Desde a primeira vez que pisei em Curitiba foi amor à primeira vista. Adorei o clima da cidade - embora muitos detestem por conta da chuva e do frio - além da limpeza dos espaços e de uma sensação que não sei explicar mas que me toma sempre que circulo pelas ruas curitibanas. O sistema de transporte é relativamente bom, e existem muitos parques e espaços culturais para visitar.
Das vezes que fui, encontrei uma cidade acessível, onde as pessoas informam corretamente, existe aviso sonoro nos ônibus e pisos táteis pelo centro todo e nos espaços culturais que conheci. Me encantei com a acessibilidade da cidade que é um eldorado acessível perto do que temos em Porto Alegre.
Mais que isso, é sempre uma felicidade colossal estar na companhia agradabilissima dos amigos Juliano Doberstein e Ana Zagonel, que tornam minhas estadas em terras paranaenses sempre uma diversão inesquecível, vai ver é por isso que eu levo sempre essas lembranças em meu coração.
Enfim, eis que na mesma semana soube de dois ou três projetos sobre acessibilidade e inclusão em Curitiba que me encantaram muitissímo. Um deles encontrei no Blog da Audiodescrição e na Usina da Inclusão, que passo a transcrever abaixo:
[...]
Curitiba ganhou uma opção gastronômica diferenciada
nas instalações, no cardápio e no atendimento. O New York Café,
localizado na XV de Novembro, é um estabelecimento especializado na culinária
americana, com ambiente brilhantemente decorado e que apresenta um conjunto de
soluções em acessibilidade de destaque.
Afinal, qual é a vantagem em apostar na
acessibilidade de maneira séria e holística? Isso dá resultado? Por que fazer
isso?
Nenhuma dessas perguntas foi levada em conta no momento
de planejamento e idealização doNew York Café. As características inclusivas do
empreendimento são resultado da vontade de empreender e abrir o próprio
negócio, aliada à criatividade genuína da dupla proprietária, somada a uma
visão de mercado. A motivação não foi orientada por legislações obrigatórias,
mas sim porque a ideia é ser assim. O diferencial é esse.
Diele é professora e coordenadora do projeto Ver
com as mãos, uma iniciativa artística e pedagógica do Instituto Paranaense de
Cegos. Luiz é um chef apaixonado pela culinária americana, publicitário e tem
na bagagem experiências profissionais em diferentes restaurantes do Brasil e do
exterior. A união desses dois contextos proporcionou a idealização de um espaço
em que "tudo é bom para todos".
"A minha vivência com alunos cegos me
aproximou do mundo da inclusão. Antes de abrirmos o café, eu já observava os
obstáculos de acesso que pessoas com deficiência enfrentam e percebia que a
vontade de frequentar, de sair, de participar existe, o que não existe é visão
para que isso seja possível", comenta Diele.
O New York Café foi projetado não só para ter as
portas dos banheiros largas, ou mesas em boa altura, ou rampas de acesso. É um
espaço onde o cliente pode exercer o seu direito pleno de escolha e autonomia.
"Quando trabalhamos no projeto da reforma do
espaço, pensamos que cada detalhe deveria ser feito para que qualquer pessoa
venha até nós e tenha total condições de ser um cliente autônomo e
independente. Do momento da escolha do prato, ao pagamento da conta",
pontua a proprietária.
E nessa missão de oferecer meios de autonomia para
qualquer pessoa, a criatividade torna-se uma grande aliada. O café já conta com
cardápios em braile e caracteres ampliados, mas isso não é o suficiente para os
criadores: "Estamos tentando encontrar alternativas tecnológicas para que
o cliente com deficiência visual tenha ao seu dispor um cardápio em áudio, por
exemplo, ou possa ouvir a descrição do ambiente do café", ilustra Luiz
Santo.
Atendimento personalizado
Outro pilar importante (até mesmo dentro do desenho
universal de acessibilidade do café) é o treinamento que a equipe recebeu e que
vem sendo aprimorado pouco a pouco. Para que um cliente com deficiência tenha
uma experiência de autonomia, é essencial que quem o atenda também contribua
para que isso aconteça e colocar essa ideia em prática pode parecer bem mais
simples do que se parece.
Acessibilidade no atendimento
"A ideia de ter algo 100% acessível é um pouco
distorcida. Isso vai depender da necessidade de cada pessoa. Nós respeitamos
isso". A declaração de Diele explica porque a equipe do café trabalhou não
só em um projeto arquitetônico diferenciado, mas apostou também no treinamento
dos atendentes.
Saber indicar a posição dos talheres, prato e copo
a um cliente com deficiência visual, sugerir a mesa com estrutura mais adequada
ao cliente cadeirante, atender ao deficiente intelectual sem qualquer
diferenciação de tratamento e respeitando o seu ritmo de escolha, ou ainda,
receber treinamento básico de LIBRAS. Esse conjunto de diretrizes faz parte da
prestação de serviços do estabelecimento.
Ao perceber que teriam que trabalhar com um
atendimento diferenciado, os fundadores notaram que o tempo de coleta dos
pedidos corria o risco de ser mais lento, o que em partes, pode complicar o
fluxo global da prestação de serviço. O risco foi incorporado ao New York Café
e acabou se tornando um diferencial relevante. Para Diele "Os clientes notam
essa postura dos atendentes e entendem isso".
"Vamos imaginar que um atendimento a um
cliente com deficiência demore duas vezes mais do que o normal. Se ele for bem
atendido aqui, acaba voltando e com isso os atendentes passam a conhecê-lo pelo
nome. É claro que isso é bom para qualquer pessoa e no fim das contas, todo
cliente que é bem atendido volta e passa a ser chamado pelo nome. Por conta de
tudo isso, não estamos sendo comparados a ninguém", comemora Luiz.
[...]
Serviço:
Rua XV de Novembro, 2916
De terça à quinta - Das 12h às 20h
Sexta e sábado - Das 12h às 22h
Domingos - Das 14h às 20h
NYC no Facebook: www.facebook.com/NewYorkCafeCwb
...................................
São pessoas como esses empreendedores do café Nova York que me deixam feliz e com vontade de seguir na luta, claro, antes de continuar, passar por lá e fazer uma boquinha. Parábens pela iniciativa, tomara que mais ideias como essa proliferem!