Que mundo deixaremos para as gerações seguintes? O que vão
ter que enfrentar quando tiverem que encarar a sociedade doente que temos à
vista? Nos últimos tempos temos assistido a uma escalada das manifestações
racistas, homofóbicas e contra tantas outras diferenças.
O
preconceito sempre existiu na humanidade, mas as doenças sempre existiram
também e nem por isso as pessoas se conformam com elas. Sim, a comparação é
boa, porque o preconceito é a doença que mais mata a humanidade. É como uma
tortura, posto que a vítima dela vai sendo corroída e morta aos poucos, é assim
que me sinto quando sofro com isso, é assim que me sinto vendo outras pessoas
passando por isso.
Sempre se
tentou inventar uma história de que o povo brasileiro é tolerante, e essa é a
maior mentira que já se contou sobre o povo brasileiro. Pior ainda, é viver no
estado mais racista e preconceituoso do Brasil, no caso, o Rio Grande do Sul.
Não por conta dos últimos acontecimentos, mas pelo que vejo e sinto desde que
eu existo.
Não sei o
que leva uma pessoa a se achar superior a outras por algum tipo de
característica física ou social, mas o que eu sei é que um bebê não é
preconceituoso, ou seja, isso se aprende a ser. Não creio que seja possível
fazer uma mudança de consciência nos atuais imbecis que circulam socialmente e
que tem esses valores, mas com a nova geração, quem sabe.
Em muitas
ocasiões parece que essa mudança está ocorrendo mas então, vem Feliciano,
Bolsonaro e Heize para nos mostrar que está tudo pior do que antes. Esses
sujeitos são a parte escatológica da sociedade, contudo, mais ainda são aqueles
que os elegeram e os aplaudem. Isso demonstra que o racismo e a discriminação
estão crescendo por baixo da terra, sem que a gente possa ver, e quando menos
esperamos esse vulcão entra em erupção e retornamos ao ponto zero da
intolerância e da idiotia.
Se o
querido leitor acha que eu estou exagerando ou sendo radical, imagine passar a
vida toda tendo o dedo apontado na sua direção, e nãopara elogiar, mas para chamar
de “defeituoso”, “coitado” ou coisas bem piores. Não há quem ainda não tenham
sofrido preconceito, mas a questão é como e o que fazer com essa sensação
amarga.
A gente
pode se dar conta de que um preconceito por mínimo que seja é uma violência e
decidir não seguir esse caminho se colocando no lugar do outro e romper com
essa corrente que nos levará à bestialidade, ou continuar agindo assim e
contribuir para a degradação de nossa sociedade, cada um que escolha o seu
lado.
Tudo isso
fica ainda mais potencializado com a emergência das redes sociais, já que no
Facebook e no twitter tem ficado cada vez mais evidente uma tendência de as
pessoas acharem que podem dizer o que querem sem pensar nas consequências, se
escondendo por trás de fakes e outros artifícios. Ao menos antigamente o
preconceito era face a face.
Mais do que
isso, esse comportamento antissocial tem ultrapassado a esfera cibernética e
tomado conta das ruas, perceptível nas manifestações cotidianas, inclusive as
consideradas adequadas, como o uso do politicamente correto para “escamotear” a
discriminação . O preconceito muda de forma, fica mais ou menos explicito, mas
ainda assim está sempre presente.
O problema
é que quando acontecem casos de preconceito de qualquer ordem que repercutam na
mídia, cria-se certo clamor e comoção popular, mas na semana seguinte tudo cai
no esquecimento e o preconceito volta para baixo do tapete, e continua
crescendo.
Não há um
processo educacional e de mudança de mentalidade social, algo que acontece nas
pequenas coisas, como não usar o termo “denegrir” por exemplo, que parece uma coisa pequena, mas
é nos detalhes que se mudam as mentalidades.
Também acho
que a bandeira escolhida por aqueles que lutam contra o o preconceitos é errada
muitas vezes. Ao pregar a igualdade, talvez estejamos justamente dando
argumento para aqueles que esmigalham a diferença. Nós não precisamos e não
devemos ser iguais a ninguém.
Nós temos é
que ser diferentes, e quanto mais diferentes melhor. É preciso ostentar o
estandarte da diferença. Talvez seja interessante perceber que o diferente nos
enriquece e não nos invalida, que a diferença é o que confere beleza e colorido
à sociedade. Não uma diferença que a gente possa controlar, tolerar ou “apenas”
conviver, mas sim, que a gente possa compartilhar e acolher, que o respeito a
quem não é como eu seja condição irrevogável na sociedade.
Ainda
acredito que todos nós possamos chegar a uma sociedade que valorize a
diferença, onde os preconceitos se resumam a um mínimo ou que ele não exista
mais. Se eu não tivesse crença nisso eu não estaria lutando para mudar esse
quadro com atitudes cotidianas, com meu trabalho e dando a minha vida por essa
causa.
O suor de
sempre e as lágrimas de agora hão de ser combustíveis para que eu continue a
minha luta. Muitas vezes dizemos que o mundo tem que mudar, mas que tal se
começarmos essa mudança por nós mesmos?.
O mundo só
mudará quando cada um de nós mudar, e isso não depende de governos, leis ou de
outras circunstâncias, é papel seu, meu, de todos. Pode ser uma ideia puída e
utópica, mas que ainda não foi tentada, que tal se a gente começar?
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