O Museu de História da Catalunha está situado às margens da
praia de Barceloneta, e por isso tem uma grande quantidade de ônibus e trens
para chegar até lá, já que se trata de uma região turística e de muito
movimento na cidade.
As estações
de ônibus e metrô contam com acessibilidade para pessoas com baixa visão, pois
possuem letreiros grandes nos pontos e a numeração e nome dos coletivos também,
por isso relativamente legíveis. Os elevadores que levam aos diferentes andares
das estações do metrô contam com sinais e avisos sonoros e em braile para que a
pessoa com deficiência visual consiga ter autonomia em sua locomoção. Os pisos
podotáteis direcionam dos elevadores e escadas até as plataformas sem qualquer
tipo de obstáculos.
Encontrar o
museu é um tanto difícil, pois ele fica em um prédio grande cuja entrada é pela
lateral, além das sinalizações não serem as adequadas e não haver piso tátil
que ajude a pessoa cega a ir sozinha. E, as dificuldades não terminam quando se
entra no local, pois não há nenhum recurso de acessibilidade, nem sequer
audioguia para a exposição.
Talvez por
isso, as pessoas com deficiência pagam um valor reduzido pela entrada e tem
direito a um acompanhante cuja entrada é franqueada. Nesse caso, a pessoa cega
ou com baixa visão não possui acessibilidade que lhes permita conhecer
plenamente o museu sozinho, mas se tiverem uma companhia disposta a ajudar e
que saibam minimamente fazer descrições de imagens, as coisas melhoram
bastante.
Tive a
sorte de contar mais uma vez com a ajuda qualificada de minha esposa, Patrícia.
Pelo fato de conviver comigo há quase dez anos, já sabe como me descrever as
coisas, aquilo que eu posso ou não gostar, além de eu ter passado a ela algumas
técnicas de audiodescrição que ela aprendeu muito bem. Sua ajuda foi
fundamental para que eu pudesse conhecer o museu em todas as nuances e
desfrutar de toda a riqueza de conhecimentos que lá é possível encontrar.
As
exposições temporária e permanente, se dividem nas duas plantas do prédio
destinadas a essa finalidade. No primeiro piso se apresenta da pré-história
catalã até o ano de 1740. No piso subsequente, se encontram retratados os
períodos do ano antes referido até os dias atuais.
Ainda que
essa separação seja de fácil compreensão, o que ajuda no momento da visita, o
modo como estão dispostos os objetos e obras, não facilitam muito para uma
pessoa com deficiência visual, já que existem muitas salas pelas quais se tem
que passar, muitas fileiras de exposições que não estão em ordem ou dispostas
com as mesmas características de orientação espacial, dificultando para uma
pessoa cega se movimentar e conhecer o que está exposto sem se perder ou deixar
algo importante para trás.
Por outro
lado, embora os problemas apontados acima também sirvam para as pessoas com
baixa visão, elas podem contar com algo que ajuda bastante, que são os totens
com letras grandes e com bastante contraste. As letras são em tamanho bem
ampliado e estão escritas em branco com fundo preto, podendo ser encontradas ao
lado de quase todas as obras consideradas de suma importância, nos idiomas
catalão, espanhol e inglês.
Na linha do
tempo que está na sala da pré-história essas informações em letra grande estão
bem abaixo do campo visual de uma pessoa com altura mediana, dificultando que
se enxergue o que está escrito. Assim como o nome das obras na maioria das vezes
estão colocadas em uma altura muito baixa, e ler é um tanto complicado.
Contudo, nas peças arqueológicas existe um sistema de iluminação pelo lado de
dentro da redoma, de tal forma que ressalta as cores e formas desses objetos
ajudando na visualização.
Já os
espaços que tratam dos primeiros habitantes da Catalunha, seja com os
visigodos, com os romanos e séculos mais adiante os árabes, contam com os
referidos totens que facilitam a visualização e conhecimento das obras.
Há também
reproduções que podem ser tocadas, como algumas estátuas romanas, a maquete de
uma cidade catalã no período romano e outros objetos que retratam a vida
cotidiana naquela época como os sistemas de irrigação árabe, as oficinas de
cerâmica e bronze dos romanos e reproduções de templos e objetos religiosos.
Algumas
instalações eram interativas, como uma sala que retratava uma igreja cristã do
século X ou uma armadura de soldado romano que poderia ser vestida pelo
visitante. Essas formas de interatividade e contato com os fatos históricos se
repete com mais intensidade e em maior número no segundo piso onde é retratada
a história da Catalunha pós 1740.
Subindo ao
segundo piso, o destaque fica a cargo das lutas pela independência da
Catalunha, contra a monarquia e nos complexos anos e batalhas da guerra civil.
Além disso, estão retratados aspectos cotidianos da sociedade catalã conforme o
passar das décadas, das vestimentas e objetos usados pela alta sociedade
barcelonesa até os produtos trazidos e criados na época da imigração.
Antoni Gaudi recebeu destaque especial. O arquiteto e artista mais famoso da Catalunha, e
do mundo. Com isso, se ressalta também a Barcelona das primeiras décadas do
século XX e até as reformas para as olimpíadas de 1992. Retrata a relação dos
habitantes e turistas com a cidade e suas transformações.
Há
instalações muito interessantes e das quais as pessoas com deficiência podem se
sentir ainda mais inseridas na atmosfera do museu, como a reprodução de uma pequena
sala de aula, a cabine de um bonde dos anos 1920 e os primeiros trens de
Barcelona. Porém a que mais chama a atenção, inclusive por sua carga emocional
e dramática é uma sala que reproduz um refúgio e abrigo para aqueles que
buscavam não serem atingidos nas batalhas da guerra civil espanhola e mais
adiante na Segunda Guerra Mundial.
Outras
instalações têm com menor carga de tensão e busca colocar o espectador imerso em
um tempo e espaço que apresenta, como um pequeno cinema típico dos anos 1950 e um
espaço no fim da visitação onde se pode tocar a maquete do templo da Sagrada
Família, idealizado por Gaudi e ainda em construção.
Enfim,
essas possibilidades de interatividade com os conteúdos do museu, aliado aos
diversos objetos que podem ser tocados ao longo das exposições, minimizam os
diversos problemas de acessibilidade que esse museu possui. Isso porque,
permite ao usuário com deficiência visual vivenciar muitas das situações que
não podem ver. Não podem ver, mas podem sentir e isso é uma das coisas mais
importantes na arte e na cultura.
Assim,
considero que a acessibilidade do local está longe de ser plena, mas pode ser
considerada muito boa e superior a quase todos os museus brasileiros, ainda que
necessite urgentemente de audiodescrição e de ampliação de outros recursos de
acessibilidade que possibilitariam maiores e mais intensas sensações.
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