da cidade há
mais buraco que calçada?
Desde 2011, há um Plano Diretor de Acessibilidade aprovado pela prefeitura e já vigorando como lei. Onde eu cai? em uma praça municipal! Não adianta de nada fazer leis se elas não são cumpridas, criar planos diretores para que fiquem no âmbito do "um dia a gente implementa". cadê a fiscalização? qual a punição para quem não cumpre 00 incluindo os políticos que deveriam ser responsabilizados por isso? Um a lei que não é aplicada é só mais um pedaço de papel inútil.
Desde 2011, há um Plano Diretor de Acessibilidade aprovado pela prefeitura e já vigorando como lei. Onde eu cai? em uma praça municipal! Não adianta de nada fazer leis se elas não são cumpridas, criar planos diretores para que fiquem no âmbito do "um dia a gente implementa". cadê a fiscalização? qual a punição para quem não cumpre 00 incluindo os políticos que deveriam ser responsabilizados por isso? Um a lei que não é aplicada é só mais um pedaço de papel inútil.
As pessoas ainda tratam a acessibilidade como desdém e sem a seriedade necessária. Não sei se a dor maior é física ou em minha honra de cidadão honesto
e cumpridor de seus deveres. Para quem precisa de acessibilidade, Porto Alegre
trata seus habitantes com desprezo, com indiferença e até mesmo com má
intenção, ao dizer que nós estamos errados ao reclamar dos perigos da cidade.
Quanto custa tapar um buraco? será que é mais caro me atender em um hospital ou
colocar corretamente uma lajota?
Como diz minha amiga Mariana Baierle, o maior
problema não são as calçadas, mas as mentes deterioradas que deixam as
calçadas mal conservadas. Eu acho que vão esperar alguém morrer ou ter graves
ferimentos para fazer algo, mas dai, pode ser tarde demais. Porto Alegre é uma
cidade RIDICULAMENTE INACESSÍVEL, e por mais piadas que o prefeito conte quem
sente as dores somos nós.
Nosso município já não tem belezas muito
atrativas, nem praias ou construções monumentais, mas bem que poderia tentar
ser um modelo de acessibilidade. Se não der para ser modelo, pelo menos que nos
locais onde mais pessoas circulam, manter as calçadas bem cuidadas já seria um
bom começo.
Ás vezes quando falamos que conhecemos alguém que
se machucou ou que soube de um caso assim, poucas vezes isso fica registrado, é
como se fosse uma anedota contada, onde sem provas, poucos são capazes de se
colocar no lugar do outro.
Por isso mesmo, posto aqui uma foto de como eu estava no dia da minha queda, horas após o ocorrido. Com vários hematomas, curativos, pomadas, bolsa de gelo e dor, mas isso não aparece nas fotos. Só mesmo um registro desses para fazer com que se possa refletir um pouquinho sobre esse “modelo de acessibilidade” que temos em Porto Alegre.
Por isso mesmo, posto aqui uma foto de como eu estava no dia da minha queda, horas após o ocorrido. Com vários hematomas, curativos, pomadas, bolsa de gelo e dor, mas isso não aparece nas fotos. Só mesmo um registro desses para fazer com que se possa refletir um pouquinho sobre esse “modelo de acessibilidade” que temos em Porto Alegre.
Oi Felipe, tudo bom?
ResponderExcluirEu estudo Jornalismo na PUCRS e estou fazendo uma matéria sobre "Acessibilidade na cidade de Porto Alegre". Pesquisando sobre o tema, me deparei com esse texto no teu blog, que trata justamente sobre tuas dificuldades com a acessibilidade para deficientes na nossa cidade. Poderiamos marcar de conversar?
Obrigada!
Att Carolina Fortes
Olá.
ExcluirPodemos conversar sim. Me manda um e-mail f.mianes@terra.com.br
Assim podemos compartilhar algumas ideias