sábado, 27 de julho de 2013

Entrevista ao Programa Primeira Pessoa

Fiquei muito feliz por ter sido convidado a participar do programa Primeira Pessoa da TVE/RS, até porque, muitas vezes eu o assisto. Foi uma entrevista descontraída e muito agradável. Contei um pouco da minha vida, de algumas histórias engraçadas e outras nem tanto. Falei de minhas pesquisas e do meu envolvimento com a audiodescrição, sem deixar de lado meus projetos futuros, dentre os quais, meu doutorado sanduiche em Barcelona que começa em setembro.
Acho muito importante que nós pessoas com deficiência também sejamos convidados a esses programas para contar um pouco de nossas trajetórias. Não sei se eu fui ou sou a pessoa mais indicada para isso, mas fiz o possível para tentar demonstrar que não sou só a deficiência que carrego comigo, que tenho ideias, posições definidas e projetos de vida que vão além do que muitos podem imaginar. Além disso, acho fundamental as iniciativas tomadas pelas redes públicas de televisão de dar voz às pessoas com deficiência. 
O programa vai contar também com audiodescrição na abertura e no encerramento, o que já é um avanço bem interessante em termos de acessibilidade, graças aos louváveis esforços de parte da produção do programa. Creio que seja imprescindível que haja AD não apenas em um programa que há um convidado com deficiência visual - afinal, cegos e baixa visão não se interessam somente por esses assuntos. É necessário também, que a audiodescrição chegue ao programa como um todo e não só a uma parte.
Espero que um dia os diretores e executivos de redes de televisão se sensibilizassem e não achassem que audiodescrição é algo desnecessário ou supérfluo. Lutamos para que esses profissionais levem em conta que no Brasil existem 45 MILHÕES de pessoas com deficiência no Brasil, e que isso não pode ser desprezado. Um dia essas pessoas hão de entender que acssibilidade não é beneficio, é um DIREITO.
Minha entrevista também serviu para isso, para levar o estandarte da acessibilidade para o maior número de pessoas possível. Espero que todos possam assistir e tomara que vocês gostem, pois eu adorei, foi sem dúvida algo incrível. Não sei se todos vão gostar das minhas ideias ou das coisas que eu disse, mas gostaria muito que pudessem assistir e depois comentar comigo o que acharam.
Não vou dar mais detalhes dos assuntos que tratei na entrevista para não estragar a surpresa, mas garanto que tem coisas inéditas inclusive revelações que nem mesmo amigos mais íntimos sabiam.  Assim, acho que seria bem legal se todo mundo ficasse ligado.
O programa vai ao ar na segunda, dia 29/07, com reprise no sábado 03/08 às 15h30 e às 23h30min.
Conto com a audiência de todos!!!!!













Para mais informações e detalhes sobre o programa:
http://www.fcp.rs.gov.br/?model=conteudo&menu=83&id=1669

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Tagarellas Audiodescrição e Bourbon Shopping promovem sessão acessível do filme "Em teu nome" em Porto Alegre/RS



Produção da Accorde Filmes será exibida com audiodescrição aberta e legendas, dia 3 de agosto, no Espaço Itaú de Cinema, no Bourbon Shopping Country

A Tagarellas Audiodescrição, em parceria com o Bourbon Shopping e a Accorde Filmes, promove sessão acessível do longa-metragem gaúcho “Em Teu Nome”, em Porto Alegre/RS. A exibição com audiodescrição aberta e legendas – respectivamente, para pessoas com deficiência visual e auditiva – será dia 3 de agosto, sábado, às 10h, no Bourbon Shopping Country (Av. Túlio de Rose, 80), na Sala 1 do Espaço Itaú de Cinema, também patrocinador da sessão. Após o filme, parte do elenco estará presente para um bate-papo com o público. Atendendo à comunidade surda, a conversa será intermediada por uma tradutora e intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais). A entrada é franca e haverá distribuição gratuita de combos com pipoca e refrigerante.
Com ingressos limitados, a atividade é aberta ao público em geral, mas será dada preferência às pessoas com deficiência e seus convidados. Para participar, é indispensável reservar ingressos até dia 1º de agosto, quinta-feira, pelos fones (51) 3027.2125, (51) 3027.2176 ou pelo e-mail promocoes@bourbonshopping.com. Demais interessados terão sua entrada condicionada à lotação da sala.
Esta será a segunda sessão acessível numa sala do circuito comercial de cinemas no Rio Grande do Sul. A primeira, igualmente produzida pela Tagarellas Audiodescrição em parceria com o Bourbon Shopping e patrocinada pelo Espaço Itaú de Cinema, ocorreu em março, com o filme “Colegas”, e teve lotação esgotada, além de público recorde em eventos com audiodescrição no Estado.
Desta vez, a audiodescrição, produzida pela Accorde Filmes, será aberta, dispensando a utilização de fones de ouvido para acompanhar a narração das cenas. Além de permitir o acesso às informações visuais por pessoas cegas e com baixa visão, o recurso da audiodescrição beneficia pessoas idosas, com Síndrome de Down, deficiência intelectual, problemas neurológicos e dificuldade de memorização. A sessão também contará com legendas, permitindo às pessoas surdas e com deficiência auditiva a compreensão da trama por meio da transcrição das falas e dos sons do filme.

