domingo, 15 de dezembro de 2013

Bengalando em Barcelona (Visita ao Museu de História da Catalunha)



O Museu de História da Catalunha está situado às margens da praia de Barceloneta, e por isso tem uma grande quantidade de ônibus e trens para chegar até lá, já que se trata de uma região turística e de muito movimento na cidade.
As estações de ônibus e metrô contam com acessibilidade para pessoas com baixa visão, pois possuem letreiros grandes nos pontos e a numeração e nome dos coletivos também, por isso relativamente legíveis. Os elevadores que levam aos diferentes andares das estações do metrô contam com sinais e avisos sonoros e em braile para que a pessoa com deficiência visual consiga ter autonomia em sua locomoção. Os pisos podotáteis direcionam dos elevadores e escadas até as plataformas sem qualquer tipo de obstáculos.
Encontrar o museu é um tanto difícil, pois ele fica em um prédio grande cuja entrada é pela lateral, além das sinalizações não serem as adequadas e não haver piso tátil que ajude a pessoa cega a ir sozinha. E, as dificuldades não terminam quando se entra no local, pois não há nenhum recurso de acessibilidade, nem sequer audioguia para a exposição.
Talvez por isso, as pessoas com deficiência pagam um valor reduzido pela entrada e tem direito a um acompanhante cuja entrada é franqueada. Nesse caso, a pessoa cega ou com baixa visão não possui acessibilidade que lhes permita conhecer plenamente o museu sozinho, mas se tiverem uma companhia disposta a ajudar e que saibam minimamente fazer descrições de imagens, as coisas melhoram bastante.
Tive a sorte de contar mais uma vez com a ajuda qualificada de minha esposa, Patrícia. Pelo fato de conviver comigo há quase dez anos, já sabe como me descrever as coisas, aquilo que eu posso ou não gostar, além de eu ter passado a ela algumas técnicas de audiodescrição que ela aprendeu muito bem. Sua ajuda foi fundamental para que eu pudesse conhecer o museu em todas as nuances e desfrutar de toda a riqueza de conhecimentos que lá é possível encontrar.
As exposições temporária e permanente, se dividem nas duas plantas do prédio destinadas a essa finalidade. No primeiro piso se apresenta da pré-história catalã até o ano de 1740. No piso subsequente, se encontram retratados os períodos do ano antes referido até os dias atuais.
Ainda que essa separação seja de fácil compreensão, o que ajuda no momento da visita, o modo como estão dispostos os objetos e obras, não facilitam muito para uma pessoa com deficiência visual, já que existem muitas salas pelas quais se tem que passar, muitas fileiras de exposições que não estão em ordem ou dispostas com as mesmas características de orientação espacial, dificultando para uma pessoa cega se movimentar e conhecer o que está exposto sem se perder ou deixar algo importante para trás.
Por outro lado, embora os problemas apontados acima também sirvam para as pessoas com baixa visão, elas podem contar com algo que ajuda bastante, que são os totens com letras grandes e com bastante contraste. As letras são em tamanho bem ampliado e estão escritas em branco com fundo preto, podendo ser encontradas ao lado de quase todas as obras consideradas de suma importância, nos idiomas catalão, espanhol e inglês.  
Na linha do tempo que está na sala da pré-história essas informações em letra grande estão bem abaixo do campo visual de uma pessoa com altura mediana, dificultando que se enxergue o que está escrito. Assim como o nome das obras na maioria das vezes estão colocadas em uma altura muito baixa, e ler é um tanto complicado. Contudo, nas peças arqueológicas existe um sistema de iluminação pelo lado de dentro da redoma, de tal forma que ressalta as cores e formas desses objetos ajudando na visualização.
Já os espaços que tratam dos primeiros habitantes da Catalunha, seja com os visigodos, com os romanos e séculos mais adiante os árabes, contam com os referidos totens que facilitam a visualização e conhecimento das obras.
Há também reproduções que podem ser tocadas, como algumas estátuas romanas, a maquete de uma cidade catalã no período romano e outros objetos que retratam a vida cotidiana naquela época como os sistemas de irrigação árabe, as oficinas de cerâmica e bronze dos romanos e reproduções de templos e objetos religiosos.
Algumas instalações eram interativas, como uma sala que retratava uma igreja cristã do século X ou uma armadura de soldado romano que poderia ser vestida pelo visitante. Essas formas de interatividade e contato com os fatos históricos se repete com mais intensidade e em maior número no segundo piso onde é retratada a história da Catalunha pós 1740.
Subindo ao segundo piso, o destaque fica a cargo das lutas pela independência da Catalunha, contra a monarquia e nos complexos anos e batalhas da guerra civil. Além disso, estão retratados aspectos cotidianos da sociedade catalã conforme o passar das décadas, das vestimentas e objetos usados pela alta sociedade barcelonesa até os produtos trazidos e criados na época da imigração.
Antoni Gaudi recebeu destaque especial. O arquiteto e artista mais famoso da Catalunha, e do mundo. Com isso, se ressalta também a Barcelona das primeiras décadas do século XX e até as reformas para as olimpíadas de 1992. Retrata a relação dos habitantes e turistas com a cidade e suas transformações.
 Há instalações muito interessantes e das quais as pessoas com deficiência podem se sentir ainda mais inseridas na atmosfera do museu, como a reprodução de uma pequena sala de aula, a cabine de um bonde dos anos 1920 e os primeiros trens de Barcelona. Porém a que mais chama a atenção, inclusive por sua carga emocional e dramática é uma sala que reproduz um refúgio e abrigo para aqueles que buscavam não serem atingidos nas batalhas da guerra civil espanhola e mais adiante na Segunda Guerra Mundial.
Outras instalações têm com menor carga de tensão e busca colocar o espectador imerso em um tempo e espaço que apresenta, como um pequeno cinema típico dos anos 1950 e um espaço no fim da visitação onde se pode tocar a maquete do templo da Sagrada Família, idealizado por Gaudi e ainda em construção.
Enfim, essas possibilidades de interatividade com os conteúdos do museu, aliado aos diversos objetos que podem ser tocados ao longo das exposições, minimizam os diversos problemas de acessibilidade que esse museu possui. Isso porque, permite ao usuário com deficiência visual vivenciar muitas das situações que não podem ver. Não podem ver, mas podem sentir e isso é uma das coisas mais importantes na arte e na cultura.
Assim, considero que a acessibilidade do local está longe de ser plena, mas pode ser considerada muito boa e superior a quase todos os museus brasileiros, ainda que necessite urgentemente de audiodescrição e de ampliação de outros recursos de acessibilidade que possibilitariam maiores e mais intensas sensações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário