O dia 10 de Junho de 2015 vai
entrar para a história dos movimentos de luta pelos direitos das pessoas com
deficiência no Brasil. Nesse dia, foi aprovado o Estatuto da Pessoa com Deficiência
– Lei Brasileira de inclusão, após mais de doze longos anos de tramitação no
poder legislativo sem que a matéria fosse votada. Sem dúvidas, é a lei mais
avançada e o passo mais importante dado até hoje pela sociedade brasileira no
que tange aos direitos das pessoas com deficiência.
Durante todo esse tempo o projeto
ficou engavetado esperando a boa vontade do Congresso Nacional, ainda que os movimentos
sociais e alguns parlamentares pressionassem para que fosse apreciado e votado
pelas casas legislativas. É evidente que a causa das pessoas com deficiência
nunca foi prioridade para a maioria dos legisladores - nos bastidores muitos
fizeram forte oposição. Afinal, acarretaria mais atribuições ao poder público e
privado, e como muitos pensam apenas em seus interesses e não no bem comum
seria melhor soterrar a ideia antes de germinar.
O senador
Paulo Paim lutou durante anos para ver o estatuto aprovado, porém, isolado não
pôde fazer muita coisa. Foi então que entraram em cena os outros dois
protagonistas desse processo. A deputada Mara Gabrilli trabalhou intensa e
competentemente liderando a articulação para análise e construção de um projeto
de lei com viabilidade de aprovação na Câmara dos deputados.
Outro
protagonista desse processo foi o senador Romário, que desde a legislatura
passada quando foi deputado tinha como uma de suas principais frente de
trabalho a aprovação do Estatuto, chamado também de Lei Brasileira de Inclusão.
Colocou a disposição da causa todo seu poder político e o fato de ser uma carismática
figura pública para transitar nos movimentos das pessoas com deficiência e agir
para que fosse colocado em votação. No senado, seguiu trabalhando para que o
estatuto fosse aprimorado e aprovado.
Depois de
dezenas de reuniões com os movimentos sociais, de ajustes e modificações no
texto final a deputada Mara Gabrilli relatou o projeto de lei na Câmara dos
deputados, e depois de aprovado foi enviado ao senado. Sob relatoria de
Romário, a Lei Brasileira de Inclusão foi a votação e por unanimidade foi
aprovada no plenário do Senado Federal e agora segue para a sanção da
Presidência da República.
Lei aprovada, e
agora?
Ter o projeto de lei aprovado
foi apenas o primeiro dos passos rumo à efetivação dos direitos. É preciso
encontrar instrumentos que garantam o cumprimento do documento, desde sanções
legais até a construção de uma cultura de acessibilidade que conscientize as
pessoas da importância dessas e de outras medidas. Os problemas não se resolvem
de uma hora para outra, mas agora temos instrumentos mais potentes e
consistentes de luta.
São
diversas conquistas e falar de todas aqui tomaria muito tempo, mas a principal
delas reside no conceito de deficiência empregado. Antes a deficiência era
entendida a partir do paradigma biomédico, e agora é compreendida como um
impedimento físico de longo prazo, e as barreiras arquitetônicas e atitudinais
obstruem a plena participação social das pessoas com deficiência.
Essa
mudança de paradigma é muito representativa no sentido de retirar os estigmas e
posições negativas quanto aos sujeitos e transferem-nas para os ambientes. Essa
nova percepção sociocultural sobre a questão possibilita diferentes formas de
pensar e minimizar a inferiorização dos sujeitos com alguma deficiência.
Há também a
conquista de direitos muito importantes para a vida das pessoas com deficiência,
como o aumento da abrangência da reserva de vagas no mercado de trabalho e ao Ensino
Superior, na concessão de benefícios àqueles que necessitam dos mesmos e na
ampliação da obrigatoriedade dos recursos de acessibilidade e tecnólogas assistivas
no acesso à cultura, como à audiodescrição, por exemplo.
Fortalece o direito de escolha do aluno com deficiência e/ou de sua família quanto a modalidade de educação que deseja cursar, se frequentar a escola comum ou especial, por exemplo. Tem como meta uma escola inclusiva que atenda a diferença de cada sujeito sem descaracterizar suas particularidades Além disso, as escolas públicas e privadas ficam proibidas de cobrar qualquer valor adicional dos alunos com deficiência por atendê-los. Uma das coisas que particularmente me tocou bastante no discurso consistente e emocionado do senador Romário ao defender o projeto no plenário do Senado, foi a afirmação de que sabia que sua filha com Down tinha todos os cuidados e a estrutura necessária para seu pleno desenvolvimento diante de suas peculiaridades, mas que aquela não era a realidade da maioria.
Disse ainda, desejar que todos
tivessem acesso às mesmas possibilidades que sua filha teve, pois todas as crianças
com deficiência têm potencial e os mesmos direitos, que poderão ser
desenvolvido com as novas conquistas proporcionadas pela lei.Fortalece o direito de escolha do aluno com deficiência e/ou de sua família quanto a modalidade de educação que deseja cursar, se frequentar a escola comum ou especial, por exemplo. Tem como meta uma escola inclusiva que atenda a diferença de cada sujeito sem descaracterizar suas particularidades Além disso, as escolas públicas e privadas ficam proibidas de cobrar qualquer valor adicional dos alunos com deficiência por atendê-los. Uma das coisas que particularmente me tocou bastante no discurso consistente e emocionado do senador Romário ao defender o projeto no plenário do Senado, foi a afirmação de que sabia que sua filha com Down tinha todos os cuidados e a estrutura necessária para seu pleno desenvolvimento diante de suas peculiaridades, mas que aquela não era a realidade da maioria.
Eu sempre faço questão de afirmar
algo nesse sentido, de que muitas das conquistas que a mídia exalta como superação,
não o são, mas sim, se trata de alguém que teve as condições adequadas de
desenvolver suas habilidades. Não se pode tratar a exceção como regra, já que a
maioria das pessoas com deficiência não detém os meios e a estrutura necessária
para participar plenamente da vida social, e esperamos que a lei venha a mudar
essa realidade.
Outra questão importante foi ver
a sessão repleta de pessoas com deficiência assistindo a votação, mais do que
isso, muitas pessoas com deficiência foram convidadas a participar do processo
de concepção da lei, apontando os pontos de vista de boa parte das pessoas com
deficiência. Esse protagonismo foi fundamental para termos uma redação que
garante os inúmeros direitos contidos no Estatuto
Certamente temos muito a
comemorar com esse enorme passo dado rumo a uma sociedade que respeite a
diferença, no entanto, é preciso ter em conta que a batalha não acaba aqui, muito
antes pelo contrário. Temos uma luta ainda mais difícil e demorada que será
fazer com que a lei seja cumprida por todas as instâncias e em todas as esferas
da sociedade. Serão atitudes diárias, que demandarão esforços e embates, com
retrocessos e avanços.
Seja como for, temos que
batalhar para que nós e as próximas gerações de pessoas com deficiência
desfrutem dessas conquistas e que possamos fazer um mundo que respeite a
diferença e que ao invés de fomentar a desigualdade, opte por compartilhar com
o diferente e não por inferioriza-lo. Vicejo o dia em que as lágrimas de
sofrimento pela exclusão e isolamento darão lugar ao sorriso daquele que se
sente respeitado e acolhido