Especialista
em Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva [UNEB], Consultora da
UNESCO no Projeto Livro Acessível [2009 – 2013]; Professora de Tecnologias e
Educação [CAPES - UNEB]; Consultora de Tecnologia Assistiva, é atuante na
alfabetização de pessoas cegas, Audiodescrição, editoração de livros acessíveis
em formato Braille, Livro Falado e DAISY/Mecdaisy, com trabalhos realizados
para diversas editoras e para o Ministério da Educação. Lattes: http://lattes.cnpq.br/9270615740740774
1 -
Como você se tornou audiodescritor? Que importância a audiodescrição tem na sua
vida?
Patrícia
- Ser
audiodescritora foi um caminho natural em minha carreira de professora de
Braille. Comecei em 1997 como ledora voluntária e algumas imagens dos livros
lidos eu descrevia para os leitores com deficiência visual. A Audiodescrição
ainda não havia chegado ao Brasil. Mais tarde, passei a me dedicar à produção
de livros acessíveis em formato Braille e livro falado. Eu atendia sozinha
cerca de 15 pessoas cegas diariamente numa biblioteca. Às vezes não dava tempo
de adaptar as imagens em relevo [única técnica utilizada na época para dar aos
cegos o acesso ao mundo imagético] então eu descrevia. As descrições também
agradavam e eu passei a manter um blog com textos meus e descrições das imagens
que eu utilizava para ilustrar as postagens. Não é um blog de grande acesso,
mas já foi apontado por usuários cegos como o primeiro a utilizar a
audiodescrição como recurso de acessibilidade, mesmo fora da “tag alt” [existe
uma tag nos blogs para descrição da imagem, mas quase ninguém usa da forma
adequada, que seria inserindo um texto alternativo e descritivo para pessoas
com limitação visual].
Participei do primeiro curso de extensão em Audiodescrição na Universidade Federal da Bahia, mas minha paixão sempre foi livro. Em 2009 me tornei consultora da Unesco no Projeto Livro Acessível e minhas convicções sobre audiodescrição editorial foram se consolidando. Em 2011, o mesmo organismo internacional me contratou para escrever as normas de descrição de imagem para livros de literatura no Padrão DAISY. A audiodescrição hoje, para mim, significa meu compromisso social e também um rumo novo, profissionalmente falando. É a minha profissão, um importante meio de vida. Mantenho um trabalho voluntário de descrição de imagem no Facebook e ministro cursos para professores e editores. O objetivo é espalhar esse ideal de vida acessível para mais e mais pessoas.
Participei do primeiro curso de extensão em Audiodescrição na Universidade Federal da Bahia, mas minha paixão sempre foi livro. Em 2009 me tornei consultora da Unesco no Projeto Livro Acessível e minhas convicções sobre audiodescrição editorial foram se consolidando. Em 2011, o mesmo organismo internacional me contratou para escrever as normas de descrição de imagem para livros de literatura no Padrão DAISY. A audiodescrição hoje, para mim, significa meu compromisso social e também um rumo novo, profissionalmente falando. É a minha profissão, um importante meio de vida. Mantenho um trabalho voluntário de descrição de imagem no Facebook e ministro cursos para professores e editores. O objetivo é espalhar esse ideal de vida acessível para mais e mais pessoas.
2 – Na sua opinião, o que a AD representa para seus usuários? O que pode provocar na vida dessas pessoas?
Patrícia
- A
Audiodescrição é uma revolução cultural sem volta. Quem se viu tocado pela AD
jamais aceitará menos que um produto cultural acessível para apreciar e
enriquecer a alma. Audiodescrição, com perdão da rima, significa emancipação.
3 – Quais as maiores dificuldades e quais as maiores alegrias em ser audiodescritor?
Patrícia
- As
dificuldades são de toda ordem. As produções culturais ainda não são vistas como
prioridade. Contudo, nada me entristece mais do que a banalização desta
profissão tão recente no Brasil. Principalmente no mercado onde atuo, o
editorial, vejo aventureiros fazendo barbaridades em textos que eles julgam ser
audiodescrição, mas não passam de um retrato grosseiro e sem parâmetro da
imagem, traduzido em frases mal lapidadas, por pessoas que mal dominam as técnicas
básicas de redação e se arvoram audiodescritores de imagem para livros
didáticos e paradidáticos. Minha maior alegria é receber mensagens de pessoas
com deficiência dizendo que através de minhas descrições chegam a sensação de
eficiência, de independência que elas tanto almejam. É como se, naquele
momento, elas fossem menos cegas. Digo isso reproduzindo palavras delas mesmas.
Isso me revigora. Ver pessoas cegas comentando minhas imagens na internet,
elogiando ou não, junto com videntes, e ninguém sabe quem tem ou não
deficiência, é uma experiência que me deixa muito recompensada.
4 -
Você concorda com a ideia de que a AD, mais do que informar, deve proporcionar
que o usuário usufrua e sinta as sensações do que é descrito? Você acredita que
a audiodescrição além de um recurso de acessibilidade seja também uma produção
cultural?
Patrícia
- Com
certeza concordo com a adequação da audiodescrição à obra descrita, visando o
usufruto das sensações. Não podemos enjaular a audiodescrição em uma técnica
fria. Talvez, no futuro, a AD consiga dispor de profissionais especialistas em
gêneros diversos. Dispor daquele profissional que descreve terror, romance,
aquele que descreve melhor ao vivo, outros que atuam melhor em cinema, assim
como eu escolhi as produções editoriais, para me aprimorar e atender melhor ao
público consumidor de livros, que também têm gêneros diferenciados e me obrigam
a usar um vocabulário mais infantil ou mais técnico, a depender da faixa etária
atendida. Audiodescrição não é apenas tecnologia assistiva, é também uma
produção cultural que deve andar de braços dados com a arte, complementando-a,
auxiliando-a, confundindo-se com ela, de maneira harmoniosa. Ela deve ser um
item das produções, assim como figurino, trilha sonora, elenco etc.
5 – O mundo está cada vez mais visual, e se levarmos em conta que a visualidade é a matéria-prima da audiodescrição, ainda há muito a ser explorado nesse campo. Junto a isso, temos a ampliação e difusão dos produtos e políticas culturais para acessibilidade por parte dos governos e da sociedade civil. Diante desse cenário, quais desafios você acha que devem ser enfrentados para expandir a audiodescrição, tanto em quantidade como em qualidade?
Patrícia
- Eu
defendo o investimento em cursos de curta e longa duração e um maior rigor na seleção
de profissionais que participarão dos projetos. Talvez o mercado absorva muitas
pessoas mal formadas, mas o próprio mercado se encarrega de eliminar aqueles
que não produzem a contento. Investir em formação é o meu caminho sugerido.
...................
Entrevista Felipe Mianes
Felipe parabéns pela entrevista! Patricia, você tem razão quando diz que o mercado se encarregará de eliminar os que não produzem a contento, mas é preciso que os usuários do recurso se manifestem, contestem, exijam o melhor e aprendam a avaliar produtos áudio-descritos. Abç, Ana Fátima Berquó
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