Fazer escolhas faz parte da vida de cada um de nós, e isso
não é novidade para ninguém. Estamos sempre decidindo ir para a direita ou para
a esquerda, usar a camisa azul ou preta, e outras centenas a cada dia. Mas há
aquelas que podem mudar as nossas vidas de maneira quase definitiva, e a
mudança faz parte da vida, lidar com elas acaba sendo a parte mais difícil.
Não estaria escrevendo nenhuma novidade dizendo que fazer
escolhas é um ato quase tão comum quanto respirar. No entanto, algumas delas
pouco ou nada influenciam diretamente nos rumos das nossas vidas, ao menos a
priori, pois muitas delas consideradas insignificantes podem salvar as nossas
vidas, conforme o contexto em que ocorrem.
Quantos casos conhecemos de gente que adiou uma viagem e não
morreu em determinado acidente, que na ultima hora resolveu ficar em casa e se
safou de um problema mais grave. Porém, esses casos são exceção e eu trato
muito mais como coisas do transcendental do que da ordem normal dos
acontecimentos.
Na adolescência, muitos foram como eu e tomavam atitudes
impetuosas e até impensadas, sem refletir sobre muitos dos caminhos que estava
tomando. Muitos deram certo, outros nem tanto. No meu caso foi ainda pior,
porque como um ansioso contumaz agia mais por impulso do que por convicção.
Contudo, se há algo que trago dessa época é que nunca me furtei de tomar
atitudes, de ser coerente com as mesmas e se fosse o caso, reconhecer o erro.
Atualmente, tendo passado dos 30 anos, já não tenho mais a
ansiedade e a voracidade impetuosa de antes. Penso mais no futuro do que nos
próximos vinte minutos, e tenho consciência de que tudo que eu fizer terá consequências
para a minha família e que agora talvez seja preciso ser mais certeiro do que
intenso.
Não deixei de ter minhas posições, cada vez menos radicais,
é verdade – embora a fama de nervosinho ainda paire sobre mim -, mas sempre de modo coerente, ainda que sempre
pensando não mais em mim, mas no contexto que me cerca. Acho que isso tem feito
com que eu saiba melhor os objetivos que traço para meu futuro.
Lembro que quando estive em Barcelona, percebi que lá as
pessoas vivem com mais tranquilidade e sem a correria que temos aqui.
Conversando com uma amiga, perguntei qual era o motivo e como eles conseguiam
viver sem ser acelerados. Ela me respondeu que tudo é uma questão de escolha,
você pode fazer tudo, ou fazer só o que acha que é necessário e te faz feliz.
Muita gente tem medo de tomar posições ou de fazer escolhas,
prefere que a vida se encarregue, ou pior, joga a responsabilidade por seus
próprios atos na mão de terceiros. Isso pode dar um conforto inicial, ou até
mesmo gerar alívio por não ter que se comprometer em ter um lado. Todavia, até
que ponto agir assim não é enganar a si mesmo? Jogar sua felicidade na mão dos
outros não seria quase o mesmo que estar morto em vida?
Estar certo ou errado é parte do processo, ninguém vai
passar pela vida sem cometer equívocos ou sofrer derrotas – muitas delas
injustas. A questão está em agir com convicção e com o coração, um sem o outro
é pouco produtivo. E mais do que isso, assumir a responsabilidade por seus atos
é sinal de maturidade.
Nos últimos meses, passei por tempos em que precisei fazer
escolhas e decidir de que lado eu queria ficar, que trajetória desejava para a
mim e se eu ficaria com meus princípios ou com o sucesso. Escolhi o primeiro, e
não me arrependo disso por mais que isso demande uma série de situações
complexas, mas estou em paz comigo mesmo.
As escolhas que tive a fazer – e não foram poucas – tiveram
cada uma delas suas consequências, por serem situações muito serias e que
mudariam substancialmente minha vida presente e futura. Poucas vezes estive
imerso em tamanha complexidade de decisões, mas foi então que percebi o quanto
tinha crescido como pessoa.
Tudo que fiz foi depois de diversas noites de reflexão,
nenhum ato impensado ou tomado no calor do momento. Sabia que precisava
escolher qual trajeto seguir, e não optei pelo mais fácil, mas por aquele que
acho que me fará feliz. Se vai dar certo eu não sei, mas que eu fico em paz
quando vou dormir, isso é certo.
Precisei analisar não somente o que iria me beneficiar a
curto prazo, mas aquilo que eu queria para o restante da minha humilde existência.
Notei que as percepções que tenho sobre aquilo que me faz feliz estão corretas
e que precisava mudar para que algumas delas ficassem ainda melhores.
Para muitas pessoas a mudança causa medo ou até pânico, e eu
não posso negar que sinto medo e até tristeza com algumas mudanças que
acontecerão na minha vida, como por exemplo concluir o doutorado e ter que sair
da UFRGS – ficando afastado das pessoas e de lugares que amo. Sim, eu tenho
medo das mudanças, no entanto, eu não me deixo sucumbir pelos meus medos.
Sempre que passamos por mudanças que envolvem afetos tudo se
torna mais complicado e doloroso, mas seguir adiante é preciso, porque os
amigos podem eventualmente estar longe, mas jamais ficarão distantes. Muitas
vezes o problema não está na incerteza do futuro, mas em deixar um passado de alegrias.
Isso porque, se a gente não pode mudar o passado, o futuro está nas mãos de
cada um de nós, e não depende de mais ninguém sermos ou não felizes.
Não estou querendo prescrever uma receita ou ficar contando
dos meus medos, mas acho que uma reflexão sobre as escolhas que fazemos é
sempre salutar. Não conheço nenhum caso onde a acomodação não tenha gerado
acumulo de frustrações, então prefiro errar por ter tentado mudar, do que
assistir inerte ao que me faz mal.
Saber o que dará certo ou não é algo que depende de diversos
fatores, não apenas de nossa vontade. O que a gente pode fazer é arriscar,
buscar o que nos faz bem e que temos a convicção de que é o melhor. Ter a noção
de que não temos pleno controle sobre o que nos acontece é libertador por
retirar uma carga de responsabilidade que não nos pertence, é também um ato de
humildade, afinal, nós não somos o centro do universo ou donos do mundo.
Seja como for, nós somos as escolhas que fazemos e arcamos
com cada um de nossos atos. Pior do que decidir errado é deixar que a maré nos
leve, e que o acaso nos proteja, como diz o cancioneiro. Mudar dói, mas não
mata, e o que não nos mata, nos fortalece.
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