quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Bengalando em Barcelona (Visita ao Museu Olímpico)



Essa foi uma das experiências mais emocionantes e repletas de conhecimento que tive, pois se trata de um lugar quase plenamente acessível, a começar pelo transporte coletivo. Não por ser perto do centro da cidade, pois fica um pouco afastado, na região da montanha Montjuic.
Só há uma linha de ônibus que leva até a região, mas como faz um trajeto transversal na cidade, é possível usar diferentes linhas de metrô e ônibus para chegar até essa linha de coletivo e fazer a baldeação com segurança e autonomia. E como a maioria das estações de trem e pontos de ônibus conta com acessibilidade, chegar até lá fica mais fácil. A linha 55 deixa os passageiros exatamente em frente ao museu.
O prédio não conta com piso tátil na parte externa ou interna, mas não há nenhum obstáculo perigoso na entrada do mesmo. Existe uma rampa e uma porta ampla pela qual as pessoas com deficiência têm a possibilidade de se locomover com segurança e autonomia.
Logo na entrada, há um guichê de atendimento onde o visitante paga a entrada – pessoas com deficiência têm 20% de desconto – e aluga o audioguia. Caminhando cerca de vinte metros chega-se ao inicio da exposição. No primeiro piso há exposição sobre os diferentes tipos de esporte, sejam eles olímpicos ou não.
Há uma espécie de divisórias separando cada esporte apresentado. Os primeiros espaços se dedicam a contar as histórias das olimpíadas da Idade Antiga, e como eram as competições naquela época. Em seguida, apresentam fotos, áudios e vídeos das primeiras edições das olimpíadas da era moderna, em 1896, recriada pelo Barão de Coubertin. Logo após o panorama histórico, começam os esportes especificamente.
Cada uma dessas divisórias que havia explicado antes, na lateral esquerda do visitante, e na medida em que se vai avançando na exposição indo para frente, se vai descendo ao subsolo, pois como o prédio é adaptado não existem escadas, apenas rampas, elevadores e escadas rolantes – essas usadas apenas para a exposição temporária, fora da sala principal do museu.
No subsolo é possível encontrar as mesmas divisões do andar de cima, ou seja, por esporte, mas, ao centro, há pequenas cabines com monitores de televisão onde é possível ver fotos, ouvir áudios das mais diferentes olimpíadas e assistir a vídeos com reportagens, jogos e outros fatos históricos esportivos.
No que tange aos espaços físicos, se resumem a essas disposições nos três andares, seja no primeiro ou nos dois subsolos. O fato de haver harmonia e características claras de como os objetos estão dispostos e como a exposição pode ser vista, ajuda e muito em termos de acessibilidade, pois é fundamental para a orientação de uma pessoa cega ou com baixa visão.
Quando o quesito são as informações sobre o museu, a acessibilidade continua excelente. Em todos os locais existem informações referentes a localização e aos textos sobre os esportes e personalidades apresentados. Todos os painéis contam com textos em espanhol, catalão e inglês, o que demonstra a possibilidade de comunicarem-se nos diferentes e principais idiomas usados pelos turistas e habitantes de Barcelona.
Mais do que isso, todas as informações estão em totens com excelente contraste – fundo preto e letras brancas. O tamanho das letras é bem grande, e aliados à iluminação bem colocada permitem que uma pessoa com baixa visão leia tudo sem qualquer problema. Tal só é possível também, porque esses totens estão à altura dos olhos de uma pessoa com estatura mediana.
Para ajudar ainda mais no processo de acessibilidade e sensibilização do visitante com deficiência visual, em quase todas as apresentações dos diferentes esportes, há pelo menos um objeto que pode ser tocado, e na imensa maioria deles são mais de dois artefatos que podem ser tateados.
Muita coisa pode ser tocada, de réplicas de diferentes estádios olímpicos, seja da era antiga ou moderna, até objetos como sapatilhas originais de corredores famosos. A imensa maioria dos artefatos são reproduções, mas todas feitas com a mesma textura, cores, formas e com os mesmos materiais das originais.
Além daqueles que já citei, podem ser tocados também aparelhos de arco e flecha, futebol, ginástica artística, basquete – destaque especial para os tênis de Michael Jordan –, e de outros esportes menos tradicionais no Brasil como Hóquei sobre Grama, Esgrima, Rugby e outros.
Por fim, há uma sala dedicada exclusivamente às Olimpíadas de Barcelona, em 1992. Assim como nas demais a imensa maioria dos objetos podem ser tocados, dentre elas, réplicas da tocha olímpica, do mascote dos jogos e artefatos usados por alguns atletas.
Contudo, o maior destaque fica para as peças originais dos figurinos usados nas cerimônias de abertura e encerramento. Há também os originais de muitos adereços usados nessas cerimônias, o que ajuda a ter uma noção muito grande do que está sendo exposto, além de prover a sensibilização que sempre é desejada pelas pessoas com deficiência. Isso porque, mais do que acessibilidade ser fonte de informação, também é fundamental para a compreensão, fruição e sensação daquilo que se está vivenciando.
E, para finalizar, o audioguia é um capítulo à parte no que diz respeito à acessibilidade no Museu Olímpico. O produto oferecido tem excelente qualidade sonora, e os textos narrados, igualmente. Em algumas das vinte faixas, dois atletas paralimpicos relatam algumas de suas experiências e sensações quanto ao esporte e a importância do mesmo em suas vidas.
Esses relatos ajudam muito a sensibilizar, a promover processos de identificação e imersão daquele que ouve com a exposição, além de ser um ponto de vista diferente e incomum sobre o esporte.
Aliando isso ao conjunto de informações disponibilizados no material em áudio, o entendimento da exposição é facilitado. O roteiro é muito bem escrito e repleto de informações e referências imagéticas, ajudando na compreensão daqueles que não enxergam ou enxergam pouco.
Além de informações sobre os esportes, sobre as fotografias em cada parte específica e sobre os objetos expostos, o audioguia traz orientações espaciais como o local em que a pessoa está, quantos passos deve dar e em que direção ela deve ir para chegar até o item seguinte. É excelente a riqueza de detalhamento com que isso é feito, desde as descrições das dimensões, formas, cores e texturas até a demonstração das sensações e emoções que objetivam provocar.
Tal é possível também diante da narração que contem bastante diversificações nas entonações que levam à sensibilização do ouvinte. Prova disso é que mesmo ouvindo em espanhol, consegui compreender absolutamente tudo que foi dito.
Enfim, creio que a acessibilidade nesse museu é excelente, a melhor que já tive oportunidade de presenciar. É possível que uma pessoa cega ou com baixa visão vá e desfrute sozinha e com autonomia. Permite que essa pessoa toque, ouça e sinta a exposição, o que lhe proporciona informação e emoção. Esse é o caminho da acessibilidade que devemos trilhar: informação, emoção e participação das pessoas com deficiência, e que sigamos esse exemplo para a acessibilidade cultural no Brasil.


Descrição da foto
Do lado direito, e de costas, estou com uma camisa xadrex nas cores cinza, branco e vermelho, além de um capuz azul escuro.
Ao centro. e a minha frente, três espadas usadas para esgrima. Com a mão esquerda toco a terceira, da direita para a esquerda.
Acima e ao lado da base das espadas, há uma mascara usada por esgrimistas.
Fim da descrição

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