Sobre o filme
Indicado para maiores de 14 anos, “Em Teu Nome” narra a trajetória de Boni (Leonardo Machado) ao lado de sua companheira, Cecília (Fernanda Moro), durante a década de 1970, período em que o Brasil vivia sob a ditadura militar. Após ser banido do País por por seu envolvimento na luta armada, Boni passa a perceber a sociedade de outra maneira. Lançado em 2009, o longa-metragem de Paulo Nascimento foi produzido pela Accorde Filmes.

Serviço
O quê: Sessão do filme “Em Teu Nome” com audiodescrição aberta e legendas. Bate-papo com o elenco do longa traduzido para Libras. Filme indicado para maiores de 14 anos.
Quando: Dia 3 de agosto, sábado, às 10h.
Onde: Sala 1, Espaço Itaú de Cinema do Bourbon Shopping Country (Av. Túlio de Rose, 80 ), em Porto Alegre/RS.
Ingressos: Gratuitos e limitados. Indispensável reservá-los até 1º de agosto pelos fones (51) 3027.2125, (51) 3027.2176 ou pelo e-mail promocoes@bourbonshopping.com.
Realização: Tagarellas Audiodescrição, Bourbon Shopping e Accorde Filmes.
Patrocínio: Espaço Itaú de Cinema.

Texto: Mariana Baierle

 (início da descrição da imagem)
O cartaz da sessão de cinema acessível é vertical e tem fundo azulado. No topo, menções a nove festivais dos quais o filme participou, cada uma escrita entre dois ramos de louros: 5º Festival dos Sertões: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Direção de Arte.  Seleção Oficial: 17º Raindance Filme Festival – Londres. Seleção Oficial: 8º Festival de Cine de Montevideo.
Seleção Oficial: Amazonas Film Festival. 3º Arraial Cine Fest: Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Montador, Melhor Figurino, Melhor Música. Seleção Oficial: 26º Chicago Latino Film Festival.
Festival da Lapa – Paraná: Melhor Direção de Arte, Melhor Maquiagem.
Exibição Hour Concour: 4º Festival do Paraná de Cinema Brasileiro e Latino. 37º Festival de Cinema de Gramado: Melhor Ator, Melhor Diretor, Prêmio Especial do Júri, Melhor Música.
Logo abaixo, destaque para o título “EM TEU NOME”, em letras maiúsculas. A imagem de personagens do filme preenche cada letra. Ao lado da Palavra TEU, o texto em letras pretas, como as das antigas máquinas de escrever: “Ele acreditava que para mudar a sociedade era preciso primeiro entendê-la. Um filme de Paulo Nascimento”. Abaixo do título, uma fotografia destaca os rostos de perfil do casal de protagonistas. Sérios, ambos observam algo à esquerda do cartaz. Leonardo Machado, com barba espessa, tem o rosto próximo ao de Fernanda Moro, que usa cachecol de lã. À esquerda, encobrindo parcialmente a foto, um círculo bordô com letras e arabescos brancos destaca o texto: “Sessão especial para pessoas com deficiência visual e auditiva”. Logo abaixo, a reprodução de um documento com a marca d’água do Brasão de Armas do Brasil traz informações em letras de máquina de escrever:
Data: 03/08.
Horário: 10h.
Audiodescrição aberta e legendas open caption.
Evento gratuito.
Reservas pelo telefone (51) 3027 2125/ 2027 2176 e pelo e-mail promocoes@bourbonshopping.com.br
Abaixo da reprodução do documento, a informação: “ingressos limitados”. No rodapé do cartaz, sobre fundo branco, as logomarcas dos realizadores (Bourbon Shopping, Tagarellas Audiodescrição e Accorde Filmes) e do patrocinador (Espaço Itaú de Cinema).
(fim da descrição)

