Essa foi
uma das experiências mais emocionantes e repletas de conhecimento que tive, pois
se trata de um lugar quase plenamente acessível, a começar pelo transporte
coletivo. Não por ser perto do centro da cidade, pois fica um pouco afastado,
na região da montanha Montjuic.
Só há uma
linha de ônibus que leva até a região, mas como faz um trajeto transversal na
cidade, é possível usar diferentes linhas de metrô e ônibus para chegar até
essa linha de coletivo e fazer a baldeação com segurança e autonomia. E como a
maioria das estações de trem e pontos de ônibus conta com acessibilidade,
chegar até lá fica mais fácil. A linha 55 deixa os passageiros exatamente em
frente ao museu.
O prédio
não conta com piso tátil na parte externa ou interna, mas não há nenhum obstáculo
perigoso na entrada do mesmo. Existe uma rampa e uma porta ampla pela qual as
pessoas com deficiência têm a possibilidade de se locomover com segurança e
autonomia.
Logo na entrada,
há um guichê de atendimento onde o visitante paga a entrada – pessoas com
deficiência têm 20% de desconto – e aluga o audioguia. Caminhando cerca de
vinte metros chega-se ao inicio da exposição. No primeiro piso há exposição
sobre os diferentes tipos de esporte, sejam eles olímpicos ou não.
Há uma
espécie de divisórias separando cada esporte apresentado. Os primeiros espaços
se dedicam a contar as histórias das olimpíadas da Idade Antiga, e como eram as
competições naquela época. Em seguida, apresentam fotos, áudios e vídeos das
primeiras edições das olimpíadas da era moderna, em 1896, recriada pelo Barão
de Coubertin. Logo após o panorama histórico, começam os esportes especificamente.
Cada uma
dessas divisórias que havia explicado antes, na lateral esquerda do visitante, e
na medida em que se vai avançando na exposição indo para frente, se vai
descendo ao subsolo, pois como o prédio é adaptado não existem escadas, apenas
rampas, elevadores e escadas rolantes – essas usadas apenas para a exposição
temporária, fora da sala principal do museu.
No subsolo é possível encontrar as
mesmas divisões do andar de cima, ou seja, por esporte, mas, ao centro, há
pequenas cabines com monitores de televisão onde é possível ver fotos, ouvir
áudios das mais diferentes olimpíadas e assistir a vídeos com reportagens,
jogos e outros fatos históricos esportivos.
No que
tange aos espaços físicos, se resumem a essas disposições nos três andares,
seja no primeiro ou nos dois subsolos. O fato de haver harmonia e
características claras de como os objetos estão dispostos e como a exposição
pode ser vista, ajuda e muito em termos de acessibilidade, pois é fundamental
para a orientação de uma pessoa cega ou com baixa visão.
Quando o
quesito são as informações sobre o museu, a acessibilidade continua excelente.
Em todos os locais existem informações referentes a localização e aos textos
sobre os esportes e personalidades apresentados. Todos os painéis contam com
textos em espanhol, catalão e inglês, o que demonstra a possibilidade de
comunicarem-se nos diferentes e principais idiomas usados pelos turistas e
habitantes de Barcelona.
Mais do que
isso, todas as informações estão em totens com excelente contraste – fundo
preto e letras brancas. O tamanho das letras é bem grande, e aliados à
iluminação bem colocada permitem que uma pessoa com baixa visão leia tudo sem
qualquer problema. Tal só é possível também, porque esses totens estão à altura
dos olhos de uma pessoa com estatura mediana.
Para ajudar
ainda mais no processo de acessibilidade e sensibilização do visitante com
deficiência visual, em quase todas as apresentações dos diferentes esportes, há
pelo menos um objeto que pode ser tocado, e na imensa maioria deles são mais de
dois artefatos que podem ser tateados.
Muita coisa
pode ser tocada, de réplicas de diferentes estádios olímpicos, seja da era antiga
ou moderna, até objetos como sapatilhas originais de corredores famosos. A
imensa maioria dos artefatos são reproduções, mas todas feitas com a mesma
textura, cores, formas e com os mesmos materiais das originais.
Além
daqueles que já citei, podem ser tocados também aparelhos de arco e flecha,
futebol, ginástica artística, basquete – destaque especial para os tênis de
Michael Jordan –, e de outros esportes menos tradicionais no Brasil como Hóquei
sobre Grama, Esgrima, Rugby e outros.
Por fim, há
uma sala dedicada exclusivamente às Olimpíadas de Barcelona, em 1992. Assim
como nas demais a imensa maioria dos objetos podem ser tocados, dentre elas, réplicas
da tocha olímpica, do mascote dos jogos e artefatos usados por alguns atletas.
Contudo, o
maior destaque fica para as peças originais dos figurinos usados nas cerimônias
de abertura e encerramento. Há também os originais de muitos adereços usados
nessas cerimônias, o que ajuda a ter uma noção muito grande do que está sendo
exposto, além de prover a sensibilização que sempre é desejada pelas pessoas
com deficiência. Isso porque, mais do que acessibilidade ser fonte de
informação, também é fundamental para a compreensão, fruição e sensação daquilo
que se está vivenciando.
E, para
finalizar, o audioguia é um capítulo à parte no que diz respeito à
acessibilidade no Museu Olímpico. O produto oferecido tem excelente qualidade
sonora, e os textos narrados, igualmente. Em algumas das vinte faixas, dois
atletas paralimpicos relatam algumas de suas experiências e sensações quanto ao
esporte e a importância do mesmo em suas vidas.
Esses
relatos ajudam muito a sensibilizar, a promover processos de identificação e
imersão daquele que ouve com a exposição, além de ser um ponto de vista
diferente e incomum sobre o esporte.
Aliando
isso ao conjunto de informações disponibilizados no material em áudio, o
entendimento da exposição é facilitado. O roteiro é muito bem escrito e repleto
de informações e referências imagéticas, ajudando na compreensão daqueles que
não enxergam ou enxergam pouco.
Além de
informações sobre os esportes, sobre as fotografias em cada parte específica e
sobre os objetos expostos, o audioguia traz orientações espaciais como o local
em que a pessoa está, quantos passos deve dar e em que direção ela deve ir para
chegar até o item seguinte. É excelente a riqueza de detalhamento com que isso
é feito, desde as descrições das dimensões, formas, cores e texturas até a
demonstração das sensações e emoções que objetivam provocar.
Tal é
possível também diante da narração que contem bastante diversificações nas
entonações que levam à sensibilização do ouvinte. Prova disso é que mesmo
ouvindo em espanhol, consegui compreender absolutamente tudo que foi dito.
Enfim, creio que a acessibilidade
nesse museu é excelente, a melhor que já tive oportunidade de presenciar. É
possível que uma pessoa cega ou com baixa visão vá e desfrute sozinha e com
autonomia. Permite que essa pessoa toque, ouça e sinta a exposição, o que lhe
proporciona informação e emoção. Esse é o caminho da acessibilidade que devemos
trilhar: informação, emoção e participação das pessoas com deficiência, e que
sigamos esse exemplo para a acessibilidade cultural no Brasil.
Descrição da foto
Do lado direito, e de costas, estou com uma camisa xadrex nas cores cinza, branco e vermelho, além de um capuz azul escuro.
Ao centro. e a minha frente, três espadas usadas para esgrima. Com a mão esquerda toco a terceira, da direita para a esquerda.
Acima e ao lado da base das espadas, há uma mascara usada por esgrimistas.
Fim da descrição
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