Os gaúchos têm como uma de suas características culturais o
fato de serem binaristas, ou se é Maragato ou chimango, gremista ou colorado,
da direita ou da esquerda, e quem ousa não estar de nenhum dos lados, acaba mal
visto por ambos. Pior do que viver em um lugar assim, é perceber que o mundo
inteiro anda seguindo esses passos tão perigosos.
Cada vez mais é preciso ter opinião
sobre tudo, não se tem mais o direito de não ter uma posição absoluta sobre
determinados assuntos tidos como polêmicos. Mais ainda, as pessoas acreditam em
tudo que leem nas redes sociais, firmam posições baseadas em notícias falsas, em
meias verdades ou em algo que tem apenas a credibilidade dos “likes” recebidos.
Sempre fui
um sujeito conhecido por ter opiniões claras – certas ou erradas, cabe a cada
um julgar -, e de tanto opinar sobre tudo, meus amigos e conhecidos sempre
querem saber o que penso sobre esse ou aquele tema. Muitas vezes essa
curiosidade era para ver o “circo pegar fogo”, e foram várias as situações em
que derrapei ao me posicionar sobre algo que eu deveria ter calado. Ou seja,
falava demais, opinava demais, julgava demais e refletia de menos.
Com o
tempo, e com o que as experiências me ensinaram aprendi que não preciso ter um
lado sem ver o outro, e que é preciso pensar bastante sobre os diversos pontos
de vista antes de formar uma ideia, e mesmo assim, sempre deixar um espaço para
a mudança de opinião, se for o caso. Aprendi que às vezes é melhor a dúvida
curiosa que a certeza sólida.
Percebo que
as redes sociais são os terrenos mais férteis para esse “imperativo da opinião
sobre tudo”, já que temos à nossa disposição as tribunas que antes não tínhamos
chances de usar. Atualmente, podemos falar para o mundo inteiro, mesmo que ele
não nos ouça e pouco se importe com o que digamos. Se antes era tão difícil
expressar a própria opinião para que “todos” soubessem, hoje é fácil emitir uma
posição sobre qualquer coisa, o complicado é que cada vez são mais rasas e
efêmeras.
Ultimamente,
os temas polêmicos inundam a web e as relações fora da rede, embora cada vez
mais atuemos como se nela estivéssemos sempre. Ter uma opinião contrária a
alguém é tê-lo quase que como um “inimigo mortal”, como se as pessoas de
posturas diferentes não pudessem conviver com respeito umas pelas outras. Creio
ser mais prudente discutir a ideia e não as pessoas que as proferem.
Tive
diversas oportunidades em que discordei de muitas pessoas nesses casos
polêmicos, inclusive de amigos próximos, e nem por isso os ofendi por pensarem
de maneira antagônica da minha. Até porque, eu prefiro debater com alguém que
não pense como eu, mas que seja inteligente e me traga algo de bom, do que
alguém que pense como eu, porém, que não tenha a capacidade de me agregar
conhecimento. Olha eu aqui sendo binarista, mas essa foi proposital para ver se
o leitor estava atento.
O fato é que
quanto mais o tempo passa, menos açodado sou em falar sobre minhas opiniões.
Prefiro refletir bastante, ver o
desenrolar dos fatos e até me
informar muito mais sobre um tema, para depois explanar algo caso seja de fato
necessário ou que eu tenha argumentos muito consistentes para fazê-lo. Já não
tenho mais paciência ou vontade de me deter em certas discussões.
Nesse caso, acho que nos deve ser
dado o benefício da dúvida ou de pelo menos calar quando achar conveniente,
seja qual for o motivo. Há inúmeros temas que não tenho posição estabelecida,
como ser a favor ou contra o aborto, por exemplo. Existem argumentos fortes de
todos os lados e como não tenho conhecimento e nem refleti o suficiente, não
sairei pelas redes sociais dizendo isso ou aquilo, usando mais de emoção do que
de razão.
Assim, em
tempos onde a gente é estimulado a falar sobre tudo, a se posicionar
radicalmente sobre qualquer coisa, será que não valeria a pena refletir sobre o
quão saturado isso tudo está ficando? Talvez o importante seja ter em conta que
todos temos limitações, que não somos obrigados a ter certeza sobre tudo o
tempo todo. Afinal, as duvidas e incertezas são os ventos que fazem girar os
moinhos da nossa existência.
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