Para quem for de ônibis eis as linhas que passam perto do shopping:
B09-1    AEROPORTO/IGUATEMI
B091-1  AEROPORTO/IGUATEMI/ANCHIETA
430-1    BELA VISTA / ANITA
4302-1  BELA VISTA/ANITA VIA CARAZINHO/IJUÍ
637-1    CHACARA DAS PEDRAS
6371-1  CHÁCARA DAS PEDRAS/ARARUAMA
617-1    IGUATEMI
6201-2  IGUATEMI / ELIZABETH
620-1    IGUATEMI / V. JARDIM
6171-1  IGUATEMI I
6204-2  IGUATEMI/PARQUE DOS MAIAS
T7-2      NILO/PRAIA DE BELAS
B51-1    PARQUE / POSTAO IAPI/H CONCEICAO
B511-1   PARQUE/H CONCEICAO/POSTAO IAPI
T1-2      TRANSVERSAL 1

LOTAÇÃO:
50.11 - AUXILIADORA - ANITA
50.8 - HIGIENOPOLIS - BENJAMIN CONSTANT
50.81 - HIGIENOPOLIS-HOSPITAL MILITAR

O telefone da EPTC para informações sobre itinerários e horários é o 118.
Se precisarem de alguma outra orientação, estamos à disposição.
Obrigada e até dia 3!


quinta-feira, 11 de julho de 2013

A noite do meu bem - por Felipe Mianes

Tenho me aventurado por outros caminhos, dentre eles, comecei a gravar alguns poemas em áudio. Gravei alguns meus, e outros da amiga Mariana Baierle. Mas, agora acho que posso ousar e tentar coisas diferentes, autores diferentes. Uma de minhas cantoras e compositoras preferidas é Dolores Duran, que morreu em 1959, mas seu legado pulsa ainda hoje na música brasileira.
Uma cantora fora do comum, uma mulher muito à frente de seu tempo e uma letrista cuja genialidade nenhuma outra artista brasileira conseguiu alcançar até hoje.
Um de seus grandes sucessos é a canção A noite do meu bem, que é uma das letras mais poéticas e tocantes que já ouvi. Por isso, decidi que seria a canção ideal para uma declamação, que se não é perfeita, é repleta de sentimento e de homenagens a essa inesquecível artista. Sim, Dolores vive!!!!




quarta-feira, 10 de julho de 2013

conselhos

Me é tão caro esse sorriso.
Por vezes vazio e escondido.
E mesmo sem motivo.
Escorrega por entre os lábios.
Ainda que com os olhos molhados.

Em meu ombro enxuga teu pranto.
Com ternura enlaço tua angústia.
Castigo ou vida madrasta?
Nem para tudo há resposta.
Mas o que realmente importa.
É que estou com a mão estendida.
Para te levantar dos tropeços da vida.

Dou conselhos,
mais por experiência que por sabedoria.
Agora você diria:
De que adianta dá-los se não os aplica!
Mas, é justamente por isso,
Eu sei o tamanho da dor que sinto.

Passa a mão na vida.
Como quem tateia um fino veludo.
Lembre que o passado é mero retalho.
Com o qual não se tece o futuro.

Não jogue nos problemas cores tão berrantes.
Pinta teus dias com tonalidades cintilantes.
E se as cores te forem dificultadas.
Tenha uma existência dourateada.

