Estou inaugurando uma nova série no blog por conta de meu Doutorado Sanduíche na apaixonante Barcelona. Já escrevi antes como sempre tive a vontade de fazer doutorado sanduíche e passar um tempo estudando fora do Brasil. Isso além de me dar currículo, está me dando uma experiência de vida inigualável.
Foram 3
anos desejando e batalhando para chegar até aqui. Tive muitas dificuldades no
que diz respeito aos processos burocráticos e de acessibilidade aos locais e
procedimentos a serem efetuados. Não sei se já houve algum doutorado com
deficiência visual a fazer Doutorado Sanduíche, mas se houve ele não escreveu
em nenhum blog ou livro os registros dessas aventuras, pois procurei por mais
de um ano e meio por essa informação.
Seja como
for, eu espero inspirar e ajudar a outros colegas cegos e com baixa visão que
estejam desejando fazer seu sanduíche, Talvez eu não vá livrar ninguém de
algumas roubadas, mas espero cumprir com meu compromisso social de bolsista e
repassar muitas informações interessantes e relevantes a todos, mas principalmente
aos meus amigos com deficiência visual.
Para
começar essa aventura foram necessários dezenas de procedimentos burocráticos
sucessivos e que sinceramente são uma maratona física e de paciência. É verdade
que tudo tem que correr com transparência e nos trâmites legais corretos, mas
custa muito resumir isso e ter efetividade? O fato é que a burocracia foi o
maior dos meus problemas. Não vou nem mencionar os entraves que tive por conta
da incompetência, indolência e burocratização por parte de alguns funcionários
públicos.
Os
documentos que tive que entregar na universidade e enviar à CAPES foram mais de
uma dezena e, pior do que isso nenhum deles me foi fornecido com fontes
ampliadas. Ou seja, para preencher aquele mar de informações é um pouco difícil
e precisei da ajuda de outras pessoas para preencher sem rasurar. As letras são pequenas e os espaços para
preencher menores ainda. Mais do que isso, os documentos são em PDF o que
impede uma adequada leitura por conta dos sintetizadores de voz.
Felizmente,
minha esposa Patrícia aceitou o desafio de vir comigo, o que tem me ajudado de
maneira inimaginável, pois sem ela, nesse inicio acho que eu não daria um passo
sem me perder. A ajuda de uma pessoa próxima sempre é importante nessas horas e
se não fosse ela tudo seria mais difícil em todos os sentidos.
No nosso
caso, tivemos que fazer visto de permanência, já que a Espanha o exige para
quem passará mais de 6 meses no país. Ter acesso ás informações sobre os
documentos necessários para fazer o visto foram complicadas de encontrar, pois
o site do consulado espanhol é bem confuso e pouco acessível, repleto de
imagens e com letras pequenas.
A lista de exigências
mais parecia uma gincana impossível de ser cumprida de tantas coisas que
deverias ser feitas. De seguro saúde passando por atestado médico até atestado
de bons antecedentes com carimbo do Itamaraty. Foram nada mais do que 11
documentos para cada um de nós, desmataram uma floresta para usar todo o papel
de que precisei.
Indo à Policia
Federal fazer o passaporte começou o show de horrores. O prédio é numa ruazinha
meio escondida, com uma ladeira repleta de obstáculos no caminho. Para entrar
no edifício é preciso subir um número infindável de degraus, e não tem rampa.e
nem piso tátil.
Para se
movimentar lá dentro, pegar uma ficha e ser atendido é uma enorme confusão pois
a sinalização não é boa nem para quem enxerga. Existem muitas cadeiras e outros
obstáculos no caminho atrapalhando a circulação, guichês com letras minúsculas
e eu só descobri que era minha vez de ser atendido por estar junto com a Patrícia.
Para
conseguir meu atestado de bons antecedentes com carimbo do Itamaraty sem ir à
Brasília tive que comparecer ao “escritório” da instituição em Porto Alegre,
localizado no Centro Administrativo do Estado do rio Grande do Sul. É um
absurdo como um prédio daqueles ainda está aberto, ele é plenamente Inacessível,
nada lá é bom, desde as tentativas de se chegar dentro do edifício até a
circulação interna.
O local em
questão é um prédio enorme onde estão a maioria das secretarias de estado, e tudo
é completamente desorganizado. Para chegar onde precisava, tive que passar por
muitos labirintos, elevadores sem acessibilidade e uma quantidade maior ainda
de funcionários conversando animadamente e tomando cafezinho no horário de expediente.
O tal “escritório” é uma salinha num canto do 17º andar do prédio. Levei meia
hora para encontrar, meia hora esperando a boa vontade do funcionário em me
atender e dez segundos para o carimbo.
Feito isso,
fui ao consulado espanhol em Porto
Alegre. Finalmente um lugar acessível. Cheguei lá e logo um segurança orienta e
ajuda a chegar ao elevador – pois há piso tátil, mas com uma catraca no meio. O
elevador tem aviso sonoro e teclas em braile. Entrar no consulado foi fácil,
pois tem um andar só pra ele. Lá dentro os funcionários foram atenciosos e me
ajudaram bastante a preencher documentos e sanar minhas dúvidas.
Depois
disso tudo, foi só esperar a documentação ficar pronta e retirar. O que tinha
que fazer era aguardar o dia tão esperado chegar. Claro que eu fiz um resumo
das coisas que aconteceram e confesso que dourei a pílula um pouco pois foi bem
pior do que está descrito aqui. No entanto, posso dizer que todas essas
dificuldades podem ser vencidas, tanto é que estou aqui.
Então, continuarei
sempre atualizando e escrevendo sobre essa minha experiência de bengalar no
Velho Mundo, pois a “visão” e as sensações que tenho e terei sobre a cidade
certamente são diferentes das que se lê nos blogs de viajem pois NENHUM leva em
conta as dificuldades das pessoas com deficiência visual. Embarca nessa comigo
e vem bengalar por Barcelona!
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