Dia 11 de outubro passado, o Ministério Público Federal obteve êxito
no Tribunal Regional Federal de Brasília em uma ação movida contra o
Ministério das Comunicações para a retomada do cronograma de implantação
da audiodescrição na televisão brasileira, estabelecida na Portaria
310, no ano de 2006, quando foi determinado que cada emissora deveria
exibir 2 horas diárias de audiodescrição, aumentando 2 horas por ano até
se chegar aos 100% da programação.
Após forte pressão das concessionárias dos serviços de radiodifusão, a
Portaria foi cancelada pelo Ministério das Comunicações que, atendendo
apenas aos argumentos das emissoras de TV, emitiu a Portaria 188, em
2010, que estabelecia um cronograma muito diferente do anterior: 2 horas
semanais de audiodescrição, ampliadas a cada dois anos até se chegar a
20 horas semanais de programação audiodescrita.
A ação do MPF objetiva a retomada do cronograma promulgado em 2006,
depois de amplo debate com todos segmentos sociais. Conforme o
Ministério Público, a portaria emitida pelo Ministério das Comunicações
em 2010 configura supressão de direitos adquiridos na Norma Complementar
01/2006, promulgada pelo próprio MiniCom.
Na decisão judicial, o relator, desembargador Souza Prudente,
argumenta que, conforme estabelece o Supremo Tribunal Federal, não pode
haver retrocesso em direitos fundamentais adquiridos e que o não
cumprimento da Portaria 310 fere o direito de isonomia no acesso aos
meios de radiodifusão. A decisão do tribunal foi unânime em favor do
Ministério Público.
Assim, o Ministério das Comunicações tem 60 dias, a contar da
intimação, para emitir Portaria retomando o cronograma estabelecido em
2006. O não cumprimento gerará multa e outras sanções.
Tendo em vista tais acontecimentos, a Tagarellas Audiodescrição
manifesta apoio integral ao Ministério Público Federal na ação pela
retomada do cronograma original de implantação da audiodescrição na
televisão brasileira. Estamos à disposição para lutar pela consolidação
dessa vitória conquistada pela sociedade brasileira. Reafirmamos nosso
compromisso de trabalhar ao lado de todos que defendam os direitos à
acessibilidade.
Acreditamos que a audiodescrição é um recurso fundamental para a
aquisição de informação, conhecimento e entretenimento por parte
daqueles que a utilizam. E quanto maior a oferta, maiores serão as
possibilidades para que as pessoas estejam cada vez mais incluídas
cultural e socialmente.
Segundo dados apurados no Censo 2010, o Brasil tem mais de 45 milhões
de pessoas com deficiência, 23,9% da população. Desse contingente, pelo
menos 36 milhões de cidadãos têm deficiência visual e são beneficiários
potenciais da audiodescrição. E todo brasileiro tem direito ao pleno
acesso a qualquer meio de comunicação. Considerando que a televisão
alcança quase todos os lares nacionais, torna-se um poderoso instrumento
de inserção na cultura e no entretenimento.
Mais do que expressar nosso engajamento, gostaríamos que nossos
amigos e parceiros também fizessem parte dessa luta, reforçando a
propagação dessas reivindicações por meio das redes sociais, do contato
direto, das entidades representativas e de tantos outros meios capazes
de legitimar a defesa de direitos universais adquiridos. Nós acreditamos
que proporcionar protagonismo às pessoas com deficiência é a melhor
forma de tornar o mundo mais acessível e sensível à diferença. Isso
também estará mais próximo de ser alcançado se todos reivindicarmos o
cumprimento efetivo dessa e de outras tantas leis que garantem direitos à
acessibilidade. Fundamentalmente, queremos lutar com – e não só para –
as pessoas com deficiência.
Esperamos que as autoridades competentes, especialmente o Ministério
das Comunicações, e as emissoras concessionárias de radiodifusão
brasileira conscientizem-se da importância e do potencial da
audiodescrição, que proporciona aos usuários pleno acesso à cultura e ao
entretenimento, essenciais à efetiva inclusão. E que pode, diante dos
números da deficiência no País – mesmo desconsiderando inteiramente que
não são as pessoas com alguma limitação visual as únicas beneficiadas
pela programação televisiva audiodescrita -, ampliar significativamente a
audiência de qualquer canal, fato que, todos sabemos, está diretamente
relacionado à multiplicação das receitas de publicidade. Não há dúvida:
acessibilidade na tevê faz bem para todo mundo.
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