Não quero que sigas os meus passos.
Nem que caia nos mesmos penhascos.
Sei que deves andar por sí.
Mas quando eu não estiver mais aqui.
Saberei que como pude te protegi.
Seja no brado ou no afago.
Estarei sempre ao seu lado.
....................
 Felipe Mianes



domingo, 7 de julho de 2013

Recurso de inclusão, audiodescrição ainda está longe das escolas

Recurso de inclusão, audiodescrição ainda está longe das escolas

Mil palavras valem mais do que uma imagem para quem tem deficiência visual. É por meio da audiodescrição que filmes e peças de teatro se tornam acessíveis para esse público. Contudo, o recurso de inclusão não se popularizou entre os programas de lazer, e é ainda menos explorado na sala de aula. Fora das grades curriculares das licenciaturas, a capacitação de professores fica por conta de cursos de extensão, que ainda são raros - é mais comum encontrar formações voltadas para a área cultural.
Historiador e doutorando em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Felipe Mianes, 31 anos, fez aulas de audiodescrição de produtos culturais na Faculdade de Arquitetura da UFRGS em 2012. Apesar de já trabalhar com temas relacionados à acessibilidade desde 2008, foi após o curso que ele começou a atuar como audiodescritor consultor na empresa Tagarellas Audiodescrição, de Porto Alegre, onde supervisiona os roteiros de audiodescrição.
Atualmente, Felipe, que tem baixa visão, ministra a segunda edição do curso Audiodescrição e suas Intersecções com a Educação na UFRGS, destinado a professores de todas as áreas do conhecimento, pedagogos, profissionais que atuam em museus, bibliotecas, teatros e centros culturais, comunicadores, produtores e gestores culturais. “Criamos este curso especificamente para formar profissionais de audiodescrição na área de educação. É o primeiro com este foco. Há outros voltados à área cultural”, conta.
A audiodescrição é um recurso relativamente novo no Brasil. Segundo Felipe, as pessoas começam a perceber agora que podem utilizá-lo dentro da sala de aula. Tendo professores capacitados, alunos com deficiência visual não teriam dificuldades ao assistir a filmes ou entender gráficos e mapas, frequentemente utilizados em disciplinas como história, geografia e matemática. “A audiodescrição é muito importante no processo de educação do aluno e não há esta formação nas grades curriculares das graduações de licenciatura”, aponta.
 Felipe comenta que existem instituições de ensino que oferecem, geralmente no contraturno, centros multimeios especializados em atender pessoas com deficiência. “São espaços onde são retomados conteúdos passados em sala de aula. Neste espaço, a audiodescrição é fundamental, mas o ideal seria que fosse feita na sala de aula mesmo”, opina o audiodescritor. Para ele, seria fundamental ter a formação como disciplina dos cursos de licenciatura. “Ao menos que sejam como eletiva e não fique a cargo da extensão”, diz. Além de contemplar necessidades e especificidades da aprendizagem deste sujeito, a audiodescrição contribui para a autoestima do aluno com deficiência. “Ele se sente acolhido no processo educacional, fora a questão de formação e aprendizagem. Acaba mudando a vida destes alunos”, completa Felipe.

Escassez de cursos
A grande escassez de profissionais qualificados na área de audiodescrição - tanto para educação quanto para produtos culturais - deve-se ao fato da não existência de cursos regulares para esta formação. A maioria é promovida pelas empresas que trabalham com audiodescrição. “Podemos fazer cursos de extensão, como este com intersecção na educação, mas não de formação. O curso de formação de audiodescritores tem que ter, no mínimo, uma carga horária de 100 horas”, explica o professor do curso de extensão da UFRGS. 
A demanda por profissionais desta área é tão grande que, além de ter muita gente trabalhando sem a formação adequada, a solução que vem sendo utilizada são cursos de ensino a distância. Algumas universidades promovem iniciativas pontuais, como o curso de Introdução à Audiodescrição da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) também já realizou curso semelhante. A faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) oferece o curso de especialização em Acessibilidade Cultural, com 45 horas dedicadas à audiodescrição. De acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência - a maioria visual, com mais de 35 milhões de deficientes.


terça-feira, 2 de julho de 2013

Homenagem à Marco Antônio de Queiroz, o MAQ

Muito triste com a partida do MAQ para outro plano. O Marco Antônio de Queiroz (ou MAQ, como todo mundo conhecia) colocou sua vida e sua obra a serviço da acessibilidade e da luta pelos direitos das pessoas com deficiência visual. Fez tudo isso do seu jeito, nunca convencional, mas sempre encantadoramente cativante.
MAQ criou o site Bengala Legal e lutou a vida toda para que a internet fosse acessível para pessoas cegas e com baixa visão. Se existem sites acessíveis hoje no Brasil, o maior responsável é ele.
Uma pessoa que faz - sim, porque ele continuará entre nós - a diferença muito mais pelos seus atos do que pelos discursos.
Minha forma de homenagem é deixar que ele mesmo conte um pouco da sua vida, de um jeito que só o MAQ sabia contar. Em Abril de 2013, ele concedeu uma entrevista ao blog Outros Olhares, da querida amiga Lucia Maria, e que publico abaixo na integra.
Querido MAQ, fica com Deus!!!!

