É professora convidada na Universidade de Coimbra, nos Cursos de
Mestrado e de Doutorado em Estudos de Tradução. Atua tanbém em cursos de
Mestrado e de Doutorado em várias universidades estrangeiras.
Desde 2000, desenvolve projetos na área da comunicação acessível. Assumindo
as soluções para públicos de pessoas com deficiência e surdos numa perspectiva
inclusiva.
Publicou dois guias práticos para a criação de materiais acessíveis: Vozes que se Vêem: guia de legendagem para surdos e Imagens que se ouvem: guia de Audiodescrição
1 - Como você se tornou audiodescritor? Que importância a audiodescrição tem na sua vida?
Josélia - Conheci
a audiodescrição (AD) numa conferência em Londres em 2004. Nesse mesmo ano fiz
o primeiro de 6 cursos sobre Audiodescrição, todos com profissionais diferentes
em diferentes países do mundo. Em Portugal, a AD era novidade, então propus-me
trazê-la para o país. Simultanemante apareciam na televisão por cabo em
Portugal e na Rádio Telvisão Portuguesa (RTP) os primeiros ensaios em
território português pela mão de profissionais do teatro e guionismo
convencional. Passei então a trabalhar com AD em DVD, espetáculos ao vivo e
museus.
Hoje
a AD faz parte da minha vida enquanto professora de tradução audiovisual,
enquanto investigadora em comunicação inclusiva e enquanto cidadã empenhada em
criar condições de acesso para pessoas com deficiência sensorial.
2 –
Na sua opinião, o que a AD representa para seus usuários? O que pode provocar
na vida dessas pessoas?
Josélia - A
AD é absolutamente fundamental para quem é cego; é muito útil para quem tem
baixa visão; e é estimulante para quem vê. Em suma, interessa a todos. O grau
de importância varia consoante as vivências de cada um, pois mesmo para fruir
de AD é preciso aprender a “ouvir”.
3 –
Quais as maiores dificuldades e quais as maiores alegrias em ser
audiodescritor?
Josélia - Em
Portugal a maior dificuldade está na pouca oferta, ou pouca requisição de
serviços. Seria bom poder trabalhar mais na área.
As
maiores alegrias: sempre que vejo pessoas a fruir do meu trabalho, a alegria é
imensa. Fico particularmente feliz quando são os jovens a “ver” através das
minhas palavras. Aí, dou graças ao universo por fazer parte deste mundo
admirável em que se consegue ver através das palavras ditas.
4 -
Você concorda com a ideia de que a AD, mais do que informar, deve proporcionar
que o usuário usufrua e sinta as sensações do que é descrito?Você acredita que
a audiodescrição além de um recurso de acessibilidade seja também uma produção
cultural?
Josélia - Sou
totalmente a favor da audiodescrição expressiva. Aliás, procuro sempre adequar
a minha AD ao estilo do original… se o produto é informativo, procuro criar uma
AD meramente informativa, mas é na AD expressiva que eu me revejo, na partilha do
ato criativo com o autor da obra original, proporcionando à pessoa cega um
momento de deleite estético se é esse o objetivo do original. Isto é
particularmente verdade na descrição de obras de arte – sejam elas pintura,
fotografia, teatro, bailado, ou filmes de autor.
5 –
O mundo está cada vez mais visual, e se levarmos em conta que a visualidade é a
matéria-prima da audiodescrição, ainda há muito a ser explorado nesse campo.
Junto a isso, temos a ampliação e difusão dos produtos e políticas culturais para
acessibilidade por parte dos governos e da sociedade civil. Diante desse
cenário, quais desafios você acha que devem ser enfrentados para expandir a
audiodescrição, tanto em quantidade como em qualidade?
Josélia - A
fim de melhorar a oferta há que trabalhar em vários domínios:
1) Na formação dos
audiodescritores. Para ser audiodescritor não basta ter jeito. Há que adquirir
conhecimentos sobre composição fílima, a semiótica da imagem estática e em
movimento; há que desenvolver competências de escrita criativa; há que
trabalhar noções musicais e de ritmo; e no caso da AD ao vivo há que trabalhar
a colocação de voz, o ritmo, cadência e dicção. Para além desta formação
técnica o audiodescritor tem de compreender a psicofisiologia da cegueira e da
baixa visão para poder servir efetivamente este grupo de pessoas.
2) Há também necessidade de
sensibilizar os promotores/a oferta. Os promotores de ações culturais ainda não
estão sensibilizados para a oferta sistemática e generalizada deste serviço em
todas as esferas da vida quotidiana, e particularmente em contexto educacional
e cultural.
3) Finalmente, há que educação
a população em geral, e as pessoas cegas ou com baixa visão em particular. Há
muitas pessoas que ainda desconhecem a existência da AD e tantas outras que têm
dificuldade em acompanhar o serviço. Como em tudo é preciso conhecer para fruir
e para exigir mais quantidade e melhor qualidade. Para conhecer é preciso usar.
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Entrevista: Felipe Leão Mianes
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