Escrevo com uma alegria tão grande quanto a aperto que me toma o peito. Sim, pois fechei com chave de ouro minhas atividades antes de vir pro doutorado sanduíche em Barcelona, ao participar do I Seminário de Tecnologias Assistivas e Cidadania da Pessoa com Deficiência Visual, ocorrido em Floripa e promovido pela ACIC e FECEC. Digo que tive esse aperto no peito pois afinal de contas aquilo que nos marca e nos faz feliz, sempre que acaba deixa saudades.
Teria muito a dizer sobre tudo que acompanhei e os belos debates que pude presenciar e que certamente produzirão muitos frutos. Mas, devo começar falando sobre a organização do evento. Seja como palestrante ou ouvinte no evento fiquei muito bem impressionado com a qualidade da organização, tudo o que foi acordado foi cumprido (algo não muito comum nos dias de hoje), situações inesperadas os que poderiam causar embaraço foram resolvidas com uma eficiência que eu confesso que nunca presenciei, e olha que eu já fui a muitos congressos.
O evento foi concebido, organizado e gerenciado quase totalmente por pessoas cegas ou com baixa visão, e isso foi uma das coisas que mais me deixou feliz. Afinal, dizem por ai que nós somos coitados, que não podemos assumir cargos de liderança e não temos condições de fazer as coisas por nós mesmos, pois ém placar atual: Cegos 1 a 0 na sociedade. Parabenizo aqui todos que participaram da organização, personificando no presidente da ACIC, o senhor Jairo da Silva, a quem agradeço a honra de participar de um evento que na minha opinião foi revolucionário.
Fiz minha palestra substituindo o amigo Paulo Romeu Filho, e falei sobre a audiodescrição no Brasil, fazendo um breve histórico, falando sobre as perspectivas atuais e futuras. Procurei demonstrar que a AD está em expansão no Brasil, mas que ainda há muito a ser feito para seu desenvolvimento. Falei também sobre as possibilidades da audiodescrição nos diferentes ambientes culturais, eventos sociais e na TV. Tentei ser o mais didático e descontraído possível - como sempre - mas sem perder o foco principal do que eu gostaria de deixar como recado para a plateia.
O que eu mais queria que cada um refletisse é que o desenvolvimento e aumento da oferta de AD também depende de cada um de nós, não só dos audiodescritores, das associações de cegos ou legisladores. Se cada pessoa com deficiência visual for pelo menos uma vez por semana em um ambiente cultural reivindicar AD, demonstraremos a pujança, a necessidade premente e a viabilidade mercadológica do recurso.
Sem que tenhamos combinado, a imensa maioria dos palestrantes tocou no mesmo ponto de que nós pessoas com deficiência visual devemos assumir o protagonismo de nossas ações, de nos empoderarmos de nossas necessidades e de nossas possibilidades de ação. Temos que agir se quisermos que algo aconteça.
O que me deixou mais feliz ainda foi perceber que no seminário tínhamos muitos cegos e pessoas com baixa visão na faixa etária dos 30 anos para baixo, isso significa que a galera mais jovem já está se conscientizando de chamar a responsabilidade para si e trabalhar no sentido de derrubar as barreiras existentes. Como vontade não basta e é preciso conhecimento para fazer acontecer, fico ainda mais alegre em ver que meus colegas de idade e de condição estão cada vez mais buscando se aprimorar e a refletir sobre o que nós podemos e até onde podemos chegar.
Outra situação que me deixou com o coração repleto de alegria foi reencontrar e conhecer pessoas que eu tanto admiro. Reencontrei os amigos Beto Pereira e Diniz (que por sinal está se tornando um magnata das comunicações com a rádio Mundo Cegal), conheci no evento os queridos amigos de twitter e de rádio Mundo Cegal, o grande Luidi e as estimadas Karol Salles (a mc do evento) e Aldrey Riechel (que me deu a tão sonhada bala de limão). Foi uma pena ter conversado com eles bem menos do que eu gostaria, ainda mais que agora ficarei um tempo fora do país.
Sentirei saudade das produtivas discussões em torno das temáticas da deficiência visual e das nossas possibilidades de ação frente as novas configurações sociais. Porém, do que mais sentirei saudade e da identificação que tive com o evento e com as pessoas que lá estavam, pois é tão bom se sentir em casa, se sentir entre os seus.
É emocionante me lembrar daquele monte de bengalas circulando juntas e a sensação de que aquele era também o meu lugar. Para quem passa a vida toda se sentindo um estranho no ninho, essa sensação é a mais emocionante e inesquecível que alguém pode ter. Se o evento acontecer no mesmo período do ano, eu já estarei de volta e farei questão de participar e me sentir em casa novamente!
Olá Felipe!!
ResponderExcluirCompartilho das suas palavras,as minhas.
Me senti comtemplada com sua perfeita descrição.
E digo mais,não sou a mesma depois deste Seminário.
Parabéns por seu trbalho,admiro-te.
Boa sorte em seus estudos!
Daiane Mantoanelli
Blumenau-SC
Muito obrigado por seu comentário.
ResponderExcluirDesculpe demorar para ler, mas como estava de mudança, tive um tempo fora do blog, mas grato por suas palavras e esperançoso que tenhamos mais e mais seminários como esses.