Não sei se eu sou como todo mundo, mas sou um saudosista de carteirinha. Não sou do tipo fundamentalista da saudade, que acredita na perenidade daquilo que passou e acha que tudo de antigamente era melhor. Tendo 30 anos, nem sei se meu tempo de vida é suficiente para sentir essa falta de coisas do "antigamente". Muitos amam compulsivamente a saudade e vivem grudados a ela, estragando a relação. Outros se fazem de difícil e lhe dão as costas, esperando aquele abraço apertado por trás... sim, ela adora nos atingir pela retaguarda.
A relação que mantenho com ela é estável e madura, não a sufoco e nem a deixo livre demais, afinal, eu também tenho ciúmes da saudade que sinto, mesmo que ela seja de fato intransferivelmente minha. Dias nublados como esse em que escrevo, me fazem dar mais atenção a ela, pois é nesses momentos em que aparece mais vistosa e arrebatadora.
Lembro das milhares de vidas que não vivi, das situações que deixei para trás sem ter tentado ou mesmo das vezes em que desejei viver a vida de outrem. Às vezes fico pensando como seria se eu fosse um caretão? e se eu fosse hippie? e se eu fosse mulher? como seria minha vida se eu vivesse no Turcomenistão? eu escreveria melhor se fosse infeliz? Sinto saudade das pessoas com quem nunca me relacionei diretamente ou dos amigos que poderia ter feito.
Sinto uma profunda saudade da minha adolescência onde o objetivo principal é que o dia de amanha fosse mais divertido que o de hoje, e que o de ontem tivesse sido irrelevante perto do atual. Dessa época sinto falta do guaraná - via de regra batizado com caninha - com Milhopan que a gente comia nos dias em que ia jogar bola e botar conversa fora por ai. Sinto falta dos planos que tracei o único que atingi - e por caminhos diferentes do que imaginei - foi a felicidade. Lembro exatamente a sensação de desejar que o mundo parasse nos instantes em que eu me divertia com os meus amigos como se não houvesse amanhã.
Sinto muita saudade dos amigos que ficaram pelo caminho, alguns que já viraram estrelas e que brilham lá no céu como que me afagando e aplacando a dor da ausência ou confortando nos momentos difíceis. Perdura em mim a saudade dos abraços que a timidez me impediu, dos beijos que não roubei e das vezes em que calei quando devia ter dito que amava.
Nos momentos mais difíceis é que o passado nos inunda, no meu caso, não como melancolia, mas como uma mola propulsora em que ao me lembrar de tudo que passei e hoje estou aqui lépido e faceiro, logo me dou conta de que nada que me aconteça pode ser pior. Seja como for, as coisas sempre acabam se resolvendo da melhor forma. Devo agradecer a saudade por ter me proporcionado a grande maioria dos contos e poesias que escrevi, sejam os já publicados aqui no blog ou aqueles que queimei quando tinha 15 anos achando que nenhum deles fazia sentido.
A ausência nos faz ver o quão importante determinada pessoa é em nossa vida, e por mais que tenha defeitos, sua presença é absolutamente indispensável. Assim, descobri que a saudade é o mais potente e eficaz combustível para o amor.
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