domingo, 30 de dezembro de 2012

O ano que vem é hoje, o futuro nunca espera!

Se 2013 for igual a 2012 eu já me dou por muito satisfeito, afinal, foi um ano repleto de alegrias e realizações pessoais. Profissionalmente foi o melhor ano da minha vida:
No campo academico foi tudo como o esperado, publiquei artigos cumpri minhas funções de pesquisador e principalmente escrevi meu projeto de tese, que brevemente irei qualificar. gostei do texto e percebi a evolução na minha escrita e nos meus modos de pesquisar e considero que estou na melhor fase como pesquisador, embora ainda tenha muito a evoluir, o que me deixa estimuladissimo.
Fiz diversos trabalhos como audiodescritor, fazendo parte da família Tagarellas inovadora no modo de fazer AD e um exemplo de como trabalhar com seus audiodescritores consultores. Participei de sucessos retumbantes como Colegas - O filme, e da AD do espoetáculo de dança Não me toque estou cheia de lágrimas - sensações de Clarice Lispector, dentre outros projetos de AD . Foi lançado o documentário Olhares, que co-dirigi coma amiga Mariana Baierle, outro baita sucesso que levou nosso trabalho para além das fronteiras gaúchas e nos abriram muitas portas devido ao apreço do público pelo nosso trabalho.
Fazer audiodescrição é a coisa que mais me dá prazer na vida, é a razão pela qual levanto todos os dias com sorriso no rosto e vontade de trabalhar duro e com dedicação e animação. É um dos motivos que me faz ter certeza que tudo dará certo mesmo nos momentos dificeis.
Mais do que escrever, eu gostaria de compartilhar um poema que eu li no livro Fotografias poéticas de um olhar viajante, escrito por Sara Bentes. Conheci o trabalho de Sara a pouco tempo, mas o suficiente paraque eu já admire muito suas ideias seja como escritora, compositora e cantora, ela escreveu a LINDISSIMA canção chamada Pra quê, um verdadeiro hino pra nós com deficiência visual. Deixo-os com essas belas palavras desejando um 2013 com saúde, paz e com todos os nossos objetivos alcançados. Para os bons, tudo vai dar certo e melhor do que o esperado; para os maus, se preparem que a casa vai cair.
 
Descrições (Sara Bentes)
ele me faz uma cena de cinema;
ela me faz rir demais!
O outro me traz o relevo até as mãos;
a outra usa comparação.
Ele me pinta um quadro detalhado;
ela diz o essencial;
uma aproveita tudo o que eu já conheço,
o que me é familiar,
um já me faz parecer tudo mais lindo,
dizendo o que ele quer ver.
Todo o encanto que a paisagem lhes provoca;
gostoso é perceber!
Pelos seus gritos, sorrisos, euforia.
sinto a beleza no ar, no calor das mãos que felizes me apertam,
pra depois então falar,
descrever tão intraduziveis visuais;
quase impossível missão...
E todos tentam, cada um da sua forma,
dividir sua visão,
com seus olhares perfeitos e únicos,
cada um revela seu ser,
completando meu mundo, permitindo-me ver.
Eles estão ali, sem bem perceberem,
derramando seus universos em mim,
A beleza do tato, audição, ofato e paladar lhes faço lembrar.
Ele me faz uma cena de cinema;
e é onde eu me sinto estar.
 
Sara Bentes - Pra quê

 
 
