segunda-feira, 19 de novembro de 2012

docência não é gambiarra!

Nos últimos tempos a profissão de professor vem sendo espesinhada, ridicularizada e desvalorizada e, mesmo assim, qualquer pessoa se acha no direito de entrar numa sala de aula e lecionar - ou algo assim -, ou pelo menos tem o enorme desejo de tomar para si o lugar do docente, o que é no mínimo uma contradição.
Tem circulado fartamente em alguns - quase todos - os canais de mídia os projetos desenvolvidos nas escolas em que  comunidade escolar e os pais são convocados a "substituir" os professores, o que tem proporcionado "maravilhas" para as instituições que adotam essas práticas. Mas será que é mesmo essa gambiarra educacional que queremos?
Ao invés de reivindicar que sejam implementadas políticas educacionais que funcionem de fato e não só na propaganda governamental, a sociedade brasileira parece estar satisfeita com os pseudoprofessores que se tem produzido por ai, afinal, isso resolve as coisas a curto prazo, mas como o mundo não vai acabar em dezembro, precisamos pensar mais além.
Hoje em dia qualquer sujeito que tenha um curso superior - alguns até nem isso possuem - se acha no direito de poder exercer a docência como se diplomado e especializado fosse. Qualquer um fala de educação como se tivesse propriedade e apropriação dos fundamentos e de todos os elementos que a compõem. As vezes acho que todo mundo quando conclui uma graduação recebe junto um outro diploma de licenciatura plena.
Para mostrar que há um peso e duas medidas, me valho de um exemplo bem recente: o STF desobrigou o diploma de jornalista para atuação nessa área, e a imensa maioria da imprensa fez uma ferrenha campanha para que a graduação voltasse a ser requisito. O interessante e incoerente é que esses mesmos sujeitos exaltam os professores "gambiarras", que nem sequer licenciatura cursaram, mas que tomam o lugar do professor apenas tendo "boa vontade e disposição".
Não é uma questão de corporativismo, mesmo poruqe eu nem tenho intenção de atuar em escolas, mas, fico pensando para que serve meu diploma e todo tempo e dedicação que empreguei em meus estudos se qualquer um que entre numa escola é chamado de professor? As pessoas esquecem que a docência requer que tenhamos uma série de conhecimentos e práticas que apenas a licenciatura nos confere. Estudamos e pesquisamos fundamentados em bases científicas como as demais ciências o fazem, umas bem e outras nem tanto, mas fazem.
Acho até engraçado quando vejo exemplos na TV e nas conversas por onde passo em que, por exemplo, se elogia o fato de um engenheiro cívil dar aulas de matemática voluntáriamente em escolas. Não seria mais interessante lutar para que a escola tivesse um professor de verdade? e mais ainda, será que se eu fosse em uma obra que esse engenheiro trabalha e resolvesse tomar o lugar dele voluntáriamente também e começasse a agir como se engenheiro fosse, eu iria ser exaltado e elogiado? Com certeza não, já que obviamente eu não teria a mesma qualidade do citado profissional, pois eu não estudei e nem tenho experiências nessa área.
Outro fato bem interessante, nas escolas é que os pais dos alunos costumam questionar os metodos dos professores e a reclamar se o seu "anjinho" não anda bem na escola, como se a responsabilidade fosse só do professor e não também do aluno e/ou da familia. Mas será que um magistrado, um mecânico, um contador ou médico iria ficar feliz se eu começasse a dar pitacos na sua profissão e a dizer o modo como deveriam agir com seus clientes? - não que os alunos sejam clientes da escola. Então porque esses sujeitos que são meros neofitos na ciência educacional se arvoram a declinar o que há de "errado" com o ensino ou com os metodos do professor. Afinal de contas quem estudou para estar na função de docente?
Seja como for, fico pasmo com o modo como a docência é tratada no Brasil, como se fosse algo simples e sem muito valor, desde os baixos salários até a depreciação que se faz do profissional docente, que muitas vezes além das dificuldades inerentes à profissão é obrigado a lidar com a falta de estrutura nas escolas, com a falta de respaldo das direções e com a transferência de responsabilidade dos governos. Assim, ao contrário do que muitos pensam, lecionar não é só entrar na escola e dar aula, é algo mais complexo que exige mais do que vontade. Hei de ver o dia em que a docência será tratada com o respeito e deferencia que merece.
 
 
 
 

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