Recurso de inclusão, audiodescrição ainda está longe das escolas
Mil palavras valem mais do que uma imagem para quem tem deficiência
visual. É por meio da audiodescrição que filmes e peças de teatro se
tornam acessíveis para esse público. Contudo, o recurso de inclusão não
se popularizou entre os programas de lazer, e é ainda menos explorado na
sala de aula. Fora das grades curriculares das licenciaturas, a
capacitação de professores fica por conta de cursos de extensão, que
ainda são raros - é mais comum encontrar formações voltadas para a área
cultural.
Historiador e doutorando em educação pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Felipe Mianes, 31 anos, fez aulas
de audiodescrição de produtos culturais na Faculdade de Arquitetura da
UFRGS em 2012. Apesar de já trabalhar com temas relacionados à
acessibilidade desde 2008, foi após o curso que ele começou a atuar como
audiodescritor consultor na empresa Tagarellas Audiodescrição, de Porto
Alegre, onde supervisiona os roteiros de audiodescrição.
Atualmente, Felipe, que tem baixa visão, ministra a
segunda edição do curso Audiodescrição e suas Intersecções com a
Educação na UFRGS, destinado a professores de todas as áreas do
conhecimento, pedagogos, profissionais que atuam em museus, bibliotecas,
teatros e centros culturais, comunicadores, produtores e gestores
culturais. “Criamos este curso especificamente para formar profissionais
de audiodescrição na área de educação. É o primeiro com este foco. Há
outros voltados à área cultural”, conta.
A audiodescrição é um recurso relativamente novo no
Brasil. Segundo Felipe, as pessoas começam a perceber agora que podem
utilizá-lo dentro da sala de aula. Tendo professores capacitados, alunos
com deficiência visual não teriam dificuldades ao assistir a filmes ou
entender gráficos e mapas, frequentemente utilizados em disciplinas como
história, geografia e matemática. “A audiodescrição é muito importante
no processo de educação do aluno e não há esta formação nas grades
curriculares das graduações de licenciatura”, aponta.
Felipe
comenta que existem instituições de ensino que oferecem, geralmente no
contraturno, centros multimeios especializados em atender pessoas com
deficiência. “São espaços onde são retomados conteúdos passados em sala
de aula. Neste espaço, a audiodescrição é fundamental, mas o ideal seria
que fosse feita na sala de aula mesmo”, opina o audiodescritor. Para
ele, seria fundamental ter a formação como disciplina dos cursos de
licenciatura. “Ao menos que sejam como eletiva e não fique a cargo da
extensão”, diz. Além de contemplar necessidades e especificidades da
aprendizagem deste sujeito, a audiodescrição contribui para a autoestima
do aluno com deficiência. “Ele se sente acolhido no processo
educacional, fora a questão de formação e aprendizagem. Acaba mudando a
vida destes alunos”, completa Felipe.
Escassez de cursos
A grande escassez de profissionais qualificados na área de audiodescrição - tanto para educação quanto para produtos culturais - deve-se ao fato da não existência de cursos regulares para esta formação. A maioria é promovida pelas empresas que trabalham com audiodescrição. “Podemos fazer cursos de extensão, como este com intersecção na educação, mas não de formação. O curso de formação de audiodescritores tem que ter, no mínimo, uma carga horária de 100 horas”, explica o professor do curso de extensão da UFRGS.
A grande escassez de profissionais qualificados na área de audiodescrição - tanto para educação quanto para produtos culturais - deve-se ao fato da não existência de cursos regulares para esta formação. A maioria é promovida pelas empresas que trabalham com audiodescrição. “Podemos fazer cursos de extensão, como este com intersecção na educação, mas não de formação. O curso de formação de audiodescritores tem que ter, no mínimo, uma carga horária de 100 horas”, explica o professor do curso de extensão da UFRGS.
A demanda por profissionais desta área é tão grande que,
além de ter muita gente trabalhando sem a formação adequada, a solução
que vem sendo utilizada são cursos de ensino a distância. Algumas
universidades promovem iniciativas pontuais, como o curso de Introdução à
Audiodescrição da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) também já realizou curso
semelhante. A faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) oferece o curso de especialização em Acessibilidade
Cultural, com 45 horas dedicadas à audiodescrição. De acordo com o Censo
de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o
país tem 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência - a
maioria visual, com mais de 35 milhões de deficientes.
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