 
 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

2º ENCONTRO NACIONAL DE AUDIODESCRIÇÃO

Dos dias 13 a 15 de dezembro, acontece em Juiz de Fora o II Encontro Nacional de audiodescrição, que terá diversas e qualificadas atividades para debatermos sobre os rumos da audiodescrição no Brasil, desde o registro da profissão de audiodescritor até os desafios a serem enfrentados para a ampliação e qualificação da audiodescrição em nosso país.
Será um momento importante que reunirá os principais audiodescritores do Brasil, além outros vértices importantes para a consolidação do recurso, como produtores, membros das secretarias nacionais de direitos humanos e da cultura, produtores culturais, audiodescritores e público do produto.
As discussões também têm como objetivo elaborar um documento que sirva para balizar ações e intenções futuras sobre a audiodescrição em todo território nacional. Esse documento será muito importante para estabelecer metas e atividades conjuntas entre os diversos vértices da cadeia produtiva.
Certamente, será também um momento de congraçamento e interação entreo os audiodescritores e o público do encontro, compartilhando experiências, estabelecendo contatos profissionais e pessoais que são de extrema importância para o crescimento da audiodescrição, e de nós que atuamos na área.
Fiquei muito emocionado e lisonjeado com o convite que a comissão organizadora me fez para participar de uma das mesas redondas que tem como tema o público da audiodescrição. Primeiro, porque a AD é uma das coisas mais importantes e prazerosas da minha vida ultimamente, pois tenho trabalhado e me aprimorado como consultor, tendo formação e estudo para tal. Em minhas pesquisas também analiso a AD, mas é diferente ser consultor e público, poder participar ativamente de diversos produtos audiodescritos e eventos que foram sempre um sucesso.
Segundo, como acadêmico e estudioso na área da acessibilidade, será um evento que me proporcionará muito conhecimento e ideias que hão de advir dos debates e oficinas a serem realizadas.  
E, terceiro, que terei a oportunidade de conhecer, compartilhar e debater com pessoas que considero de primeira grandeza quando o tema é AD, caso do Paulo Romeu, Lara e Graciela Pozzobon, Eliana Franco e minha “ídola mor”, Lívia Motta. Sei que já tenho experiencia e idade suficiente para não ir a um evento e ficar tietando, mas essas pessoas realmente são referencias positivas para mim, que embora já tenha trabalhado bastante nessa área, tenho muito a aprender.
Enfim, tenho certeza que será um grande momento para todos nós e que esse encontro renderá muitos frutos, ao menos como um dos debatedores, farei o possível para que tenhamos a maior e melhor qualidade possível.
Abaixo, a programação do evento:
PROGRAMAÇÃO
13/12 – Quinta-feira
17h 30min - Inscrições e entrega de material
18h 30min - CERIMÔNIA DE ABERTURA:
Palavra do Reitor Prof. Dr. Henrique Duque - boas vindas e introdução ao tema do encontro;
Palavra da coordenadora do evento: Prof. Dra. Eliana Lúcia Ferreira.
 19h às 20h30min - MESA DE ABERTURA: AUDIODESCRIÇÃO E O ACESSO À CULTURA E À INFORMAÇÃO
Reitor da UFJF: Prof. Dr. Henrique Duque;
Representante da Secretaria dos Direitos Humanos: Sr. Antonio José Ferreira (Secretário Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência);
Representante da Organização Nacional de Cegos do Brasil: Clóvis Alberto Pereira;
Representante dos audiodescritores: Prof. Dra. Lívia Maria Villela de Mello Motta;
Representante do público consumidor: Paulo Romeu Filho.
20h30min - EVENTO CULTURAL (apresentação de longa-metragem com audiodescrição)
14/12 – Sexta-feira
9h às 10h30min - MESA REDONDA: POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AMPLIAÇÃO DO USO DA AUDIODESCRIÇÃO NOS DIVERSOS SEGMENTOS
Secretaria de Direitos Humanos: Sérgio Paulo da Silveira Nascimento;
Ministério das Comunicações: Elza Maria Del Negro B. Fernandes;
Ministério do Trabalho: Cláudia Maria Virgílio de Carvalho Paiva;
MEDIADOR: Paulo Romeu Filho.
10h30min - CAFÉ
11h às 12h30min - MESA REDONDA: IMPLEMENTAÇÃO DA AUDIODESCRIÇÃO NOS DIVERSOS SEGMENTOS (FOCO NO PRODUTOR DE AUDIOVISUAIS)
MÍDIAS: Alessandra Savino;
TEATRO: Lara Valentina Pozzobon da Costa;
CINEMA: Marçal de Souza;
MEDIADORA: Marta Almeida Gil.
14h às 17h - OFICINAS
1. AUDIODESCRIÇÃO NO CINEMA
PROFESSORES: Bell Machado e Letícia Schwartz
2. AUDIODESCRIÇÃO NO TEATRO
PROFESSORES: Mimi Aragón e Nara Monteiro
3. AUDIODESCRIÇÃO NA TV
PROFESSORES: Leonardo Rossi Lazari e Klístenes Bastos Braga
14h às 17h - REUNIÕES TEMÁTICAS:
Em paralelo às oficinas acontecerão reuniões temáticas para discussão de assuntos relevantes ligados à formação e profissionalização do audiodescritor.
14h às 15h30min - PROFISSIONALIZAÇÃO DO AUDIODESCRITOR E MERCADO DE TRABALHO
COORDENADOR: Rodrigo Campos Alves
15h30min às 17h - COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS DO AUDIODESCRITOR
COORDENADOR: Maurício Santana
17h às 17h30min - CAFÉ
17h30min às 19h - MESA REDONDA - IMPLEMENTAÇÃO DA AUDIODESCRIÇÃO NOS DIVERSOS SEGMENTOS (FOCO NAS PESQUISAS ACADÊMICAS).
Eliana Paes Cardoso Franco - Universidade Federal da Bahia (UFBA);
Soraya Ferreira Alves - Universidade de Brasília (UNB);
Vera Santiago Araújo - Universidade Estadual do Ceará (UECE);
MEDIADORA: Elizabet Dias de Sá.
15/12 - Spabado
8h30min ás 10h - MESA REDONDA: IMPLEMENTAÇÃO DA AUDIODESCRIÇÃO NOS DIVERSOS SEGMENTOS (FOCO NO PRODUTOR DE AUDIODESCRIÇÃO)
Graciela Pozzobon da Costa;
Maurício Santana;
Lívia Maria Villela de Mello Motta;
MEDIADOR: Laércio Santana.
10h30min às 12h - MESA REDONDA: IMPLEMENTAÇÃO DA AUDIODESCRIÇÃO NOS DIVERSOS SEGMENTOS – FOCO NO PÚBLICO ALVO
Elizabet Dias de Sá;
Felipe Mianes;
Iracema Vilaronga;
José Vicente de Paula;
Gilson Mauro;
MEDIADOR: Marco Antonio de Queiróz;
12h às 12h30min - CERIMÔNIA DE ENCERRAMENTO COM LEITURA DO DOCUMENTO PRODUZIDO DURANTE O EVENTO.
Audiodescrição do evento:
Todas as atividades do Encontro serão audiodescritas por:
Jumara Bienias;
Luciamaria;
Márcia Caspary;
Maria de Fátima Angelo.

Mestre de cerimônias:
Rodrigo Almeida Simões da Silva
 

domingo, 2 de dezembro de 2012

Obrigado deficiência!

No dia 3 de dezembro é comemorado o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, e sem dúvida me sinto muito honrado em pertencer a esse grupo, pois se tenho a vida feliz que levo hoje é muito graças a ela. Sei que há muito ainda o que ser melhorado em nossas vidas seja na derrubada das barreiras arquitetônicas ou atitudinais. Mas também é preciso lembrar que temos muito a celebrar, afinal, muito já foi conquistado e ainda estamos construindo um mundo melhor a cada dia.
Se formos pensar no quanto a sociedade ainda precisa evoluir para que contemplem todas as especificidades e extingam todos os preconceitos e discriminações existentes, poderemos até esmorecer por ver que o caminho é longo e sem uma perspectiva de atingir os resultados esperados. As dificuldades que temos ainda são evidentes, e se apresentam cotidianamente.
Mas e se ao invés de mirar o horizonte cada um de nós se fixasse em dar um passo de cada vez? Que tal se a gente lutasse fazendo as pequenas mudanças, colocando um tijolinho por vez? E que tal se a gente fizesse as mudanças pensando no que nós podemos fazer de concreto e não naquilo que podem fazer por nós? Enfim, acho que são boas pautas de reflexão.
Para mim, hoje não é só um dia de reflexões quanto ao futuro e o que temos a reivindicar. Penso no nosso dia como uma celebração que deve ser levada a diante, mostrada a todos para que vejam que grupo grandioso e potente nós somos. Já temos algumas conquistas importantes e bastante a comemorar em termos das diminuições de barreiras que nos são impostas.
É preciso celebrar e reverenciar tantas pessoas que lutara até o fim da vida – ou morreram por tentar – para que um dia tivéssemos nossos direitos assegurados e que a vida de nós com deficiência fosse melhor. Pessoas que estudaram e que batalharam em todas as esferas sociais para que estivéssemos no patamar que hoje estamos.
Sei que há muitas pessoas a mencionar, mas reverencio aqui a memória de Ligia Assumção Amaral, grande professora e ativista nos direitos das pessoas com deficiência, em quem me inspiro cotidianamente para prosseguir produzindo e lutando, Foi uma pena que ela tivesse nos deixado a 10 anos, mas sua obra estará sempre viva. Onde estiveres, saibas que sou seu fã.
Por mais que muitas vezes eu seja pessimista, nesse caso eu me vejo pensando no copo meio cheio, pois se temos muito a conquistar, um longo caminho já foi percorrido, e por isso, acho que devemos lembrar de tudo que já conseguimos adquirir como direitos e em termos de diminuição dos preconceitos. Hoje prefiro pensar em um dia feito para comemorar as conquistas e celebrar as alegrias que a deficiência me traz.
Eu sempre convivi com a deficiência desde que me entendo por gente, e até meus vinte e poucos anos levei-a um pouco a tiracolo ao mesmo tempo em que tentava tangenciá-la. Isso fez com que eu perdesse muita coisa na minha vida, mas ganhasse outras tantas o que não permite que eu me arrependa de ter “descoberto” tão tarde que eu sou como sou graças a baixa visão. Há uns sete anos eu me vi diretamente de frente com o preconceito e com a discriminação de uma forma muito brutal e que marcou a minha vida para sempre. Como não é de tristezas que pretendo falar, deixo isso pra lá.
Foi então que uma luz se fez presente nos meus olhos quase fechados e na minha mente totalmente aberta, era o orgulho de ter baixa visão. Sempre soube que queria ser professor, mas a História – minha graduação – não era exatamente o que eu procurava, e sabia que eu queria trabalhar com pesquisas na área da cultura. O mundo deu muitas voltas e fiz da minha deficiência objeto de pesquisa, e fui crescendo como sujeito e como pesquisador, realizando esse sonho indescritível que é ser mestre e fazer doutorado em Educação.
Obrigado a minha orientadora Lodenir Karnopp por ter acreditado em mim, e obrigado aos meus olhos cheios de catarata por terem me mostrado esse caminho de tantas alegrias. Hoje sei que a felicidade mora em mim, e não estou aqui apesar da deficiência, mas sim por causa dela. Como dizia Borges “ter cegueira é um dom”, e sei que eu tenho usado esse dom com relativa sabedoria para ajudar a tantas pessoas, e mais que isso, ajudar a mim mesmo.
É por causa da deficiência que eu conheci pessoas muito estimadas como as amigonas Mariana Baierle, Janete Múller, Márcia Caspary e o Rafael Guiger. A Mariana é minha colega de direção do filme Olhares, outra conquista, pois até “cineasta” estou me tornando por conta da baixa visão, além de parceira em outros tantos projetos passados e futuros. Além disso, é uma pessoa especial, uma irmãzinha mais nova que faz lembrar eu mesmo a uns anos atrás.
Ter conhecido a audiodescrição foi uma das coisas mais felizes de toda minha vida, e me tornar audiodescritor é como o sol de todos os meus dias. Consegui isso porque tenho estudo, mas também porque tenho baixa visão. Ser consultor de Ad e consumidor do produto é algo fantástico e que eu agradeço diariamente por ter deficiência e poder participar como produtor dessa arte de audiodescrever.
Dou valor a tudo aquilo que tenho e que sou, mas tenho certeza que nada na minha vida seria tão lindo se eu não tivesse baixa visão, e não visse a vida de um jeito tão alto. Obrigado papai e mamãe por não me tratarem como um coitadinho, e me darem a educação e o melhor tratamento que alguém poderia querer.
Portanto, sei que existem ainda muitas dificuldades na vida de quem tem deficiência, mas às vezes é mais fácil fazer do obstáculo um degrau para continuar subindo do que sucumbir a ele. Lembrar com ternura e gratidão da baixa visão que trago comigo é um ato de amar a mim mesmo e a tudo que tenho e sou. Nesse dia especial para todos nós. Penso na deficiência não como um entrave, mas como um dom, um presente que eu aprendi a usufruir. Obrigado baixa visão, por ter a chance de perceber isso!