Outro Olhar - Entrevista com Marco Antônio de Queiroz, o AQ
Lucia Maria, Março de 2013

“Se não amasse tanto a vida, já não estaria vivo”, ele diz, rindo. Ou: “O cego é um inculto visual”. Passional e de opiniões fortes, Marco Antonio de Queiroz, mais conhecido como MAQ, é um grande incentivador da acessibilidade. Aos 56 anos e cego desde os 21, é criador do site Bengala Legal, um dos maiores portais brasileiros sobre deficiências, consultor em acessibilidade na internet e autor do livro Sopro no Corpo: Vive-se de Sonhos. Aposentado desde 2003 como programador de computadores do SERPRO (Serviço Federal de Processamento de Dados), é casado com Sônia, pai de Tadzo, de 24 anos, e flamenguista fanático. Nem os graves problemas de saúde afetaram o bom humor e o riso fácil desse carioca que, franco, extrovertido e de fala mansa, conversou com Outros Olhares, inaugurando no blog a seção Outro Olhar, que pretende trazer a você convidados que, como o MAQ, tenham muita coisa bacana a dizer.
CEGUEIRA
Perdi a visão por causa da diabete, que tenho desde os três anos de idade. Quando tinha 21, cheguei em casa na madrugada de sexta para sábado do Carnaval de 1978, guardei o carro na garagem e fui dormir. Acordei cego. Mas nunca tive o que chamam de “morte do cara que enxergou e nascimento do cara que não enxerga”. Não me senti morrendo, me senti em transformação e tendo de aprender a ser cego - aliás, continuo aprendendo (risos). Tenho um amigo que escala montanhas, é um cego sem os limites do cego. Comprou uma casa, orientou sozinho toda a reforma e fez uma pousada. A cegueira restringe seu mundo, sem dúvida nenhuma, mas o quanto restringe vai depender da permissão que você der a essa restrição. Ao longo da vida, fui e continuo sendo muito mais restringido pela diabete do que pela cegueira.
INCLUSÃO
Fui fazer um curso de processamento de dados no Instituto Benjamin Constant, aqui no Rio de Janeiro, em 1981 ( *O Instituto foi fundado por D. Pedro II em 1854 com o nome de Imperial Instituto dos Meninos Cegos). Eu era o único não interno e o único que nunca havia sido aluno.  Os colegas me diziam: “Que bom, você está no mundo lá fora”! Isso foi muito marcante para mim. Eram mesmo dois mundos e continua sendo assim principalmente para pessoas com deficiência intelectual, que são formadas para o isolamento, são ensinadas a ser deficientes. Já para cadeirantes não existem escolas especiais, eles estão espalhados pelo mundo e por isso são mais lutadores. Não é à toa que o símbolo internacional das pessoas com deficiência é um cadeirante. Há alguns anos eu defendi a inclusão na lista de discussão na internet de ex-alunos do Benjamin Constant, enquanto o discurso ali era pela educação especial, isso em discussões de alto nível, com pessoas inteligentes e com a excelente formação dada pelo Instituto. Fiquei pouco à vontade para continuar e acabei saindo da lista, mas voltei há umas três semanas.
GRATUIDADE E ACESSIBILIDADE
Quem é a favor da gratuidade é inimigo dos cegos. Gratuidade em produtos e serviços é a não inserção da pessoa com deficiência na economia do país e se a defendem têm de lutar por um movimento que não seja exclusivo de quem tem deficiência e sim de qualquer pessoa sem condições financeiras. Cego tem de ter acessibilidade.
AUDIODESCRIÇÃO
Comecei a me envolver com audiodescrição em 2007, como jurado do “Assim Vivemos”, festival internacional de filmes sobre deficiências. Fui interlocutor de um chat para discussões sobre o festival, que aconteciam logo após a exibição de um dos filmes na TV Brasil, uma vez por semana. Também já fiz revisão de filmes e de descrições de imagens estáticas em livros. A audiodescrição é o recurso mais necessário e mais completo que existe para a pessoa com deficiência visual porque dá olho ao cego. Ainda falta muito mas está crescendo, especialmente a malfeita (risos). A falta de interesse e de luta dos próprios cegos pelo recurso é uma das maiores dificuldades para a implementação de uma audiodescrição de qualidade no país.
CULTURA
