Eu vejo o homem deitado na laje
fria.
Viro o rosto e disperso.
Com qualquer outra trivialidade
me amorteço.
À base de felicidades via oral
uma vez ao dia.
Compadeço-me com o drama alheio.
Até que eu fique de saco cheio.
E em menos de cinco minutos,
procuro uma injeção de reality
show.
Faço campanhas e doo alimentos.
Curto e compartilho tanto
sofrimento.
Não ofereço nenhum real alento.
No próximo clique tudo cai no
esquecimento.
Mulher inocente espancada e
morta,
Homens assassinados por amarem um
ao outro.
Menino cego impedido de estudar.
Tanta gente que foge para ter
paz.
Só o que temos para dar.
São as manchetes de jornal.
E no dia seguinte tudo se torna
tão banal.
Vejo o pobre garoto.
Morto à beira-mar.
Uma lágrima sincera até pode
despencar.
E como mais que isso não quero
dar.
Mudo de canal e espero a novela
me anestesiar.
Tento dormir para esquecer.
Sonho com tudo que quero e não
posso ter.
Finjo que eu nada posso fazer.
No dia seguinte outras
brutalidades virão.
Enquanto eu sigo,
Agarrado ao acaso pela mão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário