domingo, 7 de julho de 2013

Recurso de inclusão, audiodescrição ainda está longe das escolas

Recurso de inclusão, audiodescrição ainda está longe das escolas

Mil palavras valem mais do que uma imagem para quem tem deficiência visual. É por meio da audiodescrição que filmes e peças de teatro se tornam acessíveis para esse público. Contudo, o recurso de inclusão não se popularizou entre os programas de lazer, e é ainda menos explorado na sala de aula. Fora das grades curriculares das licenciaturas, a capacitação de professores fica por conta de cursos de extensão, que ainda são raros - é mais comum encontrar formações voltadas para a área cultural.
Historiador e doutorando em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Felipe Mianes, 31 anos, fez aulas de audiodescrição de produtos culturais na Faculdade de Arquitetura da UFRGS em 2012. Apesar de já trabalhar com temas relacionados à acessibilidade desde 2008, foi após o curso que ele começou a atuar como audiodescritor consultor na empresa Tagarellas Audiodescrição, de Porto Alegre, onde supervisiona os roteiros de audiodescrição.
Atualmente, Felipe, que tem baixa visão, ministra a segunda edição do curso Audiodescrição e suas Intersecções com a Educação na UFRGS, destinado a professores de todas as áreas do conhecimento, pedagogos, profissionais que atuam em museus, bibliotecas, teatros e centros culturais, comunicadores, produtores e gestores culturais. “Criamos este curso especificamente para formar profissionais de audiodescrição na área de educação. É o primeiro com este foco. Há outros voltados à área cultural”, conta.
A audiodescrição é um recurso relativamente novo no Brasil. Segundo Felipe, as pessoas começam a perceber agora que podem utilizá-lo dentro da sala de aula. Tendo professores capacitados, alunos com deficiência visual não teriam dificuldades ao assistir a filmes ou entender gráficos e mapas, frequentemente utilizados em disciplinas como história, geografia e matemática. “A audiodescrição é muito importante no processo de educação do aluno e não há esta formação nas grades curriculares das graduações de licenciatura”, aponta.
 Felipe comenta que existem instituições de ensino que oferecem, geralmente no contraturno, centros multimeios especializados em atender pessoas com deficiência. “São espaços onde são retomados conteúdos passados em sala de aula. Neste espaço, a audiodescrição é fundamental, mas o ideal seria que fosse feita na sala de aula mesmo”, opina o audiodescritor. Para ele, seria fundamental ter a formação como disciplina dos cursos de licenciatura. “Ao menos que sejam como eletiva e não fique a cargo da extensão”, diz. Além de contemplar necessidades e especificidades da aprendizagem deste sujeito, a audiodescrição contribui para a autoestima do aluno com deficiência. “Ele se sente acolhido no processo educacional, fora a questão de formação e aprendizagem. Acaba mudando a vida destes alunos”, completa Felipe.

Escassez de cursos
A grande escassez de profissionais qualificados na área de audiodescrição - tanto para educação quanto para produtos culturais - deve-se ao fato da não existência de cursos regulares para esta formação. A maioria é promovida pelas empresas que trabalham com audiodescrição. “Podemos fazer cursos de extensão, como este com intersecção na educação, mas não de formação. O curso de formação de audiodescritores tem que ter, no mínimo, uma carga horária de 100 horas”, explica o professor do curso de extensão da UFRGS. 
A demanda por profissionais desta área é tão grande que, além de ter muita gente trabalhando sem a formação adequada, a solução que vem sendo utilizada são cursos de ensino a distância. Algumas universidades promovem iniciativas pontuais, como o curso de Introdução à Audiodescrição da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) também já realizou curso semelhante. A faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) oferece o curso de especialização em Acessibilidade Cultural, com 45 horas dedicadas à audiodescrição. De acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência - a maioria visual, com mais de 35 milhões de deficientes.


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