O cego é um inculto visual. A cultura do cego é a falta de cultura. Não tem repertório cultural de teatro, cinema ou televisão, tem apenas o do rádio e está acostumado a isso. Outro dia, eu estava assistindo sozinho a um filme na TV de madrugada e fiquei sem saber o final, não entendi nada. O pior é que também não sei qual o título porque não é falado, só aparece escrito na tela. É frustrante mesmo, o cego se decepciona pela não compreensão, perde o interesse e simplesmente desiste, não luta pelo direito de acesso a produtos audiovisuais. Mudar isso, implementar e ampliar o visual na vida do cego encontra até resistência. Ele procura saber apenas o mínimo necessário para exercer suas atividades cotidianas. Se vai à farmácia, por exemplo, só sabe entrar e ir até o balcão, não dá importância ao que há em volta.
HEROÍSMO
Nenhuma pessoa com deficiência é heroína, como muita gente diz. Não há heroísmo algum nas milhares de histórias de superação de limites pessoais de quem é cego. Se me jogo na calçada para escapar de um atropelamento no meio da rua, não sou um herói, sou um sobrevivente e fiz isso por mim mesmo. Se impeço que uma velhinha seja atropelada, aí, sim, sou um herói. Heroísmo é fazer pelo outro.
SAÚDE
Por causa da diabete, já fiz dois transplantes: um de rim e outro de pâncreas. Tive uma diverticulite e tirei 25 centímetros do intestino. Quando entrei no hospital para essa operação, saí com uma pancreatite aguda que me rendeu um mês de internação no CTI. Ainda tive um vírus no cérebro que se espalhou pelo corpo e paralisou algumas funções. Perdi um pouco da memória e por isso parei de dar palestras. Outro dia não conseguia lembrar do nome do lugar em que estava e o nome era: posto de gasolina (risos)! Aplico insulina três vezes ao dia e meço a glicemia três vezes por dia também, isso quando está controlada. E tomo imunossupressores, remédios fortíssimos, que diminuem as defesas naturais do organismo para que não ataquem os órgãos transplantados, que são corpos estranhos. As defesas diminuem e, com isso, aumenta minha sensibilidade a vírus, bactérias e fungos, por isso saio muito pouco. Se vou a um banheiro de aeroporto é certeza de pegar uma infecção. Aí, algumas vezes, preciso ficar internado no hospital durante catorze dias tomando antibióticos. Fiquei doido para participar do Segundo Encontro Nacional de Audiodescrição, no final do ano passado em Juiz de Fora, Minas Gerais. Estava tudo certo para ir, tinha acompanhante e tudo, mas passei mal e fiquei inseguro de viajar. Isso é o que me “torra” de verdade, as limitações impostas pela minha saúde. A cegueira para mim não é nada, são cócegas no pé. Se não amasse tanto a vida, já não estaria vivo (risos).
RELIGIÃO
Sou ateu. Mas estudei em colégio de padres e já passei pelo catolicismo, pela doutrina espírita e pela filosofia da Ordem Rosacruz. Já estava em uma busca espiritual antes de perder a visão, que só foi intensificada quando fiquei cego. Fico até triste de não acreditar em Deus e de não seguir uma religião (risos), porque seria um bom caminho para ter consolo e esperança. Ainda leio livros que tratam de religiões porque gosto da paixão que vejo nos outros.
ROTINA
Gosto dos amigos, livros e nada mais (risos)… Uso o computador principalmente para ler livros. Li recentemente dois de que gostei muito: A Cicatriz de David, romance sobre uma família marcada pelo conflito entre palestinos e israelenses, e A Culpa é das Estrelas, sobre o amor entre dois adolescentes com câncer, em uma história sem pieguice. Televisão só assisto mesmo porque sou louco por futebol! Acabo assistindo muito mais TV quando estou internado e, infelizmente, com quase nada de audiodescrição.
MAQ
Sou um cara apaixonado, é a paixão que me move, não consigo evitar e é somente com paixão que eu posso viver.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Audiodescritor em Foco - Entrevista com Jean Braz



Jean Braz da Costa, aluno do 4o semestre do curso de análise de Sistemas pela Faculdade Anhanguera, graduado em jornalismo no ano de 2004 pelas faculdades Hoyler.

Audiodescritor consultor AD desde 2004, tendo revisado diferentes trabalhos como longas, curtas, exposições e outras.

 

 

 

 

 

1 - Como você se tornou audiodescritor? Que importância a audiodescrição tem na sua vida? 
Jean - Não realizo o trabalho como audiodescritor, más sim o de revisor. 
Comecei a fazer esse trabalho, após ter participado de inúmeras sessões de filmes com AD na cidade de Campinas, pois era uma das pessoas que participava do grupo que se iniciou em 1999. 
Foram diversas discussões sobre o que é AD, como tem que ser feita, qual a melhor maneira. até então receber o convite da Bell Machado, para começar a fazer a revisão de seus trabalhos no qual sou muito feliz por isso. 
A AD é sem dúvida um recurso muito importante para mim, pois além de revisor, sou também uma das pessoas que necessita desse recurso.

2 – Na sua opinião, o que a AD representa para seus usuários? O que pode provocar na vida dessas pessoas? 
Jean - Para quem não está acostumado, no início pode parecer muito estranho e confuso mais depois o usuário percebe que a partir da AD ele ganha um novo e indispensável aliado na aquisição de informação, seja no entretenimento através de filmes, teatros ou até mesmo na construção do conhecimento visto que a AD pode estar presente em diferentes ambientes que se faça necessário.

3 – Quais as maiores dificuldades e quais as maiores alegrias em ser audiodescritor? 
Jean -  As dificuldades é saber que no Brasil esse trabalho ainda é muito limitado, ou seja, no tempo de exposição na TV ou em recursos como, por exemplo, no cinema onde temos um número insignificante de sessões se compararmos com o público que espera ansioso por isso. 
Por outro lado, posso dizer que, as alegrias é saber que com muito empenho e com o envolvimento de muita gente esse trabalho de formiguinha está surtindo efeito. 
Fico muito feliz ao participar de sessões lotadas ou em fazer a revisão de um aluno que fez o curso conosco em fim as alegrias são inúmeras também.

4 - Você concorda com a ideia de que a AD, mais do que informar, deve proporcionar que o usuário usufrua e sinta as sensações do que é descrito?Você acredita que a audiodescrição além de um recurso de acessibilidade seja também uma produção cultural? 
Jean - Desde que a AD seja feita conforme as regras estabelecidas na ABNT e que não proporcione ao usuário nenhuma vantagem em relação aos demais, ela irá cumprir o papel que eu acredito que é o de levar para a pessoa a informação de que ela não consegue notar através dos seus outros sentidos. 
A emoção é fruto da identificação que cada um de nós temos com determinada exposição e a AD não deve forçar o usuário a sentir essa sensação.

5 – O mundo está cada vez mais visual, e se levarmos em conta que a visualidade é a matéria-prima da audiodescrição, ainda há muito a ser explorado nesse campo. Junto a isso, temos a ampliação e difusão dos produtos e políticas culturais para acessibilidade por parte dos governos e da sociedade civil. Diante desse cenário, quais desafios você acha que devem ser enfrentados para expandir a audiodescrição, tanto em quantidade como em qualidade? 
 Jean - Junto ao trabalho de políticas públicas, acho que deve haver também um foco e uma mobilização maior em relação a quem produz qualquer tipo de material que necessite de AD. 
Ou seja, é fazer o diretor, o produtor, o empresário, etc. entender que eu também sou um consumidor em potencial e que se houver o recurso certamente aquele produto pode ser mais interessante para mim. 
É cobrar do ministério da cultura ou de quem quer que seja, meu direito como cidadão, pois também pago impostos e não posso ser privado do entretenimento ou da informação.

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Entrevista: Felipe Mianes